Não vamos aqui identificar os personagens, por razões óbvias, mas o caso ocorreu no estado mais importante da federação, São Paulo, num país chamado Brasil, onde a confusão entre esfera pública e esfera privada é apenas um tema a ser explorado pelos acadêmicos nas universidades. A linha é muito tênue, quase inexistente, conforme observava o historiador Sérgio Buarque de Holanda. Isso traz consequências até para a nossa democracia, onde os padrões de relações sociais não são institucionalmente orientados, abrindo brechas para o compadrio, o nepotismo, o familismo amoral, os favores devidos, o tapinha nas costas, a anistia a golpistas e torturadores, além de outros expedientes do gênero.
Estamos com os ânimos tão acirradas que já deixamos de abordar determinados assuntos por aqui, apenas para não melindrar, o verbo desses momentos bicudos que o país atravessa. Mas, como estamos no Brasil, vale o adágio de um clube carnavalesco que desfilava pelas ladeiras de nossa cidade histórico de Olinda durante o período momesco: Nós sofre, mas nos goza. Período momesco é apenas uma forma de expressão, possivelmente imprecisa, uma vez que a cidade mal sai de um carnaval e já está se preparando para o próximo. Olinda é uma cidade encantos, belezas mil, luxúrias e licenciosidades, que nem o incêndio do período da ocupação holandesa conseguiu aplacar. Os pecados do Período Colonial ainda persistem em seus becos, suas ladeiras, suas bicas, seus altos.
Dizia-se que o grande cronista Sérgio Porto, mais conhecido como Stanislaw Ponte Preta, costumava levar sempre um bloquinho de anotações com ele, mesmo nos momentos em que desfrutava do convívio da família, nas praias cariocas. Estivesse entre nós, o grande Stanislaw talvez não precisasse tanto esforço de inspiração para escrever suas crônicas cotidianas no jornal Última Hora. Sérgio escrevia num momento difícil, sob a égide da ditadura militar. Lendo hoje suas crônicas, até nos surpreende a sua liberdade criativa, que os militares permitiam que brotasse. Ao que se sabe, Sérgio nunca foi molestado pelos militares em razão do teor dessas crônicas.
Aqui na Paraíba, no mesmo período, alguém confundiu um tal de Geisel e toda a redação foi demitida da imprensa oficial. Pois bem, leitores. Voltando ao que de fato interessa, uma vereadora não reeleita resolveu levar a privada do seu gabinete para casa, impondo ao sucessor a providência imediata de adquirir outro utensílio para o caso de necessidade. Conforme captou a chargista Marília Marz, a definição de público e privado foi atualizada com sucesso.
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