Como fazemos todo final de ano, convidamos alguns escritores, críticos literários e pesquisadores que estiveram conosco para votar nos melhores livros de 2020. Para a votação, houve somente um critério: os livros deviam ter sido lançados de janeiro em diante, podendo ser de ficção ou não-ficção, edições nacionais, estrangeiras e reedições.
O livro mais votado do ano foi Batendo pasto, de Maria Lúcia Alvim, publicado pela Relicário Edições.
Confira os resultados!
Adelaide Ivánova
[poeta, tradutora e fotógrafa, autora de O martelo]
> Comrade: An essay on political belonging (em tradução livre, “Camarada: Um ensaio sobre pertencimento político”), de Jodi Dean (Verso Books)
> Carlos, a face oculta de Marighella, de Edson Teixeira da Silva Júnior (Expressão Popular)
> sorry.gif, de Felipe André Silva (Edições Macondo)
> Brasil à parte, de Perry Anderson, tradução de Alexandre Barbosa de Souza, Bruno Costa, Fernando Pureza, Jayme da Costa Pinto e SatBhagat Rogério Bettoni (Boitempo Editorial)
> Se quiser mudar o mundo: Um guia político para quem se importa, de Sabrina Fernandes (Editora Planeta)
André Oviedo
[escritor]
> Para o meu coração num domingo, de Wislawa Szymborska, tradução de Regina Przybycien e Gabriel Borowski (Companhia das Letras)
> O morse desse corpo, de Ricardo Domeneck (Editora 7Letras)
> canções de atormentar, de Angélica Freitas (Companhia das Letras)
> Investigações. Novalis, de Gonçalo M. Tavares (Edições Chão da Feira)
> Escritos corsários, de Pier Paolo Pasolini, tradução de Maria Betânia Amoroso (Editora 34)
Cidinha da Silva
[escritora e editora (Kuanza Produções), autora de Um exu em Nova York]
> Eu vou piorar, de Fernanda Bastos (Editora Figura de Linguagem)
> Levante, de Henrique Marques Samyn (Editora Jandaíra)
> Notas sobre a fome, de Helena Silvestre (Ciclo Contínuo Editorial)
> oriki de amor selvagem: todos os poemas de amor preto (ou quase), de tatiana nascimento (padê editorial)
> Por um feminismo afro-latino-americano, de Lélia Gonzalez, organização de Flávia Rios e Márcia Lima (Zahar)
Cristhiano Aguiar
[escritor e professor (Universidade Mackenzie), autor de Na outra margem, o Leviatã]
> Grama, de Keum Suk Gendry-Kim, tradução de Jae Hyung Woo (Pipoca & Nanquim)
> A bailarina da morte: A gripe espanhola no Brasil, de Lilia Moritz Schwarcz e Heloisa Murgel Starling (Companhia das Letras)
> Quéreas & Calírroe, de Cáriton de Afrodísias, tradução de Adriane da Silva Duarte (Editora 34)
> Todas as cartas, Clarice Lispector, organização de Larissa Vaz (Editora Rocco)
> Filhos de sangue e outras histórias, de Octavia E. Butler, tradução de Heci Regina Candiani (Editora Morro Branco)
Edma de Góis
[pós-doutora em Estudos de Linguagens (UNEB) e apresentadora do podcast Margens da palavra]
> O mez da grippe, de Valêncio Xavier (Editora Arte & Letra)
Comentário: Um dos livros mais emblemáticos do "Frankenstein de Curitiba", em edição bem acabada da Arte & Letra (o que não é mero detalhe para um livro em que o conteúdo visual é tão importante quanto o texto escrito). A reedição, depois de 22 anos fora de catálogo e no ano da pandemia de covid-19, dobra o interesse no livro em que Valêncio reafirma o melhor da sua produção como arranjador de textos (alheios e dos seus próprios) para contar sobre a gripe espanhola na cidade de Curitiba em 1918.
> Banzo, de Davi Nunes (Organismo Editora)
Comentário: Marcado por referências a artistas negros como Aimé Césaire e Jean Michel Basquiat, e com posfácio do escritor Allan da Rosa, o livro de poemas do autor baiano trata da história dos negros em diáspora, entremeado por elementos pictóricos e dando a ver um projeto literário do escritor desde os contos do seu livro anterior, Zanga.
