“Isso é mentira“, disse Lula ao ser questionado sobre o depoimento
prestado por Marcos Valério à Procuradoria Geral da República. Rodeado
de seguranças e assessores, Lula saía de um seminário, em Paris.
Perguntaram-lhe se poderia ouvir mais perguntas sobre o caso. E ele,
mantendo a marcha: “Hoje, nem duas.”
Assim, as três horas e meia de depoimento de Valério, as 13 laudas
consumidas pela transcrição, a acusação de que a verba suja do mensalão
bancou despesas pessoais de Lula, a denúncia de que o ex-presidente deu
seu ‘Ok’ para os empréstimos de fancaria do esquema, tudo isso foi
rebatido com um comentário reles. Uma frase que qualquer formiguinha
atravessaria com água pela canela: “Isso é mentira.”
Poderia ter sido pior. Mais cedo, Lula mandara a assessoria informar
que não comentaria as declarações de Valério. Por mal dos pecados, o
compromisso público deixou-o exposto ao assédio dos repórteres, essas
criaturas inoportunas. Tudo isso em Paris. A mesma cidade em que, numa
entrevista de 2005, Lula dissera que o PT não fizera no mensalão nada
além do que todos os partidos historicamente fazem no Brasil.
Por ironia, acompanhava o ex-soberano no seminário parisiense o amigo
Paulo Okamotto, diretor do Instituto Lula. O mesmo Okamotto que Valério
disse à Procuradoria tê-lo procurado para fazer ameaças de morte.
Também presente, Dilma Rousseff foi questionada sobre o depoimento de Valério.
“É sabida a minha admiração, o meu respeito e minha amizade pelo
presidente Lula. Portanto, eu repudio todas as tentativas –e esta não
será a primeira vez— de tentar destituí-lo da imensa carga de respeito
que o povo brasileiro lhe tem”, disse.
Acrescentou: “Essa é uma questão que eu devo responder no Brasil, mas
eu não poderia deixar de assinalar que acho lamentável essas tentativas
de desgastar a imagem do ex-presidente Lula. Eu acho lamentável.”
A indagação sobre Valério chegou a Dilma num momento constrangedor.
Ela concedida entrevista coletiva ao lado do presidente francês,
François Hollande, no Palácio do Eliseu. O anfitrião solidarizou-se com
Lula, que verá na hora do jantar. Ele dispõe de “imagem considerável”,
disse.
(Publicado originalmente no blog do jornalista Josias de Souza, Portal UOL).
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