publicado em 22 de junho de 2013 às 22:59
Gráfico
desenvolvido por Sergio Amadeu demonstra que os perfis ligados ao
Anonymous Brasil e AnonymousBR foram os mais importantes para a
disseminação de conteúdo relacionado às manifestações do Movimento Passe
Livre no dia 17 de junho de 2013
Por Luiz Carlos Azenha, respondendo ao que me perguntaram aqui e ali e testando hipóteses
REVOLTA ANTICAPITALISTA?
Se fosse, os manifestantes teriam se dirigido à fábrica da Volks em
São Bernardo, para cercá-la. É o símbolo do capitalismo industrial no
Brasil e de onde saem os automóveis que entopem as ruas das metrópoles e
inviabilizam o transporte público. Provavelmente os manifestantes
teriam de enfrentar os trabalhadores da Volks, que não querem perder os
próprios empregos.
Se fosse uma revolta anticapitalista, os manifestantes teriam cercado
a sede do Itaú, que tem lucros bilionários graças aos juros e taxas
escorchantes. Provavelmente seriam rechaçados pelos bancários, que não
querem perder os próprios empregos. Uma coisa eu garanto: se a revolta
se tornar anticapitalista, some do Jornal Nacional.
REVOLTA DA CLASSE MÉDIA?
O comando é da classe média urbana que tem bom acesso à internet nas
regiões metropolitanas. Frações da classe trabalhadora remediada, aquela
que ascendeu ao longo do governo Lula, aderiram.
O lúmpen vai no bolo. Quando ele se manifesta politicamente através do saque, é reprimido.
Parar uma rodovia estratégica, causando milhões de reais em prejuízo
para o público em geral, é aceitável; invadir uma loja de automóveis e
“espancar” os veículos, causando um prejuízo de alguns milhares de
reais, é um horror! O que guia esta rebelião juvenil são valores da
classe média e seus interesses de classe — pelo menos é o que nos quer
fazer crer a mídia.
CONTRA O ESTADO?
Os ataques se concentram em prédios públicos ou obras públicas
consideradas desnecessárias pelos manifestantes, como os estádios da
Copa. O ex-presidente Lula, em seus dois mandatos, trouxe o debate
ideológico para dentro do governo, resolvido em conchavos de bastidores a
portas fechadas.
Os manifestantes agora batem na porta, de forma espontânea e
desarticulada. Só acredito tratar-se de um movimento progressista quando
surgir algum cartaz pedindo a taxação da fortuna da família Marinho
para financiar o transporte público gratuito; quando os manifestantes
se dirigirem às garagens das grandes empresas de ônibus que financiam
campanhas políticas e tem lucros extraordinários para protestar; quando
incluirem na pauta do debate sobre corrupção a Privataria Tucana,
corruptores, empreiteiras e o jabá que a Globo paga às agências para
manter o monopólio das verbas publicitárias. Por enquanto, só se debate a
corrupção pública, nunca a corrupção privada.
NOSSO GUIA?
Um estudo de Sergio Amadeu demonstrou que vários perfis dos Anonymous
são os mais influentes na disseminação das mensagens dos manifestantes
que se organizam em redes sociais. Quem faz a cabeça dos Anonymous? A
cabeça dos Anonymous é feita no Brasil ou fora do Brasil?
P2 E INFILTRADORES?
Houve várias denúncias de que infiltradores e provocadores agem em
manifestações. Um grande número de despolitizados nas ruas, sem
lideranças conhecidas e organizados de forma horizontal ficam sujeitos a
todo o tipo de manipulação. São alvo fácil para todo tipo de agenda.
Desde a dos militares que se revoltam contra a Comissão da Verdade a
outros agentes interessados em criar algum tipo de instabilidade
institucional.
Embora não haja provas disso, a denúncia de uma conspiração internacional foi assumida pelo primeiro ministro da Turquia, Recep Erdogan.
CONJUNTURA INTERNACIONAL INDICA CONSPIRAÇÃO?
O Brasil é o pilar central de sustentação de um projeto alternativo à
hegemonia completa dos Estados Unidos na América do Sul. Não fosse Lula
e Dilma, o risco de uma derrota de Nicolás Maduro em recentes eleições
na Venezuela teria sido muito maior. O apoio do Brasil é essencial ao
Mercosul, à Unasul e a outras iniciativas de caráter regional.
Desde a ascensão de Hugo Chávez os Estados Unidos desenvolvem planos
abertos — via sociedade civil — e secretos para instalar um governo que
garanta acesso às maiores reservas de petróleo do mundo em condições
mais vantajosas para Washington. Pelo seu tamanho, as reservas da
Venezuela são o fiel da balança na determinação dos preços
internacionais do petróleo. Em menor escala, o mesmo podemos dizer sobre
o pré-sal. Portanto, não devemos descartar 100% a possibilidade de ação
subterrânea, especialmente através das redes sociais, onde muita gente
atua atrás da cortina do anonimato. O ciberespaço é hoje território de
guerra. Mas, repito, não há qualquer indício, nem prova de que isso de
fato esteja acontecendo.
