pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Editorial: As estranhas alianças de Rodrigo Pacheco para presidir o Senado Federal.



O atual presidente do Congresso Nacional, David Alcolumbre(DEM-AP), relutou bastante em assumir o apoio explítico a uma candidatura para substitui-lo naquela Casa do Legislativo, a partir de fevereiro. A impressão que se passou foi a de que, enquanto as movimentações eram bastante intensas na Câmara dos Deputados, no Senado Federal as costuras políticas eram bem mais discretas, sem alardes, sem trocas de farpas pela imprensa ou pelas redes sociais. Como havíamos afirmado antes, em editorial, David Alcolumbre, que tentou uma reeleição interditada pelo Supremo Tribunal Federal, emitia indícios de um desencanto pelo processo, sentindo-se desestimulado até mesmo a envolver-se no processo de sua sucessão. Com a entrada do Palácio do Planalto na disputa, parece-nos que ele se sentiu revigorado, voltando a tomar gosto pelas costuras internas, que devem definir um nome para a Mesa Diretora daquela Casa, com mandato de dois anos. Essas conversas com o Planalto resultaram na batida do martelo em torno do nome do senador Rodrigo Pacheco(DEM-MG). Pelo andar da carruagem política, no entanto, o martelo não bateu na cabeça, tampouco o prego ficou de ponta virada. Além de não ter fechado os votos suficientes para a sua eleição, Pacheco ainda precisa contornar problemas internos de sua base de apoio, que vai do PT a Jair Bolsonaro(Sem Partido), uma mistura nada homogênea. 

Sua candidatura é obra de uma engenharia política que conta, como dissemos,  com o aval, inclusive, da bancada de senadores do Partido dos Trabalhadores, o que apenas aumentam as contradições em torno dos apoios ao senador mineiro. Antecipando-se às eventuais críticas pelo apoio, o Partido dos Trabalhadores soltou uma nota onde faz uma exposição de motivos acerca dos compromissos assumidos pelo candidato a futuro gestor daquela Casa com o partido, como a defesa dos interesses nacionais, do SUS, do meio-ambiente, dos direitos civis, sociais, políticos e econômicos, onde tivemos um evidente retrocesso nos últimos anos. Informa, também, que a aliança é pontual, em torno de pautas, sem qualquer compromisso eleitoral futuro. Entra em cena, neste cenário político, o nome do ex-presidente Michel Temer(MDB-SP), hoje uma espécie de consultor político informal do presidente Jair Bolsonaro(Sem Partido). Momento houve em que o ex-presidente Temer por pouco não sofreu um processo de impeachment. Exímio articulador, ele seria o responsável pela ascendência de Rodrigo Maia(DEM-RJ) na disputa pela Presidência da Câmara dos Deputados. Num momento de aperto de Temer, Rodrigo Maia deu uma de Poncio Pilatos, ou seja, lavou as mãos. 

Integrante da Comissão de Constituição e Justiça, Rodrigo Pacheco, ex-companheiro de militáncia partidária de Temer, uma vez que era filiado ao MDB, entregou a relatoria do processo a um desafeto do ex-presidente. Em ambos os casos, Michel Temer se sentiu traído e, certamente, nas coxias esses fatos poderiam estar pesando agora quando se discute o apoio ao nome do senador Rodrigo Pacheco como concorrente à Presidência daquela Casa. Neste intervalo, o senador pernambucano, Fernando Bezerra Coelho(MDB-PE), líder do Governo naquela Casa, teria procurado, sem o sucesso, o apoio do presidente Jair Bolsonaro para concorrer àquelas eleições. O presidente teria reafirmado seu propósito de apoiar o nome do senador mineiro. Por outro lado, quando tomou conhecimento de que o seu candidato estaria recebendo o apoio do PT, ele não escondeu o profundo desconforto. Ele que, inclusive, já havia criticado o apoio do PT ao candidato indicado por Rodrigo Maia para sucedê-lo na Câmara dos Deputados, Baleia Rossi(MDB-SP). O DEM apoiou o processo de afastamento da presidente Dilma Rousseff da Presidência da República. O livro-bomba do ex-deputado Eduardo Cunha deve trazer mais detalhes sobre os bastidores daqueles dias sombrios, onde a nossa experiência democrática foi sensivelmente abalada.  

Se, como ele afirmou, água e óleo não deveriam se misturar, como entender que ele irá conceber essa mistura em relação à eleição do Senado Federal, onde emprestaria apoio a um candidato que conta com o aval do Partido dos Trabalhadores? Nos próximos dias saberemos se ele manterá esse apoio ao nome do senador Rodrigo Pacheco(DEM-MG). Independentemente dessas possíveis contradições, em princípio, deve ser colocado na balança as articulações envolvendo as eleições para a Câmara Federal e para o Senado Federal - naquela perspectiva de que eu te apoio aqui e tu me apoias ali - muito embora, aparentemente, os diálogos não estejam, assim, bem azeitados entre Rodrigo Maia(DEM-RJ) e David Alcolumbre(DEM-AP).


Charge! Laerte via Folha de São Paulo

 


segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

O xadrez político das eleições estaduais de 2022 em Pernambuco: Miguel Coelho, literalmente, pavimenta a estrada para o Campo das Princesas.





Faz algum tempo que não vou à cidade de Caruaru. Antes da pandemia, geralmente no mês de Outubro, sempre dava um jeito de ir àquela cidade do Agreste, levar as crianças ao Alto do Moura, comer uma chã de bode num daqueles restaurantes locais e, naturalmente, conversar sobre política. Aquela cidade é um dos maiores termômetros políticos do Estado. A festa de São João, realizada pela família Lyra, na fazenda Macambira, pode ser um indicador dos arranjos politicos em torno da disputa pela sucessão no Palácio do Campo das Princesas. Caruaru é uma das cidades do chamado Triângulo das Bermudas, ou seja, compõe um conjunto de três cidades estratégicas, que podem definir o rumo das eleições no Estado. Nos bastidores da política estadual, sabe-se que Raquel Lyra(PSDB), prefeita reeleita para mais um mandato, não esconde de ninguém seus projetos majoritários, ampliando o arco de diálogos com atores políticos para muito além de sua circunscrição, o que se constitui em mais uma sinalização de seus projetos políticos. Alargar a visão política, tomar contato com experiências inovadoras que estão ocorrendo em outras praças, assim como ampliar a capilaridade política são insumos importantes para quem alimenta ambições majoritárias, o que seria natural para quem atua neste campo. 

Até recentemente, a gestora apareceu ao lado do deputado federal Túlio Gadelha(PDT-PE), anunciando uma série de recursos que estão sendo carreados para o  município, através da liberação de emendas parlamentares. O fato gerou até um certo desconforto no também deputado federal Wolney Queiroz(PDT-PE), que tem base política naquele município, mas faz oposição à atual gestão. Túlio é um desses que tem convite garantido para o forró da Macambira, caso consigamos superar essa fase nebulosa provocada pela pandemia da Covid-19. Em princípio, o nome da oposição que deve concorrer às eleições estaduais de 2022 em Pernambuco, como candidato ao Governo do Estado, deve ser indicado - como já afirmamos por aqui em outras ocasiões - por uma dessas três famílias: Lyra, Ferreira e Coelho. Coincidentemente, as três mais jovens lideranças dessas famílias foram reeleitas para mais um mandato: Raquel Lyra(PSDB), em Caruaru; Anderson Ferreira(PL), em Jaboatão dos Guararapes e Miguel Coelho(MDB), em Petrolina. 

