O salto duplo twist carpado do governador João Doria foi o assunto mais comentado no mundo político no dia de ontem. Ele mesmo admitiu tratar-se de uma manobra política com o propósito de arrancar da direção nacional dos tucanos um pronunciamento oficial acerca das prévias do partido, onde ele sagrou-se vencedor, derrotando o governador gaúcho Eduardo Leite(PSDB-RS). Havia uma manobra interna- conduzida por tucanos do bico fino e alta plumagem - com o propósito de não aceitarem os seus resultados e reverterem a situação em favor de Eduardo Leite na Convenção Nacional da legenda. Segundo dizem, haveria prerrogativas jurídicas para sustentar tal medida, indicando um outro nome que não o vencedor das prévias. Como sempre, em se tratando de tucanos, há controvérsias.
Doria, sem exageros, chegou a falar que estava sendo vítima de um golpe. Como bom político, evitando se queimar antes do momento certo nessas disputas internas, Bruno Araújo(PSDB-PE), que preside a legenda no plano nacional, lavou as mãos, assim como Pôncio Pilatos. Até mais recentemente, o PSDB havia feito um esforço enorme para evitar que o governador gaúcho saísse da legenda. É quase certo que tenha acenado para uma eventual candidatura presidencial, mesmo sabendo do imbróglio que isso representaria, uma vez que tal intento ainda não havia sido combinado com João Doria,vencedor das prévias, mesmo diante das enormes dificuldades que uma provável candidatura presidencial pela terceira via representaria.
Doria não vai bem. Doria, muito provavelmente, não irá bem, apesar do belo salto duplo twist carpado do dia ontem. Nas olimpíadas presidenciais, talvez ele não consiga nem uma medalha de bronze. Muito pouco possível que ele consiga constituir-se numa alternativa de terceira via competitiva. Não há alternativa viável de terceira via, muito menos esta que atende pelo nome de João Doria. Bons analistas políticos já admitem concretamente a impossibilidade de se quebrar essa polarização política capitaneada pelos candidatos Luiz Inácio Lula da Silva(PT) e Jair Bolsonaro(PL). A saíde do juiz Sérgio Moro do jogo mexe um pouco com o tabuleiro desse xadrez, mas nada que mude essa conformação.
Empresário bem-sucedido, João Doria acabou trazendo alguns comportamentos do meio corporativo para o campo político, numa atitude bastante criticada pelo ex-governador Geraldo Alckmin(PSB-SP) um dos seus desafetos no ninho tucano, que acabou de deixar, para compor uma chapa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT). Não nos parece uma boa prática de Doria fazer essa transmutação automática do campo corporativo para o campo político,o que pode explicar algumas de sua atitudes amplamente rejeitadas pelos seus pares. Penso que Geraldo Alckmin(PSB-SP) foi preciso no seu diagnóstico.
Soma-se a isso a relação que o eleitorado paulista mantém com o governador, uma relação que acena pela recusa em encampar o seu projeto presidencial. Pontualmente, até reconhece alguns dos seus méritos - como a sua elogiável conduta durante o enfrentamento da pandemia da Covid-19 - mas isso não se reflete em apoios efetivos, traduzidos em votos. Com este salto duplo carpado - apenas anunciado uma suposto recuo do seu projeto presidencial e a permanência no cargo - o seu vice, Rodrigo Garcia, entrou em pânico, ameaçando um possível processo de impeachment do governador paulista.
O pânico tem uma explicação: ele não teria a menor chance se fosse carregado por João Doria(PSDB-SP). Ocupando o cargo, nesses nove meses, com a caneta na mão, ainda lhes resta alguma possibilidade. Fora do cargo e contando com o apoio do governador, suas chances ficariam reduzidas a quase zero, se considerarmos o rolo compressor das candidaturas de Fernando Haddad, pelo PT, e de Tarcísio Freitas, pelo PL, com o apoio do presidente Jair Baolsonaro(PL). São Paulo é o maior colégio eleitoral do país, um colégio importante para todos quantos tenham pretensões presidenciais. Era objetivo de Doria que o Estado lhes oferecesse a alavanca política para os seus projetos presidenciais. Por enquanto, isso não vem se configurando.
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