A prisão do senador Delcídio Amaral. A República suspira. Culpa dos tucanos e de FHC
Por José Luiz Gomes da Silva
Cientista Político
A capital federal, nesta quarta-feira, dia 25, amanheceu em
polvorosa, com a prisão do senador Delcídio Amaral, do PT do Mato Grosso
do Sul, numa operação realizada pela Polícia Federal, que também
prendeu o banqueiro André Esteves, do Banco Pactual, assim como o chefe
de gabinete de Delcídio, Diogo Ferreira. Não se sabe o que virá em
seguida, mas os ventos sopram em favor das instituições, dos mais
legítimos interesses republicanos.
A prisão foi pedida pela Procuradoria Geral da República e acatada,
por unanimidade, pelos ministros do Supremo Tribunal Federal. Nossas
instituições republicanas estão bastante fragilizadas, mas, aqui e ali,
há alguns lampejos de lucidez, como na decretação dessa prisão. Há
provas materiais de um senador da República, líder do Governo, numa
manobra para obstruir as investigações da Operação Lava Jato.
Delcídio Amaral é um petista de linhagem tucana. Um petista do bico
fino, talvez. E, a julgar pelo andar da carruagem política, ele já
estaria envolvido nessas falcatruas desde os tempos em que se aninhava
no ninho tucano, protegido pelo senhor Fernando Henrique Cardoso.
Durante o Governo FHC, ocupou uma das diretorias da Petrobras. Seus
diálogos – devidamente gravados – com Nestor Cerveró, outro ex-diretor
da Petrobras que aderiu à delação premiada, previa que Cerveró não
citasse seu nome no rumoroso caso da Refinaria de Pasadena, onde era
acusado de receber propina.
O fato mostra que, mesmo diante desse pandemônio em que se
transformaram os poderes Executivo e Legislativo, a Procuradoria da
República mostrou autonomia e independência suficientes para pedir a
prisão do líder do Governo no Senado Federal. Um fato, em si,
alvissareiro, que abre um precedente para o pedido de prisão do
presidente da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha, mais sujo do que
pau de galinheiro. Quando o assunto é falcatruas com o dinheiro público,
o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, é campeoníssimo.
Razões não faltam para ele ser afastado do cargo que ocupa, perder o
mandato e ser encaminhado direto para a Papuda. Mas, por uma dessas
circunstâncias da política, ele tripudia sobre os poderes da nossa
combalida república, desafia a justiça, achincalha a Casa, ameaça
opositores e conta, ainda, com o beneplácito de setores do PT, que temem
pelo mandato da presidente Dilma Rousseff.
Vejo aqui pelas redes sociais que os petistas estão “enfezados” com a
“seletividade” de nossa justiça que, digamos assim, manda diretamente
para a prisão preventiva um senador do Partido dos Trabalhadores e é
incapaz de punir com o mesmo rigor o presidente da Câmara dos Deputados
ou os corruptos de alta plumagem do ninho tucano. Mais uma vez vem à
tona a figura do juiz Moro, uma personalidade emblemática e
contraditória. Aprendi um pouco tarde que esta polarização não ajuda
muito a entender alguns fatos. Ficam muitas coisas importantes nos
intervalos. O raciocínio do brasileiro vai muito nesta linha. É bastante
dicotômico, o que explica, em tese, nossa mania de apenas ver os
defeitos do outro lado.
Também não vejo muito como salutar tentar defender Delcídio,
apontando o dedo contra Cunha. A rigor, o senador Delcídio Amaral é
indefensável. Há provas materiais de suas conversas com Nestor Cerveró,
oferecendo uma mesada para que ele não entrasse na delação premiada,
assim como oferendo uma rota de fuga para que ele fugisse do país. Por
unanimidade, os ministros da STF decidiram decretar sua prisão. Há
provas de seu envolvimento no que diz respeito à obstrução da justiça,
na operação Lava Jato. A mesada oferecida a Cerveró seria de R$
50.000,00 mensais. Quem fez a gravação foi o próprio filho de Cerveró.
De imediato, sua prisão amplia o processo de erosão de imagem a que o
Governo estava submetido. Num segundo momento, o partido terá que tomar
uma decisão radical sobre a sua permanência nos quadros da agremiação.
Um outro grave problema é que, diante de sua prisão – que poderá
prolongar-se – vai que ele resolve entrar nessa tal de delação premiada,
comprometendo ainda mais os já frágeis alicerces do governo de coalizão
petista. É encrenca para todos os lados. Quando Dilma Rousseff parecia
tomar fôlego, eis que é decretada a prisão do senador Delcídio Amaral,
um arquivo vivo dos ambientes pantanosos dos negócios públicos.
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