pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Os melhores livros de 2020
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sábado, 12 de dezembro de 2020

Os melhores livros de 2020


Como fazemos todo final de ano, convidamos alguns escritores, críticos literários e pesquisadores que estiveram conosco para votar nos melhores livros de 2020. Para a votação, houve somente um critério: os livros deviam ter sido lançados de janeiro em diante, podendo ser de ficção ou não-ficção, edições nacionais, estrangeiras e reedições.

O livro mais votado do ano foi Batendo pasto, de Maria Lúcia Alvim, publicado pela Relicário Edições. 

Confira os resultados!

 

 

Adelaide Ivánova
[poeta, tradutora e fotógrafa, autora de O martelo]

> Comrade: An essay on political belonging (em tradução livre, “Camarada: Um ensaio sobre pertencimento político”), de Jodi Dean (Verso Books)
> Carlos, a face oculta de Marighella, de Edson Teixeira da Silva Júnior (Expressão Popular)
sorry.gif, de Felipe André Silva (Edições Macondo)
Brasil à parte, de Perry Anderson, tradução de Alexandre Barbosa de Souza, Bruno Costa, Fernando Pureza, Jayme da Costa Pinto e SatBhagat Rogério Bettoni (Boitempo Editorial)
Se quiser mudar o mundoUm guia político para quem se importa, de Sabrina Fernandes (Editora Planeta)

André Oviedo
[escritor]

Para o meu coração num domingo, de Wislawa Szymborska, tradução de Regina Przybycien e Gabriel Borowski (Companhia das Letras)
O morse desse corpo, de Ricardo Domeneck (Editora 7Letras)
canções de atormentar, de Angélica Freitas (Companhia das Letras)
Investigações. Novalis, de Gonçalo M. Tavares (Edições Chão da Feira)
Escritos corsários, de Pier Paolo Pasolini, tradução de Maria Betânia Amoroso (Editora 34)


Cidinha da Silva

[escritora e editora (Kuanza Produções), autora de Um exu em Nova York]

Eu vou piorar, de Fernanda Bastos (Editora Figura de Linguagem)
Levante, de Henrique Marques Samyn (Editora Jandaíra)
Notas sobre a fome, de Helena Silvestre (Ciclo Contínuo Editorial)
oriki de amor selvagem: todos os poemas de amor preto (ou quase), de tatiana nascimento (padê editorial)
Por um feminismo afro-latino-americano, de Lélia Gonzalez, organização de Flávia Rios e Márcia Lima (Zahar)


Cristhiano Aguiar

[escritor e professor (Universidade Mackenzie), autor de Na outra margem, o Leviatã]

Grama, de Keum Suk Gendry-Kim, tradução de Jae Hyung Woo (Pipoca & Nanquim)
A bailarina da morte: A gripe espanhola no Brasil, de Lilia Moritz Schwarcz e Heloisa Murgel Starling (Companhia das Letras)
Quéreas & Calírroe, de Cáriton de Afrodísias, tradução de Adriane da Silva Duarte (Editora 34)
Todas as cartas, Clarice Lispector, organização de Larissa Vaz (Editora Rocco)
Filhos de sangue e outras histórias, de Octavia E. Butler, tradução de Heci Regina Candiani (Editora Morro Branco)


Edma de Góis

[pós-doutora em Estudos de Linguagens (UNEB) e apresentadora do podcast Margens da palavra]

O mez da grippe, de Valêncio Xavier (Editora Arte & Letra)
Comentário: Um dos livros mais emblemáticos do "Frankenstein de Curitiba", em edição bem acabada da Arte & Letra (o que não é mero detalhe para um livro em que o conteúdo visual é tão importante quanto o texto escrito). A reedição, depois de 22 anos fora de catálogo e no ano da pandemia de covid-19, dobra o interesse no livro em que Valêncio reafirma o melhor da sua produção como arranjador de textos (alheios e dos seus próprios) para contar sobre a gripe espanhola na cidade de Curitiba em 1918.

Banzo, de Davi Nunes (Organismo Editora)
Comentário: Marcado por referências a artistas negros como Aimé Césaire e Jean Michel Basquiat, e com posfácio do escritor Allan da Rosa, o livro de poemas do autor baiano trata da história dos negros em diáspora, entremeado por elementos pictóricos e dando a ver um projeto literário do escritor desde os contos do seu livro anterior, Zanga.

