Com raríssimas exceções, o educador baiano Anísio Teixeira é muito pouco estudado na academia brasileira. É, igualmente, um dos poucos casos onde há um reconhecimento explícito - a partir dos trabalhos da Comissão da Verdade - de que ele foi assassinado durante a ditadura militar instaurada no país com o golpe civil-militar de 1964. Quando ouviu alguém comentar sobre o assunto, este editor ficou curioso em saber se foram novos laudos periciais ou houve alguma declaração de algum agente do regime militar acerca deste assunto. Na realidade, tanto em relação a Anísio Teixeira, assim como em relação a João Goulart e Juscelino Kubitschek há indícios de que foram eliminados no bojo das ações da chamada Operação Condor.
A famigerada Operação Condor, que integrava as ações das ditaduras do Cone Sul, com o propósito de eliminar seus desafetos. Posso até estar equivocado, mas uma das possibilidades da resistência a Anísio Teixeira na academia brasileira pode estar relacionada à sua formação teórica, muito influenciada por pensadores americanos, a exemplo do filósofo John Dewey. Curioso que ambos, ao seu tempo e ao seu modo, foram acusados de comunistas.
Os ditos centros de estudos educacionais mais progressistas do país já declararam abertamente sua preferência pelo pernambucano Paulo Freire, que concentrou boa parte de suas atenções para a educação de adultos,enquanto Anísio Teixeira manifestava uma preocupação com uma educação pública universal e de qualidade para todos, inclusive para aqueles do pelourinho profundo produzido pelo país, ou seja, as crianças oriundas dos estratos sociais mais fragilizados. Quando tal objetivo fosse alcançado, estávamos construindo os alicerces da democracia entre nós. De fato, sem oportunidades educacionais não se consolida uma democracia, daí se entender um dos motivos pelos quais estamos sempre neste exercício precário, neste hiato entre democracia política e democracia substantiva.
Nunca vi uma imagem tão feliz para definir o Brasil, quanto esta empregada por Anísio - do pelourinho profundo - para caracterizar o Brasil da imensas desigualdades sociais e econômicas. Essa afirmação, segundo um palestratante, veio no bojo de um contraponto a um dos grandes intérpretes do Brasil, o seu amigo Darcy Ribeiro, que dizia que o Brasil era um bloco de granito monolítico, difícil de penetrar. Seria preciso um esforço descomunal para promover qualquer que fosse a mudança.
Essa introdução vem a propósito de alguns fatos que estão ocorrendo aqui no Estado de Pernambuco. Fatos que nos envergonham e nos entristecem. Operação da Polícia Federal, da Controladoria Geral da União e do Ministério Público, denominada de Literatus, estão colocando sob inúmeras suspeitas contratos celebrados entre entes públicos e privados, envolvendo inúmeros itens de material escolar destinados à escola pública. Asssuta as irregularidades que estão sendo apontadas, com suspeita de desvios de somas fabulosas para outros interesses de natureza nada reublicanos, com um possível prejuízo gigantesco para os cofres públicos.
Mas, não é só isso, como afirmamos num dos nossos tijolinhos, Pernambuco, nos últimos dias, especializou-se em produzir notícias ruins. O quantitativo de 150 mil ovos, destinados à merenda escolar dos alunos da rede pública do município de Salgueiro, Sertão do Pajeú, estão sendo descartados, depois que a vigilância sanitária constatou a sua perda de validade. Se ainda estivesse entre nós, o baiano Anísio Teixeira morreria de desgosto, de causas naturais.
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