pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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domingo, 12 de dezembro de 2021

Camila Prando: palavras subterrâneas e os melhores livros do ano

 

Camila Prando: palavras subterrâneas  e os melhores livros do ano
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Mas a existência da linguagem é o sim dito ao mundo
para que ele esteja suspenso sobre o nada da linguagem.
Giorgio Agamben

 

O fato ordinário é que todos os anos aparecem listas, mais ou menos um ou dois meses antes do ano terminar, com “os melhores” livros. Aquilo que aparece em novembro, em dezembro não consta das listas dos selecionadíssimos e selecionadíssimas colaboradores e colaboradas dessa ou daquela publicação. Isto leva também ao tabuleiro marcado dos prêmios, entre os que julgam antes para ser premiados depois e assim sucessivamente numa alternância fisiológica. Lembra até o Congresso e a votação da PEC dos precatórios. Agora, em 2021, numa coincidência ruim às listas, morreu Assis Brasil, no dia 28 de novembro. Quase ninguém sabe, ninguém viu. Nascido em Parnaíba, no Piauí, com uma longa morada no Rio de Janeiro, e falecido em Teresina, numa pequena casa com apenas duas máquinas de datilografia e um copo. Uma vida intensa lançada ao jogo desamparado e infinito do pensamento, uma política daquele que é capaz de andar com pés finos à beira do abismo e também dançar. E pasme-se: nenhuma escritora ou escritor brasileiro vivo e premiado lambe sequer as botas da literatura de espanto, demoníaca, que Assis Brasil inscreveu com o corpo, sempre em torno de personagens de vida operária, precária, sofrida, dura, sem saídas. Bastaria ler, com força, entre tantos livros, coisas como Beira rio, beira vidaOs que bebem como os cãesSodoma está velha ou O livro de Judas. São oscilações humanas sem nenhuma possibilidade de alteração social, vidas anônimas em corpos nomeados, uma luta de indivíduos com mínimas memórias coletivas, pequenas fímbrias numa genealogia de vazios: um povo que ainda falta ou uma gente que ainda é um povo que falta. O que Raúl Antelo provoca pensar como uma “desregulação regrada” em “nossa” descabida e desigual formação sócio-cultural.

Mas há, como um livro do lado, aquele que vem de uma beira pertinente à sua condição extrema, como uma fome, uma ética, esta “maneira que não nos acontece nem nos funda”, mas nos engendra; e isto se entendemos que estamos o tempo inteiro diante do demônio, esta frágil criatura, afastada de qualquer ideia de deus e que não pode nos fazer nenhum mal, que é também a que mais solicita ajuda e oração; é a possibilidade de não ser que implora por socorro, um “ser que é infinitamente suscetível de ser tentado”. Este livro que vem, como um demônio, tem a ver com a ideia de um “trabalho no subsolo”, como o sugerido por Walter Benjamin, entre o sonho com um terreno deserto, a praça de Weimar, as escavações em curso, o surgimento de um pináculo de igreja e a alegria de um santuário mexicano pré-animista: o Anaquivitzli. E não é nem de longe a ideia fajuta do livro dos livros, nem muito menos a consagração fracassada, menos para o dinheiro, da aparição associada às listas por causa de um desenho narrativo do óbvio, a “agenda da hora”, com mais de 100 ou 200 mil leitores. Não custa lembrar T.S. Eliot quando anotava que “tudo o que a multidão gosta, merece desconfiança”.

Devagar, quando a literatura ainda é algo muito perigoso, uma boca sem dentes, tocando a ideia de Franz Kafka – “Todos os dias tenho que escrever pelo menos uma frase contra mim” –, lendo-se aí que esse contra não é um ataque autodestrutivo, mas um ponto de começo, uma luta: nunca partir de um EU para o mundo, mas partir do mundo para, se possível, numa inversão deliberada e anacrônica, tocar algum EU quando assim se toca também algum OUTRO. O pequeno livro de Camila Prando, Dicionário de palavras subterrâneas (AVÁ Editora) – que pode nos lembrar também W.G. Sebald, em torno da expressiva circunstância de que “estamos na era da destruição natural do mundo” –, é uma imensa construção acósmica de que a vida e sua máquina teológica não podem ser salvas. E nos apresenta, assim, frente a leveza inespecífica da linguagem, a vida na e da terra, ou seja, “simplesmente a vida humana”. Camila, nascida em Telêmaco Borba, no Paraná, mora em Brasília, é professora de Criminologia e Direito penal da UnB, coordena o Centro de Estudos de Desigualdade e Discriminação (CEDD), desenvolve uma pesquisa em torno do desaparecimento forçado nas prisões brasileiras e do quanto isso tem a ver com a construção de um problema social e jurídico sem tamanho.

O que se imaginaria ao abrir o pequeno livro de 65 páginas essenciais, diante de uma fotografia rarefeita de duas crianças brincando na areia frouxa de uma beira de praia ou quintal e, na página ao lado, a epígrafe de Cesare Pavese – “a morte virá e terá teus olhos” –, é que há uma proposição imediata, risco e fúria, como um puzzle indômito, entre a imagem e a frase. A primeira mínima narrativa tem cinco linhas, Urubu: “Ela voava como um urubu. Um voo alto, nublado e oblíquo. Os olhos atentos à caça, em corpo leve e alado, suspenso no ar. A menina farejava o cheiro da morte se preparando para devorar sua carne”. Ao lado da narrativa uma notícia retirada de jornal, com data de 25 de março de 2013: “A jovem foi encontrada por um morador que percebeu o mau cheiro e a presença de urubus no terreno. Após procurar por algum animal morto no local, o homem avistou a vítima seminua em uma vala e acionou a polícia”. Não se sabe de qual jornal, nem de quem se trata de fato a notícia: oscilações humanas entre o desamparo de corpos nomeados e quase nenhuma memória coletiva, porque há uma banalização naturalizada da destruição do mundo, da vida. Tanto que há uma dimensão ordinária que se contempla e se contenta com a ideia de que há vidas, há mundos, assim, no plural, apenas para sobejar e deliciar os fetiches capitalistas de que nada se faça, nada se altere, que toda a catástrofe seja mantida, no único mundo que criamos.

O livro de Camila, num susto, parte de uma invenção narrativa para o encontro com as circunstâncias da notícia, talvez retomando o gesto de Margo Glantz, uma escritora mexicana fabulosa que inicia o livro E por olhar tudo, nada via, com uma pergunta: “Ao ler as notícias, como decidir o que é mais importante?”. Camila inverte o sentido da notícia, e aí não mais ao modo de Margo, mas numa operação tangente, quando primeiro vem uma ficção-crítica de toda origem para depois, numa busca incessante, encontrar notícias que tratem de algo que possa, de alguma maneira, encontrar-se com aquilo que imagina, inventa, narra e inscreve. E tudo paira num gesto entre estúpido, que é próprio do estudo, da fadiga alegre de estudar, até uma generosidade de partilha que não pede nada em troca, sequer quaisquer leitores ou leitoras. Sabe-se, como um sabor, a quem, num esforço de busca, ou seja, também de estudo, não se contenta com o agotamiento imparável de uma literatura que beira “soluções” e “investidas” de ponta de estoque: comércio de black friday.