A razão africana: Breve história do pensamento africano contemporâneo, de Muryatan S. Barbosa (Editora Todavia)
Comentário:O livro faz as vezes de ensaio em que seu autor reúne nomes de intelectuais que colocam a ideia de África no centro do debate. Boa opção de leitura para quem quer uma introdução ao pensamento africano contemporâneo, seus temas e quem os mobiliza na cena recente.

Batendo pasto, de Maria Lúcia Alvim (Relicário Edições)
Comentário: Repito as palavras de Ricardo Domeneck na apresentação do livro: "qual explicação podemos dar para este Batendo pasto, escrito em 1982, seja o primeiro inédito de Maria Lúcia Alvim em quarenta anos? A imagem anunciada pelo título dá conta de um dos movimentos mais belos da autora, que faz vigorosa construção poética nesses poemas sobre temas que circundam a vida rural, mas não apenas esta.

Novelas completas, de Liev Tolstói, tradução de Rubens Figueiredo (Editora Todavia)
Comentário: A reunião de quatro novelas do lugar mais alto de produção desse gênero dá ao volume, por um lado, a possibilidade de um grande reencontro para os já iniciados na obra do autor de Guerra e Paz, e por outro também um excelente ponto de partida pra quem ainda é novato. As obsessões de Tolstói, em diferentes momentos de sua biografia, estão nesses textos: morte, desejo e felicidade.


Everardo Norões
[escritor, poeta e colunista do Pernambuco]

Nuestra parte de noche, de Mariana Enriquez (Anagrama)
M: O filho do século, de Antonio Scurati, tradução de Marcello Lino (Intrinseca)
Las malas, de Camilla Sosa Villada (Tusquets Editores)
Marrom e amarelo, de Paulo Scott (Alfaguara)
Abliterações, de Paulo Dutra (Malê Editora)  
 

Igor Gomes
[editor assistente do Pernambuco]

Batendo pasto, de Maria Lúcia Alvim (Relicário Edições)
Cidadã: Uma lírica americana, de Claudia Rankine, tradução de Stephanie Borges (Edições Jabuticaba)
Percurso livre médio, de Ben Lerner, tradução de Maria Cecília Brandi. (Edições Jabuticaba)
O planeta: Uma categoria humanista emergente, de Dipesh Chakrabarty, tradução de Gabriela Baptista (Zazie Edições)
Diante de Gaia: Oito conferências sobre a natureza do Antropoceno, de Bruno Latour, tradução de Maryalua Meyer (Ubu Editora)


Laura Erber

[poeta, professora visitante da Universidade de Copenhague (Dinamarca), artista visual e editora (Zazie Edições), autora de A retornada]

Batendo pasto, de Maria Lúcia Alvim (Relicário Edições)
Percurso livre médio, de Ben Lerner, tradução de Maria Cecília Brandi. (Edições Jabuticaba)
Sobre os primórdios da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, organização de Walnice Nogueira Galvão (EdUSP)
> O homem que aprendeu o Brasil: A vida de Paulo Rónai, de Ana Cecilia Impellizieri Martins (Editora Todavia)
Escritos corsários, de Pier Paolo Pasolini, tradução de Maria Betânia Amoroso (Editora 34)
O único verso, de Bento Prado Jr. (Editora Clandestina)


Leonardo Nascimento

[jornalista e doutorando em Antropologia pelo Museu Nacional/UFRJ]

A unicórnia preta, de Audre Lorde, tradução de Stephanie Borges (Relicário Edições)
Batendo pasto, de Maria Lúcia Alvim (Relicário Edições)
Boca do Amazonas: Sociedade e cultura em Dalcídio Jurandir, de Willi Bolle (Edições Sesc)
Cidadã: Uma lírica americana, de Claudia Rankine, tradução de Stephanie Borges (Edições Jabuticaba)
Escritos corsários, de Pier Paolo Pasolini, tradução de Maria Betânia Amoroso (Editora 34)
O infarto da alma, de Paz Errázuriz (imagens) e Diamela Eltit (texto), tradução de Livia Deorsola (IMS Editora)
Retorno a Reims, de Didier Eribon, tradução de Cecilia Schuback (Editora Âyiné)
Senhores do orvalho, de Jacques Roumain, tradução de Monica Stahel (Carambaia)
Trânsito, de Rachel Cusk, tradução de Fernanda Abreu (Editora Todavia)
Um apartamento em Urano: Crônicas da travessia, de Paul B. Preciado, tradução de Eliana Aguiar (Zahar)