Salvo por algum impedimento imposto pela pandemia, conforme informamos acima, convém ficar atento sobre aos festejos juninos de 2021 ou, mais precismente, sobre quem serão os convidados para o São João da Fazenda Macambira. Noutra hipótese, fiquem atentos, igualmente, na relação de convidados para possíveis churrascos de bode no Bodódromo, às margens do São Francisco. Nesta última eleição municipal, o chefe do clã dos Coelho, o senador Fernando Bezerra Coelho(MDB-PE), Líder do Governo Bolsonaro no Senado, não mediu esforços em adubar as bases, movimentando-se por várias regiões do Estado. Os frutos podem ser colhidos nas eleições estaduais de 2022, de preferência com um rebento da família, ou talvez tenhamos aqui um caso raro de canibalismo político, pois há quem assegure que o candidato poderia ser ele mesmo e não o filho. Em todo caso, um dos Coelho, a depender, ainda, de intensas negociações em jogo, pode sair da cartola para disputar o Governo do Estado nas eleições de 2022.   

E, por falar nos Coelho, Miguel Coelho(MDB-PE), prefeito reeleito de Petrolina, literalmente pavimenta sua estrada para concorrer ao Governo do Estado em 2022. O deputado federal Fernando Coelho Filho(MDB-PE) obteve liberação de emenda federal destinada à duplicação da BR - 428, que liga a cidade ao Recife. A obra será realizada pelo DNIT - Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte - e está orçada em 45 milhões. Isso dará um grande impulso à principal atividade econômica do município, a fruticultura irrigada. A BR-428, em alguns trechos, encontra-se em péssimo estado de conservação, dificultando o transporte desses produtos. Ainda é muito cedo para se construir um consenso em torno da chapa majoritária da oposição ao Governo do Estado, em 2022, até porque, em meio aos anseios dessa nova safra de políticos, existem velhas raposas de olho no Campo das Princesas, desde longas datas. A fila é extensa, mas, aos poucos, a juventude de oposição - com o apoio da velha guarda familiar - começa a mostrar suas credenciais para concorrer ao cargo. Em sua posse, depois de anunciar os programas estratégicos para o seu segundo mandato, Miguel Coelho observou que: Petrolina é Pernambuco que dá certo. Melhor  sinalização dos seus projetos políticos impossível.

Se, por um lado, é possível observar essas intensas movimentações dos prefeitos Miguel Coelho e Raquel Lyra, o mesmo fenômeno ocorre em relação ao prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira(PL-PE), que, capitaneado pelo irmão, André Ferreira(PSL-PE), vem promovendo grandes articulações em Brasília, trazendo recursos para o município, inclusive na área de infraestrutura turística, importante insumo para a cidade que ele administra. Assim como ocorre em relação a Petrolina, com Miguel Coelho, Anderson Ferreira parece ter seus canais bem desobstruídos na capital federal, mantendo uma linha direta com ministros do Governo Bolsonaro. Politicamente, é tido como um aliado do Governo, o que facilita esse trânsito.   

Pelo lado da situação, um nome que desponta em todas as bolsas de apostas é o do ex-prefeito Geraldo Júlio(PSB), que assume a Secretaria de Desenvolvimento do Governo Paulo Câmara, uma secretaria de grande visibilidade e recursos, fundamental para pavimentar seus projetos políticos.  Deve emprestar à pasta uma gestão de caráter eminentemente político, com o propósito de adquirir musculatura para a disputa de 2022. Geraldo Júlio, inclusive, convidou dois homens de confiança, que trabalharam com ele na Prefeitura da Cidade do Recife. Depois de dois mandatos, a sua gestão à frente da prefeitura entrou num processo de desgaste, mas há uma expectativa de que João Campos(PSB), do mesmo partido, eleito na última eleição municipal o prefeito de capitais mais jovem do Brasil, possa fazer uma gestão inovadora, melhorando a imagem do partido junto ao  eleitorado urbano, retribuindo o inegável apoio político que sempre recebeu do ex-prefeito.   


José Luiz Gomes, Cientista Político.  


P.S.: do Contexto Político: Com muita antecedência, este blog costuma acompanhar as eleições, em todos os níveis, através de artigos como este, com o propósito de informar aos eleitores as costuras políticas; as movimentações dos possíveis postulantes; as articulações em jogo entre os partidos, candidatos e coalizões de forças políticas; e, num momento mais próximo do pleito, as estratégias de campanha, análise das pesquisas de intenção de voto, avaliação dos debates, entre outras questões. Embora isso às vezes torne-se inevitável - como ocorreu nas últimas eleições municipais do Recife - não é nosso propósito, nestes artigos em particular, emitir algum juízo de valor sobre este ou aquele candidato. O ambiente político do Estado, infelizmente, não é republicano, tampouco democrático - interditando a livre expressão do pensar, sem que isso não implique em represárias. Por outro lado, este mesmo ambiente turvo e hegemonizado por oligarquias políticas, não abre espaço para o surgimento de candidaturas de corte popular, republicano, movida pelo espírito público, que seriam tão bem-vindas para o gerenciamento dos negócios de Estado. Por outro lado, como fazemos um blog de política, seria impossível não abordarmos este assunto, nos mantendo alheios a essas movimentações. Aos leitores que desejarem, de fato, conhecer a opinião do editor, recomendo a leitura dos nossos editoriais, onde, de fato, elas são emitidas. 

domingo, 10 de janeiro de 2021

Drops político para reflexão: Os equívocos da Folha em relação a Haddad


"Na realidade, o jornal cometeu não um, mas dois equívocos em relação ao ex-ministro. Haddad foi um dos melhores ministros da educação dos últimos anos no Brasil, responsável, inclusive, pelo pool de ingresso de jovens pobres e negros ao ensino superior, uma verdadeira revolução na educação brasileira. Numa outra matéria do jornal, ao abordar esse avanço substantivo da nossa educação, o jornalista esconde o fato de que esse crédito deve ser dado aos Governos da Coalizão Petista, tratando genericamenete esse período como "década", como se políticas públicas e atores políticos específicos não estivessem por trás dessas conquistas. E, neste caso, os créditos também precisavam ser dados ao ex-ministro do Governo Lula, Fernando Haddad, assim como a outros nomes do Governo da Coalizão Petista, que, através de políticas públicas sistemáticas e articuladas, conseguiram essa proeza para a democracia substantiva no país. Este é o único indicador em relação à raça negra onde obtivemos avanços nos últimos 520 anos."

(José Luiz Gomes, Cientista Político, em editorial publicado aqui no blog)

Drops político para reflexão: A crise é civilizatória.


 

"A crise, no entanto, é civilizatória. Vivemos globalmente na sociedade da desigualdade e da devastação. Se o presente desenhar o futuro, estaremos indo para a barbárie, para a violência, para a miséria e para a exclusão de populações cada vez maiores, para o colapso ambiental, para regimes políticos autoritários e opressores."

Sílvio Caccia Bava, em editorial do Le Monde Diplomatique. 

