O patrimonialismo brasileiro é capaz de produzir algumas situações inusitadas. Pessoalmente, conhecemos algumas delas, como a tradição de um rito, bastante semelhante às capitanias hereditárias, que se aplicava aos cargos de confiança de uma determinada instituição. Quando o titular do posto se afastava do cargo, em razão da aposentadoria, por tradição, indicava um parente ou a amante para ocupar o seu cargo. Numa conjuntura onde isso passou a ser encarado com "naturalidade" na cultura institucional, criticar tal procedimento significaria que o mundo poderia desabar sob seus pés. Acreditamos que se o sociólogo Pierre Bourdieu vivesse em Pernambuco, teria mais alguns elementos inusitados para agregar à sua teoria social.
Passamos a pensar sobre este assunto depois de acompanhar as polêmicas em torno das dificuldades que dois ministros do Governo Lula 3 estão encontrando para desembarcar do Governo. André Fufuca, dos Esportes, filiado ao PP, e Celso Sabino, do Turismo, do União Brasil. Ambos já foram alertados sobre a necessidade de deixarem as suas pastas, mas, por algum motivo, sentem dificuldades de largarem o cargo. Em relação a Celso Sabino, haveria um acordo dele com Lula, em razão da realização da COP30, que ocorre em sua base eleitoral, o Pará. Em relação a Fufuca, desconhecemos as negociações. Em ambos os casos, no entanto, ambos os partidos, que devem formalizar a poderosa federação União Progressista, já sinalizaram que estão insatisfeitos com a situação, prometendo, inclusive, punição aos infratores.
A determinação é no sentido de desembarcar imediatamente do Governo Lula 3. O imbróglio torna-se ainda mais complicado quando se pensa naqueles atores que gozam de grande capital político e trânsito fácil junto ao Palácio do Planalto, a exemplo do ex-Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, do PP, e do atual Presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre, do União Brasil. É aqui que a porca torce o rabo, uma vez que pode não se aplicar o adágio popular que diz que pau que bate em Chico também bate em Francisco.

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