sexta-feira, 13 de junho de 2025
Editorial: Mauro Cid presta novo depoimento à Polícia Federal.
Editorial: Bolsonaro escala seus nomes para a disputa nos Pampas.
Enquanto o Governo Lula 3 anda às turras, numa batalha feroz para ver seus projetos de ajustes fiscais serem aprovados no Legislativo - sem o apoio até mesmo de partidos da base - Bolsonaro, assim que deixou a sala de audiências do STF já anunciava a sua nova incursão pelo estado do Rio Grande do Norte na próxima semana. Na sede do PL, em Brasília, escala os nomes do seu staff político que deverá entrar na disputa pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul e, principalmente, ao Senado Federal pelo estado. A recomendação do Planalto, a partir de sinais emitidos pelo próprio Lula, é de apenas tratar das eleições de 2026 no próximo ano. Poderá ser um pouco tarde.
Um levantamento publicado pela revista VEJA, a partir de uma pesquisa realizada pelo Instituto Paraná Pesquisas, aponta que a Oposição continua adubando as bases, aparando as arestas, tudo dentro do propósito de construir as condições de competitividade suficientes para a formação de uma bancada de senadores robusta, com a capacidade de hegemonizar o controle sobre a Casa Alta. Estão se movimentando em todo o Brasil. O PT elege seu novo presidente agora em julho, num clima de acirramentos e divisões internas. Constituiu um grupo exclusivo para tratar das eleições, mas sugere-se que as cosias estão em banho maria.
Enquanto isso, a Oposição se movimenta. Bolsonaro inicia um périplo pelo Nordeste na próxima semana e já bateu o martelo sobre os nomes do PL que deverão disputar o Governo e o Senado Federal pelo Rio Grande do Sul: Os deputados federais Luciano Zucco e Sanderson. Segundo o levantamento do Instituto Paraná Pesquisas, já repercutido por aqui, a Oposição possui nomes competitivos nos maiores colégios eleitorais do país. Se tomarmos como referência apenas o estado do Rio Grande do Sul, não surge no horizonte nenhum nome efetivamente competitivo das hostes governistas. Prancheta e mapa na mão, PT.
quinta-feira, 12 de junho de 2025
Resenha: Menino de Vila Operária.
O romance Menino de Vila Operária recebeu o sinal verde de três editoras antes de vencer o nosso primeiro Concurso Literário, em 2022. A primeira edição está esgotada e uma segunda edição do texto apenas em 2027, cinco anos depois, de acordo com as regras do concurso, pois os direitos autorais estão com a editora. Até recentemente, fizemos algumas mudanças pontuais no texto original, mas nada que alterasse seu sentido mais amplo. Coisa de quem escreve, que nunca fica plenamente satisfeito com o resultado do trabalho. Sempre há a possibilidade de um enxugamento, de uma lipoaspiração. No texto original, aquele que foi publicado, tivemos que fazer uma ginástica tamanha para incluir, já no final do texto, um episódio abjeto que ocorrera na Comunidade Quilombola de Cuieira, onde um delegado de polícia, a serviço da ditadura do Estado Novo, promoveu um verdadeiro massacre na comunidade. Tivemos que arranjar, de última hora, um jogo do nosso time de várzea, o glorioso Monte Castelo Futebol Clube, onde, na comunidade, o líder quilombola local faz uma explanação sobre aqueles episódios repugnantes, movidos pela intolerância religiosa.
Segundo Graciliano Ramos, precisamos submeter o texto a um processo de lavagem, enxágue e enxugamento, preferencialmente sob um sol de 40 graus, como fazem as lavadeiras do litoral alagoano. O velho Graça era tão exigente no processo de escrita que nunca ficou satisfeito com o texto de Caetés, seu primeiro romance publicado. Nem mesmo quando críticos literários do porte de um Antonio Candido apontaram qualidades no livro. Humilde, recebia as ponderações positivas, mas sempre emendava, ranzinza, que o livro não prestava. Em relação a Vidas Secas, foram tantas as reconsiderações e cortes procedidos pelo autor, que sua esposa, em determinado momento, teria comentado que, caso ele continuasse os cortes não ira sobrar mais nada.
O lançamento do seu primeiro livro também enfrentou inúmeras dificuldades. Até o original que fora encaminhado ao editor chegou a ser extraviado. Coube a Jorge Amado e Rachel de Queiroz juntar os papéis perdidos, em sua casa de Alagoas, com a ajuda de sua esposa, para reenviá-lo ao editor Augusto Frederico Schmidt. Graciliano, depois de tantos aborrecimentos, havia desistido da publicação, que não saía há três anos, jogando suas anotações fora. Começara a ponderar se tal publicação não saía em razão da pouca qualidade do texto. Na realidade, o mercado editorial, já naquela época, enfrentava algumas dificuldades. Hoje se sabe que, na realidade, Frederico Schmidit havia perdido os originais que lhes fora enviado, ficando constrangido em admitir este fato ao escritor alagoano.
Cumprida essa etapa, onde acaba passando algo que talvez nos arrependêssemos depois, a grande expectativa que se forma é em função da recepção do público e da crítica. Para nossa felicidade, o texto foi muito bem recebido pelo público, o que, afinal, é o mais importante. Ainda apresenta algumas falhas - que poderiam ter sido evitadas - mas isso faz parte do aprimoramento do processo de escrita. Ernest Hemingway escrevia 100 páginas, para afirmar, no final, que apenas cinco delas prestavam. Isso não quer dizer que desprezamos as considerações da crítica, sejam de caráter positivas ou negativas. Assim, também ficamos felizes com tais ponderações, que já começam chegar, através de pareceres dos editores que aprovaram a publicação do livro.
"A obra é uma narrativa poética sobre a vida de um menino de classe trabalhadora, que vive numa vila operária. O conteúdo se destaca pela profundidade emocional e pelas descrições vividas, que nos permitem mergulhar na história do personagem. Além disso, o autor demonstra uma capacidade de expressão notável ao abordar os mais variados temas e sentimentos como a solidão, desigualdade social e luta pela emancipação. Portanto, acredito que este livro tem potencial para tocar os corações, tendo em vista a força de sua narrativa e qualidade de sua escrita. Sem dúvida será um sucesso de vendas" Prof. Dr. Rafael Ferreira. Na condição de professor universitário, cientista político e pesquisador, textos científicos, ensaios, relatórios de pesquisa nos são familiares.
Neste caso, entretanto, procuramos usar uma linguagem mais prosaica para tratar de um assunto bastante sério: o processo de industrialização têxtil na cidade-fábrica de Paulista, localizada na Região Metropolitana do Recife, que, a rigor, se confunde com o processo de industrialização têxtil do Nordeste brasileiro, quiçá do país, uma vez que as indústrias têxteis do grupo Lundgren, ali instaladas, no período do seu apogeu, transformar-se-iam nas maiores do Brasil. O Parque Têxtil de Paulista, igualmente neste período, foi considerado o maior da América Latina. Entremeado a esse processo de industrialização, seus reflexos na vida cotidiana dos trabalhadores e trabalhadoras, o que implicou em inúmeras inferências – não menos importantes – sobre aspectos relativos à organização econômica, social, cultural e política da cidade, a partir da relação estabelecida entre a companhia e os seus operários, abrigados na vila operária.
