O
noticiário impresso e televisivo dá conta de uma celebração de acordo
de leniência entre a Construtora Andrade Gutierrez e a Procuradoria Geral da República para o pagamento de uma multa de 1.000.000.000, por
participação fraudulenta nas obras da Copa do Mundo, particularmente na
construção de estádios. A empresa fez o acordo para continuar
participando de processos licitatórios com a União. A questão que fica é
quando a Norberto Odebrecht fará o mesmo, em relação à construção da
Arena Pernambuco, operação fraudulenta já denunciada pela Polícia
Federal, através da Operação "Fair Play". A delação do alto executivo
da Construtora Odebrecht, Marcelo Odebrecht - preso em uma cela no
Paraná - iluminaria muito a forma como foram feitas as diversas
desapropriações de terrenos e imóveis e o privilégio de ter sido a
única empreiteira que abocanhou os bilhões gastos com um monumento à
inutilidade social.
Mas interessante e esclarecedor seria
conhecer os agentes públicos municipais e estaduais envolvidos com a
fraude, na época. Em toda operação fraudulenta (com a venda subavaliada
dos imóveis do Cais Estelita, que produziu um prejuízo de 10.000
milhões de reais aos cofres públicos) há duas pontas: o corruptor e o
corrompido. A prisão e a denúncia daqueles ricos empreiteiros envolvidos
nos escândalos da Operação Lava Jato e de outras grandes obras
públicas no Brasil, deve levar à investigação de que agentes públicos se
beneficiaram desse esquema e da sua responsabilidade criminal e civil.
Isto é tanto mais importante em razão
das sérias e profundas implicações que podem ter para as eleições já do
próximo ano. Alguns desses eventuais implicados, que hoje ocupam funções
públicas, serão candidatos e a apuração célere e oportuna desmascarariam
essas criaturas diante do eleitorado, produzindo uma necessária
depuração do processo político brasileiro. O não esclarecimentos dessas
candentes perguntas e questões só contribuem para a impunidade e a
sensação de que o crime compensa (e muito) se não for descoberto a tempo
e não prescrever; permitindo assim que o meliante faça carreira na vida
pública e escarneça dos ingentes esforços das instituições brasileiras
no sentido de passar a limpo a roubalheira e punir seus responsáveis
exemplarmente.
0 exemplo de banqueiros, empresários, políticos e altos
funcionários públicos sendo presos, investigados e punidos não pode
servir de uma estranha "catarse" para a sanha de vingança da população
brasileira contra os políticos e a política. A execração pública de
algumas notoriedades sociais não deve servir de cortina para a
impunidade de servidores públicos que se encontram, por enquanto, a
salvo dos braços largos da Justiça.
O povo pernambucano aguarda com
ansiedade que esses braços alcancem os criminosos do nosso Estado que,
valendo-se da presunção de inimputabilidade, venderam o que lhe restava
de espírito cívico em troca de uns milhares de reais.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE. |
terça-feira, 1 de dezembro de 2015
Michel Zaidan Filho: Até quando?
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