pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Editorial: O Recife continua uma cidade cruel.
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segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Editorial: O Recife continua uma cidade cruel.

Penso ser um pouco precipitado fazer uma avaliação mais consistente sobre as últimas eleições municipais neste momento. Conforme havia comentado nos editoriais anteriores, torcia que esta eleição assumisse um caráter plebiscitário, ou seja, que os eleitores sinalizassem, através do voto, para um caminho progressista e civilizatório, repudiando essa onda ultradireitista que varre o mundo, responsável por uma barbárie anunciada ou já em curso. Mesmo em se tratando de eleições municipais, seria importante essa sinalização. Neste momento de instabilidade política, não se pode perder nenhuma oportunidade de nos colocarmos contra esse retrocesso hmanitário. Embora seja possível observamos alguns fatos alvissareiros nas eleições de ontem, outros indicadores nos aconselham prudência, como o elevado número de prefeitos eleitos por partidos de uma tradição conservadora - do centro para a direita - como é o caso do DEM e do PSD, de Gilberto Kassab. Um comentarista informou que o DEM se apresentou aos eleitores com uma "roupa nova" - mais tolerante - mas sua essência não muda. Esse guarda-roupa é oriundo ainda dos tempos da antiga Arena, que dava suporte ao regime militar. Um dos seus mais emblemáticos postulantes orgulhava-se na campanha de ter tirado a esquerda do poder. E sabemos que isso ocorreu de forma torpe e ilegítima. Historicamente - e por motivos até certo ponto coerentes - as eleições mucinicpais são descasadas das eleiçóes nacionais. Pesa na decisão do eleitor o buraco na rua, o recolhimento do lixo, o transporte coletivo, competências que estão diretamente relacionadas ao gestor local. O problema é que atravessamos uma crise política sem precedentes, contingenciando-nos a adotarmos atitudes que nos facultem uma efetiva tomada de posição em relação a este cenário obscurantista. Grosso modo, não dá para tirar essas conclusões a partir do resultados da eleição de ontem, embora, pontualmente, tenhamos eleito bancadas de vereadores com uma forte militância social, com uma folha de serviços prestados à população mais carente e às minorias, como representantes das mulheres negras, de grupos LGBT+, por exemplo. Alguns nomes eleitos para a Casa de José Mariano, no Recife, como é o caso de Dani Portela, Cida Pedrosa, Liana Cirne, Ivan Moraes, nos permitem dizer que estamos na luta. Por outro lado, a lista também apresenta os inevitáveis nomes de representantes de grupos conservadores e neopentecostais, um grupo com um projeto de poder muito bem definido e urdido cotidianamente. Hoje, um dos maiores suportes políticos do projeto de ultra-direita no Brasil. É preciso, portanto, cautela e atenção em defesa dos princípios democráticos, republicanos e civilizatório. Eles ainda estão sob ameaça. Uma conhecida raposa da ciência política no Estado de Pernambuco, uma vez instigada a pronunciar-se sobre uma dessas eleições municipais do Recife, saiu-se com uma pérola: Nas eleições do Recife, tudo pode ocorrer, inclusive nada. Uma ótima saída para alguém que não desejava se comprometer. Afinal, macaco velho não põe a mão na cumbuca. Sabe-se lá o que ele pode encontrar ali dentro. Recife é uma das cidades onde o pleito será definido num segundo turno, entre os candidatos Marília Arraes(PT) e João Campos(PSB). Será um páreo duro, sobretudo se consideramos o fato de que a repressentante do PT está surfando numa espécie de onda de crescimento. Onda de crescimento que não foi aferida pelos institutos de pesquisa, por sinal. Um dos segundos turnos mais bem equilibrados, posto que os postulantes chegaram à reta final com percentuais de votos bem próximos um do outro. O alento é que o Recife, como afirmava o ex-governador Agamenon Magalhães, continua uma cidade cruel. Com uma forte tradição de rebeldia, Recife disse não às candidaturas identificadas com um ideário conservador ou de direita, não permitindo, sequer, que essas candidaturas chegassem a um segundo turno.

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