“Menino de Vila Operária”, trata-se, portanto, de um romance histórico, memorialista, regionalista, com traços autobiográficos. O primeiro de uma série, uma vez que estamos escrevendo outros dois romances sobre o mesmo tema, abarcando, não apenas o momento de surgimento - tratado neste primeiro tomo - mas, igualmente, os momentos subsequentes, de apogeu e declínio da industrialização têxtil naquele município. O livro está dividido em três partes: Na primeira parte, fazemos um retrospecto histórico, que vai desde a chegada do comendador Herman Theodor Lundgren ao Recife até o momento dos seus investimentos no distrito, quando a cidade é transformada numa espécie de feudo, em razão do controle econômico, político e social ali imposto pela família, transformando a região numa cidade-fábrica.
A família tornou-se dona de tudo - parafraseando o sociólogo Gilberto Freyre numa referência ao domínio absoluto dos senhores de engenhos na Zona Canavieira do Estado de Pernambuco - das terras, das matas, das águas, da vila operária, das fábricas, das máquinas, do porto, da ferrovia, do campo de aviação. O mais curioso é que o monopólio do uso da força era exercido por eles através de uma milícia armada que impunha o temor para assegurar os interesses da família. Sobretudo na primeira parte do romance tratamos dessas questões, o que, como disse antes, reconstitui este recorte importante da História Regional. Na segunda parte, a partir de uma experiência pessoal e familiar, reconstituímos como era a vida na Vila Operária, uma das maiores da América Latina, chegando a ter, no seu apogeu, mais de seis mil habitantes.
Aqui, de fato, entramos nos aspectos mais "romanceados" ou ficcionais do romance, embora muito marcado pelas memórias reais – e sofridas - da infância do autor. Importante ressaltar, neste segundo momento, os elementos do padrão de relações estabelecidas entre a oligarquia industrial e os operários que residiam na Vila Operária. Embora marcadamente biográfica, esta segunda parte é mais solta, inventiva, ficcional em alguns momentos. A terceira parte é uma continuação da segunda, pois aborda o processo de fundação do nosso clube de várzea, o Monte Castelo Futebol Clube, time representante da Vila Operária em competições locais. Ao longo do texto, várias questões importantes vão sendo postas, tratadas amiúdes, como as atrocidades cometidas por essa milícia armada, que agia à revelia da lei, sem a interdição do aparelho de Estado; o já incipiente processo de degradação ambiental do município; a hegemonia econômica e política do grupo sobre a cidade e seus moradores; a luta sindical dos operários, assim como as dificuldades de o grupo Lundgren admitir a possibilidade de organização sindical ou sujeitar-se à legislação trabalhista incipiente, que começa a entrar em vigor na vigência do Estado Novo; as indisposições políticas do grupo com a interventoria do Estado Novo, representada por Agamenon Magalhães, amigo pessoal de Getúlio Vargas e um dos atores mais representativos do regime; uma eventual- e não menos polêmica - simpatia da família Lundgren pelo regime nazista; entre outros temas não menos importantes.
No seu diário Tempo Morto & Outros Tempos, o sociólogo Gilberto Freyre deixa escapar, entre outras inconfidências, que gostaria de escrever uma história dos meninos no Brasil. Amigo fraternal de José Lins do Rego, alguns estudos chegam a sugerir que o paraibano poderia ter se inspirado nesta proposta para escrever o seu Menino de Engenho. É igualmente suspeita a proximidade de publicação de Casa Grande & Senzala(em 1934) e Menino de Engenho( em 1933). É como se eles houvessem combinado algo. Em última análise, Gilberto também escreveu um texto tratando dos meninos, se considerarmos que Casa Grande & Senzala sobre um Brasil menino, pois trata de nossa origem colonial. Lemos Menino de Engenho mais de uma dezena de vezes, sempre com o mesmo encantamento. Neste aspecto, este editor foi até mais sortudo do que o escritor paraibano. Menino de Engenho foi recusado por três editoras e o autor teve que bancar a primeira edição, com tiragem de dois mil exemplares, vendidas rapidamente. O nosso “Menino” foi premiado em concurso e publicado por uma grande editora.
O historiador Durval Muniz de Albuquerque, fez uma ponderação importante, durante uma palestra na Fundação Joaquim Nabuco, sobre essa questão do resgate histórico. Há algumas memórias que precisam ser esquecidas. Quem tem fixação por resgate é o corpo de bombeiros e o SAMU. No nosso terceiro romance sobre o processo de industrialização no município, em seus capítulos finais, fazemos algumas considerações sobre este assunto. Qual é a memória que, de fato, precisa ser resgatada no município? Na nossa opinião é a memória dos trabalhadores e trabalhadoras, não alfabetizados ou semialfabetizados, deslocados de zonas do interior de estados como Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, que chagam à cidade no afã de encontrarem torneiras que, invés de água, jorravam leite; paredes de rapadura e montanhas de cuscuz. O que encontravam, na realidade, era um grande sofrimento, submetidos a turnos de até 12 horas de trabalho, dependentes de um emprego que pagava baixos salários e reféns da moradia no Vila Operária. Ao perderem o emprego, também perdiam suas casas.
Essa História, a História dos trabalhadores e trabalhadoras está resgatada em nossos três romances sobre o tema. Uma pena que alguns desses personagens já não estejam entre nós, como meus pais; os melhores amigos de infância, como Dunda, Larry e Gera; o sapateiro Cícero; o barbeiro Português; Dona Tile e Biu Boião; Tonha da Porca; Biu Doceiro; o alfaiate Borba; Mané-Vê-Dois; Severino Bucho-Azul e Totonho Papa-Figo, a quem dedicamos dois livros infanto-juvenil. Cumpridos os prazos regimentais, estamos em negociações para uma segunda edição do texto. Expirado este prazo, o texto será disponibilizado em nosso perfil na plataforma da Amazon. Salvo melhor juízo, apenas na Estante Virtual ainda é possível encontrar os dois últimos exemplares da primeira edição.
Editorial: André Fernandes dá "bronca" em Hugo Motta.
Assim que saiu a decisão do Supremo Tribunal Federal, que decretou a prisão e perda do mandato da deputada federal Carla Zambelli, o Presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, antecipou-se em afirmar que decisão judicial era para ser cumprida, possivelmente ignorando uma apreciação do caso pelo plenário da Casa que preside. Pelo menos foi isso que se passou. Num discurso inflamado, o deputado federal do PL, eleito pelo estado do Ceará, André Fernandes, cobrou um reposicionamento de Hugo Motta em relação ao assunto, exigindo que a decisão de cassar o mandato da deputada seja apreciado pelo plenário da Câmara dos Deputados.
Durante sua fala contundente, o parlamentar lembrou, inclusive, a relação de Hugo Motta com a Oposição, que já foi melhor antes de sua eleição para a Presidência da Casa. André Fernandes fez outras cobranças, como a pauta do PL da Anistia, afirmando que se sentia traído. Voltamos aqui, mais uma vez, a bater na tecla da relação entre o Legislativo e o Judiciário. O mais preocupante neste aspecto é que não há, no horizonte próximo, uma perspectiva de que essa contenda possa ser superada. O STF, por exemplo, aprecia, neste momento, com tendência de aprovação, a regulação das redes sociais, o que deve render amplas discussões daqui para frente, principalmente em razão da contraposição da Oposição em relação ao assunto.
Habilmente, sem comprometimento, Hugo Motta voltou atrás e afirmou que a cassação da deputada Carla Zambelli será apreciada pelo plenário da Casa. Ratificou que não age sob pressão e que racionou apenas que o salário da parlamentar seria cortado de imediato, conforme determinou o Supremo Tribunal Federal. Tudo sugere que estamos tratando aqui de um recuou estratégico.
