pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
Powered By Blogger

terça-feira, 8 de novembro de 2022

Editorial: Izolda Cela, a competência que vem de Sobral.



Acredita-se que Lula irá compor um ministério com 33 pastas. Muitos nomes estão sendo especulados a esse respeito. Por enquanto, nem mesmo aquele nome que irá conduzir a economia foi escolhido, causando grandes apreensões no mercado. Até mesmo o nome do professor Fernando Haddad está sendo cotado para a pasta - supreendendo muito gente - mas já sinalizando que ele poderá ser o coringa de Lula nas eleições de 2026. Naturalmente, se tudo correr bem, a exemplo de Fernado Henrique Cardoso com o Plano Real. 

Por enquanto, o certo mesmo é o nome do vice, Geraldo Alckmin, que não cumprirá uma missão apenas protocolar no futuro governo. O Ministério da Defesa é o mais provável, pelo perfil do ex-governador, sem arestas na caserna. Mesmo contingenciado pelo desfalque no Senado Federal, comenta-se nos escaninhos da política que outro nome já com o martelo batido - embora o prego ainda não tenha sido virado - é o do ex-governador do Maranhão, Flávio Dino, que deverá ir para a Justiça ou Segurança Pública. Cogita-se uma sepação dessas duas pastas, hoje integradas num único ministério. 

Sobre essa questão das especulações, aqui em Pernambuco conta-se uma anedota envolvendo o assunto e o saudoso governador Miguel Arraes. Quando a imprensa local começava a especular acerca de nomes cotados para assumir alguma secretaria no seu governo, e Arraes era questionados por seus assessores, costumava observar que os assessores estariam procurando tais informações no lugar errado. O local certo seria o Diário Oficial. Então, vamos aguardar o Diário Oficial da União. 

Para o Ministério da Educação, uma das pastas mais importantes do futuro governo, vários nomes estão sendo cotados, a exemplo da senadora Simone Tebet, Aloízio Mercadante, Gabriel Chalita e o próprio Fernando Haddad, que já ocupou a pasta. Correndo por fora, mas com chances reais, o nome da governadora do Ceará, Izolda Cela, que faz uma brilhante gestão, com execelente resultados no campo da educação. Izolda traz essa espertise desde a cidade de Sobral, o seu berço político. O Ceará, sob sua gestão e a de Camilo Santana, tornu-se um grande laboratório de experiências educacionais inovadores e be-sucedidas no ensino público, praticamente em todos os níveis. Experiências que precisam ser replicadas no plano nacional, a julgar pelo "banho" de seus indicadores no último IDEB. Izolda é uma gestora séria, competente, republicana, que poderia dar uma grande contribuição ao país. Poderia entrar na cota pessoal de Lula.    

Editorial: Bolsonaristas atacam viaturas da Polícia Rodoviária Federal em Novo Progresso, no Pará.



Em tempos normais, já deveríamos ter baixado as as armas e a grande discussão do momento não seria as eleições passadas, mas a convocação da seleção brasileira de futebal, anunciada hoje, dia 07, pelo técnico Tite. Infelizmente, não estamos em tempos normais e os manifestantes bolsonaristas continuam seus protestos pelo país. Circula pelas redes sociais um vídeo, veiculado pela TV Afiada, onde aparecem imagens de um confronto entre manifestantes e agentes da Polícia Rodoviária Federal, na cidade de Novo Progresso, no Estado do Pará. Preocupa bastante o que está ocorredno no país, quando partidários de um determinado candidato inisistem em não aceitar o resultado de uma eleição, numa clara demonstração de absoluta incapacidade de convivência no escopo de um regime democrático. 

Existem um arsenal de estratégias de "protestos" que estão sendo previstas por esses grupos radicais, como uma greve geral, acampamento em frente aos quartéis, além, claro, do bloqueio de estradas, que estão sendo desobstruídas pela PRF, em cumprimento às determinação do ministro Alexandre de Moraes, Presidente do Superior Tribunal Eleitoral. O confronto de Novo Progresso se deu exatamente num desses momentos de operação da PRF. Durante a exibição do vídeo, vários tiros foram disparados e um polícial teria ficado ferido. 

Sempre afirmo por aqui que as instituições da democracia brasileira talvez tenham sido muito tolerantes com os intolerantes e o preço a  ser pagar está sendo muito alto. Durante o polêmico - para dizer o mínimo - processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff ocorreram palavras de ordem e apologia ao Ditadura Militar e aos torturadores, algo passível de severa advertência ou até mesmo punição. Desde algum tempo que esses manifestantes estão nas ruas, sempre defendendo essas teses obscurantistas. Numa medida salutar, o ministro Alexandre de Moraes, Presidente do STE, solicitou às Polícia Federal, Polícia Militar e Polícia Civil que identifique os líderes e patrocinadores dessas atos antidemocráticos.      

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Editorial: Segunda-Feira. Começa o Governo de Transição.



O descanso foi rápido. Apenas alguns dias num recanto paradisíaco, afastado da civilização, no litoral sul da Bahia. Ponta do Camarão é uma bucólica vila de pescadores, localizada na Costa do Descobrimento. Enquanto escrevo esse texto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já se encontra com os seus assessores que participam da equipe de transição com o Governo Bolsonaro. Não há tempo a perder, há prioridades estabelecidas e, naturalmente, o ambiente exige muita habilidade política para não cutucar o diabo com vara curta e arrefecer as mobilizações bolsonaristas, o que está se transformando numa dor de cabeça para as instituições. 

São grupelhos radicais, essencialmente antidemocráticos, conduzidos por alguns elementos de insanidade. Vieram os bloqueios nas estradas; fala-se numa greve geral; acampamento junto aos quartéis do Exército implorando por uma intervenção militar, numa atitude irresponsável e inconsequente. Precisam ser contidos e uma das formas é Lula, de imediato, fechar o circuito institucional, ou seja, juntar as pontas da governabilidade, integrando interesses conjuntos dos três Poderes da República. Ou seja, informar que os resultados do jogo está definido e que teremos governo. 

Lula vai precisar de toda a sua habilidade política para negociar com um Legislativo hostil, formado por uma bancada majoritairamnte de oposição, mas vulnerável às artimanhas de cargos e recursos. Até alguns senadores eleitos, cotadas para o ministério, podem ser substituídos para não desfalcar o futuro governo. No dia de hoje, depois de ensaiar uma aproximação, o PL anuncia um plano de oposição radical ao futuro governo. Pode ser apenas um blefe, uma maneira de barganhar melhores condições em futuras composições. Cumprindo uma promessa de campanha com seus fiéis eleitores, Lula já informou que não se negocia nenhuma pauta de benefícios acordados. É o Lula sendo o Lula.    

Editorial: A bolsonarização da Polícia Rodoviária Federal.



No dia de ontem, o jornal O Globo, trouxe uma longa matéria tratando de um possível processo de bolsonarização da Polícia Rodoviária Federal. Nesses tempos bicudos, convém tomar alguns cuidados ao fazer certas afirmações, mas reproduzo aqui apenas as conclusões daquele jornal carioca, que procedeu uma ampla investigação sobre o caso, observando, inclusive, a mudança de perfil de atuação do órgão - isoladamente ou em conjunto com outra polícias - ora participando de ações ostensivas, ora se envolvendo com trabalhos de investigações e inteligência, atividade que se tornaram mais ativas nos últimos anos. 

Até recentemente, li um artigo bastante lúcido de um delegado da Polícia Federal tratando do mesmo assunto, abordando o grau de contaminação do bolsonarismo na PF. Suas reflexões foram provocadas ao tratar do episódio daquele ex-Deputado Federal que disparou balas de fuzil e granadas contra agentes da corporação. Não há nada de conclusivo a este respeito, mas há vários questionamentos sobre a atuação da Polícia Rodoviária Federal durante operações realizadas por ocasião do segundo turno dessas eleições. 

