pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Michel Zaidan Filho: Aventureiro por vocação
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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Michel Zaidan Filho: Aventureiro por vocação


 




Como se descreve o perfil de uma pessoa aventureira? – No geral, é aquela que não tendo nada a perder, se mete nas empreitadas mais arriscadas que se lhe apresentam pela frente. Quando não se dispõe de nenhuma qualificação profissional institucionalizada ou não, o aventureiro não tem nada a perder; mas tem algo a ganhar. Não hesita diante de cargos, mandatos, nomeações, prebendas etc. O que vier, será lucro, já que não desperta expectativas nas pessoas de que seja capaz de fazer alguma coisa. Há muita gente assim, na política. No Brasil, basta ter a capacidade de adulação, ser “um bom operador” e aventureiro, para virar ministro, secretário, deputado ou senador. Em Pernambuco, temos um modelo acabado de um aventureiro na política. Aquele tipo que não tendo nada a perder, tem a tudo a ganhar quando se oferece para missões controversas ou discutíveis.

Esse é o caso de um suplente de vereador, suplente de deputado federal, que virou ministro, ajudando a patrocinar o golpe parlamentar contra a Presidente Dilma, juntamente com outros colegas de seu Estado. A ocupação do Ministério da Defesa por civis, desde a época do ex-presidente FHC nunca passou de mera formalidade, já que os ministros militares continuaram em seus cargos. A pretendida unificação de comando das três forças através de um ministro civil, nunca funcionou. Para um estudioso das relações civil-militar no Brasil, os ocupantes da pasta não passaram de “office-boy” das tropas, na busca de reivindicações corporativas ou profissionais. Naturalmente, um espírito aventureiro disposto a ocupar a vaga, mesmo sem o poder, se conformaria perfeitamente com o teatro ou a espetacularização da função.


Pior: no âmbito de um governo ilegítimo, arbitrário e impopular, seria uma espécie de “pau para toda obra”, menos para as funções constitucionais de sua pasta. Foi o que aconteceu. As Forças Armadas foram instrumentalizadas para combater a população civil (das comunidades carentes) do Rio de Janeiro, sob o pretexto de guerra ao tráfico e a violência. Isto num claro contexto de desgaste político do atual governo, depois do fiasco da reforma da previdência. Mas o aventureiro existe para isso mesmo. Prestar-se-ia (olha a mesócles do temeroso) a fazer o trabalho incômodo de autorizar uma intervenção militar, comandada por um general do Exército, no Estado do Rio de Janeiro, que – aliás – está acéfalo. Pirotecnia cujos resultados nefastos não demoram a se apresentar, manchando a imagem dos militares brasileiros.

Mas o aventureiro foi além. Deixou a intervenção nas mãos do Exército e se meteu numa tarefa equívoca, eleitoreira e arriscada. Resolveu se tornar ministro da....Segurança Pública! Ao invés de caminharmos para uma desmilitarização do aparelho policial, elaborando um conceito amplo de “crime” e “marginalidade” como metáfora social – num país de precária institucionalidade democrática e profunda desigualdade social, demos passos largos em direção a criminalização e a repressão policial à desordem social, como se isso fosse resolver os problemas do país. Como disse um sociólogo brasileiro, o fenômeno da violência urbana é muito complexo e possui muitas causas. Reduzir a sua essência à pura e simples criminalidade (ou a um instinto maléfico, como queria Lombroso) é um enorme e perigoso equívoco.
 
A população carcerária do Brasil chega hoje a 600.000 presos, em condições absolutamente desumanas. Não existe a palavra “ressocialização”. O que há é uma tendência ao aprisionamento dos pobres e miseráveis. A rede criminosa começa pelo alto, pelo principal mandante do país e vai se espalhando pelas casas legislativas e até no Judiciário. Nomear um super-xerife para dar conta desse fenômeno, se não é uma mero “simulacro” de uma política nacional de Segurança Pública, destinado a produzir efeitos positivos na opinião pública desavisada em relação à imagem do governo, é dar início a uma guerra civil declarada, nas grandes e médias cidades, onde os mortos são sempre civis, crianças, velhos, pobres e negros que habitam as periferias dos aglomerados urbanos.

Mais ainda, tendo como responsável uma pessoa despreparada e desabilitada para a tarefa. O homem-Bombril, de múltiplas utilidades, que vem do governo de FHC e agora do temeroso gestor, mal concluiu o curso de Psicologia, como pode dar conta da complexidade da violência urbana nos grandes e médios centros urbanos? – Para um antigo membro do Conselho Penitenciário Nacional, a violência e o crime devem ser vistos a partir de um enfoque multidimensional, não apenas da perspectiva da polícia. Menos ainda do ponto de vista de um “operador” que pretende entender de tudo, embora não tenha se aplicado a estudar nada. É semelhante aos políticos do DEM, quando se agarram com a pasta da educação. Mera politicagem. Não entendem do assunto e usam eleitoralmente as secretarias e o próprio Ministério para angariar votos e adeptos.

Imagine o que venha ser transformar a questão da violência e do crime, ao arrepio da comunidade dos estudiosos do tema, em simples peça do jogo político e eleitoral que se avizinha, cortejando o medo das classes médias brasileiras?

Aventura perigosa, onde todos morrem no final.
 
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE

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