Priscilla Campos
[crítica literária, editora e pesquisadora, doutoranda em Literartura Hispano-americana (USP)]

Poesia completa: Maya Angelou, de Maya Angelou, tradução de Lubi Prates (Astral Cultural)
Comentário: O acesso à obra de Maya Angelou foi um sopro de força ainda no início do isolamento social e deste ano tão difícil. Com ótima tradução de Lubi Prates, a poesia de Angelou ganha, enfim, registro definitivo para o português. Um de seus poemas me acompanha nos últimos meses, chama-se Despertar em Nova York e termina com estes versos – “e eu, alarmada, acordo como/ um rumor de guerra,/ me espreguiçando pelo amanhecer,/ indesejada e ignorada”. Encontrar um modo de despertar mesmo que tudo indique que não se deve olhar o futuro: assim Angelou nos ensina a seguir pelos dias.

Um outro Brooklyn, de Jacqueline Woodson, tradução de Stephanie Borges (Editora Todavia)
Comentário: Uma manhã foi tempo suficiente para ler as 115 páginas deste romance tão bonito e agudo. A leitura de Brooklyn é como sustentar a respiração por algumas horas e voltar a soltá-la no mesmo instante em que a memória se transforma em gesto e registro. Desde então, Augusta, Angela, Gigi e Sylvia surgem na minha cabeça como fragmentos de presença. Tudo o que dói, o que brilha, o que foi aniquilado e o que ficou estão ali, na voz de Augusta. É um romance sobre a dor profunda de construir a memória e tocar o passado com as mãos. Quatro adolescentes e a vivência do racismo, das relações familiares e afetivas, e a interação com a cidade e seus signos, são o que dão o dom desse outro Brooklyn.

> A mulher submersa, de Mar Becker (Editora Urutau) 
Comentário: A imagem de uma mulher que afunda representa o silêncio que se escuta no movimento das águas, do sentido, do estar presente. Assim operam os poemas de Mar Becker neste livro, colocando na linha de frente questões tão silenciosas e comezinhas que, ao longo dos versos, os estatutos do patriarcado perdem o a sua síntese estrutural para dar lugar ao que, de fato, ressoa: a ancestralidade presente no cotidiano do corpo-mulher. Também uma busca pela linhagem – que só se faz possível quando se encara a água e se olha pelo espelho inconstante de seu movimento – é motora do livro e, dessa maneira, encontra-se “o deus da terceira margem”, essa palavra que é oração e mergulha.

> Entre nós mesmasPoemas reunidos, de Audre Lorde, tradução de tatiana nascimento e Valéria Lima (Bazar do Tempo)
Comentário: Este ano, o boom da obra de Audre Lorde no Brasil, publicada por várias editoras em simultâneo – além da Bazar do Tempo, outros livros da autora saíram pela Ubu Editora e Relicário Edições – foi um acontecimento. Como afirma a escritora Cidinha da Silva no texto de apresentação do livro, Lorde tem uma “sabedoria de produzir boas e efetivas sínteses, ou seja, de ler o mundo pelos próprios olhos, a partir das próprias referências, e de devolvê-lo transformado, como faz Exu, o senhor dos caminhos”. Lorde é essa maquinaria do tempo e do espaço, transformando tudo o que se vê em algo passível de leitura e, por consequência, poderoso em sua chama de mudança.

> Quatro cantos, de Henrique Provinzano Amaral (Editora Patuá)
Comentário: Primeiro livro do poeta paulista, Quatro cantos apresenta-se menos como um quadrado, como indica seu título, e mais como um estado das coisas: estar em cada espaço para negar a sua estabilidade e, assim, encontrar uma outra sustentação para os seus cantos. Como no primeiro poema do livro, o homem que vê o cachorro e, depois, torna-se cachorro, a fusão das coisas e dos corpos, o animal que se encontra dentro porque se vê fora, e assim está firmado no espaço. Canto que também é voz e se escuta, ecoa, atinge timbres diversos, nos alcança como quem persegue, atento, o leitor mais distraído. Entre o coração da baleia azul pulsando dentro do ônibus e os galopes dos cavalos alados, Henrique Amaral espalha o vermelho – “tu desejas meu sangue/ e eu desejo o teu” – como um último alerta a nós que chegamos cambaleantes até este improvável dezembro/2020: estamos vivos porque tudo pulsa e tudo parte ao meio, deixando sempre o coração “preso na adaga da palavra amor”.