Há muito tempo se indaga porque o país possue tantos cargos comissionados na burocracia do Estado. Salvo melhor juízo - e números mais atualizados, naturalmente - a estimativa chega a 22 mil cargos em todo o país. Com a chegada do bolsonarimso ao poder, ocorreu um processo de militarização dessa malha burocrática. Considero um pouco exagerado, mas estima-se que esse número possa chegar a 10 mil cargos. Lula já anunciou que irá "desmilitarizar' a máquina pública, o que soa como música para quem advoga princípios republicanos. 

Recomendaríamos ao novo presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, que observasse, igualemente, uma maneira de reduzir esse percentual exorbitante de cargos de confiança na máquina estatal. Inglaterra e França são dois bons exemplos de burocracias enxutas. O novo governante chega ao poder, nomeia meia dúzia de assessores diretos e os demais, se desejam seguir carreira num órgão da adminsitração pública, vão queimar as pestanas nos livros. Por razões conhecidas, essa prática clientelística sempre prevaleceu no país, independentemente da ideologia de quem está no poder.     

domingo, 6 de novembro de 2022

Charge! Dálcio Machado via Facebook

 


Editorial: Parabéns, Ciro Gomes.


Hoje é dia de parabenizar o político Ciro Gomes pelo seu aniversário. As redes sociais estão bem divididas neste sentido, pois Ciro produziu algumas ranhuras em sua relação entre bolsonaristas e petistas na fase final da última campanha presidencial. Não vamos aqui entrar no mérito dessas indisposições para não inflamar-mos ainda mais o clima, que ainda está bastante azedado. Ciro teve um final de campanha melancólico, tentando, a todo custo, quebrar uma polarização renitente na quadra das disputas presidenciais no país. 

Como disse antes, volto a repetir, merecia uma chance, assim como o finado ex-governador Leonel Brizola. Ciro é um estudante aplicado e homem público de conduta irrepreensível. Conhece como poucos os problemas do país, assim como os mecanimos para enfrentá-los. Num país como o nosso, tais qualidades são raras e somente por isso ele já mereceria as nossas felicitações. Há muitas interrogações sobre o futuro político do cearense, sobretudo depois das rusgas criadas com o Partito dos Trabalhadores, até em seu reduto político. 

Ciro rompeu relações até com os irmãos, ao se sentir traído por eles, que resolveram apoiar o PT no Estado. Trata-se de um quadro bastante preparado, que ainda poderia dar uma grande contribuição ao país. Sua postura, no final da campanha, sugeria, segundo algumas avaliações, que ele já estaria pavimentando a estrada para mais ma candidatura em 2026. Seria a quinta candidatura do cearense. É bem pouco provável. Receba nossos cumprimentos, meu irmão. Continue se preocupando com o país, de uma forma republicana e responsável como você sempre fez. 

O xadrez político das eleições estaduais de 2022 em pernambuco: João Lyra, a raposa política do Agreste desce ao asfalto.



Em 2014, com o afastamento do titular Eduardo Campos - que pretendia concorrer à Presidência da República - o então vice, João Lyra Neto, assume o Governo do Estado de Pernambuco. Empenhou-se em dar continudade ao trabalho do ex-governador, com quem mantinha uma relação antiga, desde os tempos do avô Miguel Arraes.  Era seu objetivo continuar à frente do Palácio do Campo das Princesas, concorrendo as eleição de 2014. Os arranjos políticos na Frente Popular, no entanto, impediram que tal projeto se viabilizasse, o deixando magoado. João Lyra possui um currículo político invenjável, a começar pela militância estudantil na Faculdade de Direito do Recife, seguida pela resistência democrática contra o regime de exceção instaurado no país com a Ditadura Militar de 1964. 

Foi prefeito de Caruaru e assumiu várias pastas na administração estadual, acumulando uma grande experiência da gestão pública. Apesar do seu histórico, João Lyra não impediu algumas ranhuras em sua relação com os companheiros da Frente Popular. Logo após as eleições estuduais daquele ano vieram as eleições municipais de 2016 e o Palácio do Campo das Princesas apostou todas as fichas nos seus adversários políticos na cidade de Caruaru. O projeto era derrotá-lo naquelas eleições. Até procedimentos antirepublicanos e intimidatórios foram utilizados. 

Experiente e sagaz como uma raposa política, João se empenhou pessoalmente na eleição da filha, Raquel Lyra, que venceria aquelas eleições, renovaria o mandato em 2020, habilitando-se a concorrer ao Governo do Estado nas últimas eleições, quando segrou-se a vencedora. Será a primeira mulher assumir o Governo do Estado. Durante essas eleições, muito se questionou sobre o padrão de relação da família Lyra com os socialistas do asfalto. Como demonstra a propria trajetória do pai a relação é antiga, histórica e orgânica. 

Além de Secretária de Governo, Raquel chegou a ser chefe da assessoria jurídica do Governo do Estado na gestão de Eduardo Campos, informação obtida através de em sua entrevista concedida à revista Veja. A rigor, como sugeria Marília Arraes, sua proximidade com os socialistas era até maior que a dela, forjada numa circunstância política bem específica, no segundo turno das eleições, que representou um abraço da morte para a candidata, de acordo com o seu coordenador de comunicação. Há, inclusive, indícios fortes de que esse grupo acabaria votando em Raquel Lyra, assim como grupos ligados ao Partido dos Trabalhadores, conforme escrevemos no dia de ontem. 

Este editor não tem muitas informações sobre o papel desempenhado pelo pai, João Lyra, na campanha de Raquel, mas, certamente, possivelmente foi um papel bastante relevante. Acompanhou a herdeira política em inúmeros eventos públicos de campanha e dever ter atuado com maestria nos bastidores. Com a sua eleição da filha para o Palácio do Campo das Princesas, a expectativa é saber qual será o papel exercido pelo pai no futuro governo. Uma chefia de gabinete cairia bem. Mas, independentemente dessa parte burocrática, fica o registro de que a velha raposa política do Agreste desce ao asfalto em vitoriosa conquista, atuando como mentor político da filha. Já se pode imaginar como serão os São Joões da Fazenda Macambira, hoje transformada no maior termômetro político do Estado depois da eleição de Raquel Lyra. 

Editorial: PL sugere oposição dura ao Governo Lula.



Magalhães Pinto, uma velha raposa da política mineira, cunhou uma expressão que tornou-se bastante citada no mundo político, sempre que uma tendência política é revertida, assim, repentinamente. Dizia ele que política é como as nuvens. Ora elas estão de um jeito. Quando voltamos a olhar o cenário, elas já assumiram um outro formato. É atribuído a ele uma outra expressão, a que informa que em duas coisas não se poderia confiar: urna e bunda de bebê. Com o advento das urnas eletrônicas, esta última expressão entrou em desuso. Quem questionar sua confiabilidade pode até está incorrendo em crime eleitoral. Quanto à primeira, elas são demasiadamente recorrentes. 

Até bem pouco tempo se falava sobre entabulações de negociações alvissareiras entre o futuro presidente Lula e o Presidente Nacional do PL, Valdemar da Costa Neto. Como se sabe, nos Governos da Coalizão Petista, Valdemar da Costa Neto era um colaborador do petismo, daí se concluir que os padrões de relações são antigos, o que poderia facilitar essa reaproximação. As primeiras informações a esse respeito davam conta de que Lula poderia ter o apoio do partido - naturalmente que sob certas condições, não necessariamente em termos republicanos - e, de lambuja, as portas seriam fechadas para o presidente Jair Bolsonaro, que poderia vir a ser expulso da agremiação. Com o poder de fogo no Legislativo, seria um gol de placa para o futuro governo Lula. 

