Os pernambucanos que tiveram a oportunidade de ler o Diário de Pernambuco em sua edição de ontem, dia 20, se depararam com uma daquelas entrevistas características dessa época do ano, onde os governantes são os entrevistados pelos principais jornais do Estado. Desta vez, o Diário ouviu o governador do Estado de Pernambuco, senhor Paulo Saraiva Câmara. O jornal da antiga praça da Independência tem uma longa história no Estado, constituindo-se, inclusive, como um ator relevante na própria instituição do conceito de região Nordeste. Não apenas pela famosa série de artigos publicados pelo sociólogo Gilberto Freyre, ainda como estudante nos Estados Unidos - segundo Durval Muniz, uma verdadeira certidão de nascimento de uma região - mas por suas posições ativas em diversos momentos históricos do país, assim como por sua área de abrangência ou influência, que ajudou a circunscrever, geograficamente, os limites territoriais da região Nordeste.
Tudo isso está muito bem explicado numa postagem nossa, num outro blog, dedicado à pesquisa escolar. Lá, os leitores poderão ter uma dimensão da importância deste jornal secular. Agora, no entanto, convém estabelecer algumas considerações mais atuais, sobretudo no que concerne à linha editorial adotada pelo DP, certamente, determinada pelos seus atuais proprietários. Um grupo ligado a um ex-Deputado Federal, hoje vinculado aos neo-socialistas da província, segundo se sabe, é um dos principais acionistas do jornal. Essas entrevistas com os governantes, nessa época do ano, normalmente, são muito comportadas. No que se refere a esta última, publicado pelo DP, poder-se-ia afirmar, sem exagero, que foi uma entrevista comportada demais. Está mais para um relatório de gestão, onde o governante torna-se suspeito para fazer sua avaliação unilateral, sem o contraditório que uma imprensa livre poderia levantar.
Foram três páginas, todas construídas por um discurso que, ao final, leva o leitor a apenas suspirar, com a leve sensação de quem não entendeu nada do que foi dito ou, pior, pedindo para ser beliscado, certo de que estava nas nuvens, quiçá sonhando. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche, no livro Além do Bem e do Mal, tem uma frase que se tornou célebre nos manuais de análise de discurso: Toda palavra é uma máscara e todo discurso é uma fraude. Penso que essa máxima se aplica perfeitamente à entrevista concedida pelo senhor governador Paulo Câmara ao Diário de Pernambuco.
Trata-se, na realidade, de um emaranhado de informações, em áreas de competência quase que exclusiva do Estado, como saúde, educação e segurança pública, onde são enumeradas o conjunto de ações do aparelho de Estado para cada setor específico, como contratação de efetivo, melhoria de alguns indicadores de educação, um campeonato de robótica e até a construção de uma unidade de saúde pública em Goiana, na região da Mata Norte do Estado. Sobre, até que ponto, o conjunto dessas ações estão contribuindo num contexto mais amplo, para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e das cidadãs pernambucanas, nenhuma palavra. E a gente sabe que a nossa vida não melhorou nessa gestão.
Os entrevistadores, tanto quanto possível, evitaram aquelas perguntas que poderiam desvelar a cruel realidade vivida pelo Estado, nessas áreas de sua competência. Aliás, salvo os "indicadores" apresentados pelo próprio governador, senti falta dos indicadores de cidadania, como os índices crescentes de violência - solapando as metas do Pacto pela Vida -; o número de bebês mortos ou acometidos pela microcefalia, uma doença transmitida pelo mosquito aedes aegypti - cujo Estado lidera o número de casos em todo o país. Esses indicadores de cidadania bem que poderiam ser apresentados pelos repórteres que o entrevistaram.
De acordo com o jornalista Fernando Castilho, do JC, o Governo de Pernambuco anunciou que deixará de concluir e e colocar em funcionamento 06 UPAS. Elas custariam aos cofres públicos algo em torno de 180 milhões/ano. Por outro lado, liberou 54 milhões para o cumprimento do contrato de Parceria Público Privada com a construtora da Arena Pernambuco. Somente este ano, o Estado já injetou 147,8 milhões para honrar esses compromissos, numa verdadeira inversão de prioridades. Essas questões, que dizem respeito sobre as prioridades no gasto do dinheiro público, não foram levantadas para o nosso governador.
De acordo com o jornalista Fernando Castilho, do JC, o Governo de Pernambuco anunciou que deixará de concluir e e colocar em funcionamento 06 UPAS. Elas custariam aos cofres públicos algo em torno de 180 milhões/ano. Por outro lado, liberou 54 milhões para o cumprimento do contrato de Parceria Público Privada com a construtora da Arena Pernambuco. Somente este ano, o Estado já injetou 147,8 milhões para honrar esses compromissos, numa verdadeira inversão de prioridades. Essas questões, que dizem respeito sobre as prioridades no gasto do dinheiro público, não foram levantadas para o nosso governador.
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