Nuno Figueirôa

[jornalista]

Um apartamento em Urano: Crônicas da travessia, de Paul B. Preciado, tradução de Eliana Aguiar (Zahar) 
Pele negra, máscaras brancas, de Frantz Fanon, tradução de Sebastião Nascimento (Ubu) 
Para o meu coração num domingo, de Wislawa Szymborska, tradução de Regina Przybycien e Gabriel Borowski (Companhia das Letras)
Percurso livre médio, de Ben Lerner, tradução de Maria Cecília Brandi. (Edições Jabuticaba)
A cachorra, de Pilar Quintana, tradução de Livia Deorsola (Editora Intrínseca)
Estrela vermelha, de  Aleksandr Bogdánov, tradução de Ekaterina Vólkova Américo e Paula Vaz de Almeida (Boitempo Editorial)
> Batendo pasto, de Maria Lúcia Alvim (Relicário Edições)

 
Ramon Ramos
[escritor e doutorando em Letras (PUC-Rio)]

Para o meu coração num domingo, de Wislawa Szymborska, tradução de Regina Przybycien e Gabriel Borowski (Companhia das Letras)
> Batendo pasto, de Maria Lúcia Alvim (Relicário Edições)
Poesia completa: Maya Angelou, de Maya Angelou, tradução de Lubi Prates (Astral Cultural)
Todas as cartas, Clarice Lispector, organização de Larissa Vaz (Editora Rocco)
Segredos, de Domenico Starnone, tradução de Maurício Santana Dias (Editora Todavia)


Raquel Barreto
[historiadora e doutoranda em História (UFF)]

Lições de Resistência: Artigos de Luiz Gama na imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro, organização de Ligia Fonseca Ferreira (Edições Sesc São Paulo)
Terra Preta: Raça, racismo e política no Movimento dos Trabalhadores Rurais e Sem Terra, de Fred Aganju (Editora Filhos da África, São Paulo)
Água por todos os lados, de Leonardo Padura, tradução de Monica Stahel (Boitempo Editorial)
> Os 3 livros da coleção Cabeças da Periferia, organização de Marcus Faustini (Editora Cobogó):
    - Taisa Machado: O afrofunk e a ciência do rebolado
    - Jessé Andarilho: A escrita, a cultura e o território
    - Rene Silva: Ativismo digital e ação comunitária

Imagens de controle: Um conceito do pensamento de Patricia Hill Collins, de Winnie Bueno (Editora Zouk)
Filhos de sangue e outras histórias, de Octavia E. Butler, tradução de Heci Regina Candiani (Editora Morro Branco)
O menor amor do mundo, de Rafael Zacca (Editora 7Letras)


Schneider Carpeggiani

[editor do Pernambuco, crítico literário e curador]

Um apartamento em Urano: Crônicas da travessia, de Paul B. Preciado, tradução de Eliana Aguiar (Zahar)
A bailarina da morte: A gripe espanhola no Brasil, de Lilia Moritz Schwarcz e Heloisa Murgel Starling (Companhia das Letras)
Batendo pasto, de Maria Lúcia Alvim (Relicário Edições)
Um outro Brooklyn, de Jacqueline Woodson, tradução de Stephanie Borges (Editora Todavia)
A cachorra, de Pilar Quintana, tradução de Livia Deorsola (Editora Intrínseca)


Victor da Rosa

[professor (UFOP), co-organizador da antologia 99 poemas]

Casa do norte, de Rodrigo Lobo Damasceno (Corsário Satã)
Metamorfoses, de Emanuele Coccia, tradução de Madeleine Deschamps e Victoria Mouawad (Dantes Editora)
Diante de Gaia: Oito conferências sobre a natureza do Antropoceno, de Bruno Latour, tradução de Maryalua Meyer (Ubu Editora)
Escritor por escritor: Machado de Assis segundo seus pares, organização de Hélio de Seixas Guimarães e Ieda Lebensztayn (Editora Imprensa Oficial do Estado de São Paulo)
Um outro Brooklyn, de Jacqueline Woodson, tradução de Stephanie Borges (Editora Todavia)

(Publicado originalmente no site do Suplemento Pernambuco)

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