O livro de Camila se recarrega na sintomatologia do naufrágio absoluto, é um subterrâneo que roça a superfície daquilo que somos, algozes e vítimas sem inocência alguma. As personagens são meninas e mulheres largadas que tentam, minimamente, segurar-se à borda da vida com toda a força e construção de sentidos que ainda lhes pode ser impossível. Fácil reparar numa composição que advém da imagem de O esmagamento das gotas, de Julio Cortázar, em Histórias de Cronópios e de Famas: a gota que se segura na esquadria da janela “[…] com todas as unhas, não quer cair e se vê que ela se agarra com os dentes enquanto lhe cresce a barriga, já é uma gotona que pende majestosa e de repente zup, lá vai ela, plaf, desmanchada, nada, uma viscosidade no mármore. Mas há as que se suicidam e logo se entregam, brotam na esquadria e de lá mesmo se jogam, parece-me ver a vibração do salto, suas perninhas desprendendo-se e o grito que as embriaga nesse nada do cair e aniquilar-se. […]”. Em Ritmo, ela escreve: “Quando criança, a mãe lhe comprava livros. Os dedos se cortavam na navalha fina do papel. – Esta menina é tão desajeitada. Levavam ao médico para ver se ela pegava ritmo. As folhas do livro tinham marcas de sangue e chocolate. Era uma escrita sutil. Uma tentativa íntima da menina sentir”. E, ao lado, a notícia, jornal, 14 de maio de 2018: “Pacientes com coração batendo fora de ritmo nunca podem parar o tratamento”.

E assim, removendo lentamente este rocio – notícias ordinárias e imaginação fabulosa, fotografias e epígrafes com as pequenas narrativas –, Camila Prando sugere uma reconfiguração, também advinda de Kafka, a de que a “incongruência do mundo é de índole quantitava” ou de que “no mundo há muita esperança, mas não para nós”, e isto porque não conseguimos saltar a história nem provocar uma saliência na história, remexendo mais fundo as mãos na lama, na merda, no abominável estado das coisas todas ao nosso redor. Algumas das narrativas encantadas desse Dicionário de palavras subterrâneas, em palavras que nunca emergem, como BicicletaQuintalVoo ou Milagre, por exemplo, sugerem não um quanto, mas um como, um quando, um por quê?, dessas vidas de subsolo, o lado mais baixo da história, desses encontros de mundo do qual pouco se sabe ou que poucos conhecem. Uma literatura com força, sem negócio, sem concessão, com muito do que propõe também Giorgio Agamben ao indicar que “no momento em que te apercebes do caráter irreparável do mundo, nesse momento ele é transcendente. Como o mundo é – isso é exterior ao mundo”.

 

Manoel Ricardo de Lima é professor de literatura, UNIRIO. Publicou O método da exaustão (Garupa, 2020), Avião de alumínio (Quelônio, 2018, com Júlia Studart e Mayra Redin), Falas Inacabadas (Tomo, 2000, com Elida Tessler), entre outros. Organizou recentemente Uma pausa na luta (Mórula, 2020) com a participação de 70 pessoas e juventude, alegria (Mórula, 2021, com Davi Pessoa).

 


por Redação

Reunião de dois contos que se centram nas desventuras dos personagens Fettes e Keawe: “O ladrão de corpos” e “O diabrete da garrafa”. O primeiro, originalmente publicado em 1884, baseia-se na vida do cirurgião Robert Knox, que comprava corpos de uma dupla de assassinos para usar em suas aulas de anatomia, na Escócia do século 19. Já o segundo conto, de 1891, aborda o clássico mito do gênio na garrafa, com suas realizações do impossível que, no mais das vezes, convertem-se em desgraças e infelicidade para seus proprietários. A edição é impressa em risografia e serigrafia, com encadernação manual, e conta com algumas opções tradutórias inéditas, como o “diabrete” em vez do mais usual “O diabo na garrafa”.

Em uma noite lisboeta de 1938, em pleno regime ditatorial salazarista, um português chamado Pereira aborda o escritor italiano Antonio Tabucchi e solicita-lhe que seja personagem de um livro seu. Esse é o pano de fundo do romance-depoimento de Tabucchi, que também é tradutor da poesia de Fernando Pessoa para o italiano. Pacato e melancólico viúvo de meia idade, Pereira é diretor da seção cultural de um pequeno jornal lisboeta, para o qual traduz contos franceses do século 19. No início definido como apolítico, o crescente clima de tensão da época, com o franquismo, a guerra civil espanhola e a ascensão do nazismo, faz com que Pereira gradualmente descubra em si atos de rebeldia e autoconsciência, impulsionando-lhe para longe da zona de conforto que ocupava.

Definida no subtítulo como uma “biomitografia”, a obra traz recordações, misturadas à ficção, dos primeiros 23 anos de vida de Audre Lorde, poeta, ensaísta e ativista negra e lésbica norte-americana. Ao longo dessa trajetória, ressalta-se o papel fundamental que as mulheres exerceram em sua vida, constituindo parte de sua própria identidade. Da infância, marcada pela personalidade grandiosa de sua mãe, à juventude, quando descobre o amor homossexual, figuras de mulheres misturam-se à sua própria constituição subjetiva. “Zami, pensei, ao chegar ao fim de suas páginas já com saudades, é um dos galhos daquelas árvores que a pássara sem pés tanto procurou, pois aqui, no abrigo de suas folhagens, pousamos em segurança como no colo de nossas mães, todas elas”, escreve Cecília Floresta no prefácio à edição brasileira.

Um casal chega junto a um restaurante. A mulher, esquecendo-se da companhia do marido, pede uma mesa apenas para uma pessoa. Ao sentir a mão do homem em seu ombro, recorda-se de sua presença e emenda o erro. Assim começa o primeiro romance de Natália Zuccala, que se assemelha a um bordado intermitente, que se desfaz no próprio ato de coser, na opinião da escritora Carola Saavedra. “Por trás da desmemória, há algo que precisa não ser dito, algo do âmbito do horror. E de repente, percebemos que Amanda é Amanda [a protagonista], mas também é todas as mulheres, e também somos nós. Não há saída além de acompanhar a personagem nesse mergulho, mesmo que intuamos que, do lado de lá, talvez não haja nada, só o horizonte infinito do silêncio”, escreve Saavedra.

(Publicado originalmente no site da revista Cult)

 

Editorial: A investida de Moro sobre as bases do bolsonarismo


Embora lidere todas as pesquisas de intenção de voto até aqui realizadas - em alguns casos com folga - o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP), outro dia, manifestou uma preocupação com o eleitor evangélico, sobretudo neste momento político que o país atravessa, onde, claramente, alguns setores das igrejas neopentecostais declaram abertamente o seu apoio ao presidente Jair Bolsonaro(PL-DF), constituindo-se numa espécie de núcleo duro de suporte ao seu projeto de reeleição. Sem trocadilhos, grupos de igrejas neopentecostais continuam sendo um eleitorado fiel ao bolsonarismo. 

Houve um tempo - bem distante - onde as preocupações de Lula eram bem outras, ou seja, naqueles tempos os evangélicos não suportavam um candidato com o seu perfil, possivelmente ateu, metido a comunista e coisas e tais. Não seria um candidato ideal para um "crente' votar nele. Com o tempo,  essas concepções foram dissipadas e eles acabaram se entendendo. Havia até núcleos do PT encarregados de fazer essas interlocuções e desfazer os mal-entendidos. Aqui em Pernambuco, por exemplo, o pastor anglicano e professor da UFPE, Robinson Cavalcanti, já falecido, cumpriu muito bem este papel. 

