pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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quinta-feira, 1 de março de 2012



O XADREZ POLÍTICO DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2012 EM SÃO PAULO. O que ontem ainda é hoje, amanhã já será anteontem. Eis a filosofia de Gilberto Kassab, um dos atores políticos mais estratégicos no atual momento da política brasileira.


José Luiz Gomes escreve


                                   Antes da decisão de José Serra de concorrer às eleições para a Prefeitura da Cidade de São Paulo, em 2012, o prefeito da capital, Gilberto Kassab, sentou-se com o governador Geraldo Alckmin para conversar sobre o pleito. Raposa velha na política, Alckmin perceberia logo a matreirice do afilhado de Serra: de casamento em casamento, abandonaria a noiva do PSDB depois de passar manteiga no pão. Um acordo, nas circunstâncias propostas por Kassab, significaria, em última análise, desbancar o PSDB do seu ninho mais emplumado. Evidentemente que não chegaram a um acordo. Pouco comenta-se sobre isso, mas os movimentos de Alckmin indicam que ele não pretende ficar circunscrito ao maior Estado da Federação.

                                   Kassab, então, passou a flertar com o Planalto, sob o patrocínio de Luiz Inácio Lula da Silva. Em Brasília, por ocasião das comemorações dos 32 anos do Partido, o prefeito chegou a ser vaiado por petistas contrários à aliança. Nada que não pudesse ser contornado pelos caciques da legenda. O acordo estava em vias de ser confirmado. Até os espaços que a nova legenda ocuparia na Explanada dos Ministérios estavam sendo prospectados, desde que não contrariassem o apetite fisiológico do PT paulista, uma dor de cabeça para Dilma Rousseff.

                                   Quem mais esboçava resistência à aliança era o grupo da senadora Marta Suplicy, conhecida pela firmeza em suas posições, mesmo contrariando o partido. Conforme declarou nos jornais, não se sentiria à vontade de sentar à mesa com Kassab, para discutir as estratégias de campanha do ex-ministro Fernando Haddad. É suficiente lembrar o acirramento de ânimo entre ambos na última campanha, onde a petista cometeu algumas indelicadezas contra Kassab. Certamente, ele também não gostaria de sentar-se com Marta.

                                   Ainda sob tais circunstâncias, uma determinação de Lula selaria o acordo entre o PT e o PSD. O anúncio da candidatura de Serra, no entanto, mudou sensivelmente o tabuleiro político na capital paulista. Pelo menos num ponto Kassab tem sido coerente. Afirmou desde o início que seu apoio a uma possível candidatura de Serra seria incondicional. Serra foi o avalista da campanha que levou Gilberto Kassab ao Edifício Matarazzo. Sua dívida de gratidão a Serra é grande. Declarações recentes de Lula apontam a demora na decisão do PT, o motivo do não fechamento do acordo.

                                   Serra candidato, Kassab afastou-se o assédio petista, provocando um tsunami no núcleo duro de comando da campanha de Haddad. Não há a menor dúvida de que o PT acusou o golpe. Serra é um candidato competitivo, parte como favorito e agrega, em torno de si, forças importantes como o PSD, o DEM e, possivelmente, o PSB do governador Eduardo Campos, que já teria fechado alguns acordos com Geraldo Alckmin. O PSB participa do governo Alckmin, através do seu presidente regional, Márcio França, Secretário de Turismo de São Paulo. Alckmin cedeu às exigências do partido em cidades estratégicas do Estado, como Campinas, e tornou-se um aliado importante para o “Moleque” dos Jardins da Fundação Joaquim Nabuco.

                                   O Planalto ainda alimenta algumas esperanças de reverter o quadro, até porque possui algumas cartas na manga, como os altos investimentos que o Governo Federal vem realizando no Estado de Pernambuco e uma aliança longa com os petistas. Nas entrelinhas, comenta-se que Eduardo teria afirmado a Alckmin que apoiaria qualquer candidato do PSDB, menos José Serra. No frigir dos ovos, como afirma o jornalista Josias de Souza, do portal UOL, o dilema de Eduardo Campos é simples: terá que fazer uma opção entre os seus interesses e os interesses do PT. Há, ainda, outro complicador. Geraldo Alckmin foi cabo eleitoral para a eleição de Ana Arraes para o Tribunal de Contas da União. Se ele adiar seu projeto nacional para 2018, há a possibilidade de alguns “arranjos” sem traumas irreversíveis.

