pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Revista Época: Dilma, Economist e nacionalismo
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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Revista Época: Dilma, Economist e nacionalismo

O ano de 2013 mostrará se a revista britânica estava certa ou não ao pedir a cabeça do ministro Guido Mantega

 
Dilma e Mantega (Foto: Antonio Cruz/Agbr)

A presidente Dilma Rousseff não gostou de ver a revista britânica The Economist sugerir a saída de Guido Mantega do Ministério da Fazenda. Compreensível. Dilma não pode ser acusada de prevaricação no cuidado com a economia brasileira, claramente sua prioridade desde que tomou posse, à frente até mesmo da famosa faxina política que por vezes realiza. Ela sabe da importância da tarefa e dedica uma enorme parte do seu tempo à sua realização. Não será a opinião de uma publicação jornalística que ditará como a presidente conduz a economia, muito menos, nas palavras de Dilma, “uma revista que não seja brasileira”.
Pois são com essas palavras que a presidente, no seu legítimo direito de descartar os conselhos de quem quer que seja, coloca os pés pelas mãos. No final de 2009, quando a então ministra Dilma começava a esquentar seus tamborins para a campanha presidencial do ano seguinte, a mesma Economist colocou o Brasil na Lua. Ou quase lá. Com uma foto do Cristo Redentor sendo lançado aos céus como um foguete, a revista dizia em sua capa que o Brasil “decolava”. “Sua decolagem é ainda mais admirável porque foi conseguida por meio de reformas e da construção democrática do consenso”, escreveu a publicação britânica. Ninguém no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, muito menos Dilma, desqualificou na época as opiniões de “uma revista que não seja brasileira”. A liberal Economist, uma das mais importantes referências no mundo em economia e política internacional, dava seu selo de aprovação ao rumo que o Brasil tomava – e o governo brasileiro sorria. O caráter estrangeiro da sua opinião não a invalidou. Seu ponto de vista não foi julgado a partir de um nacionalismo estreito, mas apenas com base em seu mérito.
A Economist parece ter mudado de avaliação sobre o Brasil, o que evidencia umas de suas muitas qualidades: a capacidade de se adaptar, caso alterações significativas no tema analisado assim exijam. Não apenas isso. Quando tal mudança evidencia um erro anterior de avaliação, a Economist não foge do mea culpa. Em meados de 2002, a revista já defendia em sua capa a invasão do Iraque pelos Estados Unidos, o que aconteceria no ano seguinte. Já em 2007, depois que a invasão provocara no Iraque uma sangrenta guerra civil, a Economist admitiu ter errado. A invasão, escreveu a revista, “infligiu medo, miséria e morte sobre aqueles que intencionava beneficiar”. A Economist então lembrou o que escrevera em 2003: “’É difícil imaginar uma situação de pós-guerra que possa deixar menos livre e mais miseráveis do que estavam sob Saddam Hussein’, nós dissemos quatro anos atrás. Nossa imaginação fracassou. Um dos homens que usou um martelo contra a estátua de Saddam disse à mídia internacional nesta semana que, embora Saddam era como Stalin, a ocupação é pior.” A mesma voz da Economist que afaga e elogia pode ressurgir em forma de crítica, nem que seja contra eles mesmos. Se essa voz era importante no momento dos elogios, seu valor permanece o mesmo na discórdia.
É bom também lembrar que os britânicos da Economist não se intrometem apenas em assuntos do mundo emergente, como alguns podem imaginar. Ao tomar partido sobre temas domésticos de outras nações muito distantes de Londres, a publicação pode até ser acusada de arrogância, mas nunca de dosar seus socos conforme o objeto da crítica. Antes mesmo de admitir ter errado sobre a invasão do Iraque, a Economist exigiu, também em sua capa, a renúncia do então Secretário da Defesa dos Estados Unidos, Donaldo Rumsfeld. O ano era 2004, e os dizeres que acompanhavam a foto de um prisioneiro iraquiano torturado na prisão de Abu Ghraib, em Bagdá, eram simples e diretos: “Renuncie, Rumsfeld”. O texto da revista argumentava que, diante dos revelados maus tratos de prisioneiros de guerra por soldados dos Estados Unidos, o ministro de George W. Bush não tinha mais condições de permanecer no cargo.
Os comentários de Dilma Rousseff indicam que, pelo menos inicialmente, a presidente não dará ouvidos à sugestão da Economist sobre Guido Mantega. O ministro deverá ter pelo menos mais alguns meses para mostrar se consegue dar à economia brasileira uma taxa de crescimento mais expressiva do que a atual, de pouco mais de 1% ao ano. George W. Bush também ignorou a Economist. Rumsfeld continuou com a mesma política de muito confronto e pouca estratégia na batalha pelo Iraque. Em 2006, porém, não sobreviveu à perda para a oposição democrata da maioria no Senado nas eleições legislativas americanas. Deu lugar a Robert Gates, que finalmente conseguiu dar um fim gradual ao desastre americano na antiga Mesopotâmia. No caso de Mantega, o ano de 2013 mostrará quem tem razão. A Economist, ao pedir a cabeça do ministro brasileiro, poderá ser exposta em mais um erro de avaliação, como aquele cometido pouco antes da invasão do Iraque. Ou demonstrará mais uma vez sua capacidade visionária, aplicada de forma certeira no futuro de Donald Rumsfeld.
  

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