Como consequência do abandono de um trabalho de base - o partido passou a ter uma preocupação maior com as disputas eleitorais - o PT perdeu bastante capilaridade junto a esses setores, como reconhece o próprio candidato. É uma das coisas que ele não entende, mas é simples, o partido perdeu contato com a base, em virtude de um processo de oligarquização e a priorização da luta pelo voto. Há quem afirme que o presidente Jair Bolsonaro(PL-DF) poderia estar cometendo o mesmo equívoco, esquecendo de afagar o rebanho. Talvez haja aqui um exagero, pois ele sabe que essas bases neopentecostais constitui-se num dos seus grupos de apoio mais consistente. Nas mobilizações de 07 de setembro ele contou com o apoio decisivo desses grupos, inclusive com a presença do pastor Silas Malafaia, fiel escudeiro do bolsonarismo. 

Possivelmente bastante reticente ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP), ninguém tem dúvidas de que tal eleitorado seria susceptível ao candidato do Podemos, Sérgio Moro, uma vez que ele é do mesmo berço bolsonarista. É dentro desta perspectiva que já se observa uma movimentação deste candidato junto às lideranças evangélicas, o que se constitui numa evidente investida sobre bases do bolsonarismo. Segundo dizem, a estratégia estaria sendo pensada por seu núcleo estratégico de campanha, que também pretende entrar no pasto, ou seja, no agronegócio, outro grupo onde o presidente Jair Bolsonaro conta com um forte apoio. 

sábado, 11 de dezembro de 2021

Charge! Jean Galvão via Folha de São Paulo

 


Editorial: Se estivesse entre nós, Anísio Teixeira morreria de desgosto.


Com raríssimas exceções, o educador baiano Anísio Teixeira é muito pouco estudado na academia brasileira. É, igualmente, um dos poucos casos onde há um reconhecimento explícito - a partir dos trabalhos da Comissão da Verdade - de que ele foi assassinado durante a ditadura militar instaurada no país com o golpe civil-militar de 1964. Quando ouviu alguém comentar sobre o assunto, este editor ficou curioso em saber se foram novos laudos periciais ou houve alguma declaração de algum agente do regime militar acerca deste assunto. Na realidade, tanto em relação a Anísio Teixeira, assim como em relação a João Goulart e Juscelino Kubitschek há indícios de que foram eliminados no bojo das ações da chamada Operação Condor. 

A famigerada Operação Condor, que integrava as ações das ditaduras do Cone Sul, com o propósito de eliminar seus desafetos. Posso até estar equivocado, mas uma das possibilidades da resistência a Anísio Teixeira na academia brasileira pode estar relacionada à sua formação teórica, muito influenciada por pensadores americanos, a exemplo do filósofo John Dewey. Curioso que ambos, ao seu tempo e ao seu modo, foram acusados de comunistas. 

Os ditos centros de estudos educacionais mais progressistas do país já declararam abertamente sua preferência pelo pernambucano Paulo Freire, que concentrou boa parte de suas atenções para a educação de adultos,enquanto Anísio Teixeira manifestava uma preocupação com uma educação pública universal e de qualidade para todos, inclusive para aqueles do pelourinho profundo produzido pelo país, ou seja, as crianças oriundas dos estratos sociais mais fragilizados. Quando tal objetivo fosse alcançado, estávamos construindo os alicerces da democracia entre nós. De fato, sem oportunidades educacionais não se consolida uma democracia, daí se entender um dos motivos pelos quais estamos sempre neste exercício precário, neste hiato entre democracia política e democracia substantiva. 

Nunca vi uma imagem tão feliz para definir o Brasil, quanto esta empregada por Anísio - do pelourinho profundo - para caracterizar o Brasil da imensas desigualdades sociais e econômicas. Essa afirmação, segundo um palestratante, veio no bojo de um contraponto a um dos grandes intérpretes do Brasil, o seu amigo Darcy Ribeiro, que dizia que o Brasil era um bloco de granito monolítico, difícil de penetrar. Seria preciso um esforço descomunal para promover qualquer que fosse a mudança. 

Essa introdução vem a propósito de alguns fatos que estão ocorrendo aqui no Estado de Pernambuco. Fatos que nos envergonham e nos entristecem. Operação da Polícia Federal, da Controladoria Geral da União e do Ministério Público, denominada de Literatus, estão colocando sob inúmeras suspeitas contratos celebrados entre entes públicos e privados, envolvendo inúmeros itens de material escolar destinados à escola pública. Asssuta as irregularidades que estão sendo apontadas, com suspeita de desvios de somas fabulosas para outros interesses de natureza nada reublicanos, com um possível prejuízo gigantesco para os cofres públicos. 

Mas, não é só isso, como afirmamos num dos nossos tijolinhos, Pernambuco, nos últimos dias, especializou-se em produzir notícias ruins. O quantitativo de 150 mil ovos, destinados à merenda escolar dos alunos da rede pública do município de Salgueiro, Sertão do Pajeú, estão sendo descartados, depois que a vigilância sanitária constatou a sua perda de validade. Se ainda estivesse entre nós, o baiano Anísio Teixeira morreria de desgosto, de causas naturais.  

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Tijolinho: Pernambuco virou caso de polícia. Sem inspiração para os tijolinhos.


É bastante preocupante o que se passa no cenário político pernambucano. Os nossos leitores mais atentos devem ter notado a ralativa ausência dos "Tijolinhos", uma referência que fazemos por aqui para as postagens relacionadas ao cenário político aqui da província. Chegamos a ter tanta prática com o tema, que as postagens fluíam naturalmente, compondo três parágrafos, cada qual com, no máximo, dez linhas. Um modelo que se tornaria referência do blog, sem falsa modéstia, assim como a ilustração dos editoriais com charges, hoje copiado por diversos blogs. Sem o reconhecimento dos créditos, claro.  

Nos últimos dias, não nos sentimos nada estimulados a produzi-los, em razão dos assuntos que vissejam aqui na província, todos desalentadores. Ora é a luta fratricida entre  deputados para preservarem suas bases partidárias, cada qual acusando o outro de golpes baixos e coisas do tipo. Ora são as notíciais sobre um ex-secretário de Estado, acusado de ter cometido violência física e emocional contra a sua ex-esposa, provocando um grande alvoroço no nosso mundo político, mobilizando entidades da sociedade civil e outros órgãos em torno do assunto. 

Curioso é que até parlamentares que estavam "sumidos' ou "ausentes' aproveitaram a oportunidade para tripudiarem em torno do assunto e, naturalmente, reaparecerem na mídia, cobrando providências duras contra o ex-secretário. Mas, como se ainda não fosse o suficiente, Pernambuco amanheceu hoje com mais uma mega operação da Polícia Federal, desta vez para averiguar possíveis irregularidades, envolvendo agentes públicos e privados, na aquisição, pasmém, de material escolar. Pelo andar da carruagem política, milhões em dinheiro público já poderiam ter sido desviados de suas reais finalidades. Como diria o Josley Cardinot, durma com uma bronca dessas. É realmente crônica policial e não política.  

Charge! Duke via O Tempo

 


Editorial: O apoio precário do MDB à candidatura de Simone Tebet



Mesmo que em estágio permanente de "exercício precário" - como se referio à nossa democracia um palestrante em live recente - esta nossa experiência democrática deve muito ao MDB. Naturalmente que a nossa referência é àquele MDB de outrora, que tinha nomes da estirpe de timoneiros como Ulisses Guimarães, Fernando Lyra, Fernando Coelho, Paulo Brossard, Pedro Simon, Franco Montoro, Mário Covas, Marcos Freire, entre outros tantos nomes que emprestaram honradez àquela legenda, na luta pela redemocratização do país. Embora esse lastro ético tenha ficado num passado remoto, o partido mantém uma grande capilaridade política, o que o torna uma noiva cobiçada quando se estar em jogo ocupar a cadeira do Palácio do Planalto, embora o partido nunca tenha "vingado' um nome, como se diz por aqui, quando estamos querendo se referir a algo que deu certo. Infelizmente, pelo andar da carruagem política, também pode não ser desta vez. 