> A razão africana: Breve história do pensamento africano contemporâneo, de Muryatan S. Barbosa (Editora Todavia)
Comentário:O livro faz as vezes de ensaio em que seu autor reúne nomes de intelectuais que colocam a ideia de África no centro do debate. Boa opção de leitura para quem quer uma introdução ao pensamento africano contemporâneo, seus temas e quem os mobiliza na cena recente.
> Batendo pasto, de Maria Lúcia Alvim (Relicário Edições)
Comentário: Repito as palavras de Ricardo Domeneck na apresentação do livro: "qual explicação podemos dar para este Batendo pasto, escrito em 1982, seja o primeiro inédito de Maria Lúcia Alvim em quarenta anos? A imagem anunciada pelo título dá conta de um dos movimentos mais belos da autora, que faz vigorosa construção poética nesses poemas sobre temas que circundam a vida rural, mas não apenas esta.
> Novelas completas, de Liev Tolstói, tradução de Rubens Figueiredo (Editora Todavia)
Comentário: A reunião de quatro novelas do lugar mais alto de produção desse gênero dá ao volume, por um lado, a possibilidade de um grande reencontro para os já iniciados na obra do autor de Guerra e Paz, e por outro também um excelente ponto de partida pra quem ainda é novato. As obsessões de Tolstói, em diferentes momentos de sua biografia, estão nesses textos: morte, desejo e felicidade.
Everardo Norões
[escritor, poeta e colunista do Pernambuco]
> Las malas, de Camilla Sosa Villada (Tusquets Editores)
> Marrom e amarelo, de Paulo Scott (Alfaguara)
> Abliterações, de Paulo Dutra (Malê Editora)
Igor Gomes
[editor assistente do Pernambuco]
> Batendo pasto, de Maria Lúcia Alvim (Relicário Edições)
> Cidadã: Uma lírica americana, de Claudia Rankine, tradução de Stephanie Borges (Edições Jabuticaba)
> Percurso livre médio, de Ben Lerner, tradução de Maria Cecília Brandi. (Edições Jabuticaba)
> O planeta: Uma categoria humanista emergente, de Dipesh Chakrabarty, tradução de Gabriela Baptista (Zazie Edições)
> Diante de Gaia: Oito conferências sobre a natureza do Antropoceno, de Bruno Latour, tradução de Maryalua Meyer (Ubu Editora)
Laura Erber
[poeta, professora visitante da Universidade de Copenhague (Dinamarca), artista visual e editora (Zazie Edições), autora de A retornada]
> Batendo pasto, de Maria Lúcia Alvim (Relicário Edições)
> Percurso livre médio, de Ben Lerner, tradução de Maria Cecília Brandi. (Edições Jabuticaba)
> Sobre os primórdios da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, organização de Walnice Nogueira Galvão (EdUSP)
> O homem que aprendeu o Brasil: A vida de Paulo Rónai, de Ana Cecilia Impellizieri Martins (Editora Todavia)
> Escritos corsários, de Pier Paolo Pasolini, tradução de Maria Betânia Amoroso (Editora 34)
> O único verso, de Bento Prado Jr. (Editora Clandestina)
Leonardo Nascimento
[jornalista e doutorando em Antropologia pelo Museu Nacional/UFRJ]
> A unicórnia preta, de Audre Lorde, tradução de Stephanie Borges (Relicário Edições)
> Batendo pasto, de Maria Lúcia Alvim (Relicário Edições)
> Boca do Amazonas: Sociedade e cultura em Dalcídio Jurandir, de Willi Bolle (Edições Sesc)
> Cidadã: Uma lírica americana, de Claudia Rankine, tradução de Stephanie Borges (Edições Jabuticaba)
> Escritos corsários, de Pier Paolo Pasolini, tradução de Maria Betânia Amoroso (Editora 34)
> O infarto da alma, de Paz Errázuriz (imagens) e Diamela Eltit (texto), tradução de Livia Deorsola (IMS Editora)
> Retorno a Reims, de Didier Eribon, tradução de Cecilia Schuback (Editora Âyiné)
> Senhores do orvalho, de Jacques Roumain, tradução de Monica Stahel (Carambaia)
> Trânsito, de Rachel Cusk, tradução de Fernanda Abreu (Editora Todavia)
> Um apartamento em Urano: Crônicas da travessia, de Paul B. Preciado, tradução de Eliana Aguiar (Zahar)
Priscilla Campos
[crítica literária, editora e pesquisadora, doutoranda em Literartura Hispano-americana (USP)]
> Poesia completa: Maya Angelou, de Maya Angelou, tradução de Lubi Prates (Astral Cultural)
Comentário: O acesso à obra de Maya Angelou foi um sopro de força ainda no início do isolamento social e deste ano tão difícil. Com ótima tradução de Lubi Prates, a poesia de Angelou ganha, enfim, registro definitivo para o português. Um de seus poemas me acompanha nos últimos meses, chama-se Despertar em Nova York e termina com estes versos – “e eu, alarmada, acordo como/ um rumor de guerra,/ me espreguiçando pelo amanhecer,/ indesejada e ignorada”. Encontrar um modo de despertar mesmo que tudo indique que não se deve olhar o futuro: assim Angelou nos ensina a seguir pelos dias.