O PL poderia indicar, inclusive, o líder do futuro governo no Senado Federal, um nome que já estaria sendo construído. Agora vem a notícia de que todas essas entabulações iniciais voltaram à estaca zero, o PL fará uma oposição dura ao governo Lula e Jair Bolsonaro será indicado presidente de honra da legenda. Como advertia a raposa mineira, as nuvens mudaram completamente. Na semana que vem, Lula terá uma conversa com Valdemar da Costa Neto. Caso se confirme tal tendência das nuvens negras, a tese de Boaventura de Sousa Santos sobre um eventual "torniquete' legislativo ao fururo governo volta a assombrar.   

sábado, 5 de novembro de 2022

Editorial: Vamos orar por Lula, irmãos.


Se houve algo que Lula realmente lamentou desde o início das eleições foi o distanciamento criado entre o Partido dos Trabalhadores e os evangélicos. Já escrevemos diversas postagens tratando deste assunto, explicando, inclusive, como se deu este divórcio. Voltar a discutir o tema nesses termos pode ser cansativo. Na realidade, acabaram as eleições e este diálogo não foi reestabelecido. Tornou-se uma relação muito mal resolvida, uma vez que determinados grupos evangélicos cumpriram um papel preponderante nessas eleições, inclusive embarcando no pecado mortal de disseminar fake news ou mesmo o de criar constrangimento para a definição do voto dos fiéis. 

No conjunto, Lula venceu as eleições, mas foi muito prejudicado neste segmento do eleitorado em particular. Agora, Lula tem dois trunfos para entrar no reino dos céus: O poder e a caneta. E isso já está conseguindo produzir os primeiros milagres. Já é possível ouvir representantes da bancada evangélica afirmando que irão orar por Lula ou mesmo uma declaração recente do bispo Edir Macedo, afirmando que perdoaria Lula. Este último recebeu uma dura reprimenda da dirigente nacional da legenda, Gleisi Hoffmann, que informou que seria ele que está precisando pedir perdão a Deus. 

A preocupação de Lula em reestabelecer este diálogo é tão evidente que já se cogita até mesmo a criação de uma secretaria exclusiva para reatar essa relação. Nas casas legislativas, em nome da governabilidade, este diálogo não pode esperar. Quem disse que iria orar por Lula é um parlamentar, ilustre representante da poderosa federação da Assembléia de Deus de Madureira. Lula, de fato, vai precisar de muitas orações para negociar a agenda do país com um corpo legislativo majoritariamente hostil.   

O xadrez político das eleições estaduais de 2022 em Pernambuco: Quem seria o eleitor petista que votou em Raquel Lyra?



Este editor, possivelmente, não seria um grande estrategista. Sou muito franco e guiado pelas emoções, características que não costumam serem eficientes neste terreno. Mas nada nos impedem de analisar as estratégias adotadas por alguns candidatos nessas eleições. Quatro delas nos interessaram em particular e estamos empenhados em fazer essas análises. São as campanhas para o governo do Estado de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia e Pernambuco. A escolha deveu-se ao fato de termos materiais disponíveis para nos debruçarmos sobre o assunto. Da Bahia, este editor recebeu material até de Cachoeira, uma cidade histórica da região do Recôncavo Baiano. 

Pessoalmente, poderia até escolher outras praças, mas a escassez de informações poderiam prejudicar os trabalhos. Curioso que as campanhas políticas, quase sempre, deixam alguns pontos sem nó, ou seja, alguns elementos que ou não se explicam, ou as explicações podem nos conduzir ao plano do imponderável, o que signifcaria a mesma coisa. Aqui em Pernambuco, por exemplo, nas palavras deo publicitário Édson Barbosa, a candidata Marília Arraes, do Solidariedade, deu o "abraço da morte' ao retormar a aproximação com setores mais burocráticos do socialismo local. 

Usamos outras expressões, como a Síndrome de Estocolmo, mas ambos queríamos dizer a mesma coisa: um passo em falso que custou a sua eleição. Ela foi capaz desse desprendimento, arriscou - e perdeu - as eleições, mas, por uma dessas razões desconhecidas(?), esses setores socialistas continuaram trabalhando contra a candidata, não apenas votando em Raquel Lyra, mas fazendo a máquina moer em seu favor. Quem conhece o partido aqui no Estado não necessariamente se surpreenderia com atitudes do gênero. Há, porém, uma questão intrigante, que sugere algumas investigações. Qual foi o PT que, por algum motivo, teria votado em Raqual Lyra e não em Marília Arraes? 

Como se sabe, o PT tem muitas divisões, mas, para efeito didático, talvez possamos dividi-lo em duas delas: Uma ala burocrática\oligárquica\pragmática, que comporta correntes dirigentes da máquina partidária, tem participação no parlamento e está presente na máquina estadual, ocupando cargos de confiança. Seria o PT queijo do reino, ou seja, vermelho por fora e amarelo por dentro. A outra ala seria mais ideológica\orgânica,\de base, com particiapção dos movimentos sociais. Alguns desses núcleos de base chegaram a ser expulsos do partido quando, ainda no primeiro tunro, declaram apoio à candidata Marília Arraes, quando o nome da aliança PT\PSB seria Danilo Cabral. 

É pouco provável que este grupo mais orgânico tenha sentido alguma inclinação em votar em Raquel Lyra, mesmo depois do equívoco das escolhas de Marília Arraes. Sobretudo se consideramos os apoios imediatos recebidos pela candidata Raquel Lyra de grupos bolsonaristas. Isso sugere que o PT que votou em Raquel Lyra, muito provavelmente, é o PT ligado ao primeiro grupo, que, aliás, sempre esteve em rota de colisão com a candidata, quando ela ainda pertencia aos quadros da agremiação. Escolhas infelizes da guerreira Marília Arraes. O artigo onde tratamos dessa questão pode ser lido aqui.    

Editorial: O bolsonarismo derrotado com suas próprias armas pelas redes sociais.


O nível dessa campanha presidencial não foi dos mais civilizados, como se sabe. Não é muito saudável se chegar a tal conclusão, mas as circunstâncias politicas construídas nos últimos anos não poderiam produzir outro desfecho. Hoje li um artigo que falava bastante contra essa radicalização, praticamente implorando para baixarmos as armas e buscar a serenidade nesses tempos bicudos que vivemos. Hoje se torna um pouco canhestro se falar sobre as experiências do chamado socialismo real. Ex-repúblicas do Leste Europeu, como a Hungria, hoje são lembradas como péssimos exemplos de regimes autoritários em relação aos quais se espelham alguns grupelhos ou próceres atores políticos tupiniquins, que desejam o mesmo para o país. 

Mas, bem lá atrás, quando as utopias ainda eram possíveis - hoje estamos num momento de distopias - no bojo dos movimentos que culminaram com a Revolução Russa de 1917, uma grande liderança política iria se sobressair naquele período: Vladimir Ilyich Lenin. Nossa admiração por este líder soviético visionário - que morreu jovem, com 53 anos de idade - não é nem tanto pela sua luta pela de construção de uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária - louvável, mas que depois apresentaria vários dificuldades de viabilização - mas pelas estratégias de luta utilizadas no processo revolucionário. 

O cara era um estrategista único. Um irmão seu, menos prudente e mais intempestivo, foi preso e morto pelos adversários, pela simples razão de ter se precipitado. Lenin deixou muitos bons livros escritos, mas gostaria de lembrar aqui apenas uma recomendação do líder russo - em condições específicas, como ele gostava sempre de frisar - onde ele recomendava que se espalhassem sobre os adversários as mesmas mentiras ue eles estavam disseminando sobre você. Em linguagem amiúde, usar as mesmas armas do adersário. 

Quando a mentira passou a ser usada profissionalemtne no nosso cotidanao político, tornando uma arma poderosoa contra os adversários, conduzimos ao poder pessoas que não estavam à altura do cargo. Ancorado em suportes de assessor norte-americano, a campanha de um determinado candidato sagrou-se vitoriosa naquelas eleições. Eles obteriam um grande capital político e espertise pelas redes sociais, algo que a equipe de Lula, sozinha, não iria fazer frente. Eles contavam com esse capital para virarem o jogo, como em momentos anteriores.  