Com um feeling apurado sobre a política nacional - ou especificamente sobre o MDB - quando postamos por aqui algumas matérias relativas a uma eventual candidatura da senadora Simone Tebet(MDB-MS)à Presidência da República , um internauta, através de uma de nossas contas nas redes sociais, fez um comentário lúcido sobre as dificuldades que ela encontraria dentro daquela agremiação. Íntegra, republicana e muito bem intencionada, em certa medida, a senadora é uma espécie de estranha naquele ninho de velhas raposas da política nacional. 

A ausência dessas proeminentes figuras carimbadas da nossa seara política durante a cerimônia de lançamento de sua candidatura já dá os sinais das encrencas que ela encontrará pela frente. Segundo prognóstico certeiro da jornalista Dora Kramer, em sua coluna da revista Veja desta semana,  ela corre um sério risco de já nascer cristianizada. Os grandes chefes das  oligarquias familiares estaduais da legenda não estiveram presentes porque, segundo observou a colunista, há negociações em aberto com a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP), no Nordeste, e com Jair Bolsonaro(PL-DF) no Sul-Sudeste. É como se eles passassem o recibo de que a Simone Tebet(MDB-MS) não os representa.

Pelo seu perfil, ela está no partido errado. Se cair nas graças do eleitorado brasileiro, será por méritos próprios e não em razão do apoio daquela agremiação. E méritos próprios, como se sabe, ela tem bastante. Sua excepcional atuação durante os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19 a credencia a disputar o cargo que desejar, inclusive o de Presidente da República. É muito bem-vinda a sua candidatura, não apenas por ser mulher, mas por ser uma pessoa íntegra, capaz de construir um projeto de país mais civilizado e humanizado. Oxalá, ela "vingue"! 

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Editorial: No primeiro turno, a disputa será entre Jair Bolsonaro e Sérgio Moro.


Pelo andar da carruagem política - e com o aval dos resultados apresentados até o momento pelos institutos de pesquisas - o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um dos nomes do segundo turno das próximas eleições presidenciais. Resta, então, conhecer quem será o seu concorrente. Jair Bolsonaro(PL-DF) e Sérgio Moro(Podemos), hoje, disputam essa condição, embora os números de Sérgio Moro ainda estejam longe de emparedar os do presidente Jair Bolsonaro, que concorre à reeleição.Com isso talvez possamos entender porque, nos últimos dias, o ex-juiz escolheu seus alvos principais. No momento, é perda de tempo bater em Lula, que já se encontra no Olimpo, aguardando o rumo dos acontecimentos e elaborando suas estratégias políticas consoante o quadro que se apresente. 

Ciro Gomes(PDT-CE) vem derretendo, sem que sua assessoria encontre os motivos e,mais que isso, uma forma de estancar a sangria. Na última pesquisa de intenção de voto, realizada pela Quaest Consultoria, ele crava 7%. Derreter é uma forma de expressão. Talvez o mais correto seja admitir que ele encontra-se estagnado, ou seja, não cresce nas pesquisas. Vamos aos números: Lula 47%, Jair Bolsonaro 24% e Sérgio Moro 11%, com margem de erro de 2%. Ambos, Jair Bolsonaro e Sérgio Moro contam com taxas de rejeição altíssimas. Acima de 60%, o que explica uma eventual vitória do petista, neste momento, nas projeções para um segundo turno. 

Política, no entanto, é como as nuvens, conforme sugeria uma raposa da política mineira. Mudam a todo tempo. Temos um ano até as eleiçõe de 2022 e muita água ainda deve rolar no rio das próximas eleições. Os índices de aprovação do Governo de Jair Bolsonaro,ainda segundo essa pesquisa, deram uma melhorada e há "conselhos' e programas sociais em curso, como o Auxílio Brasil, que já começará a ser pago aos estratos mais castigados da população,o que pode ter seus reflexos na avaliação do governo,principalmente em regiões como o Nordeste, que concentra a maior parte dos beneficiários - que são também eleitores.  

Discordamos de um cientista político aqui da província que afirmou que essas pesquisas não seriam importantes. Sinceramente, não conseguimos entender de onde ele tirou essa conclusão, sobretudo vindo de alguém da área. A frequência com que o candidato Luiz Inácio Lula da Silva lidera todas as sondagens até o momento é que levou os políticos e especialistas concluírem que a cadeira do Palácio do Planalto será disputada entre ele e um outro concorrente. Por outro lado, para fechar a conta, creio que em apenas três pesquisas de intenção de voto é possível concluir que o ex-juiz Sérgio Moro é quem, de fato, tem mais chances de atrair o "exigente" e "reticente" eleitorado da terceira via.   

Editorial: Sérgio Moro no Recife. Mas que Sérgio Moro?



Como temos comentado por aqui, a terceira via,necessariamente, deverá submeter-se a um processo de decantação política, permitindo que este eleitorado - calculado em 30% em seu total - finalmente possa fazer sua opção de forma mais efetiva, já que ele encontra-se, ainda, num estágio de orfandade. A penca de candidatos que se situam neste meio de campo sabem disso e entabulam conversas entre si, procurando construir algum consenso em torno do assunto. Assim que venceu as prévias tucanas, por exemplo, o governador João Dória(PSDB-SP) acenou para o ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro (Podemos), que acenou para o derrotado naquelas prévias, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite(PSDB-RS). 

Como discutimos num editorial anterior, aliás, o ninho tucano tem abrigado muitos bolsonaristas, o que não chega a ser, necessariamente, uma surpresa. Para um analista político, o bolsonarismo engoliu os tucanos desde as últimas eleições presidenciais de 2018. E, por falar no ex-juiz da Lava Jato, ele esteve aqui no Recife, para o lançamento de seu livro no Shopping Rio Mar, e, naturalmente, fazer política. O lançamento do livro, aliás, já integra essa engrenagem. Se havia alguma dúvida sobre a construção de sua narrativa discursiva, elas foram completamente dissipadas, durante o seu discurso, assim como nas entrevistas que concedeu logo depois. 

Ele reforça o trabalho da Operação Lava Jato, enfatizando o seu legado de combate à corrupção no país, e direciona as baterias para as dificuldades encontradas durante o período em que exerceu o cargo de Ministro da Justiça e Segurança Pública, responsabilizando o seu chefe pelas dificuldades de implementação de alguns projetos. A estratégia é evidente. Ele tenta ser mais bolsonarista do que Jair Bolsonaro(PL-DF), atraindo um eleitorado que se situa na mesma bacia semântica. 

Como ele vai se dirigir ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP), nem precisamos informar. Não faz mea-culpa. Era para Lula ter continuado atrás das grades, mesmo que as instâncias superiores do judiciário tenham apontado falhas nos processos que condenaram o petista, anulando todas as condenações até o momento. Mas, dizer que Lula deveria ter continuado preso, soa como música para os seus possíveis eleitores.Para esses eleitores, essas filigranas jurídicas pouco importa. Estão loucos para reproduzirem aquele refrão conhecido, durante as mobilizações de rua.  

