pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Michel Zaidan Filho: O governador, o mosquito e o impeachment
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sábado, 5 de dezembro de 2015

Michel Zaidan Filho: O governador, o mosquito e o impeachment



 


A   imprensa chapa branca do Estado de Pernambuco (lembrar que o PSB comprou o Diário de Pernambuco) está lançando o nome do senhor Paulo Henrique Saraiva Câmara ao prêmio de “personalidade política do ano”. Se fosse de dono de jardim ou ajardinador de Gabinete, não tenho a menor dúvida de que seria um forte candidato. Mas, convenhamos, “personalidade política do ano”, é um pouco demais. Se estivéssemos na Primeira República e em meio a uma cruzada contra a febre amarela, talvez pudéssemos conferir ao senhor governador o prêmio Oswaldo cruz, em sua batalha encarniçada contra os mosquitos. Mas essa etapa (a” belle époque”) já se foi. O Brasil se civilizou, os turistas continuaram vindo ao nosso belo país, e as epidemias prosperaram. 

Se Oswaldo Cruz pudesse ressuscitar, constataria melancolicamente que a higiene pública fracassou no Brasil, apesar de sua heroica campanha, porque as políticas públicas e as campanhas de profilaxia que deveriam ser patrocinadas pelo Estado e que ganham materialidade através do tratamento de resíduos sólidos jogados nas redes de esgoto urbano, no calçamento das vias públicas, no tratamento da água potável, na educação ambiental, nos lixões e aterros sanitários etc., não são realizadas. Só quando um surto epidêmico desse ou daquele vírus ou bactéria toma as páginas dos jornais e as imagens da TV, corre o responsável pela administração pública para tomar “as devidas providências” de educação sanitária e de combate ao mosquito transmissor. Enquanto isso, as estatísticas da morbidez vão subindo assustadoramente e as campanhas do voluntariado (contra os mosquitos) tomam conta dos meios de comunicação.

Numa típica operação de inversão ou troca de responsabilidades o gestor vira herói e a população é responsabilizada pela propagação do vírus. A vítima torna-se réu, e o réu torna-se o “salvador da pátria”. É o caso de perguntar: qual é a parcela de responsabilidade do Poder Público no alastramento dessa epidemia? – Sobretudo, quando o secretario de Saúde é o Presidente do Conselho Diretor de uma Fundação Privada (o IMIPIP) que vem substituindo o velho e bom SUS na prestação dos serviços de Saúde em Pernambuco? – Os grandes cientistas e pesquisadores dessa fundação privada falam muito, mas ainda não conseguiram indicar conclusivamente as causas virais dessa atual epidemia de microcefalia em nosso Estado (ou seja, a relação do ZICA-VIRUS com a redução do perímetro cerebral dos nascituros e a relação dessa diminuição com a doença propriamente dita). 

Especula-se que estaria relacionada a um viríase chamada “ZICA-VIRUS” transmitida pelo multipropagador de doenças, o mosquito da Dengue! Esse inimigo público (não passível de processo judicial) do governador não é propriamente um desconhecido da população ou das autoridades sanitárias. Pelo contrário. É um velho conhecido que, vai-e-vem, volta a atacar e produzir estragos na população. Ora, qualquer médico sanitarista sabe que grande parte do problema está relacionado com o padrão da intervenção do Estado na criação de infraestrutura urbana adequada para que as condições higiológicas dos cidadãos sejam as melhores possíveis; sem o que correremos atrás dos prejuízos a vida inteira. 

Imagine o cenário de um Estado e uma metrópole, onde essa infraestrutura é extremamente precária, apesar da aglomeração urbana. O fornecimento da água é precário, a rede de esgotos tratados é mínima, como aliás revelou em entrevista ao Diário de Pernambuco a atual diretora da CPRH. A limpeza dos inúmeras canais que cortam o Recife não é feita ou demora muito a ser feita. A coleta e o armazenamento do lixo, deficitária (onde estão os aterros sanitários?). A poluição dos cursos d’água não é fiscalizada nem punida. E o sistema da saúde pública (já parcialmente privatizado) é uma calamidade.

Só com o concurso de uma imprensa sempre disposta a promover as autoridades públicas ao prêmio Nobel de administração, é possível transformar a vítima em réu e o réu em vítima e transferir responsabilidades para as famílias, as comunidades e a sociedade de modo geral.  Talvez a bancada governista pudesse votar – em regime de urgência – uma lei proibindo as mulheres de ficarem grávidas em nosso Estado. Além do controle da natalidade, ajudariam muito ao governador não ter de lidar com o aumento espantoso de casos de microcefalia. Mas aí as Igrejas aliadas do Chefe do Executivo não iriam aprovar.

Enquanto no Brasil inteiro se discute a continuidade ou não do mandato da Presidência da República e suas graves consequências para a sociedade brasileira, em Pernambuco a discussão política é outra: o mosquito da dengue transmite ou não transmite o ZICA-VÍRUS,  a microcefalia é com 33 ou 32 centímetros, o micro cérebro de 32 centímetros é ou não sinal da doença?  E o responsável pela administração pública comanda a população para o combate ao mosquito. Viva Oswaldo Cruz e seus bravos soldados na luta contra as epidemias nacionais. Falta quem queira combater o vírus da incompetência e da demagogia!

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE




6 comentários:

  1. Professor, preciso ainda alertar, que descartar 33cm como doença foi um estratagema político para diminuir as estatísticas sutilmente, da mesma maneira que a redução de evasão escolar no estado deu-se com os coordenadores e professores do Programa Integral recebendo instruções explícitas para transferir os desistentes para o EJA que é mitigado abertamente pelos gestores e pela gerências alcoviteiras. Procurei a Jornalista Azevedo do JC para denunciar esta situação e ela deu ouvido de mercador. Estou ao seu despôr para qualquer artigo sobre o assunto, professor.

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  2. Boa tarde, Nathuza Maria Pereira. Muito pertinente o seu comentário, ao denunciar essa "maquiagem" com as estatísticas, visando ocultar a verdadeira dimensão do problema. Um forte abraço!

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  3. Estamos precisando de levantar realmente esse debate. Acrescento que, em 2011, representantes dessa fundação privada desmantelaram o pouco que ainda existia de Vigilância Ambiental no combate a dengue, e que essa equipe demitida já alertava para a febre Chikungunha e o Zica vírus, já detectados na América Central

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  4. Estamos precisando de levantar realmente esse debate. Acrescento que, em 2011, representantes dessa fundação privada desmantelaram o pouco que ainda existia de Vigilância Ambiental no combate a dengue, e que essa equipe demitida já alertava para a febre Chikungunha e o Zica vírus, já detectados na América Central

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  5. Boa tarde, Paulette.

    Essas suas observações, como alertado no texto do professor Michel Zaidan, corrobora com a tese da responsabilidade das autoridades públicas pernambucanas com o problema.

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  6. Boa tarde, Ana.

    Grato pela leitura e os comentários.

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