João Pessoa é realmente uma cidade abençoada, o que justifica sua posição privilegiada entre as principais capitais do país, seja como destino de um final de semana, de um período de férias, ou mesmo para curtir uma aposentadoria tranquila, depois de ter sobrevivido ao inferno das repartições. Só peço a vocês que não espalhem muito a notícia, uma vez que o fluxo de turistas ao local já está produzindo alguns gargalos no trânsito, exploração do comércio nas barracas de praia, especulação no preço dos imóveis, assim como ciúmes entre os gestores das capitais vizinhas, a exemplo do futuro prefeito de Natal, que afirmou, durante o discurso de posse, que a nossa querida Jampa iria se tornar no curral da capital potiguar.
Mas acho que podemos dar por aqui uma dicazinha sobre um local bastante agradável, bem cuidado, de natureza intocável e preservada, pertinho do centro e não tão distante das praias. O Parque Arruda Câmara, mais conhecido entre os pessoenses como a Bica, em razão de uma bica ali existente que, no passado, chegou a abastecer os moradores locais com água potável. João Pessoa atingiu um nível de civilidade que, independentemente de quem seja o gestor, se do partido A ou B, há algumas coisas que avançaram e a população não permite retorno, como a limpeza da cidade, o cuidado com o patrimônio histórico, a poluição das praias centrais e os seus espaços de lazer. A Bica sempre foi muito bem cuidada e gerenciada.
Nossa família foi muito feliz por ali. Acordávamos num dia ensolarado ou meio chuvoso desses janeiros - uma chuvinha que não atrapalhasse, do tipo garoa, admitamos, sempre era bem-vinda - e nos dirigíamos ao local. Logo no início, na antiga entrada do parque, um Ipê roxo florido nas aguardava, dando as boas-vindas. Depois de participarmos das recreações, seguíamos por uma trilha de mata atlântica e águas cristalinas, para a outra margem do parque, onde comíamos um pastel de carne com refrigerante, sem remorso, e tomávamos o melhor sorvete do mundo, aquele artesanal que, segundo seu Zé, vinha lá de Pilar, a terra do escritor José Lins do Rego.
Ao longo dos anos que frequentávamos o parque, sentimos a ausência de seu Zé. O produto passara a ser comercializado pelo seu neto. Andávamos considerando alguma coisa estranha com ele. O sorvete era oferecido em vários sabores, mas ele servia aleatoriamente, talvez não identificando os sabores solicitados pelos clientes. O neto nos informou que, numa dessas saída para vender o produto ele não conseguiu voltar para casa. Foi encontrado por alguém que o reconheceu, pois havia trabalhado com ele numa empresa local. Infelizmente, era um problema de demência ou Alzheimer, que um chargista já identificou como algo pior do que a morte. Outra coisa que nos enchiam os olhos de contentamento era contemplar a beleza da planta abricó de macaco, de origem amazônica, que, durante a florada é admirável. As coisas boas da vida são até simples, Rubem Braga.
Nenhum comentário:
Postar um comentário