BOICOTE TARDIO À COPA?
Sei lá, mas o vídeo bombou.
REVOLUÇÃO COLORIDA?
Duvido. Ou, pelo menos, não existe qualquer prova disso. O dado
concreto é de que temos um tremendo descontentamento dos jovens com as
instituições brasileiras — e este é o motor principal. Porém, como se
perguntou Gilberto Maringoni durante ato da Paulista: como explicar a
revolta num país com alta taxa de emprego e com crescimento econômico
razoável?
As revoluções coloridas, como se sabe, foram promovidas através de
investimento direto ou indireto de ONGs dos Estados Unidos, algumas
delas com financiamento público, como o National Endowment for Democracy (NED), que desenvolve programas de “promoção de democracia” em várias partes do mundo; ou a Open Society, do especulador George Soros. Há vários livros ou artigos, como este,
descrevendo a atuação mundial destas organizações. Elas foram bem
sucedidas em diversas rebeliões que derrubaram governos na Europa
Oriental, com a mobilização de jovens através das mídias sociais.
As campanhas obedeciam técnicas inovadoras de marketing, símbolos e
palavras de ordem de fácil entendimento. Também há relatos sobre a
atuação destes grupos antes ou durante a Primavera Árabe. Argumenta-se
que o objetivo dos Estados Unidos é promover governos mais dóceis ou
causar instabilidade interna que deixe os governos mais vulneráveis a
seus interesses. Na Líbia, a derrubada do ditador pela via militar teria
tido o objetivo não de “promover a democracia”, mas de obter melhores
condições na exploração do petróleo e eliminar um governo que sustentava
o projeto político da África para os africanos, muito parecido com o papel que o Brasil desempenha na América do Sul.
A jornalista canadense Eva Golinger escreveu um livro, chamado USAID, NED e CIA, Uma Agressão Permanente,
sobre a atuação destes organismos dos Estados Unidos na Bolívia, Cuba,
Honduras e Venezuela (clique no link para baixar o livro em PDF). A
possibilidade de um golpe institucional foi aventada por leitores depois
que a embaixadora dos Estados Unidos no Paraguai, Liliana Ayalde, foi indicada para ocupar o cargo no Brasil.
Ela teve uma longa trajetória na USAID, a agência de desenvolvimento
internacional de Washington e estava em Assunção quando o presidente
Fernando Lugo foi derrubado.
ATAQUES COMBINADOS?
Muito embora não exista uma coordenação nacional organizada, chama a
atenção o fato de que ações parecidas tenham acontecido em lugares
distintos, como a repressão a ativistas de esquerda ou de movimentos
sociais que portavam seus símbolos. O mesmo se pode dizer dos ataques a
viaturas da mídia, uma para cada emissora: Record, SBT e Bandeirantes.
Isso é garantia de que a mídia não fará uma cobertura negativa dos
acontecimentos? Não sei.
INFILTRADOS NA ESQUERDA?
Nem um fio de indício ou prova desta teoria conspiratória. Ela é sustentada aparentemente pelos leitores do livro Quem Pagou a Conta? A CIA na Guerra Fria da Cultura.
Este e outros livros demonstram que, ao longo da guerra fria, a agência
de espionagem dos Estados Unidos financiou direta ou indiretamente
muitas pessoas ou organizações tidas como “de esquerda”.
AÇÃO CLANDESTINA NACIONAL?
Aí, sim. Improvável, mas possível. Hoje, pela segunda vez, a Globo
mostrou em jogo da seleção brasileira a marca #ogiganteacordou em
cartaz. A primeira foi no jogo Brasil vs. México. Agora, reaparece na
partida Brasil vs. Itália. Onde anda aquele guru indiano do José Serra?
COINCIDÊNCIA?
Houve uma campanha midiática contra Lula no ano que antecedeu sua
reeleição, em 2005. As denúncias foram formuladas no laboratório de
Carlinhos Cachoeira e propagadas pela revista Veja.
Dilma Rousseff vive o ano que antecede aquele em que poderá ser reeleita
sob várias crises: apagão elétrico que nunca se materializou,
hiperinflação do tomate de 5% ao ano e agora rebelião juvenil organizada
através das redes sociais. Coincidência? Mas o cavalo-de-pau dado pela
mídia na cobertura da rebelião juvenil reforça a tese do oportunismo,
não de uma ação pré-organizada.
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