Editorial: Embates entre Governo e Oposição dizem muito sobre dificuldades de gestão.
Ontem, 11, foi um dia bastante agitado na Câmara dos Deputados. Quando não tem sido, afinal, diante das indisposições entre Governo e Oposição? O clima está tão pesado que está se tornando inútil convocar ou convidar integrantes do Governo para prestar esclarecimentos no Legislativo. Eles estão abandonando seus assentos ou as sessões estão sendo interrompidas pela absoluta impossibilidade civilizatória de chegarem ao seu final. Desta vez foi o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que não conseguiu dialogar com membros da Oposição durante uma sessão na Comissão de Finanças da Câmara dos Deputados. O presidente da comissão, o deputado Rogério Correia, resolveu encerrar os trabalhos antes de sua conclusão.
Há pouco tempo situação semelhante ocorreu com a Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que abandonou o recinto depois de se sentir ofendida. A situação está sensivelmente complicada em áreas estratégicas da gestão, uma vez que as agendas são absolutamente distintas e é quase impossível um denominador comum ou a construção de um consenso mínimo entre ambas as partes. Segurança Pública, Meio Ambiente, Economia são áreas nevrálgicas que nos vem à memoria neste momento. Fernando Haddad encontra-se numa situação delicada, como aquele pai de família que fica raspando o tacho para não cortar a mesada do filho, que costuma exceder os limites de gastos.
Perdeu a batalha dentro do Governo para os "gastadores" e encontra-se numa situação delicada, uma vez que sua única alternativa é aumentar os impostos. Na primeira vez que propôs um ajuste fiscal, alguns ministros do governo ameaçaram até pedir afastamento dos seus cargos. Se não é o IOF são outros penduricalhos, mas não esboça um único gesto no sentido de cortar na pele. Tem arrecadado bastante, o que é bom, mas o que adianta se estupora tudo? Seja para as finanças pessoais, seja para as finanças públicas, o que sai é mais importante para o seu equilíbrio das contas do que o que entra. Não concordamos com tudo que foi exposto pela Oposição, assim como a forma como foi dito, mas é um fato que a situação não está boa para parcelas significativas da sociedade brasileira.
Os preços estão aumentando nas gôndolas dos supermercados, há uma projeção de espiral inflacionária crescente pela frente, cosias do gênero. O Governo deverá sofrer notas derrotas com o novo pacote em substituição ao IOF. Até partidos da "base" a exemplo do União Brasil e Progressistas já sinalizaram que votarão contra. Hugo Motta pede que o Governo faça um gesto. Ninguém suporta mais essa gastança de dinheiro público diante do quadro temerário em que se encontra nossas finanças. O Governo Lula 3 assumiu a gestão com R$ 54 bilhões de superávit. No primeiro ano, o rombo já superava os R$ 200 bilhões. Em 2027 teremos um grande problema pela frente, seja qual for o resultado que as urnas apontarem.
quarta-feira, 11 de junho de 2025
Resenha: Totonho Papa-Figo.
As crianças são puras e, porquanto rezava a lenda, possuíam essa condição sanativa. Totonho morava sozinho, numa casinha da zona rural, bastante modesta. Era uma pessoa reclusa e, quando saía, não deixava de estar trajando roupas bastante surradas, um saco nas costas e um porrete numa das mãos, sempre acompanhado de vários cachorros. Também não era chegado ao asseio, o que o deixava com uma aparência estranha. Comentava-se na Vila que Totonho comia de tudo que encontrasse pela frente, como cachorros, gatos, calangos, sapos e, naturalmente, fígado de criancinhas desavisadas. Os garotos de uma certa idade nem tanto, mas os menores temiam muito aquele velhinho, sempre com as mesmas vestes, de porrete na mão e saco nas costas, a assustar as crianças locais. Quando os meninos o viam nas ruas cortavam caminho e se escondiam para não cruzarem com ele. Quando, no início da década de quarenta foi construído um hospital para tratamento de pessoas portadoras de hanseníase no distrito, aí sim é que essa lenda tomou corpo, pois supunha-se que Totonho poderia estar a sequestrar crianças para levar os seus fígados para os leprosos do local comerem. Para completar o enredo, havia registros de crianças desaparecidas misteriosamente na Vila. Este é o nosso segundo texto de literatura infanto-juvenil. Estamos encantado com a experiência.
Editorial: Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2026.
A seleção brasileira já nos proporcionou grandes alegrias no passado. A melhor seleção de todos os tempos é brasileira, aquela que atuou na Copa de 1970, com uma constelação de craques que ficarão em nossas memórias para sempre, a exemplo de Pelé, Gérson, Tostão, Rivelino, Jairzinho, Carlos Alberto Torres, Piazza e Clodoaldo. Durante muitos anos, mantivemos intacta, guardada com todo o zelo, uma coleção da revista Placar com a trajetória de todos esses craques. Como todo brasileiro, éramos apaixonados por futebol. Tínhamos o nosso time de várzea, que disputava o campeonato local, revelador de grandes astros dessa modalidade, a exemplo do Nego Tom, a nossa preciosidade dona da grande área, assim como Romário e Maradona.
Nego Tom, que chegou à cidade vindo da Zona da Mata Sul do estado, foi um grande achado para o nosso time à época, carente de um centroavante com as suas características. Com a sua chegada, estruturamos o nosso time e conseguimos grandes proezas, como aplicar uma goleada de 4X0 no time da indústria têxtil local, representante do capital. Uma desforra que guardamos na memória até os nossos dias. No nosso primeira romance, Menino de Vila Operária, em seus capítulos finais, contamos a História do nosso time. No dia de ontem, 10, ficamos felizes com a vitória da seleção brasileira contra o Paraguai, classificando-se para a disputar a Copa do Mundo de 2026.
Felizes, mas sem aquele entusiasmo de outrora, quando reuníamos os amigos para tomar uma cerveja, de camisa verde e amarela, acompanhando em conjunto os jogos da seleção brasileira. As decepções foram tantas que deixamos de nutrir grandes expectativas em torno deste tema. A gestão do nosso futebol tolha qualquer expectativa positiva sobre os rumos do nosso escrete canarinho. Infelizmente. De qualquer maneira, parabéns ao Vini e ao técnico Carlos Ancelotti, que hoje comanda a nossa seleção. É a sua primeira vitória no comando da seleção.
Editorial: Bolsonaro se compromete em depoimento.
O sociólogo Gilberto Freyre costumava afirmar que o Brasil era um país surreal, onde tudo seria possível, até mesmo um evento de carnaval agendado para uma Sexta-Feira Santa. É neste contexto que, apesar de uma tendência que indica hoje uma eventual condenação do núcleo duro da tentativa de golpe no país, ouvidos nos últimos dias no STF em inquérito, sabe-se lá como essa elite golpista se movimenta nos bastidores para evitar o desfecho de uma condenação iminente. A proposta do PL da Anistia, por exemplo, a despeito da narrativa, na realidade, nunca foi pensada para libertar o pipoqueiro do domingo no parque do 08 de janeiro, que é como a Oposição se refere àqueles episódios. Em todo caso, assistir em cadeia nacional, os artífices de mais uma tentativa de golpe de Estado no país em seus depoimentos comedidos, perfeitamente ensaiados, arrependidos, simpáticos, portando-se como inocentes defensores das instituições democráticas, já é um ganho.
