Fazia algum tempo que não lia nada produzido pelo ISER - Instituto de Estudos da Religião - um instituto com sede no Rio de Janeiro, bastante conceituado sobre o estudo das religiões no país. Laico, formado por pesquisadores bem conceituados, o ISER reúne as condições necessárias para a uma produção científica sólida, consistente e de muito bom nível. Essa impressão ficou desde os tempos da universidade, quando as contingências dos estudos nos obrigaram a ler alguns textos dos seus pesquisadores, numa época em que os problemas se resumiam a um estudo junto aos evangélicos no sentido de saber como demover suas resistências em aceitar uma jovem liderança barbuda do ABC como candidato à Presidência da República. Para mim, um texto é bom quando provocativo, capaz de produzir mais incertezas do que convicções. Aquele texto que deixa você inquieto, ao apontar possibilidades capazes de por em dúvida suas certezas.
Sou um cristão novo nesses estudos, mas, a cada dia, afloram mais inquietações em torno deste assunto, como, por exemplo, entender melhor essa perigosa aproximação de agendas entre os grupos neopentecostais e neo-facistas, proponentes de uma pauta conservadora de costumes e flertes autoritários. Contraditoriamente, em certo sentido, uma agenda anti-cristã, em razão da intolerância com minorias divergentes. Não chega a ser surpresa as conclusões da pesquisadora Ana Carolina Evangelista, sobre a formação desse rebanho, cuja origem está concentrada, sobretudo, nas periferias pobres, composto, em sua maioria, por negros e mulheres. Entra neste perfil, questões sociais, de raça e gênero, para dá um nó ainda maior nas nossas cabeças. A preocupação da pesquisadora é a utilização dessa agenda evangélica por politicos até sem vínculos religiosos, com o propósito de produzir uma narrativa discursiva da "ordem", criando o ambiente político necessário não apenas para conquistar esses votos, mas para intervir nas instituições, normalizando regras de costumes para a sociedade como um todo. Políticos conservadores não avangélicos estariam utilizando essa agenda para consolidar uma plataforma de costumes que extrapolam os círculos de oração. Aqui começamos a entender o porquê do flerte de agendas entre grupos religiosos neopentecostais e neo-fascistas. Observamos aqui que o golpe de Estado na Bolívia foi dado com a Bíblia na mão, com muita violência em relação aos adversários e às etnias indígenas. Muito preocupante.
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