José Luiz Gomes da Silva
Cientista Político
Cientista Político
No momento, a candidatura do apresentador Luciano Huck voltou a ser estimulada por ninguém menos do que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A surpresa se dá, sobretudo, por tratar-se do grão-mestre tucano, atitude que tem provocado uma chiadeira geral dos partidários do governador Geraldo Alckmin(PSDB), provável candidato do partido nas próximas eleições presidenciais. Como tudo que envolve FHC, ele costuma "teorizar" sobre tal candidatura, considerando-a importante para dar uma espécie de "sacudidela" no processo político brasileiro. Huck, que já havia arrefecido da ideia, voltou a conversar sobre o assunto. Até o Planalto, que anda às turras com Geraldo Alckmin e Rodrigo Maia(DEM) acaba jogando com tais "incentivos" ao apresentador, mas sempre como uma forma de mostrar sua musculatura política aos adversários ou aliados nem tão aliados assim.
No espectro conservador, portanto, nada está assim muito definido. O meio de campo está embolado, com uma penca de candidaturas que, até o momento, ainda não caíram nas graças do establishmen. Há até um ex-presidente alagoano no páreo. Quem ainda lidera esse esquadrão é o ex-militar, Jair Bolsonaro(PSP), mas, além de não oferecer as credenciais de confiança ao mercado, as pesquisas de intenção de voto parecem indicar que ele já teria chegado ao teto, ali pelos 16%, que deve ser a síntese do conjunto de forças que ao apoiam. A irmã Marina, desde as eleições presidenciais passadas, ainda não consegue responder se é contra ou a favor do aborto, tampouco se manteria a laicidade do ensino público.
Antecipo minhas sinceras preocupações com o processo político brasileiro. É neste contexto que sou pessimista em relação à possibilidade de elegermos um candidato com uma plataforma política vinculada ao atendimento das demandas da maioria. O momento é mesmo favorável à eleição de um nome das hostes conservadora. O maior capital político das massas empobrecidas do país deverá está fora do páreo, quem sabe preso, no curso das condenações da Operação Lava Jato. Mas, além de passarmos nosso recado, precisamos nos preparar para a retomada da democracia brasileira, mesmo conhecendo suas insuficiências. Como observou o editorialista do Le Monde Diplomatique, Sílvio Caccia Bava, algumas batalhas estão irremediavelmente perdidas, não sendo mais possível chorar sobre o leite derramado. Os golpistas de 2016 avançaram perigosamente sobre o edifício das instituições democráticas do país, submetendo-as aos seus vis interesses, consoante as determinações da "banca".
Mas, como disse, além de encontrarmos os mecanismos corretos sobre como deveremos enfrentar esse retrocesso político, as forças progressistas e populares precisam passar sua mensagem para os eleitores, mesmo num quadro politico adverso. É neste contexto que vejo com otimismo a possibilidade de uma candidatura como a do líder do MTST, Guilherme Boulos. Ele é jovem, tem apenas 35 anos, preparado e uma das maiores lideranças políticas surgidas no país nos últimos anos. Com a ausência de nomes como o de Lula no pleito, ele preenche um vazio de candidatura organicamente vinculado aos setores populares, da maioria do povo brasileiro. Boulos ainda enfrenta resistências dentro do próprio PSOL, o que não surpreende ninguém, dada as divisões internas dos grêmios partidários de esquerda no Brasil. Os petistas, naturalmente, em razão de ainda acreditarem na possibilidade de uma candidatura de Lula, também não veem com bons olhos essas movimentações.
Boulos é filósofo, psicanalista, escritor e um cara de boa estirpe. Autêntico. Num dos seus últimos artigos, publicados pela revista Carta Capital, ao comentar a fala da Presidente do Supremo Tribunal Federal, a ministra Cármen Lúcia - que havia dito que o STF não poderia se apequenar - observou que a Corte Suprema já havia se apequenado, ao permitir os abusos da Operação da Lava Jato e o impeachment da presidente Dilma Rousseff(PT). O PT tornou-se um partido político curioso. Celebra alianças políticas por todo o Brasil com o algozes da presidente Dilma e, ao mesmo tempo, sugere embaraços para uma candidatura com o perfil de Guilherme Boulos. Sugeria-se raciocínios semelhantes em eleições passadas, ou seja, a tese da divisão do campo de esquerda. Hoje se sabe, com clareza, que, se Brizola chegasse lá teria realizado a democratização dos meios de comunicação de massa, o que o PT, infelizmente, não fez.
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