O ex-presidente Bolsonaro, com o espontaneísmo que é sua marca, resolveu falar e, de alguma forma, se comprometeu em sua narrativa, quando admitiu a reunião com os chefes militares para discutir a tal minuta, embora tenha ressaltado que isso não passou do plano das discussões, das possibilidades em estudo. O mais esteve dentro de um script perfeitamente previsível. Nenhum dos depoentes contrariou o Ministro relator - pelo contrário, ele foi convidado até para ser vice numa chapa em disputa pelo Planalto - seguiram à risca as recomendações dos seus advogados, participando de uma espécie de Escolinha do Professor Raimundo, onde os advogados realizaram perguntas previamente programadas, de acordo com as enrascadas legais onde eles estavam metidos, e eles respondiam conforme o que havia sido acordado. Curioso é que ninguém é golpista nessas horas, evidenciando como os indivíduos adequam seus discursos de acordo com as circunstâncias ou conveniências. Houve momento até de arrependimento. De coisas ditas sem pensar, como reflexo de um momento de instabilidade emocional do sujeito.
Seja lá qual for o desfecho do julgamento dos envolvidos em mais uma tentativa de abolição violenta do Estado de Democrático de Direito no país, a Oposição afia as suas garras para as eleições de 2026, onde pode adquirir a musculatura suficiente para produzir, como resultado, um reequilíbrio de forças entre os Três Poderes da Republica. Neste sentido, a eleição para o Senado Federal tornou-se a grande aposta dos oposicionistas. Enquanto eles já aparecem com nomes na condição de francos favoritos em alguns estados da Federação, o Governo Lula 3 apenas despertou para esta realidade. Talvez continue assim até outubro de 2026.
terça-feira, 10 de junho de 2025
Editorial: O dilema do PL em Pernambuco.
Segundo um levantamento realizado pelo Instituto Paraná Pesquisas, repercutido em matéria da revista Veja, o senador Humberto Costa é um dos poucos candidatos do centro-esquerda com chances de assegurar a sua reeleição ao Senado Federal em 2026. Aqui em Pernambuco, quando nos referimos aos candidatos ao Senado Federal, vale o preceito bíblico que observa que muitos serão os chamados e poucos os escolhidos. Há uma profusão de candidaturas para as eventuais formações de chapas em formação para concorrer ao Palácio do Campo das Princesas, hoje polarizadas em dois nomes: o da governadora Raquel Lyra(PSD-PE), que tentará a reeleição, e a do prefeito do Recife, João Campos(PSB-PE), que deverá concorrer pelo PSB.
Conforme já informamos antes, a candidatura de João Campos, a julgar pelas expectativas em torno do seu nome formada pelos líderes do partido, trata-se de algo que já não lhes pertence. Ele sairá candidato ao Governo do Estado de Pernambuco em 2026. Por enquanto é assim que a centrífuga política vem funcionando no Estado, sobretudo num contexto em que, nacionalmente, as eleições para o Senado Federal se tornaram a grande batalha entre as forças do campo progressista de centro-esquerda e a as forças conservadoras de centro-direita. Aqui em Pernambuco, por exemplo, esses grupos de centro-direita já estão diluídos, ora em torno de uma candidatura, ora em torno da outra, uma vez que as cerimônias ideológicas já foram abandonado há algum tempo, em nome do pragmatismo político.
Lula, por exemplo, poderá ter dois palanques no estado, conforme ele já insinuou. O PT encontra-se igualmente cindido. Enquanto uma ala participa da gestão municipal, a outra apoia politicamente a governadora Raquel Lyra. O dilema que se apresenta é em relação ao PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele tem defendido que o nome a ser lançado será o do seu ex-ministro e fiel escudeiro, Gilson Machado, enquanto o ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira, conta com as bençãos da direção nacional da legenda. E, por falar em Anderson Ferreira, a relação da família Ferreira com o Palácio do Campo das Princesas voltou a um estágio de lua de mel. Em São Paulo, Guilherme Derrite, precisou desfiliar-se do PL e abrigar-se no PP para assegurar seu nome na disputa ao Senado Federal em 2026.
Editorial: O primeiro dia de julgamento dos indiciados pela tentativa de golpe.
Logo mais, a partir das 09h:00, teremos a retomada do julgamento dos réus da ação 2668, que trata da recente tentativa de um golpe de Estado no país. No dia de ontem, 09, foram ouvidos o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordem da Presidência da República no Governo Jair Bolsonaro, e o deputado federal Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin. A imprensa hoje destaca as contradições apontadas pelo advogado de Jair Bolsonaro em relação ao depoimento do ex-ajudante de ordem, que confirmou que Jair Bolsonaro tinha, sim, conhecimento da tal minuta do golpe. Não apenas tinha conhecimento, como sugeriu mudanças no texto, de acordo com o militar.
De fato, o depoimento de Mauro Cid começou com muita firmeza, passando segurança, mas, a partir de um certo momento, ele pareceu inseguro em suas respostas, argumentando não ter certeza sobre alguns fatos e não se lembrar de outros. Alexandre Ramagem foi muito seguro em suas respostas, passando muita convicção sobre o que estava afirmando. Não titubeou em nenhum momento e ainda esclareceu alguns pontos importantes sobre a dinâmica interna dos órgãos de inteligência no país, como a ausência de mecanismos efetivos de controle sobre as ações dos seus agentes.
Acreditamos que aqui estamos diante de um problema generalizado das agências de informações em todo o mundo, justificando o controle dessas agências pelo Poder Legislativo e os serviços de contra-espionagem. Eles operam em ambiente bastante tênue entre o legal e o republicano e a extrapolação desses limites. Outro gravíssimo problema é o aparelhamento desses órgãos pelos governos de turno para bisbilhotarem a vida dos seus desafetos, principalmente num país como o nosso, carente de práticas republicanas de gestão da máquina pública.
segunda-feira, 9 de junho de 2025
Editorial: O julgamento de Jair Bolsonaro.
Neste momento, a TV Justiça começa transmitir, ao vivo, os interrogatórios dos réus envolvidos na ação 2668, ou seja, os indiciados na tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito no país. A defesa do general Braga Netto entrou com um pedido de não transmissão do interrogatório, mas o pedido foi rejeitado pelo relator, o Ministro Alexandre de Moraes. O interrogatório começa com o tenente-coronel Mauro Cid, pelo fato de ele ter colaborado com as investigações. Os demais envolvidos, seguirão a ordem alfabética. No início, o Ministro relator informa como se segue o interrogatório, inclusive enfatizando o direito dos réus em se manterem em silêncio, respeitando-se o direito de não produzirem provas contra si.
A expectativa maior, naturalmente, está relacionada ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Há muitas especulações em torno de como será o seu comportamento diante do interrogatório. Especulações ficam sempre no plano das especulações por aqui, antes de submetê-las ao crivo das checagens. O importante é que o interrogatório está sendo transmitido ao vivo, o que permite que os telespectadores possam tirar suas próprias conclusões. Durante o final de semana, o ex-presidente submeteu-se a uma espécie de plantão do ENEM, ou seja, trancou-se com seus advogados no Palácio dos Bandeirantes, onde se preparou para o depoimento.
