pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Crônicas do cotidiano: Fundação Joaquim Nabuco, uma pequena notável nos trópicos.
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terça-feira, 23 de maio de 2017

Crônicas do cotidiano: Fundação Joaquim Nabuco, uma pequena notável nos trópicos.



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José Luiz Gomes


Quando contava ainda com 17 anos de idade, o sociólogo Gilberto Freyre deixou a província pernambucana para estudar nos Estados Unidos, onde concluiu um mestrado com uma dissertação sobre a vida social no Brasil em meados do século XIX, que se tornaria o embrião do clássico Casa Grande & Senzala, publicado em 1933, um ano depois de Menino de Engenho, do amigo José Lins do Rego. Depois de 05 anos nos Estados Unidos, Gilberto retornou a Pernambuco, onde recebeu uma homenagem no Colégio Americano Batista, cujo pai, Alfredo Freyre, havia sido um dos fundadores. A relação do pai de Gilberto Freyre com este colégio ia muito além do "apenas um professor". Na realidade, Alfredo Freyre era catedrático de Ciência Política da Faculdade de Direito do Recife. 

Por ocasião da homenagem, o então jovem sociólogo leu um discurso contundente em defesa das tradições e da cultura regional, de certa forma se contrapondo à Semana de Arte Moderna, por demais receptiva às mudanças impostas pela burguesia de então. Não se vê em seu discurso, porém, algo que se aproxime hoje do conceito de xenofobismo. Exalta-se, isto sim, os valores da cultura regional no concerto das nações. Como já dissemos em outras ocasiões, Gilberto foi uma espécie de precursor de "quase tudo". Neste caso, talvez pudéssemos aproximá-lo aqui, já então, do conceito de glocalização, muito em voga nos debates mais recentes sobre a globalização. E, quem sabe, na condição, também, de um precursor. 

Na condição de Deputado Constituinte, no final da década de 40, Gilberto Freyre cria o Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, que se transformaria posteriormente em Fundação Joaquim Nabuco. A despeito de seus estudos nos Estados Unidos, onde, a princípio, poder-se-ia falar numa carreira acadêmica sem solavancos, a Fundação Joaquim Nabuco nunca teve um grande reconhecimento naquele país. A condição de "pequena notável" ou de uma "instituição de excelência nos trópicos' seria muito mais um reconhecimento do continente europeu, tendo como porta de entrada sobretudo Portugal, país onde o mestre de Apipucos gozava de grande prestígio intelectual, notadamente em razão de suas posições políticas e teóricas, identificadas com um colonialismo assimilativo, do tipo não segregacionista, o que levaria o Governo Português a financiar uma série de palestras do escritor nas colônias portuguesas nos continentes africano e asiático, quando esses países organizavam suas guerras de libertação colonial. Convém aqui deixar registrado que isso ocorreu na época do salazarismo. Gilberto flertava com vários intelectuais ligados ao regime. 

Nos seus primeiros anos de existência, a Instituição realizou algumas pesquisas importantes que ajudaram bastante a construir o seu conceito de instituição de excelência. Uma delas, inclusive, a que tratava da poluição dos rios provocadas pela monocultura da cana de açúcar na região da Zona da Mata pernambucana, produziu alguns estremecimentos na relação dos usineiros do Estado com um intelectual orgânico da açucarocracia local, numa expressão atribuída a Tobias Barreto. Não me recordo se nessa pesquisa em particular ou noutro texto, também é atribuído ao mestre de Apipucos o uso, pela primeira vez, do termo meio-ambiente sustentável. Essas rusgas seriam definitivamente sanadas em 1979, quando foi criado o Museu do Homem do Nordeste, que deu uma sobrevida a essas oligarquias e permitiu a Gilberto Freyre uma espécie de reconciliação com suas origens. Como se vê, o reconhecimento internacional da Fundação Joaquim Nabuco se deu ainda na década de 40, a partir de bases sólidas, de um trabalho muito bem construído, e não apenas a partir de uma estratégia de marketing, comunicação institucional, políticas do "guarda-chuva" ou coisas do gênero. 

Nos nossos estudos com o objetivo de contribuir com o debate sobre o PDI institucional, observamos, lá pelo final da década de 50, alguns movimentos curiosos no tocante às políticas institucionais. Produzimos 167 páginas para este debate, mas elas nunca foram apresentadas, pela absoluta impossibilidade de exequibilidade política, como viemos a constatar logo em seguida. Se Michel Temer, do alto de sua longa vida pública, ainda é capaz de cometer suas ingenuidades, imagina esse escriba, que até bem pouco tempo, ainda pensava em 'mudar o mundo'. Mas, se isso serve de algum alento, como diria o professor Robinson Cavalcanti, isso dá um doutorado ou um possível texto a ser publicado. 

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