José Luiz Gomes da Silva
Cientista Político
Sempre que questionado sobre a sua incapacidade de decolar nas pesquisas de intenção de voto divulgadas até o momento, o tucano Geraldo Alckmin(PSDB), eventual candidato à Presidência da República nas próximas eleições, observa que talvez seja cedo para diagnosticar alguma tendência mais consolidada entre o eleitorado. A estratégia discursiva do governador paulista encontra ressonância pelo menos num ponto: o absoluto desencanto do eleitorado com o processo eleitoral - conforme comentamos no dia de ontem em editorial - que aponta o índice de 36% de possíveis indecisões e votos brancos e nulos. Por outro lado, é bom que se diga, ele, Alckmin, parece não se enquadrar naquele perfil de candidato que, quem sabe, pudesse reverter esses números. Na realidade, estamos órfãos de candidaturas que inspirem algum grau de confiança entre os eleitores brasileiros. Até mesmo os beligerantes e aventureiros - que poderiam vir a ocupar este vácuo - aparecem "estacionados", o que não é de todo ruim para a saúde de nossa frágil democracia.
Em todo o caso, na condição de eterno candidato presidencial tucano, Geraldo Alckmin se movimenta no tabuleiro, enfrentando tormentas externas e internas, como uma disputa dentro do próprio ninho com o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio. Como candidato, não se pode dizer que Geraldo Alckmin negligenciou sobre a necessidade de capitalizar-se eleitoralmente para a disputa. Nas últimas eleições municipais, por exemplo, construiu uma espécie de cinturão eleitoral paulista, ou seja, forjou alianças importantes em cidades com mais de um milhão de eleitores, um cacife nada desprezível para alguém com suas pretensões. Fez barba, cabelo e bigode, elegendo, inclusive o afilhado João Dória Jr(PSDB), cuja gestão não tem sido muito bem avaliada pelos paulistanos. Dória esboçou uma rebeldia, mas tudo indica que as coisas se acalmaram entre ambos. O noviço parece ter entendido que precisa comer muita poeira pela frente, antes projetar-se nacionalmente.
Como se sabe, já faz algum tempo que tucanos e pombas socialistas dividem o mesmo ninho no maior Estado do país. Um dos maiores entusiastas dessa aliança foi o ex-governador Eduardo Campos(PSB), falecido num acidente aéreo. Um dos projetos prioritários dos socialista é o de fazer do atual vice-governador, Márcio França(PSB), o candidato ao Governo de São Paulo, com o apoio do tucanato. Trata-se de uma negociação bastante complicada, uma vez que o PSB, no plano nacional, desembarcou do Governo Michel Temer(PMDB) e esboça uma volta às origens, ou seja, flerta com o seu passado socialista. Um outro grande problema é convencer os tucanos a abdicarem da cabeça de chapa, uma hegemonia mantida há décadas. França foi um dos maiores articuladores políticos do projeto que elegeu João Dória prefeito, mas, dizem, o riquinho também desejaria disputar o cargo de governador, constituindo-se em mais um obstáculos.
Tucanos mais fiéis ao governador Geraldo Alckmin já admitem uma negociação no sentido viabilizar o projeto socialista no Estado. Seus estrategistas partem do pressuposto de que convém avaliar corretamente a situação do eleitorado da região Nordeste, um reduto tradicionalmente petista. Em troca, os tucanos advogam o apoio dos socialistas em algumas praças da região, notadamente em Pernambuco, onde a situação entre os dois partidos é uma das mais complicadas. Em política se consegue dar nó em pingo d'água, mas uma reaproximação entre tucanos e socialistas no Estado é apresentada como uma missão impossível. Ele nega veementemente, mas passou a ser especulada a possibilidade de Márcio França crescer o bico, ou seja, torna-se tucano. Não é improvável. É a lei da sobrevivência das espécies políticas. Se lhe for assegurada a vaga com a migração, é possível que ele tope.
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