Apesar das circunstâncias adversas, o ex-presidente ainda alimenta suas expectativas em relação às eleições presidenciais de 2026. Continua com o seu eleitorado fiel, aparecendo bem nas pesquisas de intenção de voto e contando com o apoio de fiéis escudeiros, que outorgam ao capitão a total liberdade de conduzir ou coordenar o processo eleitoral no campo da centro-direita, ou seja, na hipótese de uma não reversão da inelegibilidade, caberá a ele a escolha do ungido, que poderá ser alguém do próprio clã familiar. Hoje, o mais provável seria o nome de Eduardo Bolsonaro.
Editorial: Paraná Pesquisas aponta que direita sai na frente na batalha pelo Senado Federal.
O Governo sugere que será feito um mapeamento, clivando os postulantes nos estados que alcancem melhores condições na disputa, apoio a candidaturas da base aliada que reúnam melhores condições na disputa, entre outras coisas. Pesquisa do Instituto Paraná Pesquisa, citada pela revista, aponta uma folgada dianteira de candidatos do centro-direita na disputa. Romeu Zema em Minas Gerais; Derrite e Eduardo em São Paulo; Cláudio Castro no Rio; Michele e Ibaneis em Brasília; Ratinho Júnior no Paraná; Eduardo Leite no Rio Grande do Sul. Pelo campo do centro-esquerda governista, apenas Humberto Costa em Pernambuco e Renato Casagrande no Espírito Santo aparecem com as candidaturas consolidadas e com chances de êxito.
Numa manobra que tem tudo a ver com aquele pleito, as placas tectônicas já começam a se acomodar no maior colégio eleitoral do país. Guilherme Derrite, deputado federal que ocupa a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, deixou recentemente o PL para filiar-se ao Republicanos. O arranjo teria como objetivo deixar o PL livre para indicar um nome da família Bolsonaro para a disputa da outra vaga ao Senado Federal. Derrite emite sinais de que pode deixar o cargo que ocupa no Governo de Tarcísio de Freitas. Existem algumas miudezas em discussão sobre as motivações de uma eventual afastamento dele do cargo. Como afirmamos, são apenas miudezas - como o excesso de câmaras do subordinado - mas são apenas miudezas. O jogo é mais pesado e a direita sabe de suas prioridades.
quarta-feira, 4 de junho de 2025
Editorial: Pesquisa da Quaest\Genial acende a luz vermelha da avaliação do Governo.
A pesquisa do Instituto Quaest\Genial publicada no dia de hoje, 04, acende a luz vermelha sobre a avaliação do Governo Lula 3, embora seus escores esteja dentro da margem de erro. Na realidade, como afirmou um colunista conhecido, o Planalto está de prontidão, em estado de alerta máximo. Durante um longo intervalo de tempo, apenas um desses institutos, o Datafolha, apontou o esboço de uma eventual reação positiva desses números para, logo em seguida, os demais institutos reafirmarem a tendência de queda. O Governo também possui pesquisas internas que apontam para a resiliência desta tendência, ora pelos problemas orgânicos, como o desequilíbrio nas contas públicas e o aumento nos preços nas gôndolas dos supermercados; ora em razão dos escândalos de corrupção - que já se tornaram rotineiros -; ora por problemas na comunicação institucional. Resta saber até quando o Governo Lula 3 vai continuar desprezando o valor da estabilidade econômica, com as contas públicas sob controle e índices de inflação aceitáveis. Isto produz dividendos políticos mais consistentes do que os gastos desenfreados através de programas ou políticas públicas de resultados duvidosos.
É bom que se diga que os problemas de comunicação institucional estão travando uma briga desigual com os problemas estruturais anteriores, ou seja, se o Governo continuar com esses problemas de gestão, não há comunicação institucional que consiga reverter a situação. E, por falar em escândalos, o Instituto Quaest\Genial aponta que 31% dos entrevistados nesta última pesquisa responsabilizam o Governo pelos problemas no INSS. Na pesquisa do Atlas\Intel este número é ainda maior, acima dos 5o% dos entrevistados pelo instituto. Não entramos aqui no mérito sobre os responsáveis pelas fraudes no INSS, mas, a rigor, entramos num processo de banalização dos escândalos de corrupção no país, o que respinga, inevitavelmente, no governo de turno. Todos os dias a imprensa relata um caso novo.
A pesquisa do instituto Quaest\Genial indica que 57% (56% na última pesquisa) da população desaprova o Governo Lula 3, enquanto 40% (41% na última pesquisa) aprovam o Governo. Conforme afirmamos no início, tanto os escores de aprovação quanto de desaprovação oscilaram dentro da margem de erro do instituto, que é de dois pontos percentuais. Enquanto encerramos esta postagem, sai a notícia de que o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, atendendo a uma recomendação da Procuradoria-Geral da República, acaba de decretar a prisão da deputada federal Carla Zambelli que, salvo melhor juízo, já não se encontra mais no país. A medida também inclui bloqueio de contas bancários, multas diárias, inclusão do seu nome na lista vermelha da Interpol, entre outras medidas. Carla Zambelli, atualizando, encontra-se na Itália.
Editorial: Governo quer urgência na regulação das redes sociais.
O deputado federal Orlando Silva, chegou a apresentar um PL para regulação das redes sociais, que ficaria conhecido como o PL das Fake News. Este é um tema dos mais controversos, praticamente cindindo as opiniões entre aqueles que são contra e aqueles que são a favor. A Oposição esboça uma grande resistência em debater essa questão, embora os argumentos expostos não sejam, necessariamente, de natureza republicana ou em defesa de nossas instituições democráticas. O Governo, por outro lado, embora também esboce tais argumentos, sabe-se que tem motivações bem mais urgentes. Não vamos aqui entrar nos detalhes, uma vez que eles são tão óbvios. A extrema-direita ganhou as ruas e as redes sociais.
Um vídeo do Nikolas Ferreira, praticamente no automático, acionado a cada derrapada do Governo, atinge, em menos de 24 horas, 100 milhões de visualizações. Independentemente de responsabilizações, o estrago das fraudes no INSS já deixou suas marcas indeléveis na imagem do Governo, comprovadas, em princípio, pelo Instituto Atlas\Intel e, agora, no Quaest\Genial, que acaba de sair do forno. O país está entrando num contexto de uma situação institucional complicada. Se houvesse uma sensibilidade efetiva em relação ao assunto, assim como a possibilidade de construção de um consenso mínimo sobre o assunto, tal discussão deveria ser tratada pelo Poder Legislativo. Por outro lado, o lado dos mais interessados, ou seja, da população, impõe-se a necessidade de uma educação midiática capaz de melhorar os filtros dessa população em relação ao que está sendo disseminado através dessas redes sociais, numa espécie de autoregulamentação. O problema é que, em alguns casos, possivelmente em sua maioria, os filtros são sensivelmente frágeis. O Estado deveria investir na educação midiática da população.
Já existem uma infinidade de espaços para o indivíduo checar se uma informação procede, é verdadeira ou não. O problema, que não é recente, diz respeito a uma tendência da população em espalhar notícias falsas. Isso pega como visgo de jaca mole. Outro fator preocupante diz respeito à relativização da informação numa era de pós-verdade. Uma mentira contra um desafeto assume contornos de verdade absoluta. Uma verdade contra um amigo, talvez seja mentira. Quando se chega a um estágio onde as comissões de ética estão se orientando pela "ideologização" é um sinal de que estamos no apocalipse.
terça-feira, 3 de junho de 2025
Editorial: O novo pacote de Haddad.