Quando ele acenou que seria candidato, os grupos mais ligados ao presidente Jair Bolsonaro(PL) acusaram a pancada. Faz sentido a preocupação, daí se entender que já está em curso uma campanha no sentido de desmenti-lo. Pelo o andar da carruagem política, da próxima vez que ele vier a Pernambuco, não duvidem que ele possa vir a ser tratado como mito, assim como Jair Bolsonaro. Pernambuco é um Estado onde existe uma ativa base de apoio bolsonarista. Agora se entende porque ele escolheu o Estado para iniciar seu périplo pela região Nordeste.  

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Editorial: Um vice dos sonhos ou dos pesadelos.




Não é algo incomum entre os presidentes brasileiros as considerações sobre os seus vices. Há um grande folclore político em torno deste assunto, ora apontando suas melhores qualidades, ora denunciando seus piores defeitos. Afinal, qual o perfil de vice ideal? Em tempos de calmaria, como diria os experientes pescadores, basta a este vice ser discreto, ajudar o governo - cumprindo alguma função, além da decorativa - e, naturalmente, ser confiável ao chefe. Em épocas de turbulências, mares agitados e revoltos, outros requisitos podem ser exigidos, como a capacidade de levar o barco "devagar".  

Nos últimos anos, na história repulicana brasileira recente, certamente, quem cumpriu muito bem esse papel foi o pernambucano Marco Maciel, falecido recentemente. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, certamente, não nos desmentiria. O elogiava frequentemente. Essa introdução vem a propósito das recentes notícias em torno da escolha do vice que deverá concorrer às próximas eleições presidenciais, compondo a chapa com o presidente Jair Bolsonaro(PL-DF). Como se sabe, depois de um determinado período, passou a haver um estranhamento na relação entre o presidente e seu vice, o general Mourão. Eles hoje mantém um padrão de relação estritamente institucional, protocolar. 

Há muito se sabia que ele não concorreria, nas mesmas condições, nas eleições de 2022, juntamente com Jair Bolsonaro. Como, até recentemente, o presidente celebrou algumas alianças políticas com o pessoal do Centrão, a espectativa é que surgisse dessas hostes um nome para compor a chapa. Uma raposa política, um morubixaba. Mas, segundo comenta-se nas coxias da capital federal, o presidente teria preferência pelo nome do general Braga Netto, um fiel escudeiro. Segundo ainda essas fontes, seria uma maneira de criar uma espécie de escudo anti-impeachment, já que os custos de afastar um general seriam maiores. 

Faz algum tempo que a temperatura está alta, o céu não é de brigadeiro e o mar está revolto na capital federal. Em tais circunstâncias, ensina o cancioneiro popular, leva-se o barco devagar. Há uma crise institucional em voga, que pode agravra-se diante de outras condições,como a crise econômica, que costuma fermentar ambientes políticos nevrálgicos. De fato, é preciso ter um co-piloto de confiança.   

Charge! Duke via O Tempo

 


Editorial: A volta da UDN?

 



Nos tempos idos - e muito bem vividos da infância - costumamos, sem saber, exercitar uma máxima atribuída a uma grande raposa da política mineira, Magalhães Pinto. É comum olharmos o céu para observarmos os formatos das nuvens, procurando identificar com o que elas se parecem. Num primeiro momento, podemos concluir que elas se parecem com um cachorro, mas, logo em seguida, elas já se assemelham a um elefante. Ou, sabe-se lá ao quê. Assim é a política, de acordo com aquela raposa mineira. O governador de São Paulo, João Dória(PSDB-SP)entabula alguns conversas com o ex-ministro da Lava Jato, Sérgio Moro(Podemos), que já se encontra em plena pré-campanha presidencial. 

Dória prestigiou a sua filiação ao Podemos e, logo que venceu as prévias tucanas, voltou a manter contato com o ex-ministro. Especulou-se que haveria uma possibilidade de Joaõ Dória o convidar para ser vice na sua chapa. Nada de muito concreto sobre este assunto, ao contrário, hoje especula-se que seria o inverso, ou seja, João Dória(PSDB-SP) é quem poderia vir a ser vice de Sérgio Moro(Podemos). E, pior, o céu político apresenta-se nublado, sendo difícil identificar a formação de algumas pistas dessas articulações políticas através do que as nuvens possam indicar. 

Mas, não sem algum esforço, é possível vislumbrar, no horizonte político, algumas sinalizações. Para o bem ou para o mal, Sérgio Moro, pelo seu passado bolsonarista aliado à repercussão ainda positiva - para alguns eleitores - de sua passagem pela Lava Jato, reúne, hoje, as melhores possibilidade de constituir-se como o candidato da terceira via. Estes eleitores, que somam 30% do eleitorado brasileiro, ainda não foi devidamente dissecado, o que sugere as devidas cautelas. Não sei se ele estaria disposto a apostar suas fichas num candidato tão identificado com o bolsonarismo, embora haja, neste contingente, um possível número de bolsonaristas insatisfeitos. 

Talvez não haja, neste campo, um indicador mais efetivo do prestígio ou não de um político do que a presença dos seus pares nos eventos por ele programados. A presença de Jarbas Vasconcelos(MDB-PE) num churrasco realizado na Fazenda de Mendonção, em Belo Jardim, por exemplo, celebrou uma grande aliança de um político tradicionalmente de esquerda com redutos políticos conservadores do Estado, selando a União por Pernambuco, que o conduziu ao Governo do Estado. Mendonça Filho (União Brasil-PE), filho de Mendonção - já felecido - esteve no Shopping Rio Mar, prestigiando o lançamento do livro do ex-juiz Sérgio Moro, de onde já se torna possível juntar algumas peças, como uma possível articulação entre o Podemos, o PSDB, o União Brasil e Cidadania, numa eventual aliança, que já vem sendo apelidada de Nova UDN, que lembra os tempos de Carlos Lacerda e Getúlio Vargas. Esperamos que sem o atentado da Rua Tonelero, que precipitou o suicídio de Gegê.

domingo, 5 de dezembro de 2021

Tijolaço: Os americanos leem o blog contexto político. Qual a motivação?

 

Estados Unidos
9,73 mil
Canadá
693
Alemanha
587
Brasil
178
Irã
75
Austrália
41
França
34
Rússia
18

Reino Unido
17



Já que o Lula, num Podcast recente, falou de tesão, acho que também podemos falar por aqui. Este blog é uma dessas nossas tesões na vida. À medida em que o tempo passa, as contingências acabam filtrando algumas dessas tesões, mas a do blog esta permanece, mesmo infringindo a este blogueiro muitas incompreensões. Dá algumas dores de cabeça, sobretudo num Estado como o nosso, onde as oligarquias familiares ainda exercem o poder econômico e político, desde tempos remotos, e desejam que os seus súditos continuem num pelourinho profundo, como observava o educador Anísio Teixeira, ao se referir às profundas desigualdades sociais, políticas e econômicas do país. 

Somente mais recentemente tomamos conhecimento de que Anísio Teixeira mantinha uma boa interlocução com grandes intérpretes do Brasil, a exemplo de Gilberto Freyre, Darci Ribeiro e Sérgio Buarque de Holanda. Com Gilberto era mais plausível, em razão de alguns projetos de educação desenvolvidos por ambos, inclusive qui no Estado. Já sobre Sérgio Buarque, desconhecíamos completamente, mas suponho que tal diálogo girava em torno do patrimonialismo das instituições "públicas" brasileiras, onde tornara-se tão difícil, se não impossível, estabelecer as fronteiras entre a res pública e privada. O Estado é o quintal do homem cordial. 

