A
quem interessa as consequências da internacionalização da guerra civil
na Síria, no Iraque, na Libia e no Afeganistão? - Aos árabes, aos
iraquianos, aos muçulmanos, aos cristãos, aos judeus? - Claro que não.
Ninguém está interessado em levar as chamas dessa beligerância
pseudo-religiosa para Europa, os Estados Unidos ou América do Sul. A
extensão da coalizão liderada pelos EUAs. (Austrália, França, Iraque e
outros) só beneficia mesmo aos interesses geopolíticos das grandes
potências que disputam a sua hegemonia na Oriente Médio e na Ásia
Central.
A coligação, chefiada e estimulada por Washigton, tem como
principal objetivo depor o presidente sírio e colocar em seu lugar um
títere, que possa obedecer docilmente aos comandos da política externa
americana (e ao Estado de Israel). Creiam, os americanos não estão
preocupados com nenhuma vítima civil dessa guerra insana provocada pela
internacionalização da frente de guerra ora contra o Estado islâmico,
ora contra o presidente sirio, ora contra os rebeldes sírios. A guerra
já custou a vida de milhares de civis e está empurrando para a Europa
milhares e milhares de imigrantes, que não querem morrer sob as bombas
dos aviões não pilotados dos EUA e dos outros países coligados.
A
estratégia americana é destituir a única autoridade política da Síria e
abandonar os sirios à sua própria sorte, como fizeram no Iraque (depois
da Invasão), no Afeganistão (que continua em guerra, apesar do fantoche
chamado Ami Karzai), na Libia, com a carnificina de Kadafi e, agora, na
Síria. Em todas as guerras, quem morre são os civis. Mas nessa,
patrocinada pela coalização, o genocídio é escancarado e cínico. Não se
trata de uma guerra de civilização (crash of civilizations), nem de uma
Jirah (guerra santa). Trata-se do aprofundamento do processo de
libanização de uma país árabe, aliado do Hizbolah e antisionista. Quanto
mais se aprofunda a guerra civil e o despedaçamento do país, armando-se
facções contrárias e estimulando outros a participarem do esforço de
guerra, mais se aprofunda o caos, a desorganização, o massacre de milhões
e milhões de civis (crianças, mulheres, idosos, inválidos).
Isto nada
tem a ver com o islã. As grandes religiões históricas da humanidades são
de índole pacifista, não estimulam a guerra. Mas os interesses
econômicos, geopolíticos, estratégicos das grandes potências, sim. Os
americanos querem a qualquer custo recompor a aliança transatlantica e
revigorar a OTAN. Para isso é muito importante transformar o Oriente
Médio e a Ásia Central num inferno sem fim. Afinal, é lá que estão
imensas jazidas de petróleo e gás natural, além da barreira de contenção
do expansionismo russo e chinês.
E,
em matéria de intolerância, tanto os EUAs da América como os países
europeus são campeões. Quem não se recorda das cruzadas contra as
populações árabes? Quem não se lembra da intolerância contra os judeus,
negros e muçulmanos na França? - Quem pode esquecer os crimes de ódio
praticados todos os dias nas ruas das grandes cidades norteamericanas
contra os afroamericanos, os espanicos, os árabes e muçulmanos?
Essa demonização do outro leva a um reforço dessa política externa
belicista, do fechamento das fronteiras para os refugiados de guerra e o
crescimento de uma direita fascista na Europa e no EUA. Não se iludam
com a cobertura tendenciosa, lacrimonial, unilateral dessa mídia,
proibida de falar dos interesses escusos que se escondem atrás dessa
nova cruzada contra o Oriente. Até porque o Oriente está em nós, na
nossa casa, no nosso país, na nossa civilização.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e a da Democracia - NEEPD-UFPE
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