Por razões óbvias, o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, manterá uma conversa com o presidente Lula ainda nesta terça-feira, 3, antes da viagem do mandatário à França, onde deve apresentar um conjunto de propostas para assegurar um mínimo de equilíbrio das contas públicas, em substituição ao IOF. Há várias especulações em torno deste assunto, algumas sensivelmente preocupantes, como uma eventual mudança no piso da saúde e da educação, áreas estratégicas, cujos cortes, se ocorrerem, produzirão consequências graves. O aumento da alíquota do IOF foi sepultado de vez. Desagradou a todo mundo, inclusive gente do próprio Governo. Sem considerarmos as indisposições ou atritos produzidos junto ao Legislativo, ampliando as ranhuras entre os dois Poderes.
O Governo mantém uma expectativa ou projeção em relação aos leilões de exploração de petróleo que poderia levar ao caixa da União algo em torno de R$ 35 bilhões, o que poderia significar um refresco nas pendências de equilíbrio fiscal. Não sabemos se já estamos projetando aqui as prospecção junto à Foz do Amazonas, onde o IBAMA já teria autorizado os primeiros projetos de sondagens. Haddad, no entanto, não conta com esses aportes, algo já apresentado ao Legislativo pelo Ministério das Minas e Energia. Conforme já enfatizamos por aqui em outras ocasiões, preocupa o fato de o Governo não adotar uma diretriz única, coordenada, passando a ideia de que estamos diante da evidência de várias tendências dentro do Governo.
O Ministro Fernando Haddad está visivelmente cansado e com um arsenal de alternativas bastante limitado. Especula-se que ele poderia voltar a discutir a imposição do teto dos supersalários, algo já rejeitado pelo Legislativo quando ele apresentou seu primeiro grande pacote fiscal. No aperreio, chegou a sugerir a suspensão do pagamento de emendas parlamentares, azedando de vez sua relação com o Legislativo.
Editorial: A preocupante situação da Empresa de Correios e Telégrafos.
As estatais brasileiras acumularam déficit de R$ 2, 7 bilhões entre janeiro e abril deste ano, conforme apurou o Banco Central. Entre essas estatais, talvez o caso da Empresa de Correios e Telégrafos seja o mais emblemático. Os Correios já estiveram entre as empresas melhores avaliadas pelos brasileiros. Ao longo dos anos, tornou-se alvo de políticos inescrupulosos, má gestão, ineficiência e acúmulos de prejuízos. Na realidade, as variáveis acima se complementam, numa simbiose perniciosa ao interesse público. Recentemente a estatal adotou uma série de medidas com o objetivo de evitar o pior, como a interrupção de férias, incentivo à redução de jornadas de trabalho, prorrogação dos prazos de adesão ao programa de demissão voluntária.
Medidas draconianas, adotadas no limite, quando já existe a mobilização de empresas que prestam serviços a estatal reclamando no atraso dos pagamentos; os planos de saúde se recusando a atender os segurados da empresa. Em meio a essas medidas drásticas, os funcionários se queixam dos patrocínios artísticos da estatal, quantia que ultrapassa os milhões, o que, convenhamos, realmente trata-se de uma contradição. Diante dos descalabros administrativos, sugere-se que não restou outra alternativa ao Governo Lula 3 que não adotar alguma medida, mesmo que pontual, como já se especula, no sentido de substituir a sua direção. O que não deixa de ser curioso é que o Centrão bateu o olho grande na estatal, mesmo diante de tais circunstâncias.
No Governo Jair Bolsonaro, com as contas saneadas, a estatal entrou na mira da privatização, processo que não chegou a se materializar, sendo possivelmente interrompido no Governo Lula 3. Algumas entidades de classe do órgão nutrem uma identificação com o petismo e são, por tabela, contrárias ao processo de privatização. Em algumas análises a privatização é apontada como solução para todos os problemas e não é bem assim. Isso deve ser estudado caso a caso e, em relação aos serviços básicos, a exemplo do saneamento, existe um caminho inverso no mundo, o da reestatização. Aqui em Pernambuco, empresa estatal espanhola acabou arrematando a concessão dos serviços do aeroporto do Recife, um dos melhores e mais rentáveis do mundo. Não deixa de ser interessante que uma estatal estrangeira tenha comprado a concessão de uma empresa pública brasileira, indicando que o binômio estatal\privada não responde, em sua inteireza, à questão de eficiência.
segunda-feira, 2 de junho de 2025
Editorial: O "fenômeno" Nikolas Ferreira.
Como já havíamos previsto por aqui, algo confirmado pelo última pesquisa do Instituto Atlas\Intel, tem se tornando inútil a campanha massiva do Governo Lula 3 em tentar se eximir dos problemas relativos às fraudes do INSS. A pesquisa do Instituto mostra que 56% dos entrevistados responsabilizam o Governo Lula 3. Não vamos aqui entrar na discussão sobre como isso começou, quem facilitou ou se omitiu em relação à tomada de medidas que poderiam ter evitado essa fraude. A questão é que a bomba estourou no colo do Governo do PT. E aqui não tem mais como segurar a boiada. A surra que as forças do campo de esquerda sofre nas redes sociais em relação à direita é tamanha que, no dia de ontem, por ocasião do eleição que homologou o nome de João Campos como Presidente Nacional do PSB, praticamente todas as entrevistas às quais ele participou enfatiza que ele é um nome fora da curva na horizonte da esquerda, ou seja, o único que consegue ainda competir com as forças de direita neste terreno pantanoso.
João, inclusive, numa dessas entrevistas, enfatiza que o Estado não consegue acompanhar a velocidade das redes sociais. É verdade. Basta um cochilo do Governo e, logo em seguida, é acionado o Nikolas Ferreira, quase no automático, com uma narrativa que, certa ou errada, atinge milhões de visualizações em seguida. É uma questão que precisa ser examinada com bastante cuidado. Seu último vídeo sobre o INSS atingiu 100 milhões de visualizações em 24 horas. João Campos sugere na entrevista que, num momento inicial, os vídeos contam com uma rede patrocinada que faz o serviço de projetar o vídeo, dando um up inicial, para a sua viralização logo em seguida. Realmente é um trabalho muito profissional.
Ontem tivemos a oportunidade de acompanhar um desses vídeos, onde o parlamentar faz um apelo para os internautas inundarem os perfis de Davi Alcolumbre, Presidente do Senado Federal, e Hugo Motta, Presidente da Câmara dos Deputados, no sentido de exigirem a instauração da CPMI do INSS. Curioso é que, enquanto ele fala vai envelhecendo e assumindo o rosto de um desses aposentados, conforme a foto acima. O maior problema em relação a essas disseminação de noticias falsas, campanha difamatórias de cancelamento são os filtros dos receptores dessas informações. As pessoas simplesmente vão absorvendo e disseminando essas fake news de forma natural, sem checagens, sem reunirem condições de entender o papel da mídia, muito menos saber o que pode estar por trás.
Agora ficamos sabendo que o Governo Lula está montando uma força tarefa para se contrapor a este vídeo. É pouco provável que obtenha êxito. Isso é um perigo. Salvo melhor juízo ainda em 1938 o cineasta Orson Welles narrou pelo rádio que a terra estava sendo invadida por alienígenas. A população entrou em pânico. Aqui no Recife já surgiram boatos sobre o estouro da barragem de Tapacurá e sobre uma tal de perna cabeluda que estaria atacando as pessoas. Esta última "fake news" foi inventada por um jornalista sem pauta. No dia seguinte, várias pessoas haviam sido atacados por esta tal perna cabeluda, produzindo um pânico na cidade, contingenciando o aparelho de Estado a tomar providências contra o jornalista. Isso é antigo.
