pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Gazeta de Alagoas: Cineasta José Henrique fala sobre o filme "Heleno"
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domingo, 22 de abril de 2012

Gazeta de Alagoas: Cineasta José Henrique fala sobre o filme "Heleno"

 
 
 
Em entrevista à Gazeta, o cineasta José Henrique Fonseca fala sobre processo de realização de Heleno, que segundo ele não é sobre futebol

“EU FIZ UM FILME QUE FALA DA ALMA”

Por: RAFHAEL BARBOSA - REPÓRTER

Mesmo após despontar como um dos mais talentosos cineastas de sua geração ao lançar o premiado O Homem do Ano, em 2003, na última década o cineasta carioca José Henrique Fonseca manteve-se afastado da tela grande. Ao longo desse hiato, o diretor se dedicou aos comerciais e videoclipes chancelados por sua produtora, a Conspiração Filmes, e mostrou seu talento em Mandrake, seriado da HBO Brasil adaptado da obra de seu pai, o escritor Rubem Fonseca. E foi justamente no intervalo das gravações de dois telefilmes que darão continuidade à trama protagonizada por Marcos Palmeira – previstas para ir ao ar no segundo semestre – que Fonseca conversou com a Gazeta. Por telefone, ele falou sobre a experiência de levar aos cinemas a história do craque Heleno de Freitas e antecipou alguns de seus projetos para o futuro. Leia a seguir.

Gazeta. Como a história de Heleno de Freitas entrou na sua vida?

José Henrique Fonseca. O cara que editou o livro, o Rodrigo Teixeira, também foi produtor do filme. Ele mostrou uns rascunhos da biografia, que ainda não tinha sido publicada na época. Eu vi e fiquei impressionado, encantado com o personagem. É o tipo de personagem que eu gosto, um personagem que está numa situação-limite. Então me interessei pelo projeto.

Como foi a pesquisa para o roteiro? Quanto da biografia escrita pelo jornalista Marcos Eduardo Neves foi levado em conta?

As pesquisas foram variadas. Não existe uma pesquisa igual para todo mundo. Existe, sim, a maneira como você interpreta a pesquisa que está fazendo. Claro que o livro foi um manancial para a gente, mas a gente foi a campo. Fizemos um levantamento que o próprio biógrafo já tinha feito, mas nós fomos fazer sob a nossa ótica. Eu fui com o Rodrigo em Barbacena; a gente conversou com o médico que tratou do Heleno. Pesquisamos textos que falavam sobre. Tentamos falar com pessoas que conheceram ele. Depois teve toda uma pesquisa do departamento de arte sobre como era o Rio de Janeiro daquela época, dos costumes aos tecidos das roupas, as big bands, tudo... O filme teve uma pesquisa de arte e de roteiro muito grande.

Porque a decisão de filmar em preto e branco?

Porque eu acho que para essa história específica, passada na década de 1940, uma época distante, em que se tem muito pouca imagem em movimento, o P&B ajuda a transportar o espectador a esse período distante, glamouroso, meio mítico. Mas também porque minha formação enquanto cineasta foi feita por filmes em preto e branco. Então eu tinha um certo fetiche de filmar assim.

Não deixa de ser uma escolha ousada. Você teve de brigar por ela?

Não tive porque não tive nenhum estúdio apoiando o filme no começo da produção. Eu só tive o Eike Batista. Eu só consegui realizar esse filme por causa dele, pela confiança no projeto, de que ele estava se associando a um projeto de qualidade. Se talvez eu estivesse num estúdio, não iriam me deixar filmar em preto e branco. Mas isso se reverteu num resultado positivo: o preto e branco foi muito elogiado, foi bom sim para o filme.

Fale sobre sua formação, sobre suas referências.

É tudo. O cinema tem muita uma coisa parecida com a música. Você não necessariamente está sempre no clima de escutar um jazz, ou uma música eletrônica, ou um samba. Você tem de estar no espírito para ouvir aquilo ali. Eu tenho a coleção inteira do (Yasujiro) Ozu, mas ele não é um cineasta que eu vejo sempre como vejo (Ingmar) Bergman, por exemplo. A minha formação é variada, vai dos filmes do Cassavetes aos filmes americanos mais óbvios, Scorsese, Frank Capra, os brasileiros do cinema novo. É variado, eu não tenho nenhuma escola, diria que a minha escola é vasta, desregrada... Eu não tenho esse páreo para um tipo de cinema. Eu gosto de tudo. Só não gosto de filme ruim.

Heleno foi muito comparado a Touro Indomável. Você diria que se trata realmente de uma referência?

Não, não foi nada, claro que não. Só fazem essa comparação porque o personagem é um esportista desconhecido, como o Jake LaMotta era, e porque o filme é em preto e branco, e é sobre uma derrocada. Mas quem dera, o Scorsese filma muito melhor do que eu. Eu não fiquei colocando o filme para ninguém ver. Se o Rodrigo Santoro viu, viu porque quis. Eu fiz os planos que eu quis fazer. Se você olhar, no Touro Indomável não tem um close do cara no início do filme. O boxe é muito mais cinematográfico que o futebol. Tem a metáfora do boxe, que são dois caras duelando – o ringue é a vida, e o ringue é quadrado, ou seja, o quadrado do cinema, que é retangular. Então é só por isso, nada além disso.
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