Publisher: Paths (deviations?) of the Works Party


As election day approaches for the Presidency of the Chamber of Deputies, the indispositions between the current president of that House, Rodrigo Maia (DEM-RJ), and the President of the Republic, Jair Bolsonaro (Without Party), increase. As is well known, both support different candidacies, which partly explains these indispositions, which, in reality, have been occurring for a long time, with sporadic armistices, washed down with canapés, whose flavors are soon forgotten, since they are unable to demote seemingly irreconcilable political divergences. Our political field goes through one of the most delicate moments, inducing agreements and alliances previously unusual, such as the circumstantial and temporary support of the PT to the candidate presented by Rodrigo Maia, Baleia Rossi (MDB-SP). Both Democrats and emedebists were directly involved in the political weavings that culminated in the removal of former President Dilma Rousseff (PT), in a nebulous and unconstitutional plot, only now revealed in its entirety by the ex-congressman Eduardo Cunha's book bomb. .

These revelations sparked even more the spark of revulsion among those PT members who never agreed with this alliance, even in the face of a controversial political scenario like this, where representative democracy itself is at serious risk. And speaking of the Workers' Party, two facts have caught our attention in recent days. The farewell article of the ex-minister of Education, Fernando Haddad (PT-SP), communicating his decision and explanation of reasons for not collaborating with the Folha de São Paulo newspaper, as well as a possible statement by the former ex-minister of Justice , Tarso Genro (PT), stunned, suggesting that the PT should be closer to none other than the São Paulo governor, João Dória Junior (PSDB-SP), aiming at the 2022 elections. capable of producing a homogeneous mixture of water and oil, given the circumstances that arise. The reason for Haddad's departure from his position as a collaborator for the São Paulo newspaper was motivated by an editorial in that newspaper, which implies that his concern with the extinction of the legal imbroglios that involve former President Lula, in reality, would be related to his own viability as a candidate for the 2022 presidential election. Haddad would be a kind of Lula post.

I have been following the trajectory of the São Paulo politician for some time and, in essence, I disagree with much of the editorial. In fact, there is a kind of political pact between Lula and Fernando Haddad (PT-SP), which even creates some problems for the party in other places, as well as preventing the viability of the emergence of new leaders to present themselves to the electorate. as party representatives, as is the case, for example, of Camilo Santana (PT-CE), governor of Ceará, who is packed to leave the caption, co-opted by the PSB as a possible alternative to the presidential elections of 2022. The party's National Executive would never ratify her candidacy. Camilo Santana knows this. We know that. Haddad is a kind of "menudo" of Lula, that is, the offspring of a generation of (new?) Leaders that the ex-president tried to form after the debacle of the political exhaustion of the old comrades, during the PT governments in Brasília. Among these menudos, I believe, the only one who remains active is still Professor Fernando Haddad. There is, in fact, a canine fidelity or a debt of gratitude from Haddad to former President Lula, something that cannot be interpreted solely as an electoral purpose. There are other feelings at play and, in this respect, the São Paulo newspaper's editorial was unhappy.

In reality, the newspaper made not one, but two mistakes in relation to the former minister. Haddad was one of the best ministers of education in Brazil in recent years, responsible for the pool of entry of poor and black youth to higher education, a true revolution in Brazilian education, as we have already emphasized in other editorials. In another article in the newspaper, when addressing this substantive advance in our education, the journalist hides the fact that this credit should be given to the governments of the PT coalition, generally treating this period as a "decade", as if public policies and specific political actors were not behind these achievements. And, in this case, the credits also needed to be given to the ex-minister of the Lula government, Fernando Haddad, as well as to other names of the Petista Coalition Government, who, through systematic and articulated public policies, achieved this feat for substantive democracy in the country. This is the only indicator that has improved in relation to the black race in the last 520 years.

Michel Zaidan Filho: Sobre a pornografia e a espetacularização do sexo.




Herbert Marcuse, falando da liberalização dos costumes e ideias sexuais na década de 60 (a década da minissaia, da pílula anticoncepcional, do aborto e do amor livre) disse que a chamada "revolução sexual" era uma estratégia da sociedade industrial para conter o que seria uma verdadeira emancipação do sexo. É que a liberalização do uso da pornografia nos colocava a todos na condição de "voyeristas" da sexualidade, mas nos impedia de pratica-la. Há bastante tempo, se discute o uso contrarrevolucionario da pornografia em nossa sociedade, para além do interdito religioso. Pelo menos, desde a obra de Marques de Sade e de Casanova.
Quando uma instalação ou intervenção artística é feita, inopinadamente, na rua por um produtor cultural, sob alegação denuncia ou protesto contra o assassinato de mulheres e sua impunidade, é as pessoas correm para aplaudir, é preciso discutir as implicações culturais e políticas de tal manifestação.
-É uma política de gênero? É uma estratégia Boa imagético-discursiva contra o feminicidio?
É uma jogada de marketing para promoção pessoal do autor? Reivindica o movimento feminista para si tal manifestação? 0u é aquilo que os franceses denominam de "empate lê bourgois "?
Numa sociedade do espetáculo e do consumo, tudo pode ser apropriado e se transformar em propaganda, em mercadoria ou num mero "flautis vocis", discurso vazio, perlocutorio , destinado a persuadir pelo efeito retórico ou o choque moral que causa.
Convivia aos bem-pensantes e combativos militantes da causa feminina refletir um pouco sobre essas manifestações, antes de formar um juízo apressado sobre elas.
PS. Quem escreveres mal traçadas linhas não é nenhum moralista ou puritano. É um adepto da causa feminina.


Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE.

Tijolinho: Impasses, rebeliões e farpas na eleição para a Presidência da Câmara dos Deputados.



Com a proximidade da eleição para a Presidência da Câmara dos Deputados, prevista para acontecer em  primeiro de fevereiro, não seria incomum que os ânimos ficassem exaltados entre os dois campos de disputa, situação e oposição, com declarações de parte a parte, seja em pronunciamentos, seja através de postagens nas  redes sociais. Se, por uma lado, é difícil aos petistas - sobretudo depois dos pertados políticos que vazaram de um futuro livro escrito pelo ex-deputado Eduardo Cunha - engolirem essa aliança pontual com Rodrigo Maia(DEM-RJ), por outro lado, partidos como o PSL manisfestam um certo desconforto ao perfilarem ao lado de grêmios políticos como o PT, PCdoB, PSOL, Rede, absolutamente divergentes de sua linha programática e ideológica. Assim, esboça-se uma rebelião  entre os seus parlamentares, que não desejam sufragar o nome de Baleia Rossi(MDB-SP) para a Presidência daquela Casa Legislativa. O presidente nacional da legenda, Luciano Bivar(PSL-PE) estaria atuando como bombeiro, tentando apagar o  incêndio, ratificando a decisão do partido de votar no candidato de oposição e não no nome do candidato governista, João Lira(PP-AL). 

Embora eleito com o apoio decisivo do ex-presidente Jair Bolsonaro(Sem Partido), Luciano Bivar(PSL-PE) é um desses que romperam e não nos parece que haverá caminho de volta, apesar da máxima do ex-governador Paulo Guerra, que dizia que em política não existem "Nunca" nem "Jamais".  Confesso aos leitores que até hoje não entendi muito bem os motivos da saída do presidente daquela agremiação, exceto, talvez, pelo que se especula de que ele deseja um partido para chamar de seu. Rusgas, farpas, choros e arrependimentos serão a toada daqui para frente, numa eleição marcada por um grande paradigma político, bastante diferente de outros momentos, onde os arranjos não eram assim tão complexos, como a manutenção, já em UTI, da  própria saúde de nossa democracia representativa. Ao apagar das luzes, segundo informa um colunista, Maia promoveu uma série de nomeações para a ocupação de cargos na instituição, com o propósito de "acomodar" sua base aliada. A informação é segura - do contrário não estaríamos publicando por aqui - uma vez que ela vem respaldada pelos portarias publicadas pelo Diário Oficial. Os recursos de Maia são menos robustos - muito diferente do montante de verbas disponíveis para  liberação através de emendas parlamentares ou nomeações para a máquina - mas eles existem e estão sendo sensivelmente utilizados, consoante acertos políticos.  

