A imprensa chapa branca do Estado de
Pernambuco (lembrar que o PSB comprou o Diário
de Pernambuco) está lançando o nome do senhor Paulo Henrique Saraiva Câmara
ao prêmio de “personalidade política do ano”. Se fosse de dono de jardim ou
ajardinador de Gabinete, não tenho a menor dúvida de que seria um forte
candidato. Mas, convenhamos, “personalidade política do ano”, é um pouco demais.
Se estivéssemos na Primeira República e em meio a uma cruzada contra a febre
amarela, talvez pudéssemos conferir ao senhor governador o prêmio Oswaldo cruz, em sua batalha encarniçada contra os
mosquitos. Mas essa etapa (a” belle époque”) já se foi. O
Brasil se civilizou, os turistas continuaram vindo ao nosso belo país, e as
epidemias prosperaram.
Se Oswaldo Cruz pudesse ressuscitar, constataria
melancolicamente que a higiene pública fracassou no Brasil, apesar de sua
heroica campanha, porque as políticas públicas e as campanhas de profilaxia
que deveriam ser patrocinadas pelo Estado e que ganham materialidade através do
tratamento de resíduos sólidos jogados nas redes de esgoto urbano, no
calçamento das vias públicas, no tratamento da água potável, na educação
ambiental, nos lixões e aterros sanitários etc., não são realizadas. Só quando
um surto epidêmico desse ou daquele vírus ou bactéria toma as páginas dos
jornais e as imagens da TV, corre o responsável pela administração pública para
tomar “as devidas providências” de educação sanitária e de combate ao mosquito
transmissor. Enquanto isso, as estatísticas da morbidez vão subindo
assustadoramente e as campanhas do voluntariado (contra os mosquitos) tomam
conta dos meios de comunicação.
Numa típica operação de inversão ou troca de responsabilidades o gestor
vira herói e a população é responsabilizada pela propagação do vírus. A vítima
torna-se réu, e o réu torna-se o “salvador da pátria”. É o caso de perguntar:
qual é a parcela de responsabilidade do Poder Público no alastramento dessa epidemia? – Sobretudo, quando o secretario de Saúde é o Presidente do Conselho
Diretor de uma Fundação Privada (o IMIPIP) que vem substituindo o velho e bom
SUS na prestação dos serviços de Saúde em Pernambuco? – Os grandes cientistas e
pesquisadores dessa fundação privada falam muito, mas ainda não conseguiram
indicar conclusivamente as causas virais dessa atual epidemia de microcefalia
em nosso Estado (ou seja, a relação do ZICA-VIRUS com a redução do perímetro
cerebral dos nascituros e a relação dessa diminuição com a doença propriamente
dita).
Especula-se que estaria relacionada a um viríase chamada “ZICA-VIRUS”
transmitida pelo multipropagador de doenças, o mosquito da Dengue! Esse inimigo
público (não passível de processo judicial) do governador não é propriamente um
desconhecido da população ou das autoridades sanitárias. Pelo contrário. É um
velho conhecido que, vai-e-vem, volta a atacar e produzir estragos na
população. Ora, qualquer médico sanitarista sabe que grande parte do problema
está relacionado com o padrão da intervenção do Estado na criação de
infraestrutura urbana adequada para que as condições higiológicas dos cidadãos
sejam as melhores possíveis; sem o que correremos atrás dos prejuízos a vida
inteira.
Imagine o cenário de um Estado e uma metrópole, onde essa
infraestrutura é extremamente precária, apesar da aglomeração urbana. O
fornecimento da água é precário, a rede de esgotos tratados é mínima, como
aliás revelou em entrevista ao Diário de
Pernambuco a atual diretora da CPRH. A limpeza dos inúmeras canais que
cortam o Recife não é feita ou demora muito a ser feita. A coleta e o
armazenamento do lixo, deficitária (onde estão os aterros sanitários?). A
poluição dos cursos d’água não é fiscalizada nem punida. E o sistema da saúde
pública (já parcialmente privatizado) é uma calamidade.
Só com o
concurso de uma imprensa sempre disposta a promover as autoridades públicas ao
prêmio Nobel de administração, é possível transformar a vítima em réu e o réu
em vítima e transferir responsabilidades para as famílias, as comunidades e a
sociedade de modo geral. Talvez a
bancada governista pudesse votar – em regime de urgência – uma lei proibindo as
mulheres de ficarem grávidas em nosso Estado. Além do controle da natalidade,
ajudariam muito ao governador não ter de lidar com o aumento espantoso de casos
de microcefalia. Mas aí as Igrejas aliadas do Chefe do Executivo não iriam
aprovar.
Enquanto no
Brasil inteiro se discute a continuidade ou não do mandato da Presidência da
República e suas graves consequências para a sociedade brasileira, em
Pernambuco a discussão política é outra: o mosquito da dengue transmite ou não
transmite o ZICA-VÍRUS, a microcefalia é
com 33 ou 32 centímetros, o micro cérebro de 32 centímetros é ou não sinal da
doença? E o responsável pela
administração pública comanda a população para o combate ao mosquito. Viva
Oswaldo Cruz e seus bravos soldados na luta contra as epidemias nacionais.
Falta quem queira combater o vírus da incompetência e da demagogia!
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE
Professor, preciso ainda alertar, que descartar 33cm como doença foi um estratagema político para diminuir as estatísticas sutilmente, da mesma maneira que a redução de evasão escolar no estado deu-se com os coordenadores e professores do Programa Integral recebendo instruções explícitas para transferir os desistentes para o EJA que é mitigado abertamente pelos gestores e pela gerências alcoviteiras. Procurei a Jornalista Azevedo do JC para denunciar esta situação e ela deu ouvido de mercador. Estou ao seu despôr para qualquer artigo sobre o assunto, professor.
ResponderExcluirBoa tarde, Nathuza Maria Pereira. Muito pertinente o seu comentário, ao denunciar essa "maquiagem" com as estatísticas, visando ocultar a verdadeira dimensão do problema. Um forte abraço!
ResponderExcluirEstamos precisando de levantar realmente esse debate. Acrescento que, em 2011, representantes dessa fundação privada desmantelaram o pouco que ainda existia de Vigilância Ambiental no combate a dengue, e que essa equipe demitida já alertava para a febre Chikungunha e o Zica vírus, já detectados na América Central
ResponderExcluirEstamos precisando de levantar realmente esse debate. Acrescento que, em 2011, representantes dessa fundação privada desmantelaram o pouco que ainda existia de Vigilância Ambiental no combate a dengue, e que essa equipe demitida já alertava para a febre Chikungunha e o Zica vírus, já detectados na América Central
ResponderExcluirBoa tarde, Paulette.
ResponderExcluirEssas suas observações, como alertado no texto do professor Michel Zaidan, corrobora com a tese da responsabilidade das autoridades públicas pernambucanas com o problema.
Boa tarde, Ana.
ResponderExcluirGrato pela leitura e os comentários.