José Luiz Gomes da Silva
Cientista Político
Cientista Político
De acordo com declarações da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, não há plano "B" no PT. Ou, em última análise, o plano "B" do PT é o próprio Lula. No partido ocorre algumas coisas curiosas. Até bem pouco tempo, o próprio Lula, antevendo o desgaste e a inviabilidade do seu projeto político, estimulava uma provável candidatura presidencial do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad(PT), que nunca decolou em nenhuma pesquisa de intenção de voto, embora fosse prematura tirar daí alguma conclusão sobre o seu desempenho futuro, até porque Haddad é pouco conhecido no principal reduto eleitoral petista, a região Nordeste do país. Estimulado pela militância depois das refregas jurídicas, o próprio Lula parece ter abdicado sobre a necessidade construir uma alternativa política no seu partido, mesmo sabendo da inviabilidade de sua candidatura no atual contexto. É refrega jurídica sobre refrega jurídica. O discurso de Luiz Fux, ao assumir o TSE, em alguns trechos, responde àqueles que ainda alimentavam alguma ilusão sobre uma eventual candidatura presidencial do ex-presidente.
Assim, conforme observou o editor do jornal Le Monde Diplomatique, Sílvio Caccia Bava, é preciso ponderar, avaliar concretamente a correlação de forças e encontrar as formas de enfrentamento mais adequadas. Algumas alternativas estão irremediavelmente perdidas, como, por exemplo, a possibilidade de eleição de um candidato com perfil popular nas eleições presidenciais de 2018. Hoje alguns petistas mais sensatos já trabalham com a possibilidade de a figura do ex-presidente constituir-se num cabo eleitoral capaz de eleger uma boa bancada de deputados para a Câmara Federal e nos Estados. A direita saiu do armário e organizou-se de uma tal forma que passou a conquistar corações e mentes, através de um ousado projeto de comunicação, através das mídias sociais e da imprensa mais tradicional. Isso depois de desmantelar e controlar os três poderes, colocando-os a serviço da consecução de seus objetivos, como observa Sílvio. Hoje ninguém tem dúvida sobre o papel cumprido pelo judiciário nessa engrenagem.
Não é assim tão simples sair dessa ressaca em que as forças populares e progressistas foram submetidas após o golpe institucional de 2016. Há boas iniciativas em curso - como os novos movimentos sociais - mas tudo ainda muito incipiente, ainda insuficientes para abalar os alicerces golpistas, que corroeram como lagartas as nossas instituições democráticas. É neste arremedo de democracia representativa que serão realizadas as eleições presidenciais de 2018, sob um controle rígido dos operadores golpistas, com o propósito de não permitir que o trem volte ao trilho da democracia popular, mantendo a hegemonia da elite sobre as massas. No dia de ontem, em declarações confusas, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso chegou a afirmar que seria bem-vinda uma candidatura como a do apresentador Luciano Huck. Integrando um partido como o PSDB, não seria de todo complexo entender esse seu discurso. Ele também chegou a insinuar que Lula não poderia participar das eleições, embora fosse desejável. Afinal o PSDB esteve na linha de frente de apoio às tessituras golpistas de 2016.
Acabamos de publicar por aqui um editorial onde comentamos uma fala do ex-ministro Geddel Vieira Lima, onde ele lamenta o fato de ter sido atirado ao vale dos leprosos, dada a recusa dos ex-amigos em procurá-lo. Depois dos 70 e diante de tantas refregas não é possível que Lula não acuse o golpe, ou seja, não apresente alguma sintomatologia dessas injunções e condenações que já pesam contra ele. Nós sabemos muito bem o que isso significa. Seria de bom alvitre que as pessoas mais sensatas do partido o convencesse a retirar o time de campo nesse momento e recompor as energias para os enfrentamentos que nos esperam mais à frente. Algumas batalhas estão irremediavelmente perdidas, como a possibilidade da eleição de um líder popular nessas eleições. Já há cientistas políticos prevendo uma nova subida vertiginosa nas pesquisas de ninguém menos que o ex-presidente Fernando Collor de Mello, de triste memória. Já pensaram?
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