José Luiz Gomes da Silva
Cientista Político
Possuímos algumas amarras forjadas pela moral cristão e pela ética que, não raro, esbarra em dificuldades de assimilar alguns fatos conduzidos pela realpolitik. São duas misturas que não se coadunam, conforme ensinava o mestre florentino Nicolau Bernardo Maquiavel. Não vejo com bons olhos, por exemplo, o ex-presidente Lula ter acenada positivamente para praticamente todas as forças políticas aqui do Estado. Isso talvez se explique pela situação do cenário local - um pouco indefinido ainda - e pela política de boa vizinhança do líder petista, com o propósito de não interditar possíveis negociações em curso, tampouco afugentar os aliados de ocasião, hoje já com assento no palanque do presidente Michel Temer(PMDB), como é o caso do ex-senador Armando Monteiro(PTB), que, apesar de ministro da ex-presidente Dilma Rousseff, endossa críticas ao Governo do PT e aparenta, a cada dia, maior afinidade com o Governo Michel Temer(PMDB). A última dele foi tecer considerações positivas ao programa de privatizações da área de energia, que inclui a CHESF - Companhia Hidroelétrica do São Francisco - que mobiliza pernambucanos em sua defesa.
Mas, a rigor, Lula sempre foi muito pragmático. Desde os tempos das lutas do ABC que ele já informava aos companheiros que "não importa a cor do voto, se ele cai na urna". A diplomacia lulista já produziu alguns efeitos. Nas hostes socialistas, aliada a outras falas e acenos do ex-presidente, já se tem como clara a sinalização de uma possível aliança entre petistas e socialistas no Estado. O prefeito do Recife, Geraldo Júlio(PSB), assim como o senador Humberto Costa parecem ter combinado a narrativa discursiva, uma vez que enfatizam a afinidades entre os dois grêmios e apontam um inimigo comum: aqueles que, no Estado, se identificam com o legado do presidente Michel Temer(PMDB) e que, no passado, se contrapunham ao ex-governador Miguel Arraes, que soa como um tapinha nas costas dos socialistas históricos. Por outro lado, um arquiinimigo do PT, o Deputado Federal Jarbas Vasconcelos, do PMDB, que num passado recente chegou a afirmar que se o PT entrasse no projeto de reeleição de Paulo Câmara(PSB) ele sairia, hoje não apenas ratifica esta opinião, como chegou a tecer elogios ao ex-prefeito João Paulo, que está sendo cogitado a compor a chapa palaciana.
Mesmo diante da quase certa impossibilidade de participar das próximas eleições na condição de candidato, o que se sabe é que, ainda assim, Lula seria um grande cabo eleitoral, principalmente em algumas regiões do país. O Nordeste, tradicional reduto eleitoral petista, é uma delas. Dados da última pesquisa do Instituto Datafolha indicam que aumentou o número de brasileiros dispostos a votar num candidato com o seu apoio. Diante das adversidades enfrentados pelo Governo Paulo Câmara, esse trunfo parece nada desprezível. Alguns equívocos governistas e uma série de circunstâncias políticas fortaleceram bastante o palanque da oposição aqui no Estado. Eles já tem um grande encontro marcado para o dia 03 de março, em Caruaru, onde pretendem afinar a orquestra, quem sabe, já sob a batuta de um maestro, ou seja, aquele nome que deverá candidatar-se ao Palácio do Campo das Princesas.
Todos os grandes analistas políticos já afirmaram que teremos eleições atípicas no próximo ano. Tudo pode acontecer, inclusive nada, com a devida licença poética. Serão eleições realizadas sob a égide de um golpe de Estado, para começo de conversa. Estamos sob o arremedo de uma democracia representativa capenga, que não engana mais ninguém. As pesquisas apontam que, sem a presença de Lula - e talvez mesmo com ele no páreo - teremos números recordes de votos brancos e nulos. Até o momento, 36% do eleitorado não demonstra qualquer inclinação de voto. O quadro é tão caótico que até figuras como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso - o príncipe dos sociólogos brasileiros - estimula sistematicamente candidaturas como a do apresentador Luciano Huck, sendo acusado de alta traição dentro do ninho tucano, notadamente entre os partidários de Geraldo Alckmin(PSDB). Acabei de ler um artigo, imaginem os senhores, onde um cientista político enumera todas as possibilidades de um Fernando Collor de Mello, mais uma vez, despontar como franco favorito neste pleito, angariando o apoio do stablishment. Como disse, tudo é possível, inclusive nada. O PT tornar-se um partido catch all também mais surpreende. Os amigos de hoje, num passado não muito distante, bradavam pelo impeachment da companheira Dilma Rousseff(PT). É a realpolitik maquiavelina, amig@.
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