Quem ainda não leu, aconselho a leitura do artigo do professor Durval Muniz de Albuquerque, aqui publicado, onde ele faz uma análise da intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro, não sem antes, na condição de historiador, tecer bem traçadas linhas sobre a formação e a caracterização da cidade maravilhosa, que deverá continuar maravilhosa, apesar dos transtornos dos tanques, vampiros e gatos angorás. A população, em razão do pânico disseminado pela mídia - convém sempre observar que as ocorrências policiais deste carnaval no Rio de Janeiro não foram diferentes de outros carnavais - pode até demonstrar uma boa receptividade em relação às ações das Forças Armadas no Estado, mas, até mesmo entre a alta patente militar há atores profundamente preocupados com a sua eficácia, resultados ou uso político, seja por uma possível motivação eleitoreira, seja pela ausência de planejamento, seja pela insegurança jurídica, seja pela absoluta ausência de fonte de recursos. Meirelles chegou a sugerir um "remanejamento" dentro do próprio orçamento previsto para as Forças Armadas, o que se constitui num insulto, posto que o orçamento já está bastante contingenciado.
Neste mesmo artigo, o professor Durval Muniz menciona uma intervenção militar ocorrida, em período relativamente recente, no seu Estado natal, o Rio Grande do Norte. O resultado foi desastroso e num único final de semana foram registrados 25 homicídios, mesmo com a presença dos militares. Setores do próprio estamento militar reconhecem a ineficácia de se colocar o Exército para realizar o trabalho de polícia. O atenuante, neste caso do Rio de Janeiro, é que as Forças Armadas e as polícias militar e civil atuarão em conjunto. Mesmo assim, em razão da precariedade instaurada nas polícias cariocas, não seria surpresa se o Exército precisasse sujar as mãos. Um outro problema gravíssimo seria o da infiltração do crime organizado no aparato das forças armadas - como já ocorre em relação à polícia militar e civil. Os indícios ainda são incipientes, mas preocupam. Um soldado foi preso ao antecipar para os traficantes operações militares num determinado morro. Um sargento do Exército foi detido com um forte carregamento de armas e munições, possivelmente para os chefes do tráfico. Os indícios são pequenos, mas crime organizado é crime organizado, não custa lembrar.
O grande problema que se coloca neste momento é sobre como será mantida essa pirotecnia política, criada de forma atabalhoada, sem qualquer planejamento, sem previsão orçamentária e sem unanimidade nos altos coturnos da caserna, que também temem uma exposição demasiada, para atender interesses de grupos, sem resultados concretos da ação dos militares, posto que comprometida pelos fatores citados acima. O comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, lembrou, inclusive, o período em que o Exército ocupou o Complexo de Favelas da Maré e, quando saíram de lá, tudo voltou ao "normal". É curioso observar como no alto comando das Forças Armadas parece existir um consenso sobre o desvio de finalidades desta intervenção, o que reforça a tese de que uma indesejável aventura golpista militar, desta vez, se vier a ocorrer (vão batendo na madeira aí, gente), iria procurar um testa de ferro civil, como, aliás, de acordo com o jornalista Luis Nassif ele já existe, atende pelo nome de Michel Temer, ainda segundo Nassif, comandado pelo Ministro-Chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Sérgio Egtchegoyen. Há quem sugira que ele poderia estar interessado em manter-se à frente do cargo, sendo a intervenção uma forma de capitalizar o apoio e o respeito que as Forças Armadas ainda goza entre os brasileiros.
A charge que ilustre este editorial é do Renato Aroeira.
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