Como um hábil ator político, possivelmente, Rodrigo Maia alimenta a estratégia de gerar fatos políticos, ampliando o conflito com o presidente Jair Bolsonaro, numa tentativa clara de demarcar espaço, beneficiando-se dos impasses relativos ao agravamento da pandemia do Covid-19, assim como em relação aos problemas relativos à vacinação em massa da população. Há quem observe, porém, que uma eventual derrota do deputado João Lira(PP-AL), apoiado pelo Planalto, não seria, assim, o fim do mundo. Poderia, até, trazer alguns dividendos políticos positivos para ele na disputa de 2022, pois ajudaria a  jogar o carma pesado do PT no colo dos seus opositores, um fardo difícíl de carregar,  em razão da profunda campanha de desgaste de imagem produzida contra este partido junto a uma opinião pública hoje muito influenciada por fake news. Influenciada, aqui, é eufemismo. Na realidade, uma opinião pública formada por mentiras disseminadas com propósitos sempre escusos. 

Editorial: Caminhos (e descaminhos?) do Partido do Trabalhadores.




Ao se aproximar o dia da eleição para a Presidência da Câmara dos Deputados, ampliam-se as indisposições entre o atual presidente daquela Casa, Rodrigo Maia(DEM-RJ), e o Presidente da República, Jair Bolsonaro(Sem Partido). Como é sabido, ambos apoiam candidaturas distintas, o que, em parte, explica essas indisposições, que,  na realidade, já ocorrem há um bom tempo, com armistícios esporádicos, regados a canapés, cujos sabores são logo esquecidos, posto que incapazes de demover divergências políticas aparentemente irreconciliáveis.  Nossa quadra política passa por um dos momentos mais delicados, indutor de acordos e alianças antes inusitadas, como o apoio circunstancial e temporável do PT ao candidato apresentado por Rodrigo Maia, Baleia Rossi(MDB-SP). Tanto os Democratas quanto os emedebistas estiveram diretamente envolvidos nas tecituras políticas que culminaram com o afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), numa trama nebulosa e inconstitucional, somente agora revelada em sua inteireza pelo livro-bomba do ex-deputado federal Eduardo Cunha. 

Essas revelações acenderam ainda mais a fagulha de repulsa entre aqueles petistas que nunca concordaram com essa aliança, mesmo diante de um cenário político controverso como este, onde a própria democracia representativa corre um sério risco. E, por falar no Partido dos Trabalhadores, dois fatos nos chamaram a atenção nos últimos dias. O artido de despedida do ex-ministro da Educação, Fernando Haddad(PT-SP), comunicando sua decisão e exposição de motivos para não mais colaborar com o Jornal Folha de São Paulo, assim como uma  possível declaração do também ex-ministro da Justiça, Tarso Genro(PT), sugerindo, pasmem, uma aproximação do PT com ninguém mais ninguém menos do que o governador paulista, João Dória Junior(PSDB-SP), visando as eleições de 2022. Bem se ver que o momento político é daqueles capazes de produzir uma mistura homogênea entre água e óleo, diante das circunstâncias que se apresentam. O motivo da saída de Haddad da condição de colaborador do jornal paulista foi motivado por um editorial daquele jornal, onde se insinua que sua preocupação com a extinção dos imbróglios jurídicos que envolvem o ex-presidente Lula, na realidade, estaria relacionado à sua própria viabilidade como candidato às eleições presidenciais de 2022. Haddad seria uma espécie de poste de Lula. 

Acompanho a trajetória do político paulista há algum tempo e, em essência, discordo de boa parte do editorial. De fato, há uma espécie de pacto político entre Lula e Fernando Haddad(PT-SP), o que, inclusive, cria alguns problemas para o partido em outras praças, assim como interdita a viabilidade do surgimento de novas lideranças para se apresentarem ao eleitorado como representantes do partido, como é o caso, por exemplo,  de Camilo Santana(PT-CE), governador do Ceará, que está de malas prontas para deixar a legenda, cooptado que foi pelo PSB como possível alternativa às eleições presidenciais de 2022. A Executiva Nacional do partido jamais homologaria sua candidatura. Camilo Santana sabe disso. Nós sabemos disso. Haddad é uma espécie de "menudo" de Lula, ou seja, rebento de uma geração de (novas?) lideranças que o ex-presidente tentou formar depois da debacle do desgaste político dos antigos companheiros, durante os governos do PT em Brasília. Dentre esses menudos, creio, o único que permanece ativo ainda é o professor Fernando Haddad. Há de fato, uma fidelidade canina ou uma dívida de gratidão de Haddad ao ex-presidente Lula, algo que não pode ser interpretado unicamente como um propósito eleitoral. Há outros sentimentos em jogo e, neste aspecto, o editorial do jornal paulista foi infeliz. 

Na realidade, o jornal cometeu não um, mas dois equívocos em relação ao ex-ministro. Haddad foi um dos melhores ministros da educação dos últimos anos no Brasil, responsável, inclusive, pelo pool de ingresso de jovens pobres e negros ao ensino superior, uma verdadeira revolução na educação brasileira, conforme já enfatizamos em outros editorais. Numa outra matéria do jornal, ao abordar esse avanço substantivo na nossa educação, o jornalista esconde o fato de que esse crédito deve ser dado aos Governos da Coalizão petista, tratando genericamenete esse período como "década", como se políticas públicas e atores políticos específicos não estivessem por trás dessas conquistas. E, neste caso, os créditos também precisavam ser dados ao ex-ministro do Governo Lula, Fernando Haddad, assim como a outros nomes do Governo da Coalizão Petista, que, através de políticas públicas sistemáticas e articuladas, conseguiram essa proeza para a democracia substantiva no país. Este é o único indicador que melhorou em relação à raça negra nos últimos 520 anos.  

Um outro quadro petista que respeito bastante é o ex-ministro da Justiça, Tarso Genro. Inteligente e perspicaz, o gaúcho se constitui num dos mais argutos observadores da nossa cena política, emitindo opiniões sempre muito respeitadas. Como afirmamos antes, no início deste editorial, a quadra política, numa dimensão diria que internacional, muito mais do que confusa, é extremamente preocupante, pois compromete os tecidos social, democrático, ambiental e, por consequência, civilizatório. Ou a humanidade dá um basta a este tsunami fascista e ultraliberal ou corremos um sério risco de nos encaminharmos para uma barbárie. Não sem motivos, há uma série de reflexões entre os analistas sociais mais consequentes em torno de uma sociedade pós-capitalista. Não preciso entrar nos detalhes sobre como este cenário se apresenta no país, algo discutido ao longo dos nossos editoriais. Talvez, diante dessas contingências políticas impostas pelo momento é que o ex-ministro tenha sugerido uma aproximação do PT ao PSDB do polêmico governador paulista, João Dória Junior, algo que, só de pensar, provoca urticárias e alguns membros e militantes da agremiação. Somente no contexto exposto é que se pode compreender o posicionamento de Tarso Genro. Mas, como disse, é bom ficar atento, pois ele costuma saber do que está falando.     

