Herbert Marcuse, falando da liberalização dos costumes e ideias sexuais na década de 60 (a década da minissaia, da pílula anticoncepcional, do aborto e do amor livre) disse que a chamada "revolução sexual" era uma estratégia da sociedade industrial para conter o que seria uma verdadeira emancipação do sexo. É que a liberalização do uso da pornografia nos colocava a todos na condição de "voyeristas" da sexualidade, mas nos impedia de pratica-la. Há bastante tempo, se discute o uso contrarrevolucionario da pornografia em nossa sociedade, para além do interdito religioso. Pelo menos, desde a obra de Marques de Sade e de Casanova.
Quando uma instalação ou intervenção artística é feita, inopinadamente, na rua por um produtor cultural, sob alegação denuncia ou protesto contra o assassinato de mulheres e sua impunidade, é as pessoas correm para aplaudir, é preciso discutir as implicações culturais e políticas de tal manifestação.
-É uma política de gênero? É uma estratégia Boa imagético-discursiva contra o feminicidio?
É uma jogada de marketing para promoção pessoal do autor? Reivindica o movimento feminista para si tal manifestação? 0u é aquilo que os franceses denominam de "empate lê bourgois "?
Numa sociedade do espetáculo e do consumo, tudo pode ser apropriado e se transformar em propaganda, em mercadoria ou num mero "flautis vocis", discurso vazio, perlocutorio , destinado a persuadir pelo efeito retórico ou o choque moral que causa.
Convivia aos bem-pensantes e combativos militantes da causa feminina refletir um pouco sobre essas manifestações, antes de formar um juízo apressado sobre elas.
PS. Quem escreveres mal traçadas linhas não é nenhum moralista ou puritano. É um adepto da causa feminina.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE.
Nenhum comentário:
Postar um comentário