O cantor,
compositor e sanfoneiro Alcymar Monteiro queixou-se, em carta aberta publicada
pelos jornais, de que o senhor governador do Estado não estava pagando cachês
devidos ao longo da programação de festas durante este ano. Não é a primeira
vez que os artistas contratados pela gestão do PSB põe a boca no trombone,
cobrando dívidas ao governo do Estado por relevantes serviços culturais
prestados ao povo pernambucano. Isso levou a uma crise, na gestão do deputado
Silvio Costa Filho, com denúncias de superfaturamento nas notas fiscais etc.
O sanfoneiro
tem suas razões. Ele vive disso. Tira seus sustento dessas apresentações ao
longo do calendário festivo do Estado. Errada está a política cultural deste
governo em tratar os artistas (e não só os populares) como clientes ou
funcionários da administração estatal, gerando uma relação viciada de troca de
favores que permite, inclusive, não pagar os cachês prometidos por cada
apresentação. O artista, com medo de perder “a boquinha” oficial, fica calado,
arcando com o ônus dessas apresentações.
Mais grave
do que o modelo clientelista de gestão da cultura e da relação com os
produtores culturais (que às vezes se comportam como pedintes e reivindicantes
perante a gestão) é a prioridade do gasto público estabelecida pelo gestor: o
que é prioritário no ordenamento de despesas, pelo governo, no Estado de
Pernambuco? – A saúde? – A educação? – A segurança pública? – O tratamento da
rede de esgotos? - O transporte público?
Ou a folia, a festa, o circo? – Pois é. Para o pagamento da obra faraônica
chamada de “Arena Pernambuco”, não falta nada. Nem um centavo sequer. Pode o
governo nem repassar para os times a receita prometida para compensar as
bilheterias deficitárias e a ausência de público no estádio, mas as parcelas de
empréstimo contraído - através de PPP-
para o pagamento da feitura da obra são religiosamente pagas, sem
atraso, sem mora nem abatimento. É o caso de se perguntar: quem se beneficia
dessa ordem de prioridade do dinheiro público? Quem ganha e quem perde com esse
modelo perdulário e injusto de gestão?
Num momento de
crise, em que se discute inclusive a flexibilização com os gastos obrigatórios
do governo federal com saúde, educação e outras rubricas, o juízo da população
contra esse modelo ruinoso de escassos recursos públicos, não pode ser senão de
repúdio e indignação. A uns, tudo. Ao povo, o circo – sem o pão.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE
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