Charge! Duke via o Tempo

 


sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Editorial: Boas e más notícias em relação ao Coronavírus.


O mundo ainda acordou hoje sob os efeitos da ressaca política dos episódios do dia 06, ocorrido nos Estados Unidos, quando partidários do presidente Donald Trump invadiram o Capitólio, insatisfeitos com os resultados das últimas eleições presidenciais,  que sufragaram o nome de Joe Biden, do Partido Democrata, como vencedor daquele pleito. Donald Trump mudou completamente sua narrativa discursiva após o malogro de subverter as regras do jogo imposto nos limites da democracia representativa, que ratificaram o nome de Joe Biden como vencedor do pleito e futuro presidente dos Estados Unidos. Ao longo dos anos, a experiência democrática americana passa por um processo de fragilização, que pode ser explicado por inúmeros fatores - até mesmo em relação à composição étnica de sua população, com a chegada de imigrantes de outros países - mas, como disse antes, eles são rígidos na observação de alguns pressupostos basilares do regime democrático, como o respeito às regras de acatamento dos resultados eleitoriais, assim como ao princípio da alternância do poder. O incitamento a não observância dessas regras é considerado fato grave, quando imputado ao mandatário de turno  do cargo, tornando-o passível de um processo de impeachment, como se pensa em relação a Donald Trump, mesmo há poucos dias da entrega do mandato. 

Há várias leituras sobre esse fato político entre os analistas sociais, seja ele cientista político, historiador ou sociólogo. Alguns apontando um gravíssimo precedente, que pode a vir se repetir em outros países, consoante os arranjos políticos em curso, que integra essa onda conservadora de ultradireita, que traz, no seu bojo,  uma orientação política ultraliberal, que subverte valores democraticos em vários países, uma racionalidade incompatível com o respeito aos diretios individuais e coletivos, predadora em relação ao meio-ambiente. Uma lógica de acumulação do capital fanancista que está produzindo uma verdadeira catástrofe anticivilizatória. Outros observadores, no entanto, advogam que o que houve no dia 06 foi o debacle desse processo, ao se evitar que os vândalos materializem seu projeto, quando as instituições ainda se mostraram sólidas o suficiente para evitar o desmonte do edifício democrático. Aliado a isso, um outro indicador promissor para este último grupo seria o acúmulo de derrotas da chamada supremacia branca em eleições pontuais realizadas naquele país. Aqui sim, há um gostinho de vitória da luta antirracista, com repercussões em todo o mundo, dado o peso norte-americano que essa causa assumiu com o movimento Vidas Negras Importam.  

Aqui no Brasil, depois dos trágicos números do recrudescimento da Covid-19, que já nos elevou à triste marca dos 200 mil mortos, finalmente, as boas notícias do Ministério da Saúde, comunicando a negociação para a aquisição de um montante de vacinas superior a 400 milhões de doses, capaz, no final, de garantir uma dose dupla da vacina a cada brasileiro, conforme observação de um colunista político, que teve o cuidado de fazer as contas dos números apresentados pelo Governo Federal, através do ministro Eduardo Pazuello, da Saúde. Ainda segundo o ministro, essas vacinas deverão ser distribuídas de forma equânime, conforme as necessidades, entre os entes federados. Uma outra notícia alvissareira é a superação dos problemas inciais relativos à aquisição de insumos básicos como agulhas e seringas. A melhor notícia, no entanto, é o anúncio do índice de imunidade proporcionado pela CoronaVac, vacina que está sendo produzida pelo Instituto Butantan, avaliado em 78%. Esse índice é considerado muito bom em situações do gênero, onde algo em torno de 50% a 60% já seriam bem-vindo. 

O profundamente lamentável nisto tudo é o contumaz uso político desse drama de saúde pública que o país atravessa, com objetivos claramente eleitoreiros, visando as próximas eleições presidenciais de 2022, orquestrado por pretendentes ao cargo. Por questões óbvias, não vou aqui citar nome, mas os brasileiros e brasileiras bem-informados sabem a quem estamos nos referindo. Até o nome da CoronaVac passou a ser associado diretamente a este ator político, de ambições desmedidas, extremamente oportunista, capaz de aliar-se a Deus e ao Diabo para obter seus objetivos. Trava uma luta desesperado para dar o start de vacinação em massa em seu reduto político, de olho nos dividendos que podem ser colhidos nas eleições presidenciais de 2022. Outro dia, circunstancialmente, tivemos a oportunidade de acompanhar um debate antigo, onde ele trava um embate com um ator político do Partido Socialista Brasileiro. Profundamente didático para conhecermos sua personalidade.   


Charge! Duke via O Tempo

 


quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Tijolinho: Medidas restritivas de aglomerações no Estado.



O governador Paulo Câmara(PSB-PE) se reuniu com os prefeitos da região metropolitana do Recife, com o objetivo de ajustar as medidas de contenção ao avanço do coronavírus no estado, que tem demonstrado um grande recrudescimento nos últimos dias, em todo o país. Ainda no dia de ontem, foram registradas 1.226 mortes, índice apenas comparável aos  piores momentos do primeiro surto da doença entre nos, quando medidas radicais de restrições de contato social precisaram ser adotadas. Hoje, com a economia ainda mais fragilizada e a pressão do mercado, medidas assim, embora necessárias, não seriam bem-vindas, em razão da grita dos comerciantes. Ainda assim, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Calil, do PSD, resolveu correr o risco, em razão dos problemas de estrangulamento da rede hospitalar do município. Um remédio amargo, mas menos amargo do que a perda de vidas decorrentes das complicações pelo contágio com o vírus. Alguns países europeus estão radicalizando, como a Inglaterra, que determinou que os alunos ficassem em casa novamente. Aquele país europeu, inclusive, enfrenta  problemas com uma variante do vírus, mas já iniciou a vacinação em massa da população.

Infelizmente, diante dos impasses com a questão da vacinação, envolvendo o poder central e os entes federados, assim como em relação ao destravamento da burocracia internacional para a aquisição da vacina - neste caso registro os avanços em relação às negociações de compra de doses produzidas pelo lnstituto Serum, da Índia - não descarto a possibilidade de os governos estaduais adotarem medidas radicais, assim como já ocorreu em Belo Horizonte, prevista para ser mantida por três semanas. Se dependesse da opinião do renomado cientista  Miguel Nicolelis, que assessora o Consórcio Nordeste nesta questão, um novo lockdown nacional precisa ser adotado imediatamente, sob pena de termos dias sombrios pela frente, com leitos de UTIs abarrotados, milhares de mortos e contaminados.  

Depois do encontro do governador, já li vários pronunciamentos dos prefeitos municipais de áreas litorâneas anunciando medidas preventivas para evitar aglomerações e, consequentemente, aumento do número de casos e mortes. As aglomerações que ocorrem nas praias nos finais de semana, com uma população já saturada do confinamento, certamente, contribui para a ampliação do número de casos de contágio pelo vírus. Essas medidas são um indicador de que a reunião surtiu seus efeitos positivos. Melhor ainda seria que, de forma consciente, a população se mantivesse atenta à necessidade de se adotar medidas que contribuíssem para evitar essas aglomerações, o que não vem ocorrendo. Neste caso, não resta outra alternativa que não a adoção de medidas mais duras pelo poder público, como uma nota emetida pela Secretaria de Defesa Social informando que intimará para prestar esclarecimentos quem violar as normas estabelecidas no tocante às proibições de aglomerações.    

