pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Eduardo e a mumunha de não parecer o que é
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domingo, 23 de dezembro de 2012

Eduardo e a mumunha de não parecer o que é






 
 
Na política, como na vida, ninguém descalça o sapato antes de chegar ao rio. Mas também ninguém vai ao Rubicão à procura de peixe. Já bem próximo da margem, o governador pernambucano Eduardo Campos (PSB) tornou-se um personagem translúcido. De tão indecifrável, ficou fácil de decifrar. Procura não parecer o que é. Compreensível. Não sabe se os outros terão condições de ser o que parecem. Dependendo de como a coisa evoluir, Eduardo verá se pode ser e parecer.
O governador concedeu ao repórter Luiz Maklouf Carvalho uma ensaboada entrevista. Declarando-se convencido de que Eduardo é candidato ao Planalto, o entrevistador foi ao ponto já na primeira pergunta: É? Eduardo riu. Citou um amigo jornalista. “Outro dia me disse: ‘Fulano de tal é candidato. E ninguém acredita. Você diz que não é. E ninguém acredita’. O que é que posso fazer?”

Ora, se quisesse, Eduardo poderia fazer algo tão simples como pronunciar uma frase assim: “Vou ditar, escreva aí: não serei candidato à Presidência da República em 2014. Juro pela alma do meu amado avô Miguel Arraes.” Preferiu a desconversa de que sua responsabilidade lhe impõem uma “visão que vai muito além do eleitoral e está até acima do eleitoral.”

Noutro trecho, Eduardo falou dos avanços pretéritos –a estabilidade econômica obtida sob FHC, os avanços sociais alcançados sob Lula— e da crise presente -“Essas conquistas não estão inteiramente consolidadas.” Em seguida, como se apertasse os olhos à procura de uma luz para acomodar no fim do túnel, emendou:

“Se a gente eleitoralizar esse momento, se a gente não pensar o país de forma larga, a gente pode se ver como lá no Quincas Borba [o romance de Machado de Assis]: ‘Aos vencedores, as batatas’. Mas o que você não pode, num momento como este, dessa importância, é interditar o debate político.”

Os partidos, a militância, a mídia, todo mundo “puxa para o eleitoral”, observou Eduardo. “É natural. A gente tem de ter calma, paciência, e compreender. Agora, ninguém pode dizer o que acontecerá em 2014, nem […] a própria presidenta Dilma.” Hummmm!!! “Quem é amigo da Dilma, amigo do Brasil, não botará campanha na rua, nem da oposição nem a campanha da Dilma.” Hã, hã…

O repórter disse ao governador que ele contribuiria para deseleitorizar o debate se dissesse, sem tergiversação, que apoiará a reeleição de Dilma em 2014. Eduardo tergiversou: “Nosso partido foi o partido que tomou a decisão de não ter um candidato que tinha ponto na pesquisa [Ciro Gomes, em 2010] para apoiar a presidenta Dilma. E passamos todo o tempo dizendo que a candidatura natural é a candidatura da Dilma.”

O entrevistador insistiu: vai apoiar Dilma? E Eduardo: “Não há dúvida, não. Qual é a dúvida? Estamos na base de sustentação. Não tenho duas posições.” Quando parecia muito próximo de uma declaração peremptória, o governador calibrou as palavras: “Quem defende a presidenta Dilma neste momento deseja cuidar, em 2013, do Brasil. Quem pode cuidar do Brasil é Dilma. Nós temos de ajudá-la a ganhar 2013. Ganhando 2013, Dilma ganha 2014.”

Abra-se aqui um parêntese. O que Eduardo disse, com outras palavras, foi o seguinte: o 2014 de Dilma depende do 2013 que ela for capaz de construir para si mesma. Estamos aí para colaborar com nossas críticas e sugestões. Mas, antes, a presidente precisa ajudar-se a si mesma. Fecha parêntese.

Vale a pena ouvir mais um pouco de Eduardo: “Então, a forma de ajudar Dilma é dizer: em 2014 todos nós vamos estar com Dilma. Claro. Por que não vamos estar com Dilma? Nós rompemos com Dilma? Saímos do governo de Dilma? Saímos da base dela? Você conhece algum programa criado pelo PSB constrangendo algum programa, alguma decisão da presidenta Dilma? Não existe nenhum.”

Novamente, Eduardo parecia encaminhar-se para descer do muro de um lado. Súbito, pingaram dos seus lábios palavras que dão a entender que ele também pode saltar para o lado oposto: “Agora, entendemos que é a hora de cuidar do Brasil. Temos muitas ameaças e possibilidades pela frente.”

O repórter fez a mesma pergunta do início, só que de outra maneira: por que deseja ser presidente da República? Eduardo poderia ter dito um definitivo “eu não quero”. Preferiu responder à pergunta com uma indagação: “Quem lhe disse isso?” Mais uma vez: o senhor quer? Mais desconversa:

Deixa eu falar, com toda a tranquilidade: quando quis ser governador, disse às pessoas que queria ser governador. Procure neste país alguém que procurei dizendo: Quero ser candidato a presidente da República. Em março de 2005, disse que seria candidato a governador em. Agora eu não disse isso.” Sim, claro, mas também não disse que não será.

Mais adiante, sapatos bem calçados, Eduardo soou como se administrasse os passos que o levam ao Rubicão: “Tem de ter calma. Estou sereno, tranquilo. No dia em que eu vier a querer ser presidente, vou responder a essa pergunta. Mas hoje não.” Para bom entendedor, meias palavras bastam. Amanhã, o …ão pode virar …alvez. Depois de amanhã, o ..alvez pode converter-se em …im. Entenderam ..mbecis?

Em política, o amor ao próximo diminui na razão direta da aproximação da eleição seguinte. Na disputa que passou, reduziu-se a taxa de afeição de Eduardo pelo petismo de Pernambuco. No plano federal, sobrou um difuso sentimento. Não fosse por Lula e pela presença do protegido Fernando Bezerra no Ministério da Integração Nacional, Eduardo talvez nem cumprimentasse Dilma.

(Publicado no blog do jornalista Josias de Souza, Portal UOL). 

Nota do Editor: Não faz muito tempo, publicamos aqui no blog uma postagens sobre o "discurso de apoio de Eduardo a presidente Dilma Rousseff". "Vamos ajudar Dilma a ganhar 2013...mas" tem sido repetido como um mantra pelo "Moleque" dos jardins da Fundação Joaquim Nabuco. Na série de entrevistas concedidas recentemente pelo governador de Pernambuco, inclusive essa última à revista Época, observa-se um discurso dúbio, tergiversante, recheados de ambiguidades, algo que salta aos olhos dos petistas mais atentos, cientes de que ele consolida em torno de si uma alternativa real de poder, onde 2014 ou 2018 serão determinados pelos rumos do Governo Dilma em 2013. 

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