Neste sentido, o concurso de três personalidades emblemáticas fizeram a grande diferença em favor da candidatura de Lula, conforme observa o jornalista Matheus Leitão, em sua coluna no site da revista Veja. São eles Paula Lavigne, Felipe Neto e André Janones, este último o mais radical de todos, aquele que empunhou as mesmas armas do adversário para enfrentar o bolsonarismo pelas redes sociais. Isso representou muito custo, penalidades, petardos atirados de todas as partes - de aliados da própria campanha, que não concordavam com tais métodos - mas representou, sobretudo, um antídoto importante para se contrapor às inúmeras mentiras disseminadas pela campanha do adversário, um fator que pode ter sido determinante para a vitória do petista.  

Editorial: As costuras de Lula com o Centrão pela governabilidade



O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, encontra-se descansando no litoral sul da Bahia, mais precisamente no vilarejo de Caraíva, Porto Seguro. Férias merecidas, depois da maratona da última campanha. Sua equipe de transição, no entanto, continua atuando a todo vapor, inteirando-se sobre os meambros do orçamento federal. Alguns problemas já teriam sido verificados, como a ausência de previsão orçamentária para custear programas como o Auxílio Brasil, Merenda Escolar e a Farmácia Popular. Aliás, Lula já rebatizou o programa. Volta a ser chamado de Bolsa Família, como era antes. 

O mais importante desse vértice, no entanto, são as costuras políticas do petista com o Centrão, onde se avança celeremente para fechamento de alguns acordos imprescindíveis para a estabilidade governamental do futuro governo. Como se sabe - e Lula sabe disso - o Centrão é movido por puro pragmatismo político, que pode ser resumido em cargos no Legislativo e no Executivo e, obviamente, verbas, de preferência através de orçamentos secretos. Para os petistas desavisados, Jaques Wagner, lá atrás, já antecipava que não teríamos um governo do PT. 

Como se sabe, essa engenharia política que atende pelo nome de presidencialismo de coalizão interdita aqueles avanços sociais e políticos requeridos pelo Brasil Real há séculos. As costuras de Lula tem como objetivo principal a conquista de padrões mínimos de governabilidade. Desde o primeiro Governo da Coalizão Petista que as coisas funcionam neste diapasão. Avançamos em alguns aspectos no tocante á democracia substantivas, mas os avanços políticos foram mínimos, dentro dos limites do que seria possível. Reformas política e tributária, por exemplo, não passaram. Reforma agrária tímida para um governo com tal perfil.  

Os petistas raízes - ou mais radicais - já devem começar colocar algumas utopias nos escaninhos. Elas não ocorrerão. No país, os avanços do campo progressista sempre estão milimetricamente condicionados ou determinados pela elite mais sacana e insensível do mundo. No país tudo se resolve - ou será que não? - através de acordos e tapinhas nas costas.Na realidade, a grande vitória com a eleição de Lula foi a de impedir a marcha fascista e autoritária que estava curso. "Estava", é um tempo verbal que não aplica a algumas análises. 

Assim, Lula tenta viabilizar um acordo para fazer tramitar a Pec da Transição. Assim que encerrar o descanso na Bahia, terá um encontro com o todo-poderoso Valdemar da Costa Neto, Presidente Nacional do PL. Pelo acordo, estaria em jogo a nomeação do líder do governo no Senado Federal, numa costura que envolve Rodrigo Pacheco, atual Presidente da Casa. A "cabeça" de Jair Bolsonaro também estaria em jogo nas negociações. Ele poderia vir a ser expulso do partido. Rumores também dão conta que haveria uma movimentação no sentido de torná-lo inelegível. O PT está com raiva do Jair. 

P.S.: Do Contexto Político: Andei observando algumas imagens da praia onde Lula está hospedado em Porto Seguro, na Bahia, conhecida como Ponta do Camarão. Vila de pescadores, lugarejo simples, isolado, de praias paradisíacas, com culinária especializada em frutos do mar. Achei muito semelhante à Praia do Madeiro, em Pipa, no RN. Lula está hispedado na residência de um deputado. Como gata escaldado tem medo de água fria, seria prudente Lula não deixar nenhum cueca por lá, arroladas, num passado não muito distante, como prova de que ele seria o dono do sítio de Atibaia.   

Charge! Marília Marz na Folha de São Paulo

 


sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Editorial: Raquel Lyra nas páginas amarelas de Veja

Crédito da Foto: Janaína Pepeu


Acabei de ler a entrevista concedida pela futura governadora do Estado, Raquel Lyra(PSDB-PE), à revista Veja, em suas tradicionais páginas amarelas. A entrevista foi bem conduzida, de forma bastante equilibrada, talvez com o propósito de não produzir ou entrar em polêmicas desnecessárias. Com uma longa experiência na vida pública - apesar de jovem - Raquel Lyra parece-nos ter adquirido uma espertise que deve ajudá-la bastante na condução da máquina estadual. Sabe que as expectativas da população são enorme, sobretudo depois que o Estado passou a acumular uma série de problemas estruturais, com indicadores caóticos na área de saúde, economia, emprego, mobilidade urbana, empobrecimento da população. Forjado, nos últimos anos, numa cultura política orientado por interesses particulares, o Estado deixou de cuidar das pessoas. 

Tornou-se um dos Estados mais pobres do país, agravado pela condição de um ambiente péssimo para novos investimentos. Há mais gente recebendo recursos do Auxilio Brasil do que com empregos de carteira assinada. Raquel, portanto, terá um enorme desafio pela frente. Na entrevista, Raquel identifica esse debacle do Estado a partir do período em que o ex-governador Eduardo Campos faleceu naquele trágico acidente aéreo, produzindo uma orfandade prematura no seu grupo político no Estado. Raquel Lyra inicia um governo, em princípio, sem grandes arestas, com os canais bastante desobstruídos. Através do vice-presidente Geraldo Alckmin(PSB-SP), já teria entabulado os primeiros contatos com o futuro governo Lula.

Curioso que Raquel aponta esse distanciamento das bases como um dos principais problemas do seu partido, o PSDB, que terá uma missão hercúlea de se reinventar a partir da agora, tendo em seu nome um dos trunfos principais. É interessante que, embora com origens distintas - o PSDB é um partido surgido no parlamento  enquanto o PT é um partido de base - embos tenham enfrentado problemas em suas relações com setores mais orgânicos da sociedade. Estamos escrevendo um artio sobre o seu pai, João Lyra, a raposa política que desceu do agreste para o asfalto, tendo eleito a filha governadora, que também não deixa de ser uma espécie de "revanche' contra as estruturas socialistas que impediram sua candidatura ao Governo do Estado lá atrás.      

Editorial: Numa democracia, pedir intervenção militar é crime



Mesmo depois da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, nenhum analista sério diria que a nossa democracia deixou de correr algum risco. Na realidade, a vitória de Lula pode ser traduzida como uma vitória da civilização contra a barbárie. Um dos aspectos mais importantes quando se avalia uma democracia é o seu coeficiente de "regularidade'. São aquelas etapas do processo democrático incorporadosm com naturalidade, no nosso cotidiano. Numa democracia consolidade, por exemplo, não haveria espaço para essas mobilizações de protestos, depois do referendo das urnas serem anunciados, em eleições limpas, transparentes, acima de quaisquer questionamentos. 

Muito menos com pedidos explícitos de intervenção militar. Antes de qualquer outra coisa, são manifestações inconstitucionais, conforme o entendimento do ministro Alexandre de Moraes, Presidente do Tribunal Superior Eleitoral. assim, as penalidades legais previstas poderão ser aplicadas aos infratores. São atos de uma inconsequência acima do normal, posto que põe em risco as instituições da democracia, com consequências imprevisíveis para o tecido social. Aqui no Recife, apenas para se ter a dimensão dessa irresponsabilidade, um pai deixou duas crianças sozinhas no carro, debaixo de um viaduto, para acompanhar tais mobilizações.  

