Gabriela Leite:”Prostituta é mulher e não tem doença só da cintura para baixo”
publicado em 7 de junho de 2013 às 11:00
por Conceição Lemes
No último domingo, 2 de junho, celebrou-se o Dia Internacional das
Prostitutas. Daí a campanha “Sem vergonha de usar camisinha”, lançada
nesse final de semana pelo Ministério da Saúde, depois vetada.
O dia comemora o 2 de junho de 1975 quando 150 prostitutas ocuparam a igreja de Saint-Nizier, em Lyon, na França.
Elas protestavam contra contra a perseguição policial, cobrança de multas, detenções e assassinatos.
O ato terminou com uma violenta repressão da polícia. A coragem de
romper o silêncio e denunciar o preconceito, a discriminação e as
arbitrariedades fez com que as prostitutas de Lyon entrassem para a
história.
Por isso, o 2 de junho foi declarado, pelo movimento organizado, como o Dia Internacional das Prostitutas.
“Nesta semana, pude assistir um vídeo maravilhoso com depoimentos de
Gabriela Leite, a prostituta que primeiro mostrou a cara e iniciou o
movimento organizado para pleitear direitos da categoria”, deu-me a
dica Anália Feijó Köhler, aqui, em comentários. ”É
fantástico ouvi-la dizer que o movimento não vai aceitar mais nenhum
centavo do Ministério da Saúde nem vai participar de licitações enquanto
a pasta não passar a ver a prostituta como uma mulher por inteiro.
Recomendo!!!!”
São três vídeos. Gabriela Silva Leite tem 62 anos, nasceu em São
Paulo, é prostituta aposentada. Tem duas filhas, uma neta e ajudou a
criar o filho do marido, o jornalista Flávio Lens.
Em seu livro Filha, mãe, avó e puta: a história da mulher que decidiu ser prostituta, fala sobre sua vida.
Filha de uma dona de casa conservadora e de um crupiê, Gabriela, no
final da década de 1960, estudava Sociologia na USP, trabalhava num
escritório e frequentava círculos da boemia intelectual paulistana.
Decidiu largar tudo, menos a noite, e começou a trabalhar como
prostituta. Primeiro, em São Paulo, depois, em Belo Horizonte, até se
radicar no Rio de Janeiro.
Em 1987, ajudou a organizar o Primeiro Encontro Nacional de
Prostitutas. Hoje se dedica à defesa da categoria e à regulamentação da
profissão.
É criadora da grife Daspu e diretora da ONG Davida, que fundou em
1991. A Davida não tem a intenção de tirar as prostitutas da rua. O
objetivo é promover a cidadania das mulheres com ações nas áreas de
educação, saúde, comunicação e cultura.
No seu blog, em Papos da Gabi, ela publica a seguinte nota sobre a campanha censurada:
As peças que você vê aqui são da campanha
‘Sem vergonha de usar camisinha’, lançada e logo após censurada e
tirada do ar pelo Ministério da Saúde do Brasil. A maior parte delas foi
elaborada em oficina de comunicação e saúde promovida pelo Departamento
de DST, Aids e Hepatites Virais com prostitutas de diversos estados, em
março. A peça com o texto “Eu sou feliz sendo prostituta” e a imagem da
prostituta Nilce, de Porto Alegre, foi o mote do governo Dilma para
iniciar um escândalo político de consequências imprevisíveis.
Primeiro, o ministro da Saúde, Alexandre
Padilha, mandou tirar essa peça do ar – ou seja, do site do Departamento
de AIDS – e ameaçou demitir a equipe de comunicação do órgão. Depois,
demitiu o próprio diretor, Dirceu Greco, e censurou todas as outras
peças da campanha.
Aqui, porém, você vê tudo o que o governo
Dilma tem medo de mostrar, por causa de alianças com fundamentalistas. E
pode celebrar conosco esse histórico Dia Internacional das Prostitutas,
lembrando que liberdade e felicidade são, sim, parceiras da prevenção
em saúde. E que censura, estigma e discriminação são os piores
adversários.
(Publicado originalmente no blob Viomundo)
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