pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Crônicas do Cotidiano: O fantasma de Branca Dias continua a assombrar os pernambucanos.
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quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Crônicas do Cotidiano: O fantasma de Branca Dias continua a assombrar os pernambucanos.



O mestre Gilberto Freyre, que se debruçou sobre muitos assuntos, em alguns dos quais tornando-se pioneiro, como no caso dos guias de viagem, que ele introduziu no Brasil, a partir de uma experiência no exterior, também escreveu sobre as assombrações do Recife antigo, um texto até hoje muito  mencionado em pesquisas do gênero e até mesmo, inclusive, em trabalhos acadêmicos. Num dos nossos romances, Chaminés Dormentes, ao fazermos referência à lenda do Papa-Figo, pois o texto, num dos capítulos do romance, trata do preconceito existente à época sobre os portadores de hanseníase, que residiam no Hospital Colônia da Mirueira, uma verdadeira cidade, nos subsidiamos no livro de Gilberto para definir a narrativa sobre a lenda desse personagem do imaginário popular, cujo nome correto é Papa-Fígado. 

Na vila operária de Paulista circulava um sujeito esquisito, maltrapilho, acompanhado de uma matilha de cachorros vira-lata, com um porrete na mão e um bisaco nas costas. Dizem que comia de tudo. Tudo que encontrasse pela frente, como calangos, lagartixas, gatos, cachorros e coisas assim. Totonho Papa-figo, era este o nome dele, morava sozinho, numa tapera dos arrabaldes. Metia medo nas crianças locais, que fugiam dele como o diabo foge da cruz. Totonho encarnava a verdadeira lenda do Papa-Figo no imaginário dos habitantes da vila operária. À época corria o boato de um velhinho que andava sequestrando crianças com o propósito de extrair seu fígado puro, o que se constitua, segundo rezava a lenda, em tratamento para os portadores de hanseníase. 

Um pouco depois da chácara de Gilberto Freyre, o Solar de Apipucos, existe o parque de Dois Irmãos, durante anos um dos parques mais festejados pelas crianças do Recife e adjacências. À época de sua inauguração era um dos poucos. O parque de Dois Irmãos sempre passou por altos e baixos.  Às vezes está muito bem cuidado, com tudo funcionando direitinho, outras vezes nem tanto. Há até um museu de ciências naturais, que deixou este editor impressionado quando criança. Lá existe uma moeda semidigerida por um avestruz. Haja estômago! Hoje, o Recife está repleto desses parques. 

Um em cada esquina. Saindo do bairro de Dois Irmãos, onde reside o prefeito, até o centro da cidade, passa-se, por pelo menos, uma dezena deles. Gilberto Freyre ficaria feliz com esta profusão de espaços livres para criança e adultos. Foi proposta dele, ainda na condição de professor da Escola de Sociologia do Recife, na década de 20, a proposta desses parques, materializado no Governo de Estácio Coimbra, onde o sociólogo ocupou o cargo de Chefe de Gabinete. Imaginem os leitores que já naquela época o então professor de Sociologia Gilberto Freyre já se preocupava com a exiguidade ou ausência dos espaços de lazer para as crianças da cidade. 

Nas imediações do parque de Dois Irmãos, que no passado era um engenho de açúcar, existe o Açude do Prata onde residiu uma senhora de engenho muito rica, cristã-nova, conhecida como Branca Dias, uma judia humilhada, maltratada e morta pela horrores da inquisição. Conta a lenda que, nas noite de lula cheia, ela costuma aparecer no local. Sabe-se lá para quem, uma vez que o espaço é pantanoso, pouco visitado, embora guarde belezas estonteantes e águas cristalinas, as mais cristalinas do mundo segundo dizem, posto que intocada pela mão do homem. A senhora, antes de morrer, jogou toda a sua fortuna em pratas no açude, que nunca foi encontrada, a despeito da transparência da água. Tornou-se um local muito perigoso, reduto de marginais que se escondem das autoridades. Recentemente, dois jovens que tomavam banho ali foram abordados e se jogaram na água, desaparecendo logo em seguida. Os bombeiros fizeram várias buscas sem sucesso no local, alimentando a lenda de Branca Dias, que continua assombrando os moradores das redondezas.  

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