Está tudo dentro da "normalidade", desde que seus interesses não sejam atingidos. Quando esses interesses são atingidos ou questionados, prepare o lombo para as chibatadas. De quebra, ainda temos o banho de sal grosso, para curar as feridas ou consolidar as cicatrizes. Tudo como naqueles tempos, embora com expedientes  sutis,mas igualmente danosos.  Não é uma tarefa das mais simples, manter-se neste equilíbrio instável, fazendo nossas ponderações comedidas, para não suscitar a sanha dessas oligarquias políticas ou de grupelhos de orientação fascista. O blog é simples, gratuito, não conta com nenhuma espécie de financiamento, mas mantém uma audiência relativamente expressiva para o seu perfil, o que significa dizer que algumas pessoas gostam do que escrevemos por aqui, mesmo que tenhamos trilhado o caminho da ponderação nos últimos anos, evitando as radicalizações. Já fomos bem mais ousados no passado e conhecemos os custos dessa ousadia.

Os compatriotas brasileiros e brasileiras são, ainda, quem mais prestigiam o blog, em levantamentos mais consistentes. Temos uma frustração pela pouca receptividade junto aos internautas de língua espanhola. Curioso que países árabes acessem mais o blog do que alguns países da América Latina ou Central, por exemplo. Europeus, russos e americanos, por sua vez, também nos prestigiam bastante, embora ainda sejam raras as matérias publicadas em língua inglesa. Escrevemos bastante sobre a democracia americana por aqui, sobretudo nos períodos das eleições. Há, igualmente, muitas referências de pensadores americanos em nossos editoriais - como Martin Lipset, Edward Banfield - o que talvez motive tanto interesse na terra do Tio Sam. Em apenas um dia, de 02\12 a 03|12, tivemos quase 10 mil acessos dos Estados Unidos. 


Editorial: Bolsonaristas em ninho tucano



Quando das últimas prévias realizadas pelos tucanos, havia uma torcida - até mesmo fora das hostes tucanas - que o governador do Estado do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite(PSDB-RS), vencesse a disputa interna. Era um nome, digamos assim, mais arejado do que o do governador paulista, João Dória(PSDB-SP), que venceu a disputa interna e já se encontra em plena articulação política, de olho nas eleições presidenciais de 2022. Não vamos aqui entrar nos detalhes, mas Dória tem um senso de oportunismo político que preocupa. Com isso, vai deixando alguns ex-aliados pelo caminho, numa atitude bastante criticada. 

Dória foi eleito governador em São Paulo com o apoio decisivo do bolsonarismo. Hoje, faz uma campanha à Presidência da República em contraposição ao bolsonarismo. Uma prova de que a sua afinidade com o bolsonarismo ainda existe é a de que, logo após vencer as prévias tucanas, acenou em retomar o diálogo com o ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro(Podemos), que,de uma certa forma, é cria do bolsonarismo, inclusive bebe na mesma fonte, pois um percentual expressivo dos seus apoiaores é de bolsonaristas insatisfeitos. Se vocês observarem, ele, Sérgio Moro, já anda construíndo uma narrativa discursiva de que é mais bolsonarista do que o próprio Jair Bolsonaro(PL-DF), ao afirmar que deixou de fazer algumas coisas por impedimento deste. 

Como a terceira via deverá passar por um processo de decantação política, chegou-se a especular que João Dória poderia convidar o ex-juiz para compor sua chapa na condição de vice.O passado também condena o ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite(PSDB-RS), que, nas eleições de 2018 também emprestou seu apoio político ao bolsonarismo. Isso talvez explique, por exemplo, uma conversa que está sendo agendada entre o ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, e Eduardo Leite. A rigor, bolsonaristas estão sendo muito bem acomodados no ninho tucano. Aqui na província, por exemplo, o prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira, que é do PL, continua firme nas andanças pelo interior do Estado, ao lado da prefeita de Caruaru, Raquel Lyra, que é do PSDB e candidata às eleições estaduais do próximo ano. 

Resta saber quem assumirá o papel de cuco neste ninho, pois os rumores de Brasília vão numa direção de informar que os diretórios estaduais da legenda liberal deverão apoiar o projeto de reeleição do presidente Jair Bolsonaro(PL-DF). O dilema está posto para Anderson e Raquel Lyra, que, no plano local, já haviam consturado um projeto em comum, de olho no Campo das Princesas.       

Charge! Jean Galvão via Folha de São Paulo

 


sábado, 4 de dezembro de 2021

No princípio era o amor

 

Matheus Ichimaru

No princípio era o amor?
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Busto do filósofo francês Augusto Comte, na França (Foto: Maria Spector)

 

Recentemente reacendeu-se a discussão (já levantada em outros momentos) a respeito da inclusão da palavra “amor” na bandeira nacional. Um artigo publicado na Folha de S.Paulo, no dia 18 de novembro, tratou de apresentar ao grande público o movimento “Amor na bandeira”, uma iniciativa suprapartidária que defende – a partir de “argumentos teóricos, históricos, culturais e espirituais” – que se corrija “este erro histórico que foi deixar o Amor de fora do nosso lema”. Em linhas gerais, o argumento dos idealizadores do movimento (já repetido em outras ocasiões) consiste em afirmar que a divisa “ordem e progresso”, estampada na bandeira brasileira, seria na verdade uma versão incompleta do lema “o amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim”, formulado em meados do século 19 pelo filósofo francês Augusto Comte, fundador do positivismo.

A afirmação, no entanto, é controversa. Do ponto de vista histórico, não há razão para acreditar que a divisa “ordem e progresso” seja uma versão mutilada do lema que contém o “amor”. Como se alguém tivesse, aliás, sob golpe de espada, cortado o amor da nossa bandeira – como ocorre na célebre encenação do Teatro Oficina de Os sertões, de Euclides da Cunha. Do ponto de vista da cronologia dos eventos, a divisa é anterior ao lema, e mesmo quando o lema é cunhado (algo que se dá por volta de 1851) a antiga divisa não deixa de ser utilizada, nem é rebaixada de status no interior da doutrina.

Ainda em março de 1848, quando Augusto Comte funda a Sociedade Positivista em Paris, o dístico que aparece em seus textos e documentos oficiais, acompanhado da inscrição “República Ocidental”, consiste apenas em “Ordem e Progresso”, sem o “amor” – como, aliás, já ocorrera no âmbito da Associação para Instrução Positiva do Povo, uma espécie de embrião da Sociedade criado por Comte apenas um mês antes. É somente em julho de 1848 que a frase “o amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim” aparecerá pela primeira vez no texto do filósofo, mais precisamente na “conclusão geral” do seu Discurso sobre o conjunto do positivismo. De todo modo, ela não possui ainda o estatuto de lema e ao longo de todo o discurso se pode também encontrar passagens em que a “Ordem e Progresso” é reafirmada como “divisa fundamental” do positivismo.

A frase contendo o amor só será convertida em lema – ou “fórmula sagrada dos positivistas”, como dirá Comte daí em diante – em 1851, momento em que o próprio positivismo adentra sua fase religiosa. O lema aparecerá inscrito, por exemplo, na página de rosto do Sistema de política positiva (ou Tratado de sociologia instituindo a religião da Humanidade). Acima dele, no entanto, figuram ainda as antigas divisas da Sociedade Positivista, “República Ocidental” e “Ordem e Progresso”, acrescidas agora da expressão “Viver para outrem”, que pretende simbolizar, no positivismo religioso, o predomínio do “altruísmo” (neologismo inventado por Comte) sobre o egoísmo. Se a Sociedade Positivista se inspirara abertamente na Sociedade dos Jacobinos, a religião da Humanidade se inspirará, a ponto de mimetizá-lo, no catolicismo.