A questão é que antigamente ainda havia tempo para o cidadão tentar se explicar. Hoje o aparato tecnológico praticamente inviabiliza tal possibilidade. Estávamos numa de nossas últimas aulas, quando uma aluna nos alertou que havia recebido um Zap com uma difamação contra um padre de sua cidade. Logo a classe toda tomou conhecimento da fake news. Isso ocorreu numa noite. No dia seguinte, mesmo empreendendo todos os esforços, seria praticamente impossível a vítima evitar o estrago à sua imagem pública. Ela, com um filtro mais apurado, ainda ponderou que se tratava de uma mentira, pois estava convencida da integridade do padre. Mas quantos fizeram isso?
Editorial: Mexicanos vão às urnas...para elegerem juízes!
Os eleitores mexicanos foram às urnas neste domingo para realizarem algo inédito. Naquele país, juízes federais e membros da Suprema Corte agora serão eleitos pelo sufrágio do voto. Talvez não haja precedente no mundo. Até recentemente, a presidente do país, Cláudia Sheinbaum, travou um embate com o presidente americano Donald Trump acerca da questão das tarifas de produtos de importação imposta pelos americanos. Foi para a mesa de negociações e ajustou com o americano uma vigilância maior na fronteira entre os dois países - minimizando o tráfico de drogas sintéticas - o que levou Trump a voltar atrás, pelo menos nos índices de taxação.
Agora é o momento de os juízes do país serem eleitos pelo voto. 2.600 magistrados foram escolhidos através deste processo. O perfil de exigência dos candidatos é bem republicano: nota não inferior a 8, ficha limpa e registro no órgão de classe, o que aqui seria a OAB, que funciona como um ponto de corte para o exercício da atividade profissional. Trata-se de uma medida polêmica, com defesas apaixonadas por aqueles que defendem o expediente, assim como as contraposições daqueles que se colocam contra a medida. Ocorreram protestos e a abstenção é um indicador da ausência de consenso em torno do assunto. A questão agora é saber se essa moda pega.
Diante do quadro de insegurança jurídica e de instabilidade institucional em que o país se encontra, as comparações com a situação do Brasil se tornaram inevitáveis. Não vamos aqui entrar no mérito da questão para não melindrar. Um aspecto negativo é a influência dos carteis de droga sobre toda a malha institucional do país, tornando o México uma região controlada pelo narcotráfico em algumas unidades federadas. O Brasil, a julgar pela situações como o Rio de Janeiro, a Bahia e o Ceará, caminha celeremente para uma situação semelhante. Infelizmente. Aqui já se evidenciou que o crime organizado poderia estar por trás do financiamento de políticos e de jovens estudantes de direito que, uma vez formados, vão defender seus interesses. A situação do México, ao instituir eleição para a escolha dos magistrados, pode conduzir o país a um processo de cartelização do judiciário. Um grande risco.
domingo, 1 de junho de 2025
Editorial: Hugo Motta chuta o balde em relação ao desequilíbrio fiscal do Governo Lula.
Acompanhado as movimentações políticas no estado vizinho, o Presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, protagonizou dois momentos cruciais em sua visita recente a Paraíba. Um desses momentos está relacionado aos arranjos políticos locais em relação às eleições estaduais de 2026, onde ele deixou claro para os atores políticos envolvidos nessas negociações que o seu partido, o Republicanos, terá um papel de protagonista e não de coadjuvante naquelas negociações. O partido tem força política para isso no estado. Num outro momento, deixou claro que já está com sua paciência esgotada em relação ao Governo Lula 3 com relação à irresponsabilidade fiscal. O Governo não tem controle das contas públicas e atira ao Legislativo uma proposta como a do aumento da alíquota do IOF(Imposto sobre Transações Financeiras), uma proposta amplamente rejeitada pelo setor produtivo, pelo mercado e pelo Poder Legislativo. A solução aqui é gastar menos, algo que tem sido dito desde o início do Governo, quando eles começaram a estuporar. Mantida tais circunstâncias, Hugo Motta sugere que o Legislativo tome medidas drásticas para impedir essa farra.
É curioso como entramos numa seara de esquizofrenia governamental, pois setores do próprio Governo Lula 3 se contrapõem à proposta. Alguém observou que o próprio presidente Lula não disse uma única palavra sobre o assunto. Estávamos acompanhando um debate melancólico na Globo News, onde os comentaristas observaram as fissuras no Governo Lula 3 acerca do aumento da alíquota do IOF. Haddad tem dado declarações emblemáticas sobre "servir" ao Governo Lula. Não cai porque Lula teria enormes dificuldades em encontrar alguém disposto a cumprir a Via Crucis daquele marido que fica em casa, com uma calculadora na mão, tentando ajustar as contas do mês, enquanto a madame esbanja nas compras no shopping center. É exatamente esta a situação de Fernando Haddad.
Politicamente Haddad já deve ter entendido que esta situação não muda até o final do Governo Lula 3, o que significa dizer que os seus projetos políticos iniciais estão igualmente comprometidos. Mesmo que, remotamente, os ventos sejam favoráveis até lá, ainda assim, há outros nomes no Governo disputando a unção do morubixaba. Segundo um comentarista da Globo News ele teria declarado que, mesmo se tudo ocorrer conforme o Planalto deseja, com uma reeleição de Lula em 2026, nem assim ele pretende continuar no cargo. Realmente é um fardo muito pesado.
Editorial: Políticos poderiam receber mesadas de entidades que fraudavam o INSS.
Realmente se impõe como absolutamente necessário esgotar todas as investigações possíveis em relação a essas fraudes no INSS. O escândalo é gigantesco, execrável em todos os sentidos e seus tentáculos envolvem inúmeros atores, instituições. Uma CPMI seria muito bem-vinda. Outro dia ficamos sabendo dos temores dos próprios órgãos de investigações sobre se deveriam adentrar nos meandros da participação das entidades financeiras sobre concessões fraudulentas de empréstimos consignados, onde suspeita-se que funcionários dos próprios bancos estariam realizando esses empréstimos, sem autorização dos clientes, a partir de cartões liberados e não procurados. Entende-se agora porque tantos aposentados reclamavam de empréstimos que não foram solicitados.
De volta à terrinha, o Ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz, reafirmou que o dinheiro roubado será devolvido aos aposentados e pensionistas. Sabe-se lá como diante das dificuldades de caixa do Governo e das dificuldades de recuperar o dinheiro que foi apropriado irregularmente pelas entidades e sindicatos. Em todo caso, a promessa é que todos os descontos irregulares serão devolvidos aos aposentados e pensionistas. A cada nova matéria sobre o assunto, o odor fétido espalha-se pelo ar. Agora surgiu uma possibilidade de políticos estarem recebendo mesadas regulares, da ordem de R$ 50 mil por mês, para facilitaram a vida dessas instituições no Legislativo. Era liberar ou afrouxar a legislação e o dinheiro caía na conta todos os meses. Para que essa conversa de biometria facial, afinal?
No momento, a Polícia Federal suspeita que, pelo menos, 15 parlamentares poderiam estar envolvidos, alguns deles, pasmem, ligados ao partido que controlava a pasta. Diante de tanto clamor popular, articulação da Oposição e indisposições do Legislativo com o Executivo, a CPMI deve mesmo sair após os festejos juninos. Vamos aguardar, pois será uma oportunidade de abrirmos essa caixa-preta.
sábado, 31 de maio de 2025
Resenha: A Irmandade da Boa Morte - ensaios.
