Remover “entulhos”, de qualquer natureza, num país com as características do Brasil, não é uma tarefa simples. Como bom sociólogo e ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso teria sido mais feliz se afirmasse que Dilma, também ela, vem empurrando com a barriga algumas heranças perniciosas encontradas na máquina pública brasileira, heranças históricas que, em nenhuma hipótese, poderiam ser creditadas unicamente ao Governo de Luiz Inácio Lula da Silva, mas a um logo e imbricado processo de comprometimento do Estado pelos costumes patrimonialistas, onde a agenda da corrupção institucionalizou-se. Na realidade, o país sempre celebrou acordos escusos para não remover os entulhos. Do Período Colonial à República, passando pelo Império, jamais tivemos rupturas efetivas, adiando o enfrentamento de questões fundamentais para o país para depois dos 45 minutos do segundo tempo, num jogo cujo regulamento prevê prorrogação sem morte súbita. Os “enclaves” autoritários mantidos na Constituição de 1988, pelos militares, por exemplo, ainda hoje permitem que acadêmicos aprovem nas academias brasileiras teses de doutorado e dissertações de mestrado argumentando que nossa democracia não é uma democracia consolidada. Essa áurea de santidade do PSDB foi posta na lata do lixo com o trabalho do jornalista Amaury Ribeiro Jr. Um livro que os grãos-tucanos, matreiramente, estão ignorando. Bastante lúcido aos 80 anos de idade, FHC em alguns momentos parece ter perdido a memória dos escândalos de corrupção do seu governo. Ultimamente vem insinuando que a presidente Dilma Rousseff deveria ser menos tolerante com os malfeitos, afastando, de imediato, os malfeitores. É bastante natural e até saudável do ponto de vista democrático, que FHC tem críticas ao Governo de Dilma Rousseff. É preciso, no entanto, não jogar para a platéia e esquecer os malfeitos do seu Governo. Para não esquecer, Fernando: SUDAM, SUDENE, Proer, Privataria, Sivam, reeleição, BNDES... Ufá!Vai escrever, Fernando!
Nota do Editor: Sempre comentamos que os tucanos haviam ignorado o livro de Amaury. Um passarinho nos contou, porém, que Serra tentou comprar todo o estoque da Livraria Cultura de São Paulo: 50 livros. Não foi bem-sucedido.
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