pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Editorial: A democracia americana em risco.
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quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Editorial: A democracia americana em risco.



Ainda durante os debates da última eleição presidencial americana, vencida por Joe Biden, do Partido Democrata, li um artigo do linguista Noam Chomsky, que me deixou bastante preocupado. Naquele artigo, entre outras inquietações, o ativista dos direitos humanos americano demonstrava uma grande preocupação com os rumos da democracia americana, em caso de as milícias armadas apoiadoras do então ainda presidente Donald Trump, não aceitarem o resultado do jogo e, insufladas, tentarem contestar o que as urnas indicavam, ou seja, uma vitória do candidato democrata. Ontem, dia 06, com a invasão do Capitólio - o  Congresso Americano -  as preocupações do linguista começaram a se confirmar, abrindo um precedente perigoso, que põe em risco não apenas aquela experiência democrática, mas o regime de democracias de outros países, principalmente entre aqueles países cujos líderes se espelham no presidente americano, fenômeno político que se espalha por vários continentes, com seus ilustres representantes latino-americanos.  

Alguns analistas políticos advogam aqui uma clara tentativa de golpe de estado, algo inédito na experiência democrática norte-americana, que não é lá grandes coisas, tem suas falhas evidentes, mas sempre deram um jeito de salvar as aparências, inibindo essas aventuras, caracterísitica comum entre as ditas republiquetas de bananas. Neste momento, entre os países que constrangem a democracia, milícias apoiadoras de governos com tendências autoritários - em alguns casos armadas - estão sendo instrumentalizadas para objetivos antidemocráticos, numa simbiose de interesses econômicos, políticos e geopolíticos, de matriz financista ou ultraliberal, que já não consegue viabilizar-se no contexto de um regime democrático, portanto precisa destruí-lo para consolidar seu projeto de poder e implementar sua agenda nefasta, incapaz de ser negociada em praça pública, exceto, talvez, entre os apoiaores insanos. O rolo compressor é perverso, anticivilizatório, predador e está comprometendo profundamente os tecidos social, democrático e ambiental. Uma espécie de capitalismo pandêmico, que está conduzindo-nos  a um desastre, a uma barbárie. Não há limites na consecução de seus piores objetivos.  

A negligência em relação à saúde pública, assim como o desprezo pelos procedimentos dos regimes democráticos causa urticárias em suas principais lideranças pelo mundo afora, com apoio de setores neopentecostais, militares, milicianos e grupos protofascistas. Como temos discutido por aqui, há até uma convergência de agenda, a princípio contraditória - como o apoio de grupos neopentecostais a práticas anticristãs ou sua aproximação com o crime organizado - envolvendo até mesmo denúncias de tráfico de drogas e expedientes milicianos. Uma das explicações possíveis é a tese da prosperidade - que guia esses grupos neopentecostais - assim como a sua penetração geográfica. Afinal, a maior força do neopentecostalismo está nas periferias empobrecidas,  nas favelas, controladas por traficantes e grupos milicianos armados. No Rio de Janeiro, por exemplo, 1 em cada 4 pessoas já vivem, literalmente, sob o controle das milícias. Ali já se observam, nitidamente, as digitais do Capitalismo Gore. Para sobreviver naquele ambiente é preciso fazer acordos e esses acordos também incluem os representantes de seitas neopentecostais, daí se entender essa perniciosa e singular aliança.  

E, como as contradições são uma norma desse momento delicado enfrentado pela civilização, a normalidade democrática dos americanos estará nas mãos de chefes militares e ex-ministros da defesa, que já assinaram uma nota informando que as regras do jogo devem ser respeitadas e que não admitiriam ou endossariam qualquer aventura proponente do contrário. No artigo citado acima, o linguista Noam Chomsky ainda fazia referênfia a este fato, observando que, em algumas operações recentes, o próprio presidente Donald Trump utilizou mercenários armados para as suas ações. Grupos e milícias armadas sempre se constituíram em graves ameaças aos regimes democráticos. Isso desde o surgimento do nazismo ou até antes, se nos aprofundarmos nos exemplos históricos. 

Facilidade na aquisição de armas, treinamento militar a civis deveriam ser muito bem observados, restritivos e monitorados com muito cuidado por aqueles que lutam pela preservação da democracia. Permissividade neste tema é uma prática que deveria ser combatida e rechaçada desde suas origens. Não é incomum a formação de "exércitos de cristo" junto a determinados grupos ou seitas neopentecostais, numa inegável tentativa de imprimir um imaginário de militarização de seus atos, sempre com prejuízos para a democracia, uma vez que esses grupos são induzidos a impor sua vontade sobre os outros, fato comprovado pelos constantes ataques aos terreiros de religiões afro-brasileira, em sua maioria, em ações individuais, comentidas por surtados.  O verdadeiro "Exército de Cristo" era composto por doze apóstolos que pregavam a paz e a justiça entre os homens. Nunca o ódio.  

As forças do campo democrático e progressista ainda não esboçaram uma reação à altura que o momento político exige. Estão inertes, acompanhando de camarote os acontecimentos. Como já externamos por aqui, todas as ações desses grupos que flertam com o fascismo  são milimetricamente planejadas. O fascismo tem um método, o fascismo tem um programa, o fascismo tem uma ideologia. O que ocorreu nos Estados Unidos é apenas um esboço do que pode vir a ocorrer em outras praças, caso esse projeto se sinta ameaçado. O roteiro do filme já foi escrito e desta vez ele não foi escrito pelos roteirista da indústria cinematográfica americana, mas pelo mainstream ultraconservador da banca internacional.   

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