O positivismo religioso, no entanto, nunca chegou a ter relevância na cena política e cultural francesa da segunda metade do século 19. Restrita a uma pequena seita obscura, a religião da Humanidade – sobretudo por conta da morte prematura de seu “sumo pontífice” (Comte morre em 1857) – não chega a se institucionalizar plenamente em solo francês – diferentemente do que viria a ocorrer no Brasil, sobretudo no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Fortemente impregnado de significado religioso, o “amor” acaba não penetrando os círculos republicanos (essencialmente anticlericais) do Segundo Império, nos quais uma certa versão (científica) do positivismo vem finalmente a se estabelecer e prosperar.

A “ordem” e o “progresso”, por outro lado, amalgamados aos ideais de 1789, constituíram o solo filosófico e intelectual no qual se erigiu o pensamento político dos chefes republicanos que fundaram, nas décadas de 1870-80, a Terceira República francesa. Ainda em 1898, por exemplo, se pode encontrar a divisa estampando a capa de um periódico dreyfusard como o Les droits de l’homme – a divisa completa, bastante sugestiva, é “Ordem e progresso pela Revolução Francesa”. Na França, portanto, se pode afirmar que a recusa do “amor” esteve intimamente associada à recusa da religião da Humanidade e à sua correspondente afirmação da laicidade republicana – mas não apenas.

Quando, em 1852, Émile Littré – o grande vulgarizador do positivismo na França, eleito senador inamovível em 1875 – rompe com Augusto Comte, o que está em causa é não apenas seu crescente incômodo com a deriva religiosa (e sobretudo ecumênica) do positivismo, mas principalmente o apoio de Comte ao golpe de Napoleão sobrinho, que põe fim à Segunda República e inaugura o Segundo Império. Se em 1848 Comte defendera a implantação de uma ditadura do proletariado – o que não deixa de surpreender –, em 1852 ele defenderá igualmente uma ditadura imperial, evidenciando, portanto, sua inclinação ao autoritarismo, mas também a imensa dificuldade de classificação de seu pensamento no espectro político tradicional.

A falta que brasileiros e brasileiras sentem do “amor” na bandeira – não apenas os idealizadores do referido movimento, mas também Chico Alencar, Eduardo Suplicy, Zé Celso, Jards Macalé, Emicida e tantos outros –, embora, como pretendemos mostrar, dificilmente encontre fundamento histórico na doutrina positivista original (o que frequentemente vem a ser irrelevante, do ponto de vista político) é claramente um sintoma da falta de amor na sociedade brasileira. Não um amor religioso, que submete, disciplina e governa. Mas um amor solidário, da comiseração sincera, que tem no ódio – motor da atual política e do atual governo – seu avesso total.

Matheus Ichimaru é doutorando em Ética e Filosofia Política pela Universidade de São Paulo (USP) e pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS) de Paris. Bolsista da Maison Internationale d’Auguste Comte (2017), antiga residência do filósofo, atualmente um importante museu e centro de documentação para os estudos do positivismo.

(Publicado originalmente no site da Revista Cult)

Editorial: O nome de Pacheco volta a ser especulado para vice de Lula.



Nos burburinhos de Brasília, um dos assuntos mais comentados - depois, lógico, da comemoração dos bolsonaristas à indicação do evangélico e jurista André Mendonça para o STF - é uma possível articulação política entre o PT e o PSD, de olho nas eleições presidenciais de 2022. Como se sabe, muitas dessas candidaturas presidenciais que estão aí procurando um lugar ao sol, não passa de balão de ensaio, ou seja, tem o propósito de ganhar musculatura no contexto das negociações de um futuro governo, depois de um processo de  afunilamento natural dos nomes. Como ensina as Sagradas Escrituras, muitos são os chamados, poucos os escolhidos. Até o momento, por exemplo, o reticente eleitorado da terceira via não se inclinou deliberdamente por nenhum dos nomes postos.  

Como temos afirmado por aqui, o meio de campo está bastante congestionado, o que torna-se factível que alguns desses nomes retirem suas candidaturas. Não quero afirmar aqui que seja este o caso, mas há indícios de que o atual presidente do Senado Federal, Rodrigo Pachego(PSD-MG), possa vir a compor a chapa do presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva, na condição de vice. Lula mantém um canal de diálogo com o presidente da legenda, Gilberto Kassab, e já teria agendado uma reunião com Rodrigo Pacheco. É bom, no entanto, ter cautela quanto a este assunto, pois, a cada dia, surge um novo nome cotado para compor a chapa com Lula, na condição de vice.

Num dos nossos últimos editoriais, por exemplo,tratamos do nome do ex-governador Geraldo Alckmin(PSDB), que poderia deixar o ninho tucano e aliar-se com o petista, num arranjo que envolveria uma provável aliança entre PT e PSB. Como temos reiterados por aqui, Rodrigo Pachego reúne grandes qualidades como político e homem público, além de ser mineiro, o que pode agregar bastante ao projeto de Lula voltar a ocupar o Palácio do Planalto. Tanto Gilberto Kassab quanto Pacheco são homens públicos que colocam os projetos acima das ambições pessoais, o que facilitaria enormemente as negociações.

Mas, conforme advertimos, convém manter as devidas cautelas quanto a este assunto. Partidários de Rodrigo Pacheco, por exemplo, se recusam a discutir essa hipótese, afirmando que o seu projeto presidencial é para valer. Sua candidatura está sendo habilmente costurada pelo padrinho político e presidente nacional da legenda, Gilberto Kassab. Vamos aguardar os rumos que a carruagem política tomará daqui para frente. O futuro dura muito tempo, como diria o filósofo francês Louis Althusser.   

Editorial: Depois de 16 anos, o Carlismo pode retormar o poder na Bahia.



Um visitante mais atento percebe,de imediato, o quanto o PT tornou-se uma força política efetiva no Estado da Bahia. Em nossa última visita àquele Estado, essa constatação se deu não apenas em Salvador, mas até mesmo em cidades do interior, como Cachoeira, localizada precisamente na região do Recôncavo Baiano, que precisava conhecer para colher informações e depoimentos para uma   pesquisa sobre educação e relações étnicos raciais. Ainda sinto saudades dos deliciosos sucos de genipapo, tomados na pousada, no café da manhã, acompanhado das delícias da culinária local. Esta fruta ainda é muito abundante naquela região, embora raras em Estados como Pernambuco. 

No táxi que nos levou do Aeroporto Luiz Eduardo Magalhães à Barra, o taxista, foi logo comentando sobre uma possível manobra do patriarca do Carlismo, o ex-governador Antonio Carlos Magalhães, de reestabelecer os limites da cidade de Lauro de Freitas, com o propósito de manter o aeroporto ainda dentro da capital Salvador. Pode ser folclore - ou intriga política, pois não somos nós que estamos afirmando - mas dá a dimensão do imaginário popular sobre o poder da família ACM no Estado. Nas proximidades do bairro da Barra, ele faz questão de mostrar um edifício construído, segundo ele, para abrigar apenas os descendentes do clã. Ah, já ia até esquecendo. O taxista declarou-se um petista. 

Os 16 anos de exercício de poder do PT devem ter contribuído bastante para tornar a Bahia um Estado tão polítizado, cindido entre os que apoiam o partido e os saudosistas do Carlismo. Depois de 16 anos ocupando o poder, com dois mandatos de Jaques wagner e dois de Rui Costa, com erros e acertos - como o destravmento dos metrôs urbanos - o partido parece ter entrado numa espécie de fadiga de material, embora a liderança de Lula nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República, no plano nacional, possa trazer algum alento aos petistas da terra de Dorival Caymmi e Jorge Amado. 

