Passamos a nos interessar por este assunto ainda na UFPE, após acompanharmos algumas aulas do professor Paulo Henrique Martins, que, sempre que possível, trazia este tema aos debates. O Movimento Antiutilitarista nas Ciências Sociais surgiu em Lion, na França, há trinta anos atrás, num seminário coordenado pelo sociólogo Alain Caillé, que, já àquela época, preocupava-se com uma "narrativa dominante", um "cálculo do interesse consciente e racional para uns" e "escondido nos recônditos do inconsciente para outros." Esta última expressão, meu caro Lacan, pode explicar os atos insanos de determinados grupos sociais, que assumem atitudes coerentemente inexplicáveis, como acreditar que a terra é plana, para não entrarmos em temas mais delicados.
Incomodava o sociólogo o fato de esta narrativa discursiva ter impregnado as Ciências Sociais, consoante interesses bem explícitos, coorporativos, não necessariamente bons para a coletividade. Como se observa, os reflexos perversos que sentimos hoje - como sintoma da adoção dessa lógica ultraliberal - tem tempo e tem planejamento. Aqui vale uma observação: Nunca vi algo tão bem urdido. Um bom exemplo disso são as tecituras institucionais, iniciadas ali em 2013 com as Jornadas de Junho, que culminaram com o afastamento da presidente Dilma Rousseff e a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O desenlace disso todos conhecemos. Já é História.
Enquanto as forças do campo progressista e de esquerda permanecem inertes, dispersas, sem construir uma unidade de ação - talvez até sem entender corretamente o que está se passando - os grupos conservadores e ultraconservadores afinam a orquestra e o passo. Alguns desses passos já foram dados, outros ainda virão, conforme a toada, se a música não for interrompida por desafino da orquestra. Somente para termos um vaga ideia do terreno perdido, tempo houve em que a Prefeitura da Cidade do Recife tinha uma secretaria- ou departamento com status de secretaria - para cuidar da articulação da rede de Economia Solidária. Alguns brasileiros participaram desse debate como conferencistas, nenhum de Pernambuco, salvo melhor juízo.
Como também já afirmamos antes por aqui, talvez o maior problema do continente latino-americano seja a nossa elite subserviente e entreguista, forjada num imaginário político colonial, populista e escravagista. Estamos fazendo um curso de especialização sobre o assunto e, cada dia, ficamos mais convencidos dessa triste realidade. Não apenas os problemas do continente hoje são comuns, mas, igualmente os problemas da humanidade são comuns, todos diante desse drama sanitário, de valores, vitimas da sanha ultraliberal, atolados numa crise civilizatória sem precedentes. É curioso como este cenário político guarda suas similaridades em todos os continentes, naturalmente com algumas especificidades. Experiências políticas autoritárias ocorrem no Europa, na Ásia, na América do Norte.
Assim como os problemas, as soluções também são semelhantes e convergentes: A retomada do estado democrático de direito; a preservação do arcabouço institucional dos regimes democráticos; desenvolvimento sustentável, sem agressões ou destruição do meio-ambiente; cooperatvismo e ações conjuntas entre as nações; políticas de distribuição de renda e de inclusão social, entre outras. Na realidade, hoje se reflete bastante sobre uma sociedade pós-capitalista, uma vez que o atual estágio de desenvolvimento desse modo de produção produziu o seguinte dilema: civilização ou barbárie.
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