pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Editorial: "Enquanto houver bambu, lá vai flecha."
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segunda-feira, 3 de julho de 2017

Editorial: "Enquanto houver bambu, lá vai flecha."





Faz algum tempo que o brasileiro não tem motivos para algum otimismo sobre os rumos políticos do país. Hoje, 03/07, o jornal Folha de São Paulo traz um editorial que nos deixam ainda mais pessimista acerca de uma necessária reforma política, capaz de promover mudanças substantivas no nosso sistema político. Como já se supunha, o simulacro de reforma política que transita na Câmara dos Deputados constitui-se, na realidade, numa proposta sob medida para dar continuidade às inúmeras excrescências que corroem o nosso sistema político há décadas. Ou seja, tudo caminha para mais uma marmelada que comporte os vícios pré-existentes, num típico procedimento de legislação em causa própria. Pelo andar da carruagem política, apenas uma constituinte independente, eleita para esta finalidade, reuniria as condições de promover mudanças substantivas e perenes neste sistema político apodrecido.
 
Em setembro, o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, deverá ser substituído no cargo. Nos últimos dias, por razões óbvias, ele tem sido a vítima preferencial do presidente Michel Temer, acuado depois das denúncias da PGR, que o acusa de ter cometido crime de corrupção passiva, no exercício do mandato. O Planalto costurou e alinhavou, com todos os cuidados possíveis, o nome de Raquel Dodge, que deverá substituir Janot naquele órgão, a partir de setembro. Mas, o mandato de Janot só acaba quando termina e, até setembro, há uma expectativa de que este sistema político apodrecido sinta o peso de suas ações. Ele mesmo, em palestra recente, declarou que, "Enquanto houver bambu, lá vai flecha.", numa inequívoca alusão ao fato de que a caneta funcionará até as últimas horas do seu expediente do último dia de mandato à frente da PGR.
 
O rolo-compressor político do Palácio do Planalto, diante do exposto, aproveita a deixa para espalhar o terror entre os deputados encrencados nos rolos da Operação Lava Jato, no Legislativo, que deve julgar o pedido de investigação contra o presidente, formulado pela PGR. É hora de auto proteger-se, contendo a fúria do Procurador-Geral da República. Eis aqui porque não acreditamos que a Câmara Federal irá aprovar o pedido de investigação que corre contra o presidente Michel Temer. Deverá prevalecer aqui o espírito corporativo dos deputados, a despeito dos clamores da população pela moralização na condução dos negócios públicos. Talvez uma grande mobilização popular ainda possa reverter esse quadro, mas, a julgar pelos resultados da última greve geral, não há aqui também motivos para algum otimismo.
 
Nesses momentos bicudos da política - quando se espera que os cidadãos e cidadãs possam unir esforços em defesa da res publica - acontece o fenômeno curioso do esgarçamento desses laços coletivos, que dão espaço a uma espécie de "salve-se quem puder". Quando ocorreu o golpe institucional que permanece em curso, o filósofo Gabriel Cohen definiu magistralmente aquele momento de crise institucional, ao afirmar que "dormimos o sono político que produziu o monstro". Cohen fazia referência a uma possível "acomodação" do brasileiro sobre os rumos da democracia no país. O tempo mostrou que não estávamos navegando em nenhum céu de brigadeiro. Está difícil despertar o brasileiro deste sono, apesar dos despertadores que alertam para um aprofundamento da crise político-institucional no país, onde a justiça, que deveria ser feita, passa ao largo do olhar contemplativo do contribuinte.  

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