Logo que surgiram esses movimentos, as forças do campo progressista aventaram a possibilidade de envolver o MTST para liberar essas estradas bloqueadas. De imediato, alguém de bom senso percebeu o risco que isso representaria, pois há um alto nível de contaminação bolsonarista nas instituições policiais do Estado, em todos níveis. Nos ídos da década de 60 do século passado, essa gente que ia às ruas pedir intervenção militar foram taxadas de vivandeiras de quartéis. Há um silêncio supulcral nos quartéis. Os militares, felizmente, já deixaram claro que não topam essa aventura.     

Editorial: Eu também dispenso o perdão do bispo Macedo



Os evangélicos emprestaram um apoio efetivo à candidatura do presidente Jair Bolsonaro nessas eleições. O PT tentou reconstruir as pontes com esse nicho do eleitorado, mas sem muito sucesso. O diálogo começou a ser reestabelecido muito tardiamente. Outro equívoco do partido foi considerar que a pauta econômica seria mais importante na definição do voto desse segmento do eleitorado, quando se sabe que eles são muito influenciados pelas pautas de costumes. Neste sentido, foram disseminadas uma série de fake news sobre o candidato, como a de que ele iria fechar igrejas ou introduzir sanitário único para meninos e meninas nas escolas. 

Coisas mais escabrosas e mentirosas foram ditas, mas vamos ficar por aqui. É um erro imaginar que esses grupos evangélicos pentecostais e neopentecostais comungam de uma mesma agenda quando está em jogo as relações de poder dentro ou fora das denominações ou federações. A partir da leitura de Boaventura de Sousa Santos, conclue-se que esse grupo teve uma participação importante nessas eleiçãos, ou seja, a de cumprir uma das etapas da estratégia de sabotagem das eleições, contingenciando ou constrangendo o voto, ao exigir que se votasse num determinado candidato. 

Como disse antes, entre eles talvez possamos falar de coesão apenas em alguns aspectos, notadamente os de preceitos religiosos. No que concerne às relações de poder, certamente não. Até recentemente falava-se, por exemplo, que o bispo Macedo se sentia magoado com os mimos - ou ausência deles -do Planalto. Pleiteou a nomeação do bispo Crivella para uma embaixada na África do Sul, nomeação que acabou não saíndo. Independentemente dessas questões, no entnato, ele endossou  o apoio à candidatura presidencial de Jair Bolsonaro. Agora, depois das eleições, com Lula eleito presidente, acena para um perdão ao furuto presidente, de pronto rejeitado pela Presidente Nacional da Legenda, Gleisi Hoffmann, que ele deveria pedir perdão era a Deus. Também achamos, mas o que está em jogo, neste momento, são as verbas da publicidade institucional. 

Editorial: Lavrem as multas em nome da democracia.



Há poucas referências sobre a passagem do escritor Graciliano Ramos pela Prefeitura de Palmeiras dos índios, Zona da Mata alagoana. Como se sabe, Graciliano assumiria o Executivo Municipal dessa cidade, onde permaneceu por um periodo de dois anos, tendo renunciado logo em seguida. O episódio é tido como um acidente de percurso em sua trajetória pessoal, posto que foram exatamente os relátórios administrativos produzidos para o Governo do Estado,no período em que esteve como prefeito, prestando conta de sua gestão, que chamou a atenção de um editor para o seu perfil literário. Na percepção - possivelmente correta - do editor, ele estava no lugar errado e deveria ter alguma coisa escrita guardada. Tinha. Era o livro Caetés, logo em seguida publicado. Salvo melhor juízo, o primeiro dos seus livros publicados.   

Muito exigente consigo mesmo, nesses dois anos, porém, Graciliano deixaria lições importantíssimas sobre a postura republicana com que se conduziria à frente do Executivo Municipal. Comenta-se que ele baixou uma portaria exigindo que fossem apreendidos os animais soltos, que perambulavam pela cidade, além da aplicação de muitas aos proprietários infratores. Num belo dia, quando chegou para despachar, em seu gabinete, foi procurado por um acanhado fiscal que desejava falar-lhes.

-Dr. Eu não sei nem como dizer isso para o senhor. 

- Pois, bem! Diga! - teria respondido Graciliano ao fiscal. 

- Obedecendo às suas órdens de apreender os animais soltos nas ruas, eu descobri que um dos infratores é o seu próprio pai e eu não sei o que fazer. 

Depois de meditar por alguns instantes, Graciliano Ramos teria respondido: 

- Lavre a multa. Prefeito não tem pai. 

Esse episódio nos veio à mente depois das medidas adotadas pelo Ministro Alexandre de Moraes, Presdiente do TSE, em relação aos grupos que estão protestando ou mais precisamente, inteditando estradas pelo país, numa suposta contestação dos resultados das eleições. No raciocínio correto do ministro - acompanhado por este editor - o processo eleitoral transcorreu de forma limpa, com seus resultados devidamente homologados. Tais manifestações, portanto, se inserem em ações que ferem princípios constitucionais e, por consequência, assim serão tratados, o que pode significar punições aos infratores. Na realidade, esses manifestantes estão prestando um deserviço à democracia.

Neste  sentido, o ministro Alexandre de Moraes deu um prazo de 48 horas para que a direção da PRF apresente as multas lavradas e o percentual de estradas desbloqueadas nas operações. Como se sabe, já faz alguns tempo que a nossa democracia vem enfrentado esses sabotadores, que utilizam todos os aparatos possíveis para fragilizá-la, seja através das redes sociais, seja em ações de ruas,como estas que estão acorrendo no país. As instituições brasileiras precisam manter um plantão permanente em defesa da democracia, pois o processo não se encerrou depois das eleições do último domingo, tampouco dará trégua daqui para a frente.   

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

O xadrez político das eleições estaduais de 2022 em Pernambuco: O abraço da morte de Marília



Há muito anos atrás, li uma entrevista do grande geógrafo brasileiro, Milton Santos, onde ele sugeria que desconfiássemos desses intelectuais vaidosos, pois a única satisfação para um intelectual era saber que as suas teses haviam se confirmado. Ao longo dos anos, passamos a ficar mais atentos a essas questões, quando aprofundamos algumas leituras sobre a atração exercida pelo aparelho de Estado no Brasil sobre os intelectuais. Mais ainda, quando passamos a desconfiar de algumas posturas assumidas pela 'intelectualidade de esquerda', quando as atitudes, em suas relações sociais cotidianos, tornavam-se bastante divergentes daquelas teses defendidas com tanto ardor nos encontros acadêmicos ou através dos seus escritos. 

Foram raras e honrosas as exceções que encontrei pelo caminho. Sempre nos colocamos como uma pessoa de esquerda. Como diria aquele pensador francês, já nasci à esquerda. Não assumimos aqui nehuma postura de direita, mas, de concreto, trata-se de uma intelectualidade que converge, em termos de coerência, apenas no tocante às linhas de pesquisas e de formação de redes. Nos padrões de relações sociais são até mais escrotos - permitam-nos o termo pouco convencional a este editor - do que os mais renhidos direitistas. 

Acabo de ler uma excelente análise sobre as eleições pernambucanas, em artigo escrito pelo publicitário Edson Barbosa, coordenador da área de comunicação da candidata Marília Arraes, derrotada na disputa pelo Governo do Estado de Pernambuco nas últimas eleições. O artigo é extenso e faz uma longa análise de todo o processo eleitoral, focando no ponto em relaçaõ ao qual o autor esteve diretamente envolvido, ou seja, a comunicação da campanha. É um artigo para ser analisado e guardado com muito carinho - e cuidado - pois permitem-nos alargar a visão sobre as últimas eleições estaduais.