> Um outro Brooklyn, de Jacqueline Woodson, tradução de Stephanie Borges (Editora Todavia)
Comentário: Uma manhã foi tempo suficiente para ler as 115 páginas deste romance tão bonito e agudo. A leitura de Brooklyn é como sustentar a respiração por algumas horas e voltar a soltá-la no mesmo instante em que a memória se transforma em gesto e registro. Desde então, Augusta, Angela, Gigi e Sylvia surgem na minha cabeça como fragmentos de presença. Tudo o que dói, o que brilha, o que foi aniquilado e o que ficou estão ali, na voz de Augusta. É um romance sobre a dor profunda de construir a memória e tocar o passado com as mãos. Quatro adolescentes e a vivência do racismo, das relações familiares e afetivas, e a interação com a cidade e seus signos, são o que dão o dom desse outro Brooklyn.
> A mulher submersa, de Mar Becker (Editora Urutau)
Comentário: A imagem de uma mulher que afunda representa o silêncio que se escuta no movimento das águas, do sentido, do estar presente. Assim operam os poemas de Mar Becker neste livro, colocando na linha de frente questões tão silenciosas e comezinhas que, ao longo dos versos, os estatutos do patriarcado perdem o a sua síntese estrutural para dar lugar ao que, de fato, ressoa: a ancestralidade presente no cotidiano do corpo-mulher. Também uma busca pela linhagem – que só se faz possível quando se encara a água e se olha pelo espelho inconstante de seu movimento – é motora do livro e, dessa maneira, encontra-se “o deus da terceira margem”, essa palavra que é oração e mergulha.
> Entre nós mesmas: Poemas reunidos, de Audre Lorde, tradução de tatiana nascimento e Valéria Lima (Bazar do Tempo)
Comentário: Este ano, o boom da obra de Audre Lorde no Brasil, publicada por várias editoras em simultâneo – além da Bazar do Tempo, outros livros da autora saíram pela Ubu Editora e Relicário Edições – foi um acontecimento. Como afirma a escritora Cidinha da Silva no texto de apresentação do livro, Lorde tem uma “sabedoria de produzir boas e efetivas sínteses, ou seja, de ler o mundo pelos próprios olhos, a partir das próprias referências, e de devolvê-lo transformado, como faz Exu, o senhor dos caminhos”. Lorde é essa maquinaria do tempo e do espaço, transformando tudo o que se vê em algo passível de leitura e, por consequência, poderoso em sua chama de mudança.
> Quatro cantos, de Henrique Provinzano Amaral (Editora Patuá)
Comentário: Primeiro livro do poeta paulista, Quatro cantos apresenta-se menos como um quadrado, como indica seu título, e mais como um estado das coisas: estar em cada espaço para negar a sua estabilidade e, assim, encontrar uma outra sustentação para os seus cantos. Como no primeiro poema do livro, o homem que vê o cachorro e, depois, torna-se cachorro, a fusão das coisas e dos corpos, o animal que se encontra dentro porque se vê fora, e assim está firmado no espaço. Canto que também é voz e se escuta, ecoa, atinge timbres diversos, nos alcança como quem persegue, atento, o leitor mais distraído. Entre o coração da baleia azul pulsando dentro do ônibus e os galopes dos cavalos alados, Henrique Amaral espalha o vermelho – “tu desejas meu sangue/ e eu desejo o teu” – como um último alerta a nós que chegamos cambaleantes até este improvável dezembro/2020: estamos vivos porque tudo pulsa e tudo parte ao meio, deixando sempre o coração “preso na adaga da palavra amor”.
