pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Crônicas do cotidiano: Graciliano Ramos no Museu do Homem do Nordeste
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domingo, 13 de dezembro de 2015

Crônicas do cotidiano: Graciliano Ramos no Museu do Homem do Nordeste



José Luiz Gomes da Silva


Há alguns anos atrás, o Museu do Homem do Nordeste, da Fundação Joaquim Nabuco, recebeu uma exposição itinerante sobre o escritor alagoano, Graciliano Ramos. Ainda no auditório Benício Dias - hoje Cinema do Museu - ocorreu um encontro com os curadores da exposição. Neste encontro, acusamos aos curadores a ausência do homem público Graciliano Ramos naquela exposição. As explicações, em parte, nos convenceram sobre os "recortes" necessários em qualquer projeto daquela natureza, ainda mais em razão do caráter itinerante daquela exposição, exigências impostas pelos patrocinadores etc. 

Na realidade - penso que eles compreenderam isso - o homem público Graciano Ramos antecede ao escritor. Graciliano foi lançado como escritor através dos relatórios burocráticos que produziu quando foi prefeito de Palmeiras dos Índios, uma cidade da zona canavieira do Estado de Alagoas. O escritor é natural de Quebrangulo, localizada nas proximidades da cidade onde foi prefeito. Até recentemente, numa postagem aqui no blog a respeito dos desmandos dos gestores com dinheiro público, lembramos que, já nesses relatórios, Graciliano denunciava as falcatruas cometidas nas gestões que o antecederam. 

Há um momento, nesses relatórios, onde o velho Graça informa à população que, na construção do cemitério local, havia mortos muito vivos, numa alusão ao superfaturamento da obra. Graciliano sempre foi um escritor muito rigoroso com a escrita. Naqueles relatórios, um editor conseguiu observar que, muito mais de que um honrado homem público, estávamos diante de um escritor promissor. O premiado escritor pernambucano, Raimundo Carrero, o utiliza bastante em suas oficinas de escrita criativa. Pelo menos dois livros de Graciliano são dedicados ao ofício de escrever.

Aliás, tudo que se refere a Graciliano Ramos nos interessam bastante. Temos por ele uma grade admiração, seja como escritor, seja como homem público. Quem o leu, sabe do esmero com que ele usa a escrita. Como prefeito, honrou a função como poucos. Um homem com um notável espírito público, na verdadeira acepção da palavra. Jamais admitiu um parente sem o instituto republicano do concurso público e multou o próprio pai, que mantinha animais soltos nas ruas. Um dos primeiros livros que li de Graciliano Ramos foi "Infância", onde há alguns relatos sobre como tomou gosto pela literatura - através de um amigo que abriu sua biblioteca para ele - e as agruras da puberdade, onde era obrigado pelo pai a tomar banho em rios infestados de cobras, aqui em Pernambuco, salvo algum engano, na cidade de Buíque. 

Nos bastidores do "campo literário", para usarmos um conceito do sociólogo francês Pierre Bourdieu, comenta-se que, numa referência jocosa a José Lins do Rego, o velho Graça teria dito: "mas se até José Lins era escritor..." Justamente José Lins, que, na sua posse na Academia Brasileira de Letras, num ato raro, "desancou" o seu antecessor na cadeira, afirmando tratar-se de um "escritor" sem livros. Mas, o que, de fato, nos impressionou nisso tudo - e isso vem sendo trabalhado por Raimundo Carrero, nesta última oficina - é o conjunto da produção de Graciliano Ramos sobre o ato de escrever. Corri para ter acesso às obras Linhas Tortas e Conversas com Graciliano, ambas da editora Record, onde o escritor narra suas impressões sobre o ato de escrever. Há alguns anos atrás, o escritor Raimundo Carrero lançou uma publicação que é uma espécie de reflexão também sobre o ato de escrever. Hoje esse livro estaria esgotado, mas consegui um dos últimos exemplares. Nos tem sido muito útil, sobretudo para aquele "encontro consigo mesmo".

Para aqueles que desejam saber um pouco mais sobre Graciliano, não poderia deixar de recomendar a leitura do livro do professor titular da UFRN, Durval Muniz, um livro hoje clássico, A Invenção do Nordeste e Outras Artes, onde há uma análise especifica sobre a o obra do escritor. Esta análise, por razões históricas e sociológicas - posto que o livro tem objetivos acadêmicos - vai muito além dos aspectos literários que caracterizam a obra do autor de Vidas Secas







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