Editorial: A democracia americana em risco.



Ainda durante os debates da última eleição presidencial americana, vencida por Joe Biden, do Partido Democrata, li um artigo do linguista Noam Chomsky, que me deixou bastante preocupado. Naquele artigo, entre outras inquietações, o ativista dos direitos humanos americano demonstrava uma grande preocupação com os rumos da democracia americana, em caso de as milícias armadas apoiadoras do então ainda presidente Donald Trump, não aceitarem o resultado do jogo e, insufladas, tentarem contestar o que as urnas indicavam, ou seja, uma vitória do candidato democrata. Ontem, dia 06, com a invasão do Capitólio - o  Congresso Americano -  as preocupações do linguista começaram a se confirmar, abrindo um precedente perigoso, que põe em risco não apenas aquela experiência democrática, mas o regime de democracias de outros países, principalmente entre aqueles países cujos líderes se espelham no presidente americano, fenômeno político que se espalha por vários continentes, com seus ilustres representantes latino-americanos.  

Alguns analistas políticos advogam aqui uma clara tentativa de golpe de estado, algo inédito na experiência democrática norte-americana, que não é lá grandes coisas, tem suas falhas evidentes, mas sempre deram um jeito de salvar as aparências, inibindo essas aventuras, caracterísitica comum entre as ditas republiquetas de bananas. Neste momento, entre os países que constrangem a democracia, milícias apoiadoras de governos com tendências autoritários - em alguns casos armadas - estão sendo instrumentalizadas para objetivos antidemocráticos, numa simbiose de interesses econômicos, políticos e geopolíticos, de matriz financista ou ultraliberal, que já não consegue viabilizar-se no contexto de um regime democrático, portanto precisa destruí-lo para consolidar seu projeto de poder e implementar sua agenda nefasta, incapaz de ser negociada em praça pública, exceto, talvez, entre os apoiaores insanos. O rolo compressor é perverso, anticivilizatório, predador e está comprometendo profundamente os tecidos social, democrático e ambiental. Uma espécie de capitalismo pandêmico, que está conduzindo-nos  a um desastre, a uma barbárie. Não há limites na consecução de seus piores objetivos.  

A negligência em relação à saúde pública, assim como o desprezo pelos procedimentos dos regimes democráticos causa urticárias em suas principais lideranças pelo mundo afora, com apoio de setores neopentecostais, militares, milicianos e grupos protofascistas. Como temos discutido por aqui, há até uma convergência de agenda, a princípio contraditória - como o apoio de grupos neopentecostais a práticas anticristãs ou sua aproximação com o crime organizado - envolvendo até mesmo denúncias de tráfico de drogas e expedientes milicianos. Uma das explicações possíveis é a tese da prosperidade - que guia esses grupos neopentecostais - assim como a sua penetração geográfica. Afinal, a maior força do neopentecostalismo está nas periferias empobrecidas,  nas favelas, controladas por traficantes e grupos milicianos armados. No Rio de Janeiro, por exemplo, 1 em cada 4 pessoas já vivem, literalmente, sob o controle das milícias. Ali já se observam, nitidamente, as digitais do Capitalismo Gore. Para sobreviver naquele ambiente é preciso fazer acordos e esses acordos também incluem os representantes de seitas neopentecostais, daí se entender essa perniciosa e singular aliança.  

E, como as contradições são uma norma desse momento delicado enfrentado pela civilização, a normalidade democrática dos americanos estará nas mãos de chefes militares e ex-ministros da defesa, que já assinaram uma nota informando que as regras do jogo devem ser respeitadas e que não admitiriam ou endossariam qualquer aventura proponente do contrário. No artigo citado acima, o linguista Noam Chomsky ainda fazia referênfia a este fato, observando que, em algumas operações recentes, o próprio presidente Donald Trump utilizou mercenários armados para as suas ações. Grupos e milícias armadas sempre se constituíram em graves ameaças aos regimes democráticos. Isso desde o surgimento do nazismo ou até antes, se nos aprofundarmos nos exemplos históricos. 

Facilidade na aquisição de armas, treinamento militar a civis deveriam ser muito bem observados, restritivos e monitorados com muito cuidado por aqueles que lutam pela preservação da democracia. Permissividade neste tema é uma prática que deveria ser combatida e rechaçada desde suas origens. Não é incomum a formação de "exércitos de cristo" junto a determinados grupos ou seitas neopentecostais, numa inegável tentativa de imprimir um imaginário de militarização de seus atos, sempre com prejuízos para a democracia, uma vez que esses grupos são induzidos a impor sua vontade sobre os outros, fato comprovado pelos constantes ataques aos terreiros de religiões afro-brasileira, em sua maioria, em ações individuais, comentidas por surtados.  O verdadeiro "Exército de Cristo" era composto por doze apóstolos que pregavam a paz e a justiça entre os homens. Nunca o ódio.  

As forças do campo democrático e progressista ainda não esboçaram uma reação à altura que o momento político exige. Estão inertes, acompanhando de camarote os acontecimentos. Como já externamos por aqui, todas as ações desses grupos que flertam com o fascismo  são milimetricamente planejadas. O fascismo tem um método, o fascismo tem um programa, o fascismo tem uma ideologia. O que ocorreu nos Estados Unidos é apenas um esboço do que pode vir a ocorrer em outras praças, caso esse projeto se sinta ameaçado. O roteiro do filme já foi escrito e desta vez ele não foi escrito pelos roteirista da indústria cinematográfica americana, mas pelo mainstream ultraconservador da banca internacional.   

As vozes das mulheres quilombolas

 


As vozes das mulheres quilombolas
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Selma dos Santos Dealdina é organizadora do livro 'Mulheres quilombolas', que reúne ensaios e poemas sobre o papel das mulheres nessas comunidades (Foto: Divulgação)

 

“Ser mulher quilombola é sinônimo de resistência. Significa carregar na identidade, no corpo, no cuidado com a família, na lida no campo ou na agitação do urbano uma história ancestral de muita dignidade”, assim Nilma Lino Gomes apresenta Mulheres quilombolas: territórios de existências negras femininas, organizado por Selma dos Santos Dealdina.

O livro reúne textos de mulheres de diferentes quilombos espalhados pelo Brasil, que reforçam, sob diferentes perspectivas, a afirmação acima. Mas o que seria um quilombo? Segundo Carlídia Pereira de Almeida, quilombo pode ser definido de várias maneiras, e a história de seu conceito “é controversa entre a população afrodescendente”, uma vez que “cada quilombo é diferente do outro e não há necessidade de fixar categorias estáticas, devido ao processo de reconhecimento da própria comunidade”. Entre as muitas definições de quilombo, algumas características parecem se repetir: “São comunidades que travam diariamente o embate pelo direito à terra e ao território, bem como por políticas públicas específicas, das quais foram sistematicamente privadas devido ao racismo do Estado”, como lembra de Almeida.

Os quilombos representam também, de acordo com Selma dos Santos Dealdina, “um projeto de partilha, de viver em comunidade, de construção de território enquanto coletivo, compartilhando o acesso a bens, em especial à terra”. O quilombo é uma alternativa ao capitalismo, afirma a pesquisadora. Talvez por isso, e principalmente neste governo, ele seja tão mal visto por aqui.

Nessas comunidades, as mulheres exercem um papel fundamental, pois são elas que transmitem oralmente seus valores culturais, sociais, educacionais e políticos para os mais jovens, ou seja, entre outras funções, cabe a elas serem as “guardiãs da pluralidade de conhecimento que são praticados nos territórios quilombolas”, como se lê no ensaio assinado por Givânia Maria da Silva.