                                   Tradicional aliado dos tucanos naquela praça, o DEM desta vez, resolveu fazer algumas exigências maiores. Esboçou até mesmo o lançamento de uma candidatura, para barganhar melhor nas negociações. Não há hipótese de o DEM apoiar outro candidato quem não José Serra, mas estão exigindo algumas compensações pelos três preciosos minutos que dispõem na televisão. Condicionaram o apoio a José Serra em São Paulo, ao apoio do PSDB em cidades importantes para os democratas, como Salvador e Recife. Caso seja fechado algum acordo neste sentido, os grãos-tucanos terão que convencer Sérgio Guerra a apoiar a candidatura do ex-governador Mendonça Filho à Prefeitura da Cidade do Recife. Talvez seja por isso que Daniel Coelho tem se movimentado tanto nos últimos dias.

                                   Enquanto o PT acusa o choque – levando José Dirceu, em artigo publicado no Blog do Jolugue – a fazer um chamamento à pré-campanha, Serra, que dorme pouco, já colocou seu bloco na rua. Capitaneado por Kassab, antecipou-se às negociações com o PSB, conversando com o dirigente municipal da legenda na capital paulista, Eliseu Gabriel de Pieri. Como quem decide as coisas no partido ainda é Eduardo Campos, isso não significa que o Planalto possa considerar a questão como um caso perdido.

                                   Outra fonte de problemas para o Planalto é o PR, que exige de Dilma Rousseff a retomada de sua participação no condomínio governista, precisamente a pasta dos Transportes. Luiz Carlos Passos foi uma escolha de Dilma Rousseff, e o partido não se sente contemporizado no Governo. Dilma reluta o quanto pode a ter que entregar chave do galinheiro às raposas da agremiação. Alguns nomes apresentados pelo partido foram peremptoriamente recusados pela presidente. O partido deu o prazo até o final de março para que o impasse seja superado. Para provocar a decisão do Planalto, lançaram a candidatura do palhaço Tiririca à Prefeitura de São Paulo.

                                   A grande questão que se coloca em relação à candidatura de José Serra é uma rejeição aferida pelo Datafolha, oscilando em torno de 30% do eleitorado paulistano. Trata-se de uma estatística que os tucanos sabem que Serra precisa reverter. O problema maior é que essa rejeição é provocada, sobretudo, em razão da renúncia de Serra em 2006. Cioso do problema, Serra já começou a declarar aos quatro cantos que, se eleito, cumpre os 04 anos de mandato. Não estaria mais nos seus planos a presidência da República. Naturalmente, há dúvidas sobre o assunto, apesar do otimismo de alguns postulantes às eleições presidenciais de 2014, com a sua decisão de disputar a prefeitura paulistana.  

                                   Veja a situação em que se encontra Gilberto Kassab, numa pedra cantada pelo editor do blog, muito antes, em seus inúmeros artigos. Trata-se de um ator político importante para os planos nacionais de Eduardo Campos, sobretudo pela fragilidade do PSB em praças estratégicas, como a região Sudeste; Qualquer que seja o candidato do PSDB, o partido não poderá prescindir do seu apoio num dos maiores colégios eleitorais do país; Serra eleito e filiado ao PSD, permite ao partido bancar uma candidatura presidencial própria em 2014; o Planalto, por sua vez, em mais de uma ocasião, já demonstrou que deseja o seu passe. Caso se confirme uma vice de Eduardo Campos em 2014, numa chapa encabeçada por Dilma Rousseff, aí então é que ele está dentro mesmo, puxando votos em São Paulo, como candidato ao Palácio dos Bandeirantes.  Portanto, para Kassab, um dos atores mais importantes do atual tabuleiro da política brasileira, o que ontem ainda é hoje, amanhã já será anteontem. Ontem, ele estava deixando a Prefeitura de maneira desgastada e melancólica. Hoje, tornou-se uma das peças principais da engrenagem política que está sendo montado visando às eleições de 2014.




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