Mais um ano de promessas não cumpridas. No caso, eu estou falando dos
livros que me propus a ler e não li, culpa dos malditos empregos que
tanto me ocupam, culpa do vício de ficar lendo o rame-rame do jornalismo
diário e culpa dos “prazeres culposos” de ficar como um vegetal (batata
no sofá, como se diz em inglês) diante da televisão mais horas do que
deveria. Promessa não cumprida em não investir mais na Primeira Impressão,
a própria seção da coluna dedicada a resenhas de livros pertinentes por
aqui, como política internacional, história e uns pitacos em economia e
comportamento.
Algumas das melhores publicações do mundo fizeram a lição de casa,
com seus critérios, apregoando os”livros do ano”. Destaco as suspeitas
habituais com sua abordagem mais global, como The Economist e Financial Times.
Quem clicar no amarelo, terá acesso ao listão das duas publicações.
Alguns dos livros escolhidos, eu cheguei a ler ou ao menos folhear, por
obrigação profissional ou puro prazer pessoal (algumas vezes existe o
casamento entre as duas coisas).
Em economia, um livro campeão nas listas é Por Que As Nações Fracassam
(publicado no Brasil pela Elsevier), de Daron Acemoglu e James
Robinson, sobre as origens do poder, prosperidade e pobreza. Assunto
perene, intrigante, exasperante e frustrante. Acemoglu é economista
(MIT) e Robinson é cientista político (Harvard).
Os autores trabalham com variáveis como instituições, regras do jogo e
os incentivos que motivam as pessoas. Nações prosperam quando
desenvolvem instituições políticas, legais e econômicas “inclusivas” e
fracassam quando são “extrativistas”, ao concentrarem poder e
oportunidade para alguns privilegiados.
Temas muito urgentes (sempre urgentes) são liderança política e
capacidade para negociar. Para mim (ok, muita gente discorda), um
gigante (trágico) foi o ex-presidente americano Lyndon Johnson, O
biógrafo Robert Caro (um obcecado) publicou em 2012 The Passage of Power (Knopf), o quarto volume do seu épico sobre o sucessor de John Kennedy.
Johnson foi figura-chave em direitos civis, construção de programas
sociais e guerra do Vietnã. Caro acompanha sua trajetória de 1958 a 1964
(no Texas e parte de sua passagem pela Casa Branca). Johnson uniu o
país na esteira de uma tragédia (o assassinato de Kennedy), insurgiu-se
contra sua própria história e geografia (o sul) na questão dos direitos
civis e foi destruído pela guerra do Vietnã. Como eu disse, um gigante
trágico.
Meu livro de cabeceira por estes dias (e noites) está em várias
listas dos melhores do ano, na intersecção de história e lições para
sempre. O tema: totalitarismo comunista. É Iron Curtain, Cortina de Ferro (Doubleday), sobre o esmagamento da Europa Oriental pelo império soviético no período 1944-56.
Não podemos apagar da memória (fechar a cortina) o que foi a Guerra
Fria e o pesadelo do projeto do mal soviético. Anne Appe Applebaum, que
ganhou o Pulitzer por seu livro Gulag: A History, nos
premia novamente. Entre outras coisas, o novo livro é mais uma
desconstrução da narrativa de historiadores de esquerda com a tendência
de ainda encontrar desculpas para o comunismo soviético ou argumentar
que a imposição de Moscou na Europa Oriental foi uma reação a
movimentações hostis dos EUA no começo da Guerra Fria.
Foi resultado de ideologia. Foi um processo de subjugação mais rápido
do que se antecipara e um dos aspectos mais fascinantes do livro é o
relato dos estágios para a tomada do poder pelos comunistas. Havia não
apenas a ferocidade da repressão, mas os lances para persuadir a
população a aceitar a nova ordem.
Nunca é demais relembrar ou ensinar sobre os horrores stalinistas e o
contraste com os beneficios do capitalismo democrático, apesar de suas
imperfeições. Iron Curtain é livro para ficar para sempre na cabeceira de pessoas com a cabeça fora do lugar, para ver se a endireitam.
E na virada do ano, eu pretendo descansar um pouco a cabeça de assuntos como Obama, Primavera Árabe e as roses da vida, lendo ficção. A promessa que irei cumprir será a leitura de NW (The
Penguin Press), de Zadie Smith, sobre a amizade de duas mulheres que
cresceram na zona noroeste de Londres (e onde a autora cresceu), num
épico urbano, revelando verdades sobre identidade, dinheiro e sexo
(opa!).
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