sábado, 21 de novembro de 2020
Michel Zaidan Filho: Teses equivocadas sobre as eleições municipais
Primeiro, transformar as eleições municipais em "fora Bolsonaro" e nacionalizar o discurso político do pleito". Isso chama-se oportunismo político e confunde ou quer instrumentalizar uma eleição para uma Prefeitura municipal em meio de fazer oposição aberta e franca a Bolsonaro. A agenda dessa eleição são os problemas comuns do cotidiano da população recifense: transporte público, educação púbica, saneamento e saúde pública, habitação, segurança etc. Se o candidato não tem propostas viáveis e factíveis para resolver esses problemas (mesmo que isso passe pela oposição à agenda de Bolsonaro), ele não está habilitado para exercer o mandato. mais ainda de uma prefeitura como a do Recife.
Segundo, o programa politico-administrativo do candidato não pode ser uma mera colcha de retalhos (um bric-a-brac) das demandas dos movimentos sociais, por mais urgentes e importantes que seja. Este programa deve se constituir de uma linha comum das questões do cotidiano da população. Questões gerais e universalizantes. Isso não quer dizer que não haja espaço na agenda para questões específicas dos movimentos.
Quarto, essa questão das demandas específicas e outras não se relacionam diretamente com as alianças para a conquista do mandato. Se faz eleição com santos, fiéis, irmãos , se faz com cidadãos e cidadãs de carne e osso. A questão são os compromissos assumidos pelo candidato, públicos e não tão públicos, que possam comprometer a agenda de mudança. Mas aí pesam os partidários e militantes da candidatura para garantir a fiel obediência ao programa estabelecido.
Quinto, a tese de que a eleição municipal é uma prévia da eleição estadual ou nacional. Depende. Dado o caráter federativo do país, as alianças mudam, em cada nível de governo, as questões são diferentes e a própria conjuntura muda. Não se pode querer fazer dessa eleição municipal uma prévia da eleição estadual ou federal. Lembrar que das 3, a menos politizada é a municipal. A mais politizada (e plebscitarizada) é a federal. Não confundir as esferas.
Vamos arregaçar as mangas e consolidar o que já conseguimos, ao invés de pré-julgar, sectariamente, o que sequer ainda é real e consolidado. É cômodo censurar um processo político em curso, urdido com tanta dificuldade. É mais fácil erguer uma igreja e fazer um movimento messiânico, com os irmãos e irmãs. Mas a política não é assim.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário