José Luiz Gomes escreve:
Este segundo artigo sobre as eleições estaduais de outubro, em Pernambuco, admitimos, acaba, de alguma forma, levantando uma discussão já apontada no primeiro artigo, ou seja, qual a real capacidade de transferência de voto do petista Luiz Inácio Lula da Silva para o candidato socialista, o Deputado Federal Danilo Cabral(PSB-PE). A rigor, ainda não temos este dado, embora a aposta dos socialistas seja imensa em torno deste assunto, se considerarmos o desgaste da gestão depois de ocuparem o Palácio do Campo das Princesas por 16 anos. Há uma fadiga de materia; a avaliação do Governo Paulo Câmara(PSB-PE) não é das melhores e há muita insatisfação nas bases interioranas do partido, evidenciada através de inúmeras defecções e debandadas já observadas.
A posição do ex-presidente Lula nas pesquisas de intenção de voto aqui no Estado de Pernambuco é bastante confortável, de acordo com um levantamento realizado pela Empresa de Pesquisas Técnicas, Científicas e de Mercado LTDA(EMPETEC),divulgado pelo jornal Diário de Pernambuco, contratante da mesma. Ele atinge um índice de 62,6% das intenções de voto, abrindo uma diferença enorme em relação ao seu principal oponente, Jair Bolsonaro(PL), que crava 16,5%. Lula, portanto, aqui em Pernambuco, tem mais que o triplo do seu principal adversário na corrida pela Presidência da República.
Os bolsonaristas, naturalmente, contestam esses números, mas não vamos aqui abrir uma avenida de polêmicas em torno deste assunto, porque, como disse antes, estamos vivendo um momento onde a bílis substituiu o argumento e já não existem a verdade e a mentira - como nos nossos bons tempos de infância - mas sim uma narrativa construída e eficientemente divulgada, como é o caso das fake news, neste momento de pós-verdade, assunto abordado pelo professor Michel Zaidan Filho em artigo recente, publicado nas redes sociais. Uma mentira, suficientemente bem trabalhada, torna-se uma verdade "absoluta". Com o uso das ferramentas hoje disponíveis, ela talvez nem precisa ser repetida mil vezes, como recomendava Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda Nazista de Hitler.
Não se trata aqui de má vontade ou de uma torcida do contra, mas, diante dos fatos, o PSB terá enormes dificuldades em fazer o sucessor do governador Paulo Câmara(PSB-PE), correndo um sério risco de perder o controle de um dos seus redutos mais emblemáticos, com forte influência sobre o conjunto nacional da legenda. Corremos o risco de ficarmos nos repetindo aqui, ao apontarmos as causas pelas quais essas dificuldades se mostram evidentes. Ocorre, porém, que faz algum tempo que só há notícias ruins para os socialistas. Agora mesmo tomamos conhecimento de que o Estado lidera o ranking nacional de fechamento de empresas, quebradeira que contou com o reforço dos lockdowns determinados durante a pandemia da Covid-19.
Aqui fazemos a ressalva de que fomos a favor dos lockdowns, certamente adotados como medida preventiva no que concerne ao avanço da pandemia. Prudentes as medidas adotadas pelo Governo do Estado, que, aliás, ressaltamos, como um dos melhores gestores da crise sanitária no país. Este que seria um dos vértices mais importantes de um projeto sucessório - conforme observou o cientista político Antonio Lavareda - aliado a avaliação do gestor e a condução da economia, pelo andar da carruagem política, não irá trazer dividendos eleitorais, se considerarmos, por exemplo, o que está ocorrendo no Estado de Saõ Paulo com o governador João Dória(PSDB-SP), que não consegue deslanchar embora a população reconheça seus méritos no enfrentamento da pandemia.
Embora Paulo Câmara não seja o candidato, é o PSB que estará pedindo aos eleitores para permanecer mais 04 anos à frente do Palácio do Campo das Princesas. Um analista político outro dia escreveu que o PSB “sabia ganhar eleições”. Não duvidamos dessa espertise, mas os tempos são outros. Não sei se seria o caso de ressuscitar o defunto para carregar o andor, como sugere um dos primeiros pronunciamento públicos do candidato Danilo Cabral. A referência aqui, naturalmente, é em relação ao ex-governador Eduardo Campos. Sua orfandade foi importante para eleger Paulo Câmara, num momento em que o eleitorado passava por uma profunda comoção depois de sua trágica morte. Isso, hoje, já não se aplica mais. Uma outra questão seria a capacidade de Lula transferir votos para o candidato Danilo Cabral. Eis aqui um tema para ser analisado com muito cuidado. Na região Nordeste, de fato, Lula é um grende puxador de votos, mas seria complicado apostar todas as fichas nessa relação assim tão orgânica.
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P.S.: Contexto Político: Esta questão da capacidade de transferência de voto de Lula para o candidato do PSB ainda não foi explorada por nenhuma pesquisa aqui no Estado. Fica a dica. Em São Paulo, a aliança de Lula com o Geraldo Alckmin - além de credenciar Lula na Faria Lima - cumpre uma outra função fundamental, ou seja, é certo que o ex-tucano poderá dar uma enorme contribuição ao projeto de fazer de Fernando Haddad(PT-SP) governador do Estado. Um outro fato curioso é que o candidato do Planalto naquele Estado, o ex-ministro da infraestrutura, Tarcísio de Freitas, avança como um trator em redutos do interior paulista, trazendo enormes preocupação aos demais postulantes. Um detalhe: As pesquisas já demonstraram que o presidente Jair Bolsonaro constitui-se num grande puxador de votos para o amigo e ex-ministro. Como seria aqui em Pernambuco?
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