Entre esses muitos conhecimentos, afirma Dealdina, estão aqueles relacionados ao cuidado da roça, das sementes e “da preservação de recursos naturais fundamentais para a garantia dos direitos”. Valéria Pôrto dos Santos destaca a prática da agroecologia, “uma ciência que valoriza o conhecimento agrícola tradicional, desprezado pela agricultura moderna […]. O principal indicador deve ser o bem-estar da população, e não a produção econômica”, o que leva a um “consumo consciente e sustentável, além de inserir práticas educativas nos diferentes espaços comunitários”.

Este livro chama a atenção para essa sabedoria, para essa “inteligência do sensível”, que apreende o mundo como totalidade viva e que, diferentemente do capitalismo, não produz ecocídios, como denuncia o pensador afro-europeu Dénètem Touam Bona, no recém-lançado Cosmopoéticas do refúgio (Cultura e Barbárie).

Por vezes o que acontece é que a sociedade civil e a academia se apropriam desses saberes das comunidades quilombolas para “uma pesquisa individualista e sem responsabilidade coletiva”, como já alertava, nos anos 1990, Dona Procópia, citada por Dealdina. Dessa forma, esses saberes expropriados dos quilombolas acabam sendo usados para outros fins, que não se coadunam com a compreensão de coletividade, fundamental para essas comunidades.

Além de ensaios, há também poemas no livro, entre eles, “Povo Negro”, de Ana Cleide da Cruz Vasconcelos, cujos versos enfatizam a luta pelo território, que é comum às comunidades quilombolas, já que ao longo dos séculos vêm sendo privadas de suas terras: “O povo negro é trabalhador/é pescador pra sua família alimentar./ O povo negro quer terra pra morar,/ quer terra pra plantar, mas não tem lugar”.

Em outro poema, “Mulheres da Amazônia”, Vasconcelos traz à tona a força das mulheres da Amazônia, “negras, indígenas, pescadoras./ As lavadeiras, as parteiras e as benzedeiras”, que não conheciam seus direitos, mas agora conhecem e conseguiram avançar em todas as áreas, como bem se pode observar nas biografias das estudiosas que assinam os textos desta antologia.

Cabe aqui, contudo, uma ressalva: a força das mulheres negras não significa que elas possam suportar tudo, “inclusive a violação de direitos fundamentais como educação, saúde, oportunidades de trabalho digno etc.”, como enfatiza Maria Aparecida Mendes.

Mulheres quilombolas é um livro fundamental, que nos dá a oportunidade de conhecer as experiências de mulheres negras que “silenciadas avançaram. Invisibilizadas avançaram. Aquilombadas, avançaram”, como diz Flávia Oliveira no texto de orelha.

Dirce Waltrick do Amarante é autora, entre outros, de Cem encontros ilustrados (Iluminuras).

Mulheres quilombolas: territórios de existências negras femininas
org. Selma dos Santos Dealdina
Jandaíra
168 páginas – R$48,00

(Publicado originalmente no site da Revista Cult)

Charge! Duke via O Tempo

 


quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Editorial: O Brasil, de fato, vive um mau momento econômico?



Os profissionais de medicina já haviam alertado para os problemas psíquicos que devem atingir a população em relação ao confinamento imposto pela pandemia do coronavírus. Somente depois de superarmos essa fase do isolamento social - algo que pode ser obtido com a vacinação em massa da população - é que teremos uma ideia mais concreta sobre esses danos à saúde mental da população. Sou informado sobre uma matéria de um grande jornal paulista, dando conta de que as mulheres teriam maiores probabilidades de apresentarem esses sintomas e patologias e fico tentando imaginar por quais motivos elas teriam maior propensão ao problema. Como não li a matéria, seria injusto de nossa parte ficar aqui fazendo conjecturas sobre o assunto. Além de injusto, seria uma deslealdade com nossos fiéis leitores e leitoras. Sem melindres, porém, já que estamos tratando de coisas sérias, arriscaríamos um possível palpite de cronista fã de carterinha de Luis Fernando Veríssimo, aquele da Comédia da Vida Privada. Ah! como sinto falta das interpretações de Fernanda Torres e Marco Nanini. Um mote desse e não temos dúvidas de que ele estaria explorando algumas possibilidades, como, por exemplo, a frustração feminina diante do fechamento ou restrições de acesso aos shopping centes, privando -as de um dos seus maiores prazeres: fazer compras. Confinammento social é fogo, gente! Outro dia circulou um vídeo onde uma amante - descompensada - procura um homem casado, em sua residência oficial, que ele dividia com a esposa e filhos.   

Mas, o que nós gostaríamos de tratar com vocês aqui, hoje, diz respeito a uma fala do presidente Jair Bolsonaro(Sem Partido), afirmando sua preocupação com o fato de o país está quebrado e ele já não mais saber o que fazer. O Ministro da Economia, Paulo Guedes, saiu em sua defesa informamdo que, de fato, do ponto de vista das finanças públicas, haveria convergências com o chefe. No contexto beligerante que estamos vivendo hoje, por vezes até por oportunismo, surgiram várias vozes dissoantes, em protesto contra a fala do presidente. Nos bastidores, comenta-se que há no governo uma queda de braço evidente entre os ministros Paulo Guedes e Rogério Marinho, do Desenvolvimento, em torno da manutenção ou não do Auxílio Emergencial, um fundo de emergência para fazer frente aos graves probelmas econômicos que vieram no bojo da crise de saúde pública. Segundo alguns analistas, esse auxílio seria fundamental para garantir a popularidade do presidente junto às classes C e D, algo de bom alvitre para quem pretende uma reeleição. O dono do cofre, Paulo Guedes, tem urticárias sempre que escuta essa tese circulando nos corredores do Palácio do Planalto. 

Não se pode fazer vista grossa aos problemas econômicos advindos com as restrições de contato e fechamento de estabelecimentos comerciais e indústriais durante o período imposto pelos lockdown geral ou parcial. Comércios foram fechado, postos de empregos foram perdidos durante esse periodo. Certamente, uma das razões para os governantes não adotaram medidas tãos radicais neste momento de retomada do surto da doença - seria a pressão exercida pelo capital. Paulo Guedes não gosta muito desses números, mas o IBGE aponta que três milhões e meio de empregos formais foram perdidos num intervalo de apenas um ano. Em São Paulo, já está ocorredndo um fenômeno curioso. Com as restrições impostas para a abetura do comércio - aliada ao aumento dos impostos como o ICMS - os comerciantes estão se deslocando para outras praças. Com o prolongamento dessa pandemia, se, no passado, tevemos uma guerra de incentivos fiscais entre os entes federados, hoje pode se falar num deslocamento do capital em função de medidas brandas ou rigorosas em relação  à circulação de pessoas. 

Faz algum tempo que não estamos sob um bom momento econômico, mas dizer que o país está quebrado, naturalmente, foi força de expressão do presidente Jair Bolsonaro. Aliás, quando a crise de saúde pública nos atingiu, já não íamos muito bem das pernas, com a precarização e  aumento sensível de trabalhadores que viviam sob a condição de insegura da informalidade. Como diria os próprios economistas, a tempestade é perfeita e, ainda mais perfeita, se consideramros os ajustes impostos por uma política ultraliberal, com sua dinâmica ou lógica de insensibilidade às garantias e direitos individuais e coletivos, excludente dos contingentes populacionais que não conseguem participar dos banquetes e orgias consumistas. Inclusive no setor público, temos déficits e dívidas, mas também temos lastro e créditos. Como disse, o termo utilizado pelo presidente Jair Bolsonaro(Sem Partido) pode ser enquadrado como força de expressão, fruto do expontaneísmo com que se comunica com seus eleitores. 

