O sociólogo Gilberto Freyre costumava afirmar que o Brasil era um país surreal, onde tudo seria possível, até mesmo um evento de carnaval agendado para uma Sexta-Feira Santa. É neste contexto que, apesar de uma tendência que indica hoje uma eventual condenação do núcleo duro da tentativa de golpe no país, ouvidos nos últimos dias no STF em inquérito, sabe-se lá como essa elite golpista se movimenta nos bastidores para evitar o desfecho de uma condenação iminente. A proposta do PL da Anistia, por exemplo, a despeito da narrativa, na realidade, nunca foi pensada para libertar o pipoqueiro do domingo no parque do 08 de janeiro, que é como a Oposição se refere àqueles episódios. Em todo caso, assistir em cadeia nacional, os artífices de mais uma tentativa de golpe de Estado no país em seus depoimentos comedidos, perfeitamente ensaiados, arrependidos, simpáticos, portando-se como inocentes defensores das instituições democráticas, já é um ganho.
O ex-presidente Bolsonaro, com o espontaneísmo que é sua marca, resolveu falar e, de alguma forma, se comprometeu em sua narrativa, quando admitiu a reunião com os chefes militares para discutir a tal minuta, embora tenha ressaltado que isso não passou do plano das discussões, das possibilidades em estudo. O mais esteve dentro de um script perfeitamente previsível. Nenhum dos depoentes contrariou o Ministro relator - pelo contrário, ele foi convidado até para ser vice numa chapa em disputa pelo Planalto - seguiram à risca as recomendações dos seus advogados, participando de uma espécie de Escolinha do Professor Raimundo, onde os advogados realizaram perguntas previamente programadas, de acordo com as enrascadas legais onde eles estavam metidos, e eles respondiam conforme o que havia sido acordado. Curioso é que ninguém é golpista nessas horas, evidenciando como os indivíduos adequam seus discursos de acordo com as circunstâncias ou conveniências. Houve momento até de arrependimento. De coisas ditas sem pensar, como reflexo de um momento de instabilidade emocional do sujeito.
Seja lá qual for o desfecho do julgamento dos envolvidos em mais uma tentativa de abolição violenta do Estado de Democrático de Direito no país, a Oposição afia as suas garras para as eleições de 2026, onde pode adquirir a musculatura suficiente para produzir, como resultado, um reequilíbrio de forças entre os Três Poderes da Republica. Neste sentido, a eleição para o Senado Federal tornou-se a grande aposta dos oposicionistas. Enquanto eles já aparecem com nomes na condição de francos favoritos em alguns estados da Federação, o Governo Lula 3 apenas despertou para esta realidade. Talvez continue assim até outubro de 2026.
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