Essas revelações acenderam ainda mais a fagulha de repulsa entre aqueles petistas que nunca concordaram com essa aliança, mesmo diante de um cenário político controverso como este, onde a própria democracia representativa corre um sério risco. E, por falar no Partido dos Trabalhadores, dois fatos nos chamaram a atenção nos últimos dias. O artido de despedida do ex-ministro da Educação, Fernando Haddad(PT-SP), comunicando sua decisão e exposição de motivos para não mais colaborar com o Jornal Folha de São Paulo, assim como uma possível declaração do também ex-ministro da Justiça, Tarso Genro(PT), sugerindo, pasmem, uma aproximação do PT com ninguém mais ninguém menos do que o governador paulista, João Dória Junior(PSDB-SP), visando as eleições de 2022. Bem se ver que o momento político é daqueles capazes de produzir uma mistura homogênea entre água e óleo, diante das circunstâncias que se apresentam. O motivo da saída de Haddad da condição de colaborador do jornal paulista foi motivado por um editorial daquele jornal, onde se insinua que sua preocupação com a extinção dos imbróglios jurídicos que envolvem o ex-presidente Lula, na realidade, estaria relacionado à sua própria viabilidade como candidato às eleições presidenciais de 2022. Haddad seria uma espécie de poste de Lula.
Acompanho a trajetória do político paulista há algum tempo e, em essência, discordo de boa parte do editorial. De fato, há uma espécie de pacto político entre Lula e Fernando Haddad(PT-SP), o que, inclusive, cria alguns problemas para o partido em outras praças, assim como interdita a viabilidade do surgimento de novas lideranças para se apresentarem ao eleitorado como representantes do partido, como é o caso, por exemplo, de Camilo Santana(PT-CE), governador do Ceará, que está de malas prontas para deixar a legenda, cooptado que foi pelo PSB como possível alternativa às eleições presidenciais de 2022. A Executiva Nacional do partido jamais homologaria sua candidatura. Camilo Santana sabe disso. Nós sabemos disso. Haddad é uma espécie de "menudo" de Lula, ou seja, rebento de uma geração de (novas?) lideranças que o ex-presidente tentou formar depois da debacle do desgaste político dos antigos companheiros, durante os governos do PT em Brasília. Dentre esses menudos, creio, o único que permanece ativo ainda é o professor Fernando Haddad. Há de fato, uma fidelidade canina ou uma dívida de gratidão de Haddad ao ex-presidente Lula, algo que não pode ser interpretado unicamente como um propósito eleitoral. Há outros sentimentos em jogo e, neste aspecto, o editorial do jornal paulista foi infeliz.
Na realidade, o jornal cometeu não um, mas dois equívocos em relação ao ex-ministro. Haddad foi um dos melhores ministros da educação dos últimos anos no Brasil, responsável, inclusive, pelo pool de ingresso de jovens pobres e negros ao ensino superior, uma verdadeira revolução na educação brasileira, conforme já enfatizamos em outros editorais. Numa outra matéria do jornal, ao abordar esse avanço substantivo na nossa educação, o jornalista esconde o fato de que esse crédito deve ser dado aos Governos da Coalizão petista, tratando genericamenete esse período como "década", como se políticas públicas e atores políticos específicos não estivessem por trás dessas conquistas. E, neste caso, os créditos também precisavam ser dados ao ex-ministro do Governo Lula, Fernando Haddad, assim como a outros nomes do Governo da Coalizão Petista, que, através de políticas públicas sistemáticas e articuladas, conseguiram essa proeza para a democracia substantiva no país. Este é o único indicador que melhorou em relação à raça negra nos últimos 520 anos.
Um outro quadro petista que respeito bastante é o ex-ministro da Justiça, Tarso Genro. Inteligente e perspicaz, o gaúcho se constitui num dos mais argutos observadores da nossa cena política, emitindo opiniões sempre muito respeitadas. Como afirmamos antes, no início deste editorial, a quadra política, numa dimensão diria que internacional, muito mais do que confusa, é extremamente preocupante, pois compromete os tecidos social, democrático, ambiental e, por consequência, civilizatório. Ou a humanidade dá um basta a este tsunami fascista e ultraliberal ou corremos um sério risco de nos encaminharmos para uma barbárie. Não sem motivos, há uma série de reflexões entre os analistas sociais mais consequentes em torno de uma sociedade pós-capitalista. Não preciso entrar nos detalhes sobre como este cenário se apresenta no país, algo discutido ao longo dos nossos editoriais. Talvez, diante dessas contingências políticas impostas pelo momento é que o ex-ministro tenha sugerido uma aproximação do PT ao PSDB do polêmico governador paulista, João Dória Junior, algo que, só de pensar, provoca urticárias e alguns membros e militantes da agremiação. Somente no contexto exposto é que se pode compreender o posicionamento de Tarso Genro. Mas, como disse, é bom ficar atento, pois ele costuma saber do que está falando.
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