Tijolinho: Corrupção não se combate com decreto, Ives Ribeiro


Houve um tempo em que acompanhei mais de perto a trajetória política do prefeito de Paulista, Ives Ribeiro(MDB-PE). Era um tempo em que o ex-governador Miguel Arraes ainda era vivo e Ives era uma espécie de representante do arraesismo na região metropolitana norte do Recife, tendo sido prefeito de Itapissuma, Igarassu e Paulista, em todas essas cidades por dois mandatos consecutivos, um caso único em todo o país. O tempo passou e cometo a franqueza de dizer - franqueza é sempre uma qualidade que incomoda - que, se o velho D. Miguel Arraes ainda estivesse vivo, certamente o aconselharia a ficar atento às más companhia. Mas não vamos entrar aqui em polêmicas, sempre desgastantes, como se já não nos bastassem os sofirmentos infringidos por essa nefasta pandemia, que não emite sinais de enfranquecimento. Outro dia, diante dos seus projetos de intervenções na orla do município, sugeri que ele ficasse atento aos irreversíveis danos ambientais produzidos no município, ao longo dos últimos anos, que já comprometeram recursos naturais e referências históricas importantes, tudo em nome da sanha da especulação imobiliária. 

Naquela postagem, também fazia referência aos graves problemas de corrupção no município, envolvendo os poderes Executivo e Legislativo. Isso se arrasta há longos anos, como uma prática que parece ter se institucionalizado, para o desconforto dos cidadãos e cidadãs paulistenses, que pagam seus impostos e são lesados com os desvios  de recursos para fins nada republicanos, com prejuízos evindentes para  os serviços e equipamentos públicos. Por vezes, em razão das dificuldades de os órgãos de controle e fiscalização do Estado realizarem seus trabalhos a contento, seria de muito bom alvitre que o próprio eleitor produzisse, através do seu voto, essa assepcia política, impedidndo que esses agentes continuassem na condução dos negócios públicos. Infelizmente, nem sempre isso ocorre como nós gostaríamos. 

Isso vem a propósito de uma espécie de termo de compromisso anticorrupção que o prefeito Ives Ribeiro(MDB-PE) exigiu que os secretáros assinassem, assumindo o compromisso de combater a corrupção no município. O ato tem um valor simbólico, mas tenho dúvidas sobre seus efeitos práticos. Não por desconfiar das intenções do prefeito e dos seus futuros secretários - que devem ser as melhores possíveis -, mas, sobretudo, por saber da complexidade do problema da corrupção no país. Trata-se de uma corrupção de caráter endêmico, que não se combate a partir de um decreto. É uma questão de costumes, ou, mais precisamente, de mau costume, o que nos torna uma das nações mais corruptas do planeta. Outro dia comentava com um colega que temia bastante pela gestão do Eduardo Paes(DEM-RJ) no Rio de Janeiro. Ali, a corrupção está de uma forma tão entranhada, que parece que a máquina não anda sem o seu concurso. Não deve ser nada fácil conduzir uma máquina nessas condições, completamente estigmatizada.   

Charge! Via Folha de São Paulo

 


terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Editorial: Finalmente, o PT decide apoiar a candidatura de Baleia Rossi.


Como sempre enfatizamos por aqui, o momento político e institucional  que o país atravessa não é dos melhores e pode tornar-se ainda mais nebuloso, caso as instituições basilares da democracia representativa não sejam preservadas. Daí se entender que a próxima eleição para a Presidência da Câmara dos Deputados assuma tal magnitude, enquadrando-se neste axioma observado acima, bem diferente de outras eleições, realizadas, digamos assim, em clima de normalidade democrática. Como já tratamos dessas questões por aqui, em inúmeros editoriais, vamos nos deter numa resolução recente do Partido dos Trabalhadores, que, depois de muitas negociações internas, resolveu, finalmente, apoiar o nome do Deputado Federal Baleia Rossi, do MDB Paulista, o candidato indicado pelo atual presidente daquela Casa Legislativa, Rodrigo Maia(DEM-RJ). A bancada petista, composta por 54 Deputados Federais - a maior bancada, por sinal - ficou dividida, mas, no final, construíu um consenso em torno do nome do Deputado Baleia Rossi. Havia até questões de gênero em jogo, como o lançamento de uma candidatura feminina nesta primeira fase da disputa, já que o jogo deve ser mesmo definido num segundo turno.  

Rodrigo Maia(DEM-RJ) tem sido muito otimista em relação ao resultado daquele pleito, que deve ocorrer no ínicio de fevereiro, mas é sempre bom ficar atento a uma observação de uma raposa da política mineira, Tancredo Neves, observando que, naquele escurinho, sobretudo em votação secreta, os homens traem. E as mulheres também, meu caro Tancredo, antes que nos acusem de misoginia. Há uma estimativa, por exemplo, de que nada menos do que 15 parlamentares do Partido Socialista Brasileiro não sigam a orientação da Direção Nacional da Legenda, que indicou o voto no candidato da oposição, Baleia Rossi(MDB-SP). Esses parlamentares devem sufragar o nome do Deputado Arthur Lira(PP-AL), que tem o apoio do Palácio do Planalto. Assim como ocorre com o PSB, não seria improvável que tal fato possa ocorrer em relação a outras agremiações políticas. Mesmo assim, a adesão do PT ao nome do Deputado Baleia Rossi deixou Rodrigo Maia mais tranquilo, ele que não escondia de ninguém sua tensão nos últimos dias.

Há quem observe nesses arranjos políticos em torno de apoios na disputa pela Presidência da Câmara dos Deputados possíveis acordos em relação às eleições presidenciais de 2022. Não seria improvável, mas seria precipitado tirar algumas conclusões. Partidos do campo progressista, como o PSOL, por exemplo, ainda não resolveu acompanhar a decisão do PT, o que seria, em tese, um caminho "natural", sobretudo em se trantando das contingências políticas que estão em jogo neste momento. As atitudes desse partido, não raro, nos surpreendem bastante. Um dos argumentos para não aderir de imeditato à candidatura de oposição seria a de adquirir melhores condições de espaço na composições das comissões. O apoio no segundo turno - de acordo com o raciocínio daquela agremiação - aumentaria o seu poder de barganha nas negociações. Se nos permitem a digressão, um raciocínio estritamente fisiológico, o que, a rigor, não combinaria com o perfil deste partido. 

O que se comenta nas coxias é que o Planalto teria acusado o golpe em relação ao apoio do PT ao nome indicado por Rodrigo Maia(DEM-RJ). Em todo caso, considerando a imprevisibilidade das traições - normalmente, exceto talvez pelo PSB, quem trai não antecipa a traição - não se pode aqui arriscar um prognóstico de um resultado sobre aquela eleição. O mais importante precisa ser preservado. O papel do Legislativo no contexto de uma democracia representativa, instância de poder do equilíbrio de forças entre os três poderes. Normalmente, em situações de Executivos fortes, tanto o poder Legislativo quanto o Poder Judiciário, por razões óbvias, se sentem ameaçados em sua autonomia e independência.