pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Crônicas do Cotidiano: Gilberto Freyre entre cocadas, alfenins, tapiocas e cuscuz com mel de engenho.
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quinta-feira, 21 de abril de 2022

Crônicas do Cotidiano: Gilberto Freyre entre cocadas, alfenins, tapiocas e cuscuz com mel de engenho.


José Luiz Gomes


Não conhecíamos o José Lins do Rego ensaísta. Mas, até projetar-se nacionalmente como romancista, o escritor paraibano escreveu inúmeros ensaios, inclusive com temas envolvendo a literatura, de onde se conclui que ele leu e estudou bastante o assunto antes de iniciar sua carreira literária. Agora se explica a densidade de suas posições críticas no discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, de uma acuidade impressionante sobre o estilo dos autores citados. Como se sabe, ele foi cruel com o seu antecessor na cadeira que iria ocupar, contingenciando a ABL a proibir tais "saudações" desde então.Esses ensaios estão reunidos no livro Dias Idos e Vividos, prublicados pela editora Nova Fronteira, nossa leitura durante esse feriado de Páscoa. 

Assim que retornou de sua temporada de estudos em universidades americanas, o escritor Gilberto Freyre, depois de proferir uma palestra de cunho regionalista no Colégio Americano Batista, preparou as malas e seguiu para uma espécie de "viagem da saudade" pelos engenhos da família de José Lins do Rego, em terras da Paraíba. Numa outra crônica, discutimos alguns aspectos dessa viagem, enfatizando a sua retomada ao cotidiano da vida dos engenhos de açúcar do século XVI, andando livre pelos partidos de cana; repousando sobre os cheirosos Jequitibás em floração; batizando-se nos banhos de açude; saboreando as cocadas, alfenins, tapiocas recheadas com coco, o cuscuz com mel de engenho e cafés coados, preparados em fogão de lenha, com o esmero de zelosas mucamas. 

Se considerarmos a sua monótona vida de estudos nos Estados Unidos, esta viagem da saudade pode, com certeza, ser identificada como um dos melhores momentos da vida do autor de Casa Grande & Senzala, Maria  Lúcia Garcia Pallares-Burke. Isso nos remete a um personagem de um dos romances de Zé Lins, Doidinho, que morria de tédio no internato e recordava sempre dos bons momentos de sua infância, vividos no Engenho Santa Rosa. Fugiu do internato e chegou ao Santa Rosa bem no período da revoada das tanajuras. Vocês conseguem imaginar o deslumbramento? 

Aproveitando a oportunidade, o cicerone José Lins do Rego levou o jovem escritor para conhecer os recantos bucólicos da nossa velha Joao Pessoa. Depois de conhecer os inúmeros monumentos dedicados à personalidades locais e nacionais, Gilberto quis saber se não haveria nenhum deles dedicado ao poeta Augusto dos Anjos. Acabaram encontrando uma rua - que mais se assemelhavam a um beco - num local esmo. Com uma vocação bem maior para a literatura do que para a pesquisa cientítica, Gilberto estudou em profundidade a obra de alguns poetas e escritores, tornando-se uma pessoa bastante exigente neste campo. Na poesia brasileira, naquele momento específico, abria apenas duas exceções: Augusto dos Anjos e o pernambucano Manuel Bandeira, de quem se tornaria um grande amigo.

Assim como José Lins do Rego, o poeta Augusto dos Anjos foi um Menino de Engenho, mais especificamente do Engenho Pau D'Arco, localizado na cidade de Cruz do Espírito Santo, no Estado da Paraíba. Acompanhou o apogeu e a decadência da economia açucareira na região, elementos que iriam se refletir sobre a sua obra poética, por vezes, com algumas rimas de sofrimento. O livro de José Lins, citado acima, dedica algumas páginas à poesia de Augusto dos Anjos. Muito influenciado por Freyre, se Manuel Bandeira e Augusto dos Anjos eram seus poetas preferidos, assim o era igualmente para o escritor paraibano, que considerava Gilberto Freyre régua e compasso de sua carreira literária.      

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