COMEÇOU A CORRIDA
Por Carlos Chagas
Vale repetir o provérbio árabe: bebe água limpa
quem chega primeiro na fonte. Adianta pouco lembrar que a sucessão
presidencial está marcada para outubro de 2014, porque faltando dois
dias para 2013 começar, a questão já se coloca nos partidos, no
Congresso, na imprensa e nas representações da sociedade civil. Fica
sozinha a presidente Dilma Rouseff, a se dar crédito ao seu comentário
de que não se pensa em sucessão no meio de um mandato. Porque será
humanamente impossível supor que ela também não pense, dispondo da
prerrogativa constitucional da reeleição.
Sendo
assim, importa buscar os contornos desse quadro já posto em exibição,
mesmo sujeito a alterações nas cores e na forma.
Começando
pela própria: com os índices de popularidade que detém, se
permanecerem, Dilma ocupa a pole-position. É claro que em dois anos tudo
pode mudar, mas se as eleições fossem hoje, ela seria vencedora.
Dependendo, é óbvio de diversas condicionantes, a primeira delas de não
sobrevir nenhuma crise fundamental na economia, desgastando seu governo.
Outra, de ser desatado o nó que aperta o PT, de um lado sujeito às
conseqüências do mensalão e similares. De outro, caso não se avolume
entre os companheiros a frustração de estar no governo mas não
ser governo, como há dois anos imaginaram. Cresce no partido a
tendência de que se o Lula voltar em 2014, maiores horizontes se abrirão
para nova etapa do condomínio por ele praticado com o PT e suspenso
pela sucessora. Apesar dos elogios ainda esta semana feitos por ela ao
partido, fica claro que quem governa é ela.
Passa-se
então à segunda hipótese: se o Lula topar sua candidatura, seja para
garantir a vitória, seja por não suportar permanecer no banco, Dilma
será a primeira a apóia-lo. Não hesitará um minuto em ceder a vez a
quem a fez presidente. Apesar dos percalços que se sucedem, o
ex-presidente seria imbatível, ressalvados os imponderáveis.
Do
lado oposto, indicam a lógica e o bom-senso que se os tucanos
rejeitarem Aécio Neves, estarão condenados a transformar-se em urubus.
Não há mais espaço, no PSDB, para candidatos como José Serra, Fernando
Henrique e até Geraldo Alckmin, não obstante o esforço que o grupo
paulista ainda faz para evitar os mineiros. O neto de Tancredo Neves
enfrentará dificuldades profundas, a começar pela supremacia de Dilma ou
do Lula, além da resistência dos caciques de seu próprio partido, mas
se recuar estará confirmando o adágio de que o cavalo só passa uma vez
encilhado na porta de casa. Já fala em libertar-se da sombra do
conservadorismo, levantando a bandeira do desenvolvimento.
As
pesquisas mais recentes fizeram justiça a Marina Silva, que nas
simulações sucessórias perde apenas para Dilma Rousseff. O fato de
encontrar-se sem partido é irrelevante, sempre aparecerá algum
interessado nos milhões de votos que ela obteve nas eleições passadas.
Estar bem mais à esquerda do PT e do governo exprime uma faca de dois
gumes, mas é por aí que a ex-ministra do Meio Ambiente traçará seu
roteiro.
O
governador de Pernambuco, Eduardo Campos, precisa definir-se. Seu
partido, o PSB, cresceu nas eleições municipais e seu nome é cada vez
mais lembrado no Nordeste, como alternativa para a disputa entre
companheiros e tucanos. Hesitará entre sua lealdade ao governo Dilma e o
castigo de ficar quatro anos ao sol e ao sereno. Tem idade para
esperar, mas oportunidade, ninguém sabe. Há quem suponha sua aliança com
Aécio Neves, sendo lançado como vice-presidente, coisa que se
prestaria à denominação de “chapa dos netos”, pois Eduardo Campos é
neto de Miguel Arraes.
Por
último, nessa relação inicial, uma incógnita. Joaquim Barbosa pode
transformar-se numa lembrança meteórica, daqui a alguns meses, mas hoje
estaria classificado como opção viável. Sua atuação no processo do
mensalão e na presidência do Supremo Tribunal Federal representa uma
lufada de esperança para quantos refugam os políticos profissionais.
Melhor aguardar.
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