Nuno Figueirôa
[jornalista]
> Um apartamento em Urano: Crônicas da travessia, de Paul B. Preciado, tradução de Eliana Aguiar (Zahar)
> Pele negra, máscaras brancas, de Frantz Fanon, tradução de Sebastião Nascimento (Ubu)
> Para o meu coração num domingo, de Wislawa Szymborska, tradução de Regina Przybycien e Gabriel Borowski (Companhia das Letras)
> Percurso livre médio, de Ben Lerner, tradução de Maria Cecília Brandi. (Edições Jabuticaba)
> A cachorra, de Pilar Quintana, tradução de Livia Deorsola (Editora Intrínseca)
> Estrela vermelha, de Aleksandr Bogdánov, tradução de Ekaterina Vólkova Américo e Paula Vaz de Almeida (Boitempo Editorial)
> Batendo pasto, de Maria Lúcia Alvim (Relicário Edições)
Ramon Ramos
[escritor e doutorando em Letras (PUC-Rio)]
> Para o meu coração num domingo, de Wislawa Szymborska, tradução de Regina Przybycien e Gabriel Borowski (Companhia das Letras)
> Batendo pasto, de Maria Lúcia Alvim (Relicário Edições)
> Poesia completa: Maya Angelou, de Maya Angelou, tradução de Lubi Prates (Astral Cultural)
> Todas as cartas, Clarice Lispector, organização de Larissa Vaz (Editora Rocco)
> Segredos, de Domenico Starnone, tradução de Maurício Santana Dias (Editora Todavia)
Raquel Barreto
[historiadora e doutoranda em História (UFF)]
> Lições de Resistência: Artigos de Luiz Gama na imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro, organização de Ligia Fonseca Ferreira (Edições Sesc São Paulo)
> Terra Preta: Raça, racismo e política no Movimento dos Trabalhadores Rurais e Sem Terra, de Fred Aganju (Editora Filhos da África, São Paulo)
> Água por todos os lados, de Leonardo Padura, tradução de Monica Stahel (Boitempo Editorial)
> Os 3 livros da coleção Cabeças da Periferia, organização de Marcus Faustini (Editora Cobogó):
- Taisa Machado: O afrofunk e a ciência do rebolado
- Jessé Andarilho: A escrita, a cultura e o território
- Rene Silva: Ativismo digital e ação comunitária
> Imagens de controle: Um conceito do pensamento de Patricia Hill Collins, de Winnie Bueno (Editora Zouk)
> Filhos de sangue e outras histórias, de Octavia E. Butler, tradução de Heci Regina Candiani (Editora Morro Branco)
> O menor amor do mundo, de Rafael Zacca (Editora 7Letras)
Schneider Carpeggiani
[editor do Pernambuco, crítico literário e curador]
> Um apartamento em Urano: Crônicas da travessia, de Paul B. Preciado, tradução de Eliana Aguiar (Zahar)
> A bailarina da morte: A gripe espanhola no Brasil, de Lilia Moritz Schwarcz e Heloisa Murgel Starling (Companhia das Letras)
> Batendo pasto, de Maria Lúcia Alvim (Relicário Edições)
> Um outro Brooklyn, de Jacqueline Woodson, tradução de Stephanie Borges (Editora Todavia)
> A cachorra, de Pilar Quintana, tradução de Livia Deorsola (Editora Intrínseca)
Victor da Rosa
[professor (UFOP), co-organizador da antologia 99 poemas]
> Casa do norte, de Rodrigo Lobo Damasceno (Corsário Satã)
> Metamorfoses, de Emanuele Coccia, tradução de Madeleine Deschamps e Victoria Mouawad (Dantes Editora)
> Diante de Gaia: Oito conferências sobre a natureza do Antropoceno, de Bruno Latour, tradução de Maryalua Meyer (Ubu Editora)
> Escritor por escritor: Machado de Assis segundo seus pares, organização de Hélio de Seixas Guimarães e Ieda Lebensztayn (Editora Imprensa Oficial do Estado de São Paulo)
> Um outro Brooklyn, de Jacqueline Woodson, tradução de Stephanie Borges (Editora Todavia)
(Publicado originalmente no site do Suplemento Pernambuco)
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