Literatura em 2013: saiba o que vem por aí
Centenário de Vinicius de Moraes, Brasil
na Feira de Frankfurt e possível inédito de Chico Buarque estão entre os
destaques do ano
Marília KodicVeja a seguir algumas das efemérides, lançamentos e acordos que pretendem orientar o mercado literário brasileiro em 2013.
Vinicius de Moraes, Camus, Frankfurt e a Copa
Os centenários de nascimento de Albert Camus, Rubem Braga e Vinicius de Moraes devem agitar os lançamentos e eventos do ano, além de outras efemérides como os 120 anos de nascimento de Mário de Andrade, 190 de Gonçalves Dias, 90 de Millôr Fernandes, Fernando Sabino, Lygia Fagundes Telles e Italo Calvino e 80 de Rubem Alves; além dos 100 anos de morte de Ferdinand de Saussure e 50 de C. S. Lewis.
Homenageado da FLIP, Graciliano Ramos, cujos 120 anos de nascimento foram comemorados em 2012, também deve ganhar destaque. A festa, que acontece entre 3 e 7 de julho, ainda não tem escritores confirmados.
Já a Fliporto – que terá como tema “A literatura é um jogo”, pretendendo fazer um diálogo entre a literatura e o esporte, tendo em vista a Copa do Mundo e as Olimpíadas –, leva a Pernambuco entre 27 de abril e 5 de maio convidados como Ariano Suassuna, Nélida Piñon e João Ubaldo Ribeiro.
O ano da Alemanha no Brasil, que terá início em maio, deve estimular diversos projetos bilaterais, sendo o mais notável a Feira do Livro de Frankfurt (9 a 13/10), quando os olhos do mercado literário mundial se voltarão para o Brasil, homenageado do evento.
“A Feira de Frankfurt aumentará o número de vozes brasileiras falando para um público leitor maior, mais amplo. A ‘República Mundial das Letras’ precisa das nossas vozes, e é através de iniciativas como a da Feira de Frankfurt – e de outras, como a de Guadalajara, no México, a de Bolonha, para livros infantis e juvenis, e mesmo a de Londres, também para negociações de direitos – que acontece essa ampliação”, diz Felipe Lindoso, antropólogo, jornalista e consultor de políticas públicas para o livro e leitura.
Novo livro de Chico Buarque?
Em janeiro, a Bertrand lança Eu e Você, de Niccolò Ammaniti, livro que deu origem ao último filme de Bernardo Bertolucci, homônimo, que deve estrear por aqui em abril; e a Ed. 34 lança O Mistério-Bufo, de Vladímir Maiakóvski, que traz pela primeira vez ao público brasileiro a versão final da peça. Em fevereiro, a Leya reedita Mayombe e Geração Utopia, do angolano Pepetela – segundo a editora, esgotados há mais de 20 anos.
Em março, a Boitempo lança O capital – Livro I com tradução de Rubens Enderle, pela primeira vez a partir da edição preparada no âmbito do projeto alemão MEGA-2 (Marx-Engels-Gesamtausgabe). A Objetiva lança os volumes 2 e 3 de 1Q84, de Haruki Murakami, pelo selo Alfaguara, em março e novembro respectivamente e, em junho, as memórias do cineasta Cacá Diegues, ainda sem título.
A Record prevê para o primeiro semestre o lançamento de Fernando Pessoa, o livro das citações, que sai junto com uma grande edição revista da biografia premiada Fernando Pessoa: uma quase biografia, ambos de José Paulo Cavalcante Filho, além da Nova antologia de contos eróticos, de Dalton Trevisan. A Editora Globo prepara o lançamento de O rei faz a vênia e mata e Fera da alma, ambos de Herta Müller, e 1889, de Laurentino Gomes, ainda sem data.
Na Companhia das Letras estão previstos livros inéditos de pesos pesados da casa como Bernardo Carvalho, Marçal Aquino, Milton Hatoum e possivelmente Chico Buarque, segundo o publisher Otávio Marques da Costa. Além disso, prevê-se o segundo volume da biografia de Getúlio Vargas, por Lira Neto, que pretende trazer novas luzes sobre a Revolução de 30 e o envolvimento do Brasil na Segunda Guerra, e a crônica dos anos Lula por Fernando Morais.
No campo das traduções, o jornalista e escritor Edney Silvestre faz a previsão: “Eu aposto no interesse por Alberto Mussa, Tatiana Salem Levy, Luiz Ruffato e o João Paulo Cuenca”.
Gigantes do mercado
Segundo Felipe Lindoso, com a chegada da Amazon no Brasil, as editoras e livrarias, que já conhecem bem a voracidade monopolista da multinacional, procurarão se defender. “A Livraria Cultura já tem um acordo com a Kobo, que tem outro e-reader muito bom e que não está preso ao ecossistema da Amazon”, exemplifica.
“A Amazon induzirá fortemente as editoras a prestarem atenção à questão dos metadados, obrigando os varejistas também a melhorarem seus sites, que são todos, sem exceção, absolutamente hostis e ridiculamente ineficientes na busca dos livros, autores e contato com os clientes”, completa.
Para o crítico literário Alcir Pécora, se a Amazon seguir a mesma linha de ação que segue nos Estados Unidos e na Europa, deve possibilitar aos brasileiros o acesso a catálogos maiores a preços mais baixos. Contudo, segundo ele, “a pior parte é que deve diminuir o número de livrarias físicas, que já é pequeno”.
Outra novidade que pretende agitar o mercado é o anúncio da fusão, em outubro deste ano, entre a Penguin e a Random House, pelo grupo britânico Pearson e o conglomerado alemão Bertelsmann, resultando no maior grupo editorial do mundo. “A julgar pelo tipo ordinário de fusão econômica que ocorre usualmente, esta significa apenas mais monopólio e homogeneização do mercado”, opina Alcir Pécora.
O MinC e a polêmica dos editais setoriais
O lançamento de editais para produtores e criadores negros, anunciados pela ministra Marta Suplicy no fim de novembro, dá o tom das políticas públicas do Ministério da Cultura para os próximos anos.
Se por um lado ações afirmativas como essa são importantes e eficazes para abrir espaço, alguns especialistas discutem sua prioridade. “Num país tão deficiente em ensino básico, recursos públicos deveriam ir muito mais para a educação integral e universal de qualidade – ou seja, extensiva a brasileiros de qualquer classe, cor, credo, etc. – do que para projetos particulares de cultura”, diz Pécora.
Para Lindoso, os grandes desafios do MinC são outros: “A Lei de Direitos Autorais, por exemplo, é um nó que precisa ser desatado. A Lei que cria o Fundo para Desenvolvimento das Bibliotecas e Programas de Leitura, compromisso assumido pelo setor editorial quando da desoneração promovida pelo Presidente Lula, precisa ser implementada, assim como o Vale Cultura”.
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