José Luiz Gomes da Silva
(Cientista Político)
Recentemente, creio que na última edição da revista Nordeste, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu uma longa entrevista sobre o cenário político brasileiro. Editada no Estado da Paraíba, com sede na cidade de João Pessoa, Nordeste é uma publicação de reconhecida qualidade editorial. Lá para as tantas, respondendo a uma das perguntas do entrevistador, ele se reporta ao cenário político pernambucano, observando um pouco daquilo que já se sabe sobre o governador Paulo Câmara(PSB), ou seja, que se trata de um cidadão de perfil técnico, formado ali no Palácio do Campo das Princesas, sob os auspício do ex-governador Eduardo Campos, que o alçou ao mundo político, indicando o seu nome como candidato do PSB ao Governo do Estado, nas eleições majoritárias de 2014. Várias raposas políticas pleiteavam entrar na disputa, mas o ex-governador optou por um quadro técnico, oriundo do Tribunal de Contas do Estado, que sempre esteve vinculado às finanças da gestão estatal durante os governos de Eduardo Campos.
O ex-presidente observa, neste perfil técnico, algumas possíveis limitações do gestor, o que poderia explicar algumas dificuldades enfrentadas pelo Estado. O governador Paulo Câmara não gostou da observação e, de pronto, respondeu ao petista que o cenário do Estado não é dos piores - as contas, segundo ele, estão equilibradas - e observou que Lula também escolhera uma técnica para sucedê-lo na Presidência da República, a ex-presidente Dilma Rousseff. Ressalto aqui que a inabilidade política da ex-presidente, de fato, sempre se constituiu num grande problema. Dilma não tinha aquele despojamento que se exige para atuar neste meio-de-campo tão arisco e movediço; não desejava aprender; e, para piorar ainda mais a situação, também não foi muito feliz nas escolhas dos seus articuladores políticos indicados para esta função. Ou seja, uma sucessão de equívocos que culminou, imaginem, com a indicação do então vice-presidente, Michel Temer, para esta nobre tarefa, que ele executou com maestria, mas em benefício pessoal.
De resto, polêmicas às favas, é sabido que tanto Paulo Câmara quanto o prefeito do Recife, Geraldo Júlio, eram quadros técnicos do PSB. Soberano e reinando absoluto no controle da legenda socialista, o ex-governador Eduardo Campos se deu ao desfrute de "represar" as aspirações das raposas políticas que o acompanhava. Difícil entender qual era a jogada do ex-governador com essa manobra. Talvez a de reservar esses nichos políticos para os seus herdeiros mais diretos, uma pavimentação que seria mais simples com atores políticos com menos autonomia do que as cobras criadas ou lobos famintos da política filiados à legenda. Há de se considerar, igualmente, o seu projeto presidencial, tido por alguns como uma verdadeira obsessão do ex-governador. Alguns nomes do seu staff político, convém fazer o registro, já estavam se articulando, no plano nacional, em torno de viabilizar esse projeto político do ex-governador.
Na nossa opinião, o governador Paulo Câmara tem cometido alguns equívocos políticos, como o de ter tomado uma atitude intempestiva e ter se afastado de legendas como o DEM e o PSDB, optando como parceiro preferencial o PMDB do Deputado Federal Jarbas Vasconcelos. Outros equívocos políticos foram cometidos - e poderíamos enumerá-los aqui - mas isso talvez não seja necessário para um leitor minimamente informado sobre a política pernambucana. Não necessariamente esses equívocos podem ser atribuídos ao fato de ele ser um técnico, exercendo uma função que exige uma boa dose de manejo político. Por vezes, bons técnicos podem se constituir em excelentes atores políticos, assim como bons gestores. Um bom exemplo disso é o ex-prefeito da cidade de João Pessoa, Luciano Agra, que passou pouco tempo à frente da prefeitura da capital, mas fez uma excelente gestão, tida por alguns como a melhor de todos os tempos. Agra foi um quadro técnico pinçado da universidade pelo grupo político do governador Ricardo Coutinho(PSB). A gestão de Paulo Câmara no Governo do Estado não nos facultam tirar a mesmo conclusão, ou seja, a de um técnico que se tornou num bom gestor, num hábil político.
Soberba e arrogância nunca foram boas conselheiras, sobretudo nesses momentos bicudos da quadra política nacional, onde a ética das consequências, de inspiração maquiavelina, tem dado o tom dos acordos e negociações neste campo. Mas, mesmo assim, este parece ser o procedimento de lideranças socialistas aqui da província, sempre que se fala numa possibilidade de reedição da Frente Brasil Popular, formada em 1989, composta por partidos como o PT e o PCdoB. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria proposto algo neste sentido, quem sabe naquela perspectiva de que os socialistas do PSB voltassem às suas verdadeiras origens - daqueles velhos tempos do ex-governador Miguel Arraes - compondo com o conjunto de forças populares, seja lá o que isso signifique diante de tanta deterioração ideológica, crise sistêmica e programática dos grêmios partidários.