Por enquanto, apenas uma expectativa, uma vez que, pelos últimos levantamentos de intenção de voto no Estado, o neto de Antonio Carlos Magalhães, ACM Neto(União Brasil), herdeiro do espólio político do avô, lidera com folga. A última dessas pesquisas, realizado pelo Instituto Paraná Pesquisas, dá a ele uma folgada liderança, com escores que variam entre 54,8% a 56,2%. Uma vantagem significativa sobre o possível candidato do PT, Jaquess Wagner(PT-BA), que crava 23% das intenções de voto.

Até recentemente, no plano nacional, ACM Neto ficou às turras com o PL, que retirou o apoio da legenda à sua candidatura naquele Estado. Num lance de revide, ele reaproximou-se do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, numa manobra para isolar o projeto de reeleição de Cláudio Castro(PL-RJ), no Rio de Janeiro. Pela manobra, Rodrigo voltaria a filiar-se ao  União Brasil e retomaria o controle sobre o diretório do partido no Estado,  apresentando um nome para disputar o Governo. Luciano Bivar, presidente nacional do União Brasil, sugere que teria dois nomes que estariam sendo sondados como possíveis candidados à Presidência da República, nas eleições de 2022. Nas entrelinhas, ele já deixou escapar o nome de ACM Neto. Com o seu bom desempenho nas pesquisas para retomar o poder no berço do Carlismo, é pouco provável que ele embarque num projeto nacional que fica a cada dia mais congestionado, principalmente ali pelo meio (terceira via)por onde ele poderia entrar.      

Charge! Duke via O Tempo

 


sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Editorial: Carnaval? Só Deus sabe quando.

 


Aos poucos, parece que o bom-senso vai prevalecendo entre os nossos governantes no tocante à manutenção de cuidados preventivos em relação à pandemia do coronavírus, que está longe de chagar a um fim. Algumas festas concorridas de revéillon, como a de Tambaú, em João Pessoa, ou os carnavais do Recife e Salvador estão sendo prudentemente canceladas, numa demonstração de que, finalmente,os cuidados com a saúde são mais importantes do que qualquer festividade. Há uma quarta onda no continente europeu e o surto da variante Ômicron, iniciado na África do Sul, mas que já se espalha por outros países do continente africano. Todo cuidado é pouco quando se trata desta pandemia. O fechamento do tráfego aéreo entre esses países e o Brasil, determinado pela Anvisa, foi uma medida correta, mas é preciso que tal medida venha acompanhada de outras ações preventivas. Tanto isso é verdade que, casos da tal variante já foram registrados no país. 

Salvo melhor juízo, o primeiro caso registrado no Brasil de contágio pelo vírus foi através de uma cidadã, que havia chegado da Itália,que infectou a sua empregada doméstica. Hoje são mais de 615 mil mortos, num quadro de arrefecimento, em virtude dos avanços da vacinação, mas que ainda é muito preocupante. Outro dia, ouvi uma especialista afirmar que estamos bem distante de uma situação ideal. 200, 300 mortos diários, 5 mil, 8 mil contaminados ainda é um número bastante elevado. Segundo a cientista Margareth Dalcomo, da Fiocruz,  precisamos reduzir isso a zero, vacinando 85% da população. Somente assim poderemos festejar uma vitória efetiva contra este mal. Concordamos plenamente com ela. Não é o momento de baixar a guarda. 

Um outro grande problema diz respeito ao carnaval. Há uma pressão fortíssima do mercado e da cadeia da cultura para que a festa seja, de fato, realizada. Mas, se o consenso que esta sendo construído em torno dessas megas festas prevalecer, os governantes irão preferir assumir o custo político do que o sanitário. Nunca esquecendo que o custo sanitário poderá trazer reflexos extremamente ruins nas próximas eleições. Os governadores, prefeitos de capitais que se cuidem. As pesquisas apontam que a forma como os gestores públicos trataram essa questão, nos planos estadual e federal, terá um peso nas urnas nas eleições de 2022. 

Geralmente, nessas eleições, principalmente no plano federal e no que concerne à reeleição de alguns governadores, dois fatores são determinantes: a avaliação do governante e o rumos da economia. Já pensaram sobre os reflexos em abastecer o tanque do carro antes de chegar na zona eleitoral? Avaliação ruim e inflação alta se constituem numa combinação explosiva. Agora, também, o luto da pandemia deverá se refletir nas urnas. Isso não muda nada no caso de Pernambuco, onde o governador Paulo Câmara deverá, por exigência legal, deixar de ocupar sua cadeira no Palácio do Campo das Princesas. Não esqueçamos, porém, que ele não deverá abandonar a sua carreira política e voltar à sua condição de técnico. Uma das possibilidades é que ele concorra ao Senado Federal. Depois, está entre os seus projetos, fazer o sucessor, o que significa dizer que, independentemente de qualquer circunstância, a avaliação da população sobre como ele admisntrou a crise da pandemia irá se refletir nas urnas.    

Tijolinho: A escolha de Anderson Ferreira

 




Muito tem se especulado em torno do destino do prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira(PL), inclusive, admitimos, aqui por este blog. Há motivações para isso, afinal, ele poderia ser o fiel da balança no contexto das articulações das forças de oposição, visando as eleições estaduais de 2022. Um acordo político com este ator interessaria, por exemplo, ao prefeito de Petrolina, Miguel Coelho(DEM) e a prefeita de Caruaru, Raquel Lyra(PSDB-PE), quando se está em jogo, por exemplo, um necessário processo de metropolitanização desses prováveis candidatos, que possuem bases políticas interioranas. 

Alguém poderia argumentar, por outro lado, que, uma vez mantidos seus projetos majoritários, interessaria ao jovem prefeito, penetrar nos redutos interioranos. E é verdade. A rigor, se fosse possível construir um consenso entre esses jovens prefeitos haveria, necessariamente, a contingência de se integrar essas zonas eleitorais do Estado de Pernambuco, numa eventual composição de chapa. Como esse consenso tornou-se cada vez mais difícil, entre eles, quem tinha bases políticas no interior veio para a região metropolitana, assim como quem tinha base política na região metropolitana foi para o interior, como já se observa nas movimentações políticas desses atores políticos, a exemplo do próprio Anderson Ferreira.

Miguel Coelho(União Brasil), prefeito de Petrolina, seguiu em raia própria. Anderson Ferreira(PL), até recentemente, ainda mantinha um acordo político com a prefeita de Caruaru, Raquel Lyra, do PSDB. Para o bem ou para o mal, as movimentações políticas na capital federal produziram efeitos devastadores sobre a quadra política local. Caciques do PL deram carta branca ao prefeito Anderson Ferreira, desde que ele apoie o projeto de reeleição do presidente Jair Bolsonaro no Estado, algo acordado com o presidente da legenda liberal, Valdemar da Costa Neto. 

Os cavalos selados não podem passar batidos, muito menos em política. Deram a Anderson Ferreira o pão e o leite condensado. O comando do partido no Estado, com  a possibilidade de ser ele mesmo candidato ao Governo, aliado a uma base política afinada com o bolsonarismo, ou seja, setores das igrejas neopentecostais, que possuem uma identidade política profunda com a família Ferreira. Em tais circunstâncias, é muito pouco provável que o acordo anterior com a prefeita Raquel Lyra seja mantido. Como ensinava nossos avós, quando um não pode e o outro não quer, as coisas não podem dar certo.