Quem achou que o troca-troca que possibilitou a reeleição do atual reitor da Universidade Federal de Pernambuco ia blindar ou conferir legitimidade universitária a este gestor, enganou-se redondamente. O clientelismo pode ser muito bom para garantir cargos e representações; mas com certeza não confere nem legitimidade nem representação popular.Passados exatamente 30 dias da posse do reeleito e seus pró-reitores, volta a se instalar a crise na UFPE, com o mais absoluto desrespeito à autonomia administrativa, acadêmica e pedagógica da Instituição de Ensino Superior Federal.
Não será demais repetir que o campus universitária possui jurisdição própria, não está sujeita nem ao governo municipal ou estadual, e que se constituiu numa aberração perigosa, chamar – a toda hora – a Polícia Militar de Pernambuco para reprimir manifestações democráticas, legítimas de seus integrantes: alunos, funcionários e professores.Como das outras vezes, a questão central dessa manifestação é a manutenção de compromissos e acordo previamente pactuados com a comunidade universitária, durante o processo estatuinte, sobre a paridade da representação estudantil nos Conselhos Superiores da universidade. O atual estatuto que, permanece desde os sombrios anos 70, portanto continuam profundamente desatualizados, deveriam sofrer uma atualização em consonância com o novo clima de democracia e autonomia que deveriam reinar na UFPE.
Infelizmente, outra vez o atual reitor traiu, apunhalou a comunidade acadêmica: manteve uma representação injusta, desigual dos estudantes e funcionários nos Conselhos e fez o que nenhum dirigente universitário, eleito pelos estudantes, professores e funcionários, devia fazer: convocou a polícia (Federal e Militar) para agredir moralmente e fisicamente os alunos, que permaneciam no interior da Reitoria da UFPE através de um abraço simbólico na Instituição. As imagens divulgadas pelos meios de comunicação, a nível nacional, são um gritante, inquietante, revoltante desrespeito a todos aqueles que têm um mínimo de consciência do interesse público e da representação democrática no interior da Universidade.
É preciso dizer com todas as letras que o senhor Anísio Brasileiro é o principal responsável pela integridade física e psicológica dos nossos estudantes no campus da UFPE. O que vier acontecer com eles, por conta da violência policial, é de sua única e exclusiva responsabilidade. Quem não tem competência, não se estabelece. Não basta comprar, com a distribuição de prebendas universitárias aos amigos e aliados o cargo de reitor da UFPE. Quer ser amigo da Polícia, entre para a corporação ou o colégio militar. Numa universidade pública federal, se exige espírito público, diálogo, bom senso, respeito aos compromissos públicos assumidos com os membros desta comunidade.
O Reitor não é um governador ou prefeito, para rasgar depois de eleito, o contrato social assumido com os seus “representados”. É imperioso que os que se preocupam com o futuro (sombrio) dessa instituição digam a alto e bom som que não coonestam ou se acumpliciam com esse gesto pusilânime, de lesa-universidade, de sempre chamar a repressão policial para resolver questões que um bom diálogo democrático resolveria, se o atual gestor acreditasse nisso.
PS. Parece que o vice-reitor não sabe calcular direito: 75%, 15% + 15% não é paridade de representação. Paridade é 50+ 50. Quem tem que ser responsabilizado pela patrimônio público é quem administra a UFPE. O que foi feito da autonomia universitária? Esse patrimônio, quem cuida dele?
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE.
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