O ensaio, assim como o conto, trata-se de um gênero que provoca muitas polêmicas. O que na realidade é um ensaio? Apesar de sempre consultar as teorias a respeito do assunto, o bom senso nos guiam na identificação daqueles textos que permanecem perenes ao longo dos anos, que não se esgotam pelas novas informações do dia seguinte. É esta a premissa que nos orientam na produção de textos com este perfil. Alguns textos publicados aqui pelo blog, por exemplo, permanecem perenes ao longo dos anos, como aqueles onde abordamos as mudanças no mundo do trabalho - que já foi um tema do nosso interesse no passado - assim como uma série de textos que publicamos sobre os novos regimes de governos autocráticos, a partir de livros distópicos, como 1984, de George Orwell, onde nos apropriamos das formulações do escritor inglês sobre regimes autoritários para analisarmos as novas autocracias ou as chamadas democracias iliberais.
Esta é a nossa primeira experiência com o gênero, ao revolvermos reuni-los num único livro. Há alguns anos atrás, realizamos uma pesquisa ainda no escopo do guarda-chuva institucional sobre relações étnico-raciais, onde mantivemos contato com a Irmandade da Boa Morte, uma entidade religiosa que realiza um festejo prestigiado internacionalmente, sempre nos meses de agosto, na cidade de Cachoeira, localizado na região do Recôncavo Baiano. O evento, realizado em conjunto por religiões de matriz africana e a Igreja Católica, reúne turistas do mundo inteiro. A cidade, repletas de templos católicos, prédios históricos é banhada pelo Rio Paraguaçu, um rio genuinamente baiano.
O último livro do escritor Itamar Vieira, Salvar o Fogo, é ambientando num casarão histórico da cidade. A experiência foi muito positiva, uma vez que estabelecemos contatos com pessoas importantes, que nos repassaram informações cruciais sobre a origem da entidade, assim como sobre a integração das religiões de matriz africana com os ritos da Igreja Católica. Alias, a Igreja Católica, na realidade, foi quem criou a Irmandade na cidade de Cachoeira. Quando os negros fugiram de Salvador, em razão das perseguições, foi na cidade de Cachoeira e junto à Igreja Católica que eles receberam guarida e proteção. Há quem sugira que Luiza Mahin, mãe do abolicionista Luiz Gama, esteve no epicentro desses acontecimentos, mas a historiografia - pelo menos a oficial - não deixou nenhum registro que pudesse confirmar tal hipótese. Nas horas de folga, ainda sentimos o gosto dos petiscos locais, da rica culinária baiana, apreciados com uma cerveja gelada, ao pôr do sol, nas margens do Paraguaçu. Curioso que o suco de jenipapo, uma fruta hoje rara em alguns estados da região Nordeste, ainda pode ser encontrado com abundância na região do Recôncavo Baiano.
O livro tem vários ensaios, a começar pelo primeiro que escrevemos, quando fizemos algumas intervenções, a partir de uma entrevista de um dirigente institucional, sobre os embates entre o sociólogo Gilberto Freyre e a ditadura do Estado Novo no que concerne ao direito à cidade. Sugerimos no texto que as propostas do Estado Novo sobre as intervenções urbanas no Recife podem ser classificadas como, possivelmente, a primeira inciativa de caráter higienista sobre o traçado das intervenções urbanas da cidade, que passaram a ser ditadas, a partir de um determinado momento, num conluio firmado entre o poder público e o capital. Curioso que essa lógica esta acima das ideologias, atingindo tanto gestões conservadoras quanto as ditas progressistas. Aliás, o higienismo é uma unha e carne do Estado Novo em sua primeira fase. Até um presídio que eles construíram em Pernambuco recebia o nome de Brasil Novo. Seus algozes ameaçam prender o cronista Rubem Braga neste presídio em razão de sua ácidas críticas, produzidas a partir da Folha do Povo. Mas isso já é uma outra história.
O professor da London School Economics, Ulrick Becker, ainda como professor de universidades alemães, fez uma espécie de pós-doutoramento sobre a realidade da economia informal no Brasil. Numa visita ao país, teceu loas à nossa forma de organização do mercado informal, algo que ele classificou como um modelo que poderia ser reproduzido para todo o Ocidente. Seria a Brasilianização do Ocidente, termo cunhado por ele à época. Por outro lado, apontou alguns entraves, enfatizando que tal fenômeno somente seria possível no Brasil, uma vez estávamos diante de um país com características específicas, adaptável à nova realidade da economia naquele período, num ambiente de democracia racial, onde seria possível congregar, num mesmo espaço de comércio ambulante, negros, mestiços, brancos, mulheres, homens, crianças, evangélicos, católicos, praticante de religiões de matriz africana. O que seria praticamente inviável na Europa. Isso numa época em que a economia informal se apresentava como o grande contraponto aos empregos formais, de carteira assinada, antes do surgimento do UBER, do IFOOD e sua legião de "empreendedores". Colegas do próprio Ulrick fizeram ponderações críticas sobre o entusiasmo do alemão sobre a nossa democracia racial e é este um dos pontos que discutimos num desses ensaios. Ao tomar conhecimento do artigo do professor alemão, dizem, Gilberto Freyre se revirou na tumba.
Editorial: João Campos será o novo Presidente Nacional do PSB.
Na iminência de ser eleito o próximo Presidente Nacional do PSB, o prefeito do Recife, João Campos, tem ocupado grande espaço nas mídias nacionais, onde se pronuncia sobre os mais diversos assuntos, inclusive os temas políticos. Talvez atropelando algumas etapas, o atual Presidente Nacional do Partido Socialista, Carlos Siqueira, insiste na tese de projetar João Campos como uma liderança nacional já neste momento. Nas últimas eleições, o prefeito do Recife andou cumprindo esta etapa de nacionalização do seu nome, apoiando nomes ligados ao projeto de eleição de Lula em algumas praças do país.
Diálogo, compreensão e resultados são três palavras que se inserem no dimensão política do atual gestor do Recife. Compreender o momento político, onde o Estado já não acompanha a velocidade das mídias sociais e abrir o diálogo com segmentos com os quais as plataformas de centro-esquerda já não conseguem interagir, como os segmentos do agronegócio, dos neopentecostais, do novo mundo do trabalho. Realmente é preciso compreender essa nova realidade social, cultural, política e econômica. Uma das grandes críticas que se faz ao PT é exatamente o fato de ter perdido este bonde da História. É um receituário antigo, já superado pelos novos tempos. A plataforma de alguns candidatos à Presidência Nacional do PT poderia ser resumida no Manifesto Comunista, de 1848. O Governo Lula "trisca" e pouco tempo depois aparece nas redes sociais um novo vídeo do Nikolas Ferreira com a capacidade de atingir 200 milhões de visualizações em poucas horas.
João vem cumprindo um figurino previsto. Tão previsível que se tem como certa sua candidatura ao Governo do Estado de Pernambuco em 2026, onde deverá bater chapa com a atual governadora do estado, Raquel Lyra. Arrancado às pressas dos bancos universitários para manter o legado da família na política pernambucana, João Campos segue a mesma trajetória do pai, o ex-governador Eduardo Campos. A Presidência da República está nos seus planos, assim como esteve nos planos do seu pai. Por enquanto, no campo de centro-esquerda, apoiando um eventual projeto de reeleição de Lula em 2026, tendo, preferencialmente, o nome de Geraldo Alckmin como vice.