Nem a "geografia do voto' escapou às suas obervações. No final, a convergência com este editor sobre a causa principal da derrota da candidata, ou seja, associar seu nome a um governo que ostentava 70% de desaprovação do eleitorado pernambucano, que ele descreve como o "abraço da morte". Pior ainda não é nada. Depois se constatou uma eventual colaboração desse grupo com a candidata adversária, evidenciando que eles, de fato, nunca engoliram a neta do Dr. Arraes. A bem da verdade o grupo político da família Lyra, de Caruaru, até a morte de Eduardo Campos, sempre esteve ligado aos socialistas locais. João Lyra, pai de Raquel Lyra, foi governador do Estado de Pernambuco, logo após a desincompatibilização de Eduardo Campos, que disputaria as eleições presidenciais, não fosse o trágico episódio do acidente aéreo que o vitimou.     

Editorial: O pai está "on', mas é preciso tomar cuidados com as sabotagens, provocações, narrativas...

 


Ontem discutimos por aqui um artigo escrito pelo sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, onde ele alerta para ficarmos atentos às manobras implícitas e explícitas dos fascistas, pois os proponentes de tal projeto estão longe de uma derrota. Estão ativíssimo e o Brasil tornou-se o palco desse experimento nefasto da ultra-direita. Desde de 2014 que eles estão tramando contra as instituições democráticas do país, tentando criar as condições ideais para a consolidação deste projeto. Num passado recente, dormimos o sono político que produziu o  monstro. 

As forças do campo democrático, progressista, civilizado, republicano precisam ficar eternamente vigilantes,para depois não se perguntarem: Onde erramos? Não se sabe até onde vão essas mobilizações de protestos dos bolsonaristas, mas tudo levar a crer que eles não se recolherão aos seus aposentos nem tão cedo. Há indícios de eventuais ocorrências de sabotagens durante as últimas eleições, com o intuito de prejudcar uma das chapas. Eles já focaram em várias narrativas ou teorias conspiratórias,  com o propósito de deslegitimar as eleições presidenciais.

Por em dúvida a lisura das urnas eletrônicas foi uma delas. Hoje, o desenho tem sido no sentido de se construir uma narrativa de que "Lula' não poderia, em nenhuma hipótese, ter sido candidato, que sua viabiliade eleitoral é resultado de um acordo de cavalheiros. A fraude, neste caso, se materializa na condição de Lula ter sido candidado quando, em tese, não deveria sê-lo. Em entrevista recente, um dos próceres representantes desse mainstream insinua que os protestos deverima ter sido no sentido de impedir a candidatura de Lula. 

As sabotagens,provocações, narrativas poderão vir de todas as partes, como agora está sendo denunciado pelas redes sociais um governador de Estado da Federação que estaria fazendo vista grossa em relação aos bloqueios das estradas. Lula precisará usar de toda a sua habilidade política para quebrar as resistências de uma Câmara Federal e um Senado de composição majoritariamente hostil ao petista. O professor Boaventura não descarta a possibilidade de um novo torniquete político, semelhante ao imposto a Dilma Rousseff em épocas passadas.  

Charge! Cláudio Hebdo via Folha de São Paulo

 


Editorial: Na ausência de um nome definido para a Casa Civil, Alckmin reúne-se com Gleisi e Mercadante

 



O ex-governador Geraldo Alckmin pode dar uma grande contribuição ao futuro governo de Luiz Inácio Lula da Silva e seria uma insensatez deixar de contar com essa contribuição, fruto de sua longa experiência na vida pública. Ele jamais poderia ser mantido apenas como o avalista da Faria Lima no Governo Lula. Desde o início, Lula parece ter se dado conta desta condição do ex-governador paulista e procura encontrar seu espaço na formação da equipe. Alckmin, possivelmente, deverá ocupar um ministério. Em princípio, cogita-se o Ministério da Defesa, em razão de se perfil conservador, mais assimilável aos militares. 

Prestigiando o vice, Lula já o indicou para coordenar a equipe de transição, que começa a trabalhar imediatamente, pois não há tempo a perder diante das circunstâncias. Como o futuro presidente ainda não anuciou a equipe, existem dois nomes cotados para ocupar a Casa Civil, Gleisi Hoffmann e o Aloízio Mercadante. Na dúvida, Geraldo Alckmin convidou os dois para participarem da primeira reunião envolvendo o Governdo de Jair Bolsonaro, representato pelo seu Ministro-Chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o próprio Geraldo representando o futuro governo. 

Indícios de irresponsabilidades fiscais são recorrentes, sobretudo depois que o governo abriu o cofre no período eleitoral. Outro grave problema são as verbas poupudas, comprometidas com este famigerado orçamento secreto. Depois, certamente, Lula desejará abrir a caixa-preta, o que se constitue numa grande dor de cabeça. Uma conhecida raposa da política pernambucana recomendava que nunca se deve informar que vai se abrir a caixa-preta. Não seria uma jogada política esperta. Primeiro, porque os dados comprometedores podem vir a ser deletados. Depois, porque se o novo governo não encontrar nenhuma irregularidade, estaria emitindo um certificado de ideoneidade para o governo anterior. O ex-governador do Distrito Federal, Cristóvam Buarque, lembrou deste "conselho' de Marco Maciel, num blog local.   

quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Editorial: Tempos difíceis. Boaventura de Sousa Santos desvenda a tessitura do nosso "Capitólio"



O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, em artigo publicado no site Outras Palavras, faz uma radiografia da engrenagem autoritária ora curso no país, que está longe de ter sido encerrada com a vitória de Lula nas eleições presidenciais do último domingo. A máquina golpista mói desde 2014, continuou com o impeachment de Dilma Rousseff,em 2016, depois com a prisão de Lula e continua ativa, bem azeitada, sabotando o processo democrático. Não sabemos se as forças do campo legalista, democrático e progressista estão dimensionado o problema, com a gravidade requerida e imposta pelo mesmo. 

Todos os problemas enfrentados até este momento não foi resultado de acasos, mas de um processo milimetricamente urdido, com a intimidação para "votar certo', quando empresários e formadores de opinião tentaram "convencer" - ou seria coagir - determinados eleitores a votarem num candidato "X". Este procedimento também teria sido observado em alguns templos evangélicos, quando fiéis que declararam voto em Lula foram "ademoestados". Depois, vieram as operações para a verificação dos pneus carecas, criando dificuldades para os eleitores identificados com determinados candidatos. 

O senador Otton Alencar, do PSD, que teve papel destacado durante os trabalhos da CPI da Covid-19, parado num desses bloqueios, observou que os carros que portavam adesivos de um determinado candidato não eram parados pela polícia. Agora, por ocasião dos bloqueios nas estradas praticados pelos bolsonaristas insatisfeitos - criticou-se bastante o trabalho de uma determinada corporação policial, que mais parecia estar "acompanhado' os manifestantes, quando a ordem seria a de desobstruir as estradas. 

Para os democratas convictos, o artigo é, de fato, bastante preocupante. De acordo com o autor, o Brasil tornou-se o laboratório do projeto fascista por excelência. Há, inclusive, a informaçãos de que um dos seus principais artífices atuou no Brasil, mantendo uma sala no Estado de São Paulo. Estamos vivendo o nosso Capitólio é torna-se necessário que as instituições e as forças democratas e progressistas reunam as condições para enfrentá-lo. Ficar aguardando o dia da posse talvez não seja a postura mais correta neste momento. Quem poderia imaginar manifestações bolsonaristas com a magnitude dessas que estão ocorrendo pelo país?  