Num momento político dos mais adversos - quando propôs isso Lula ainda não havia sido condenado no contexto da Operação Lava Jato - apesar de condenarmos o salto alto da legenda socialista - também é possível entendermos, sim, as reservas de integrantes da legenda quanto a uma composição com partidos como o PT, hoje bastante desgastado junto à opinião pública. A questão é quando se troca essas más companhias por outras ainda piores - num cenário político necrosado como este - onde o escudo ético na condução dos negócios públicos não passa de uma bravata de campanha, num simples jogo de retórica. Infelizmente o nosso sistema político desceu a esse nível e o PT não é nem melhor nem pior do que a média do que está aí.
Jogando seu passado histórico às favas ou na lata de lixo, na realidade, grosso modo, a tendência de alinhamento da legenda socialista, hoje, se apresenta com maior viabilidade junto às forças políticas do centro para a direita do espectro político. Claro que há, na legenda, alguns atores políticos que ainda se vinculam ao passado de esquerda do partido, mas são poucos. São cada vez menos. Neste cenário, não causou tanta surpresa as negociações entabuladas por membros da legenda no sentido de uma composição com partidos como o Democratas, na perspectiva de se criar um novo partido. Não é este o caso de Pernambuco, mas em algumas praças tucanos e pombinhas brancas coabitam o mesmo ninho. Não se espere que, naquele pandemônio em que se transformou Brasília, possa se esperar algo de positivo ou republicano. Muito menos partindo-se das corjas políticas ali encasteladas. As manobras escusas de mudanças de integrantes de nomes indicados para CCJ, por exemplo, são um bom exemplo recente do que estamos afirmando.
Há algumas dificuldades inerentes a uma possível reaproximação entre petistas e socialistas aqui no Estado, como a parceria cada mais efetiva entre o PSB e o PMDB do Deputado Federal Jarbas Vasconcelos, que já declarou que votará a favor da autorização da Câmara Federal no sentido de que o STF analise as denúncias contra o presidente Michel Temer. O fato atenua um pouco o ônus a ser pago pelos socialistas em torno dessa parceria preferencial com os peemedebistas. Setores da imprensa pernambucana informaram que Jarbas teria sido taxativo sobre o assunto. Se o PT entrar, ele sai. Não se sabe muito para onde, mas, enfim... O que causa estranheza, no entanto, é a absoluta falta de humildade das lideranças socialistas locais sobre o assunto, posando de salto alto, desdenhando o apoio do PT no próximo pleito, supondo, quiçá, que as coisas serão decididas a seu favor. O projeto de reeleição do governador Paulo Câmara enfrentará enormes dificuldades pela frente. Outro grave equívoco pensar o contrário.
As dificuldades são inúmeras, como se sabe, a começar pelos baixos índices de popularidade do governador em todas das pesquisas de opinião até agora realizadas, inclusive esta última, encomendada pelo ex-candidato a prefeito de Olinda, Antônio Campos(Podemos), onde o senador Armando Monteiro, do PTB, aparece na liderança. Como já assinalamos em momentos anteriores, os flancos onde a oposição poderá atuar são muitos e capazes de produzir efeitos bastante negativos no resultado das urnas. Sinceramente, não sei de onde provém esse comportamento desdenhoso dos socialistas aqui da província. Há o ensaio, inclusive, de uma possível candidatura própria do PT. Hoje o nome mais forte - mas não menos polêmico - é o da vereadora do Recife, Marília Arraes(PT). Naturalmente que o seu projeto de lançar o seu nome na disputa deverá estar ancorado numa estratégia partidária maior.
As dificuldades são inúmeras, como se sabe, a começar pelos baixos índices de popularidade do governador em todas das pesquisas de opinião até agora realizadas, inclusive esta última, encomendada pelo ex-candidato a prefeito de Olinda, Antônio Campos(Podemos), onde o senador Armando Monteiro, do PTB, aparece na liderança. Como já assinalamos em momentos anteriores, os flancos onde a oposição poderá atuar são muitos e capazes de produzir efeitos bastante negativos no resultado das urnas. Sinceramente, não sei de onde provém esse comportamento desdenhoso dos socialistas aqui da província. Há o ensaio, inclusive, de uma possível candidatura própria do PT. Hoje o nome mais forte - mas não menos polêmico - é o da vereadora do Recife, Marília Arraes(PT). Naturalmente que o seu projeto de lançar o seu nome na disputa deverá estar ancorado numa estratégia partidária maior.
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