Como temos comentado por aqui, a terceira via,necessariamente, deverá submeter-se a um processo de decantação política, permitindo que este eleitorado - calculado em 30% em seu total - finalmente possa fazer sua opção de forma mais efetiva, já que ele encontra-se, ainda, num estágio de orfandade. A penca de candidatos que se situam neste meio de campo sabem disso e entabulam conversas entre si, procurando construir algum consenso em torno do assunto. Assim que venceu as prévias tucanas, por exemplo, o governador João Dória(PSDB-SP) acenou para o ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro (Podemos), que acenou para o derrotado naquelas prévias, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite(PSDB-RS).
Como discutimos num editorial anterior, aliás, o ninho tucano tem abrigado muitos bolsonaristas, o que não chega a ser, necessariamente, uma surpresa. Para um analista político, o bolsonarismo engoliu os tucanos desde as últimas eleições presidenciais de 2018. E, por falar no ex-juiz da Lava Jato, ele esteve aqui no Recife, para o lançamento de seu livro no Shopping Rio Mar, e, naturalmente, fazer política. O lançamento do livro, aliás, já integra essa engrenagem. Se havia alguma dúvida sobre a construção de sua narrativa discursiva, elas foram completamente dissipadas, durante o seu discurso, assim como nas entrevistas que concedeu logo depois.
Ele reforça o trabalho da Operação Lava Jato, enfatizando o seu legado de combate à corrupção no país, e direciona as baterias para as dificuldades encontradas durante o período em que exerceu o cargo de Ministro da Justiça e Segurança Pública, responsabilizando o seu chefe pelas dificuldades de implementação de alguns projetos. A estratégia é evidente. Ele tenta ser mais bolsonarista do que Jair Bolsonaro(PL-DF), atraindo um eleitorado que se situa na mesma bacia semântica.
Como ele vai se dirigir ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP), nem precisamos informar. Não faz mea-culpa. Era para Lula ter continuado atrás das grades, mesmo que as instâncias superiores do judiciário tenham apontado falhas nos processos que condenaram o petista, anulando todas as condenações até o momento. Mas, dizer que Lula deveria ter continuado preso, soa como música para os seus possíveis eleitores.Para esses eleitores, essas filigranas jurídicas pouco importa. Estão loucos para reproduzirem aquele refrão conhecido, durante as mobilizações de rua.
Quando ele acenou que seria candidato, os grupos mais ligados ao presidente Jair Bolsonaro(PL) acusaram a pancada. Faz sentido a preocupação, daí se entender que já está em curso uma campanha no sentido de desmenti-lo. Pelo o andar da carruagem política, da próxima vez que ele vier a Pernambuco, não duvidem que ele possa vir a ser tratado como mito, assim como Jair Bolsonaro. Pernambuco é um Estado onde existe uma ativa base de apoio bolsonarista. Agora se entende porque ele escolheu o Estado para iniciar seu périplo pela região Nordeste.
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