Editorial: Geraldo Vandré tornou-se um ícone dos bolsonaristas revoltados

Crédito da Foto: Léo Caldas\Veja



Não entendemos muito bem as razões, mas, neste momento de esquizofrenia coletiva, pouco coisa pode ser entendida muito bem. Comenta-se, amiúde, que os bolsonaristas em prostestos - que pedem uma intervenção militar no país - aos primeiros enfrentamentos com forças policiais, costumam se ajoelharem e fazerem orações. Fica claro que eles não fazem a menor ideia do que signifca a ruptura de um Estado Democrátio de Direito e a instauração de uma intervenção militar no país. Inconsequência e irresponsabilidades somadas. Diante da noticia de que as músicas do compositor paraibano, Geraldo Vandré, estariam embalando esses protestos, fomos rever uma ,crônica escrita há alguns anos atrás, onde este editor encontrou-se com o compositor, perambulando pelo aprazível bairro de Tambaú, em João Pessoa. 

Nessas ocasiões, quando nos remontamos aos escritos do passado, sempre procedemos uma autocrítica ferrenha e tendemos a rejeitá-los. Neste caso, não. A crônica ficou até muito bem escrita. Uma pequena lipoaspiração e  ficaria no ponto ideal. Hoje, em termos de informações turisticas contida no texto, faria uma pequena ressalva. Os melhores passeios de catamarãs são de Areia Vermelha e as Piscinas Naturais do Seixas. Há muitas pedras em Picãozinho. 

Curiosamente, não é de hoje que os caminhoneiros utilizam a canção "Caminhando" ou "Para Não Dizer Que Não Falei Das Flores', composição que embalou os protestos contra a Ditadura Militar em décadas passadas, como hino dos protestos atuais, só que, deste vez, pedindo intervenção militar.Excepicioal compositor, Geraldo Vandré, sempre afirmou que a música era apenas uma música mesmo, que nunca emprestou à composição essa condição de música de protestos, tampouco teria sido composta com tal objetivo. 

Numa matéria da revista Veja, ele afirma que música de protestos é coisa de americano. Depois dos extertores da Didatura Militar, o compositor passou a assumir algumas atitudes muito questionadas - sobretudo pela esquerda - como uma demasiada aproximação com os militares, principalmente da Aeronáutica, chegando a escrever uma canção muito festejada na tropa: Fabiana.  A rigor, a rigor, está tudo muito bem explicado.  

Editorial: O Nordeste brasileiro salvou a elite torpe do país de um novo retrocesso autoritário



A principal tarefa do próximo governo de Luiz Inácio Lula da Silva é a de reconstituir o tecido democrático do país, hoje sensivelmente ameaçado. Existem muitas prioridade, conforme ele enfatizou em seus discurso, logo após a vitória, como a de superar a chaga de 33 milhões de brasileiros que estão passando fome neste momento. Entendo as preocupações do petista, mas é preciso estabelecer, de uma vez por todas, que tal meta apenas será possível num ambiente institucional onde a democracia política funcione plenamente. 

O linguista norte-americano, Noam Chomisky, costuma dizer que nunca viu uma elite tão insensível ao drama dos desvalidos como a brasileira. Outros autores, a exmplo, de Ariano Suassuna, costumam tratar essa "cisão' brasileira como o Brasil Real e o Brasil Oficial. Ao longo da História, o Brasil Real tem dados bons exemplos de superação ao país. Nas últimas eleições, um flagrante fotográfico tornou-se emblemático dessa divisão: Adolescentes de uma favela, que se dirigiam, num ônibus, para alguma praia, num domingo ensolarado, cruzaram com uma motociara do ex-presidente Jair Bolsonaro, no Rio de Janeiro, onde não faltaram aqueles gestos conhecidos e palavras de ordem. 

Agora, por ocasião das interdições das estradas - em atos de protestos orgnizados por bolsonaristas insatisfeitos com os resultados das urnas - quem está desobstruindo as rodovias não são as forças do Estado, mas as torcidas organizadas do Corinthians e do Galo Mineiro. Há um certo exagero por parte do editor, mas, o fato, em si, não deixa de ser emblemático, principalmente quando se põe em dúvida a atuação das próprias forças representativas do Brasil Oficial. Nessas eleições foi este Brasil Real, marcadamente identificado pela população de regiões como o Nordeste, que salvou o país do desastre de um retrocesso autoritário que vinha sendo sutilmente urdido. 

Editorial: Nunca pensei que houvessem tantos especialistas em análise de discurso no país.



Nunca pensei que no país houvessem tantos especialistas em  análise de discurso. A constatação veio no dia de ontem, depois dos dois minutos de fala do presidente Jair Bolsonaro. O rápido discurso do presidente deu margem a inúmeras interpretações. Alguns tentaram extrair dalí - não sem uma certa forçação de barra - uma fala que se coadnuna à aceitação das regras do jogo democrático, uma admissão de derrota e uma captulação natural aos resultados das urnas. Neste aspecto, a nossa democracia poderia respirar aliviada, pois as recorrentes ameaças de golpes estariam superadas. Tenho dúvidas sobre se possamos chegar a tais conclusões. 

Os bolsonaristas fizeram outra leitura dessa fala, entendendo que os protestos são legítimos, posto que amparados num processo eleitoral onde eles foram sensivelmente prejudicados. O que o presidente condenou foram os protestos à la esquerda, marcados por violências e badernas, consoante essa análise. Convém sempre tomar muitos cuidados em relação aos discursos. Bem lá atrás, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche nos informava que todo discurso é uma fraude, toda palavra uma farsa. 

As verdadeiras intenções de um discurso não estão naquilo que ele revela, mas naquilo que ele omite, onde se pode identificar as reais intenções do autor do discurso. Essas preocupações de Nietzsche seriam depois retomadas pelo filósofo francês Michel Foucault, que, ainda inspirado no filósofo alemão, empreendeu uma algumas reflexões caucadas em narrativas sobre determinadas questões, ao longo de períodos históricos, como em História da Sexualidade, ou História da Loucuca. Quando criança, aqui no Nordeste, por exemplo, a virgindade feminina já foi um considerado um grande tabu. Hoje, nem tanto. 

Na fala de Jair Bolsonaro - sem entrar nas entrelinhas ou no "não dito', pois a própria celeridade da fala já mereceria uma análise - prevalece duas questões preocupantes: A de que ele atua dentro das quatros linhas, embora alguns outros não o façam. Os "outros" são os velhos inimigos de sempre. Um outro aspecto é o não convencimento sobre a lisura na condução do processo eleitoral, ao afirmar que, supostamente, foram vítimas de alguns equívocos. Não queremos aqui fazer o papel do advogado do Diabo, mas, sinceramente, ainda não ficamos satisfeitos. 

terça-feira, 1 de novembro de 2022

Editorial: Paulo Câmara cotado para o Ministério da Educação.


No futuro, lançando-se um olhar mais atento sobre as coxias da política pernambucana - principalmente sobre os padrões de relações estabelecidos entre os núcleos socialistas que se aglutinam no PSB - poderão nos trazer alguns dados importantíssimos para compreendermos melhor a dinâmica de nossa quadra política. Depois de construir toda uma trejetória política de contraponto aos núcleos mais duros dos socialistas, por exemplo, a candidata Marília Arraes(SD-PE) cometeu suicídio político ao encampar um processo de reaproximação com os socialistas, quando o eleitorado pernambucano já havia decidido apeá-los do poder. 

O governador Paulo Câmara foi um desses quadros técnicos pinçados pelo ex-governador Eduardo Campos, para assumir funções políticas. Por alguma razão, o ex-governador não confiava no núcleo político que gravitava em torno de sua liderança. Geraldo Júlio foi outro técnico que deixou suas funções para assumir a Prefeitura da Cidade do Recife. Por manterem perfis idênticos, ambos passaram a estabelecer um padrão harmonioso e integrado na relação, sobretudo depois da orfandada produzida pela morte do ex-governador. 

Implicitamente, estava acordado que Geraldo Júlio seria, nessas últimas eleições, o nome dos socialistas para disputar o Governo do Estado. Depois de dois mandatos à frente do Palácio Antonio Farias, Geraldo Júlio entrou num processo natural de fadiga de material. Somado a isso, suas relações com o governador passaram a extremecer ele acabou sendo preterido na indicação para disputar o governo. Nos escaninhos da política, comenta-se que Geraldo Júlio teria ficado bastante aborrecido com o fato. 

Esse grupo técnico, depois da morte de Eduardo Campos, seguia à risca as recomedações dos herdeiros do ex-governador. Hoje se pode falar, claramente, que o PSB local já não se constitue num único grupo político, sob o comando da direção da legenda. É como se houvessem sublegendas ou nucleações de interesses distintos, possivelmente conflitantes. Eleito Lula presidente, começaram as especulaçoes sobre o nome do governador Paulo Câmara para ocupar um ministério em Brasília. 

A relação de Paulo Câmara com o ex-futuro presidente Luiz Inácio Lula da Silva  é muito boa. Como disse antes, em outro editorial, a relação do governador com o PSB nacional continua intacta, o que vale dizer que ele está prestigiado. Seus problemas e indisposições estão concentrados aqui na província. De acordo com a coluna do jornalista Cláudio Humberto, seu nome está na bolsa de cotação para ocupar o Ministério da Educação.  

Editorial: O homem de Lula na interlocução com os militares


Houve um tempo - bons tempos, aliás - em que os militares brasileiros estavam tão pacificados que aceitavam, de bom alvitre, um  ex-guerrilheiro do Araguaia ou um militante do partido comunista como chefe do Ministério da Defesa. A bem da verdade, a indicação de um civil para o Ministério da Defesa é um dos indicadores da saúde de uma democracia, por entender que, em tais regimes, o poder militar deve estar subordinado ao poder civil. Salvo melhor juízo, no Brasil, isso está previsto na Constituição Federal, mas, na prática não funciona bem assim. 

No Governo de Jair Bolsonaro o cargo voltou a ser ocupado por militares,o que pode ser entendido como um retrocesso. Aliás, sendo ainda mais objetivo, o país passou por um processo de militarização da máquina pública, onde os militares passaram a ocupar inúmeras funções de confiança do Executivo. São milhares de militares na burocracia do Estado, algo que, segundo se informa, deverá ser revisto pelo próximo Governo Lula. Quando se especula sobre a formação do ministério do futuro governo, surge logo as ventilações em torno do nome que será indicado por Lula para estabelecer essa difícil interlocução com os quartéis. 

Por que difícil? Ora, ocorreu um processo de bolsonarização das instituições brasileiras, sobretudo aquelas instituições mais suscetíveis, ligadas ao aparato de segurança e repressão do Estado. O Governo de Jair Bolsonaro era um governo que contava com a simpatia de amplos setores militares e policiais, conforme é sabido. É tido como certo que os militares poderão não reagir muito bem à indicação de nome pouco adequado ao cargo, segundo suas avaliações. É neste sentido que o nome do ex-governador Geraldo Alckmin ganha pontos nas bolsas de apostas, por possuir um perfil conservador

Editorial: O day after de Jair Bolsonaro

 


Num país de regime democrático, um Presidente da República dever manter uma postura de temporalidade ou de desprendimento em relação ao cargo que ocupa. Não é de bom alvitre um presidente muito apegado ao cargo, afirmando que Só Deus o tira dessa cadeira, ou mesmo Eu vou ficar aqui por algum tempo. É preciso ter clareza que um mandato presidencila se expira em quatro anos e, numa democracia, deveriam existir, de preferência, dois rodízios: o de carnes e o de poder. O homem público que exercer tal cargo precisa entender, em princípio, que a alternância de poder é um pré-requisito básico das democracias representativas. 

Um indivíduo que permanece muito tempo no cargo passa a aprofundar a confusão entre o público e o privado, fronteiras que nunca estiveram muito bem definidas no país, meu caro Sérgio Buarque de Holanda. Aqui na província pernambucana um cidadão passou mais de três décadas exercendo o cargo de presidente de uma instituição. Pouco tempo depois de entregar o cargo, morreu. Amiúde, se dizia que ele morreu da instituição tal. A ausência de um pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro sobre o resultado das eleições de domingo está alimentando inúmeras especulações. Com o agravemtno dos problemas dos bloqueios dos caminhoneiros nas rodovias federais, aí sim, é que esse mistério assume contornos de um romance policial escrito por John Le Carré. 

Segundo comenta-se, ele havia se recolhido aos aposentos do Palácio do Planalto, na companhia apenas do seu filho Flávio Bolsonaro. O que a princípio poderia ser explicado por um mal-estar com os resultados das urnas, começa a produzir outras especulações. São mínimas até mesmo as notícias emitidas pelos seus assessores mais diretos, Como o Ministro-Chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira. Em meio a esse mistério, o Presidente do TSE, o ministro Alexandre de Moraes, determinou à Polícia Rodoviária Federal que desbloqueasse imediatamente as rodovias federais, sob pena de multa diária de cem mil reais. 

Editorial: Todos os homens do presidente Lula



Seria injusto dizer que a vitória do petista deve-se apenas ao empenho e a abnegação de grandes homens nordestinos, pois sabemos que mulheres guerreiras - igualmente de sangue nos olhos, como se diz por aqui - contribuíram igualmente para que Lula chegasse ao Palácio do Planalto. Gleisi Hoffmann, Presidente Nacional do PT, já informou que a transição começa dentro de 48 horas com ou sem a anuência de um certo cidadão que resolveu se recolher aos aposentos depois da derrota nas urnas. Os "homens de Lula' possuem, salvo algumas poucas exceções, um perfl comum: governaram seus Estados de origem, como é o caso de Rui Costa, da Bahia, Camilo Santana, do Ceará, Wellington Dias, do Piauí, Flávio Dino, do Maranhão, Geraldo Alckmin, em São Paulo. 

Todos esses nomes estão cotados para assumirem um ministério no futuro governo. Alguns desses nomes sugerem ao editor uma expectativa muito positiva, a exemplo do ex-governador Camilo Santana - eleito Senador da República - que fez um excelente trabalho no seu Estado. Não vamos aqui entrar no mérito daqueles que nos sugerem algumas preocupações, pois pode parecer algum pré-julgamento. A dívida de gratidão de Lula com esses nomes é impagável, a exemplo do governador Rui Costa, da Bahia, que fez barba cabelo e bigode no seu Estado na última eleição. Elegeu Jerônimo Rodrigues - um ilustre desconhecido do eleitorado baiano ao Palácio de Ondina; atingiu a meta de conseguir uma esmagadora votação para Lula no Estado - estimada em 71% dos votos válidos - e, de quebra - mas não menos importante - desbancou o carlismo, que esboçava uma sobrevida, depois de décadas apeados do comando do Governo Estadual.  

Os escores obtidos por Rui Costa só são inferires aos obtidos por Wellington Dias, do Piauí, o Estado que mais sufragou o nome do petista no país. Por vezes Wellington Dias assemelha-se a uma eminência parda, aparecendo ali por trás do petista em raras ocasiões, mas não se enganem. Cumpriu un papel importante na coorodenação da campanha vitoriosa. A Bahia pode a vir ocupar dois ministério, pois o nome do ex-governador Jaques Wagner, um dos coordenadores da campanha, está muito bem cotado. Também entra nessa lista Alexandre Padilha e, claro - perdão pelo lapso - o professor Fernando Haddad, ex-Ministro da Educação. 

Como disse antes, as mulheres também estão bem cotadas, a exemplo de Marina Silva, que deve voltar a ocupar o Ministério do  Meio-Ambiente - onde terá uma missão importantíssima, a de interromper o "estouro da boiada". Simone Tebet, que pode vir a ser indicada para a Agricultura. O governador de Pernambuco, Paulo Câmara, também estã sendo cotado, possivelmente como nome indicado pelo PSB. A despeito do desgaste de sua gestão no Estado, o capital político de Paulo Câmara continua intacto junto aos nomes fortes do socialismo no plano nacional.